Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Análise sociológica das manifestações de ódio no Facebook, Notas de aula de Ciências Sociais

Características do discurso de ódio no ambiente virtual

Tipologia: Notas de aula

2018

Compartilhado em 13/02/2018

leandro-santos-6bo
leandro-santos-6bo 🇧🇷

1 documento

1 / 14

Documentos relacionados


Pré-visualização parcial do texto

Baixe Análise sociológica das manifestações de ódio no Facebook e outras Notas de aula em PDF para Ciências Sociais, somente na Docsity! UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS REPRESENTAÇÕES DO DISCURSO DE ÓDIO NAS REDES SOCIAIS Análise sociológica das manifestações de ódio no Facebook no episódio do jovem que teve a testa tatuada com a frase: “Eu sou ladrão e vacilão” Leandro Rodrigues Santos Relatório de Pesquisa apresentado para a obtenção de nota na disciplina Sociologia I, ministrada pelo Prof. Dr. Horário Antunes de Sant’Ana Júnior São Luís Dezembro de 2017 REPRESENTAÇÕES DO DISCURSO DE ÓDIO NAS REDES SOCIAIS Análise sociológica das manifestações de ódio no Facebook no episódio do jovem que teve a testa tatuada com a frase: “Eu sou ladrão e vacilão” Resumo: As formas de violências hoje ultrapassam as fronteiras do ambiente real e encontram um terreno fértil para se desenvolver dentro do ciberespaço, onde o combate às formas de violação dos direitos ainda são incipientes. Nessa perspectiva, o presente trabalho analisa como se manifesta o discurso de ódio no Facebook, tomando como base o episódio em que um jovem teve a testa tatuada após uma suposta tentativa de roubo. Como metodologia para o desenvolvimento da pesquisa, foi feito um levantamento bibliográfico e analisados os comentários de vários usuários nas notícias sobre episódio postadas na fanpage do portal G1. O objetivo foi verificar como se caracterizou o discurso de ódio e o modo como ele gerou engajamento junto aos outros usuários. Palavras-chave: violência, discurso, ódio, internet, redes sociais Nesse cenário, a violência não pode ser observada de forma isolada, mas sim analisada de forma conjunta com outros campos. Compreendê-la em suas inúmeras formas que ela se estabelece dentro da sociedade contemporânea exige também o entendimento de outros cenários nos quais estão envolvidas as classes sociais, gênero, etnia, valores culturais carregados pelos sujeitos entre outras situações. Martuccelli (1999) defende, por exemplo, que a violência não pode ser analisada levando em consideração apenas a ação daquele que pratica o ato. Segundo ele, é preciso entender o meio social em que esse indivíduo está inserido. O sentido da violência deve ser procurado menos no interior da subjetividade do ator e mais a partir do referencial das redes sociais1 e das coações materiais legítimas onde o indivíduo está colocado. A violência nesse quadro é sempre o outro nome para designar a desigualdade na falta de ligação social. (MARTUCCELLI, 1999, p. 172). Ainda nessa perspectiva, segundo o pesquisador, a violência surge no momento em que existe um déficit de informação, o que faz com que os atos violentos se sobressaiam, causando os danos não apenas em um indivíduo especificamente, mas em toda a sociedade. Para Salles (2011), a percepção do significado da violência pode sofrer variações levando em consideração o contexto sócio-histórico-cultural no qual as manifestações e ações consideradas como atos de violência se expressam. Aceitar a violência como algo natural, ou mesmo banalizá-la, sem procurar ao menos mostrar suas causas e consequências, pode contribuir para que as pessoas aceitem sem se intimidar a prática de atos violentos, gerando, assim a impunidade, o que, em última análise, só reforça a escalada da violência. (SALLES, 2001 p.58). Muitos indivíduos utilizam as palavras para praticar atos de violência contra outras pessoas. É justamente em atos dessa natureza que se pode evidenciar a prática do discurso de ódio. Esse tipo de violência muitas vezes pode até passar despercebido, uma vez que o autor não age com agressividade física contra a vítima. No entanto, as consequências podem ser ainda maiores do que aquelas proporcionadas pelas agressões físicas, pois o discurso de ódio contribui diretamente para a marginalização dos indivíduos que foram vítimas desses atos, aumentando as desigualdades sociais e violações de direitos. 