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Guias e Dicas
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Livro de Fruticultura Geral, Manuais, Projetos, Pesquisas de Engenharia Agronômica

Fruticultura

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2017
Em oferta
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Compartilhado em 08/10/2017

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Baixe Livro de Fruticultura Geral e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Engenharia Agronômica, somente na Docsity! Fruticultura Fundamentos e Práticas José Carlos Fachinello Jair Costa Nachtigal Elio Kersten FRUTICULTURA FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JOSÉ CARLOS FACHINELLO Engenheiro Agrônomo - Doutor em Agronomia Professor Titular do Departamento de Fitotecnia da FAEM/UFPel JAIR COSTA NACHTIGAL Engenheiro Agrônomo - Doutor em Agronomia Pesquisador da Embrapa Clima Temperado ELIO KERSTEN Engenheiro Agrônomo - Doutor em Agronomia Professor Aposentado do Departamento de Fitotecnia da FAEM/UFPel Pelotas 2008 2 7.2 CONCEITOS.......................................................................................................................................................... 93 7.3 IMPORTÂNCIA DA PODA........................................................................................................................................... 93 7.4 OBJETIVOS DA PODA...............................................................................................................................................93 7.5 FUNDAMENTOS DA PODA......................................................................................................................................... 94 7.6 HÁBITO DE FRUTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES FRUTÍFERAS.................................................................................... 95 7.7 MODALIDADES DE PODA .........................................................................................................................................97 7.8 SISTEMAS DE CONDUÇÃO DA PLANTA ........................................................................................................................98 7.9 ÉPOCA DE PODA...................................................................................................................................................101 7.10 INTENSIDADE DE PODA........................................................................................................................................ 102 7.11 INSTRUMENTOS DE PODA..................................................................................................................................... 102 CAPÍTULO 8 RALEIO..................................................................................................................................... 103 8.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................103 8.2 OBJETIVOS DO RALEIO.......................................................................................................................................... 103 8.3 ÉPOCA DE REALIZAÇÃO DO RALEIO..........................................................................................................................105 8.4 INTENSIDADE DO RALEIO....................................................................................................................................... 105 8.5 TIPOS DE RALEIO..................................................................................................................................................109 CAPÍTULO 9 FITORREGULADORES EM FRUTICULTURA.................................................................114 9.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................114 9.2 AUXINAS............................................................................................................................................................ 114 9.3 GIBERELINAS.......................................................................................................................................................116 9.4 CITOCININAS....................................................................................................................................................... 116 9.5 ÁCIDO ABSCÍSICO.................................................................................................................................................117 9.6 ETILENO.............................................................................................................................................................118 CAPITULO 10 PRINCIPAIS PRAGAS DAS PLANTAS FRUTÍFERAS................................................... 121 10.1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................121 10.2 PESSEGUEIRO, AMEIXEIRA E NECTARINEIRA ............................................................................................................122 10.3 CITROS.............................................................................................................................................................128 10.4 MACIEIRA E PEREIRA......................................................................................................................................... 133 10.5 VIDEIRA........................................................................................................................................................... 134 10.6 FIGUEIRA..........................................................................................................................................................137 10.7 GOIABEIRA....................................................................................................................................................... 138 CAPÍTULO 11 PRINCIPAIS DOENÇAS DAS PLANTAS FRUTÍFERAS................................................. 139 11.1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................139 11.2 PESSEGUEIRO, AMEIXEIRA E NECTARINEIRA.............................................................................................................139 11.3 CITROS.............................................................................................................................................................143 11.4 MACIEIRA.........................................................................................................................................................148 11.5 VIDEIRA........................................................................................................................................................... 153 11.6 GOIABEIRA....................................................................................................................................................... 155 11.7 FIGUEIRA..........................................................................................................................................................157 CAPÍTULO 12 COLHEITA E ARMAZENAMENTO................................................................................... 158 12.1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................158 12.2 PARÂMETROS PARA DETERMINAÇÃO DO PONTO DE COLHEITA.....................................................................................160 12.3 COLHEITA.........................................................................................................................................................163 12.4 SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO.................................................................................................................................. 165 12.5 ARMAZENAMENTO..............................................................................................................................................166 CAPÍTULO 13 PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS (PIF)..................................................................169 13.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................................169 13.2 PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS (PIF).............................................................................................................. 169 13.3 DEFINIÇÃO DA PRODUÇÃO INTEGRADA .................................................................................................................. 170 13.4 PRODUÇÃO INTEGRADA X PRODUÇÃO ORGÂNICA......................................................................................................170 5 13.5 BENEFÍCIOS AMBIENTAIS E RESULTADOS COM A PRODUÇÃO INTEGRADA DE PESSEGUEIRO..............................................172 13.6 RASTREABILIDADE PARA