1 Ao citar as redes sociais, o pesquisador faz referência aos laços e vínculos sociais de um determinado indivíduo no ambiente em que ele está inserido e não às comunidade virtuais existentes no ciberespaço onde também há formas de interação. O discurso de ódio pode ser caracterizado como mensagens que tenham o objetivo de inferiorizar ou insultar outros indivíduos. Ele é observado em atos de comunicação feitos para discriminar pessoas ou grupo sociais em virtude de raça, religião, nacionalidade, orientação sexual, gênero, condição física ou outra característica. Nas redes sócias, situações como essas ocorrem com bastante frequência. Para Oliva (2014), o discurso de ódio utiliza-se de argumentos de impacto na psicologia individual e coletiva dos interlocutores de modo a segregar socialmente aquelas pessoas que são vítimas desse tipo de violência. O discurso de ódio surge quando os indivíduos ultrapassam os limites da liberdade de expressão previstos na Constituição Federal. A legislação máxima do país dá garantias à livre manifestação de pensamento, contudo, restringe práticas que podem levar à inferiorização de outros indivíduos. “Certamente, em qualquer circunstância, a liberdade ou as liberdades em espécie deverão respeitar os contornos da esfera de autodeterminação traçada pelo ordenamento jurídico, convivendo em harmonia com outros preceitos constitucionais, de modo a não discrepar da unidade sistêmica pretendida e, de outra parte, não deverão incorrer em condutas ilícitas, preestabelecidas pela legislação infraconstitucional”. (DE FREITAS; DE CASTRO. 2013, p. 333). Por essa razão é importante ressaltar que a liberdade conferida ao indivíduo pelos dispositivos legais não pode ser exercida de forma ilimitada. Qualquer tipo de conduta que venha a ultrapassar esses limites é passível de restrição e punição, como prevê a constituição brasileira. Nas redes sociais, essa situação é ainda mais observada tendo em vista a própria característica do ambiente virtual. Dentro do ciberespaço, os usuários podem expressar, com mais liberdade, seus pontos de vistas sobre um assunto das mais variadas formas, alcançando outros indivíduos com posicionamentos semelhantes ou contrários. Essa situação é causada, pois, nas redes sociais, a forma de sociabilidade entre os indivíduos é diferente daquela conferida no ambiente físico. A propagação dos discursos no ciberespaço - entre eles, aqueles direcionados com o objetivo de inferiorizar outras pessoas - é intensificada tendo em vista que há uma alteração das barreiras de interação dos atores envolvidos, situação essa causada pelas próprias características desse ambiente. Os sujeitos no mundo digital estariam em constante encontro com a alteridade (o Outro), e esse encontro é sempre perturbador e violento, basta imaginar e reconhecer o lugar do Outro para sentirmos ódio. Entretanto, sentir ódio não é um problema, pois faz parte da nossa natureza. Ele se torna um problema social, a partir do momento que deixa de ser um sentimento, para ser externalizado através da linguagem, neste sentido, os sites de redes sociais possibilitam que o ódio apareça através dos espaços de interação mútua e conversação. (COIMBRA. 2015. p. 6). É nesse contexto que surge, por exemplo, a figura do chamado hater2, termo que se popularizou principalmente dentro do ambiente virtual. Aqueles que levam esse título caracterizam-se como pessoas que violam as regras do convívio harmonioso e da liberdade de expressão para atacar de forma gratuita todos os que pensam ou agem de forma diferente, contribuído diretamente para a disseminação do ódio. É na formação desses discursos que Orlandi (2005) chama atenção para o princípio da autoria em que o sujeito visível (enquanto autor) tem claras intenções e objetivos. Em se tratando de discurso de ódio, a intenção é desvalorizar outras pessoas em função de alguma característica específica ou ato que ela tenha praticado. Ainda de acordo com o pesquisador, é por meio do discurso que os sujeitos se identificam como tal, assumindo uma determinada posição em relação em relação a outros indivíduos. Devemos ainda lembrar que o sujeito discursivo é pensado como “posição” entre outras. Não é a forma de subjetividade, mas um “lugar” que ocupa para ser sujeito do que diz: é a posição que deve e pode ocupar todo o indivíduo para ser sujeito do que diz. (ORLANDI, 2005 p. 49). Nessa perspectiva, Foucault (1996) acrescenta que o discurso também funciona como uma estratégia para mascarar a realidade, suplantar verdades, garantir posições e representar interesses. Dessa forma, o discurso dispõe de uma força que os indivíduos utilizam para fazer prevalecer os seus interesses. Se o discurso verdadeiro não é mais, com efeito, desde os gregos, aquele que exerce o poder, na vontade de verdade, na vontade de dizer esse discurso verdadeiro, o que esta em jogo, senão o desejo do poder? O discurso verdadeiro, a que a necessidade de sua forma liberta do desejo e libera do poder, não pode reconhecer a vontade de verdade, essa que se impõe a nós há 2 É importante destacar que a figura do hater sempre existiu, mas com a popularização das redes sociais no ambiente virtual esses usuários começaram a ganhar cada vez mais espaços, motivados pela facilidade com que podem expressar os seus posicionamentos no ciberespaço e pela falta de punição para aqueles que, ao extrapolarem os limites da liberdade de expressão, cometem crimes contra outros usuários. sobre a reportagem, observou-se a quantidade de xingamentos que foram feitos contra o adolescente. Figura 1: adolescente sendo vítima do discurso de ódio Outra publicação, já do dia 13 de junho, fala sobre o trabalho de uma clínica de reabilitação onde o jovem foi internado para se recuperar do uso de drogas. Os comentários da postagem também são depreciativos contra o adolescente. Figura 2: em outra postagem, discurso de ódio torna-se mais forte e evidente É interessante observar também o engajamento que o discurso de ódio provoca nas redes sociais. Utilizando a plataforma online Opsocial, que possibilita a extração de comentários do Facebook e a exportação para uma planilha do Excel, nota-se que os comentários com maior engajamentos são justamente os mais depreciativos. Figura 3: engajamento dos usuários é maior nos comentários mais agressivos A criação de uma nuvem de palavras também é interessante para observar a prevalência do discurso de ódio nas redes sociais, principalmente nesse episódio que está sendo estudado. Essa nuvem reúne as palavras que mais se repetem em um determinado contexto. Para isso, utilizou-se a plataforma online Opsocial para fazer a extração dos comentários para uma planilha em Excel e, em seguida, uma ferramenta para a criação da nuvem de palavras com esses comentários. Tal análise foi feita na postagem do dia 25 de junho de 2017, que traz a informação sobre a primeira sessão que jovem passou para a retirada da tatuagem na testa. Figura 4: nuvem de palavra evidencia discurso de ódio contra o adolescente que teve a testa tatuada Nesse caso específico, observa-se que, entre as palavras que mais se repetem nos comentários dos usuários, estão “vagabundo”, “ladrão” e “lixo”, todas elas fazendo referência ao adolescente que teve a testa tatuada e, ao mesmo tempo discriminando-o pela sua atitude. 4. CONCLUSÃO É importante chamar-se atenção para o fato de que a liberdade de expressão não pode ser confundida com o ato de se expressar de uma forma que venha a insultar ou denegrir a imagem de outro indivíduo. É necessário ter em mente que existem limites que devem ser observados e levados em consideração pelas pessoas para que seja estabelecido o convívio harmônico entre os integrantes da sociedade. A dificuldade nesse aspecto reside em justamente encontrar esse “limite” entre o direito do indivíduo de se expressar e as manifestações discriminatórias que se observam com bastante frequência dentro do ambiente virtual. Observa-se que os discursos discriminatórios são ainda mais presentes no ambiente virtual por causa facilidade com que as informações circulam no ciberespaço e, muitas vezes, os usuários não sabem como lidar com opiniões e posicionamentos contrários aos seus, partindo então para as mais diversas formas de agressões e baixarias. A falta de uma legislação específica que proíba e também puna situações de discurso de ódio pelas redes sociais favorece com que esses episódios sejam registrados com bastante frequência. Os responsáveis por essa prática se utilizam da liberdade que lhes é garantida para insultar ou discriminar aqueles que agem ou têm um posicionamento contrário. Muitas vezes, os autores das agressões não são punidos como deveriam. Por essa razão, entender como se manifestam as práticas do discurso de ódio nas redes sociais é importante para que a temática seja discutida em seus mais variados aspectos para que as consequências da situação fiquem evidentes e, dessa forma, sejam apontadas possíveis soluções para contornar o problema. O discurso de ódio nas redes sociais é um tema que precisa ser debatido, principalmente neste momento em que cada vez mais atos de violência se espalham das mais diversas formas. Nesta perspectiva, este trabalho buscou contribuir para que haja
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved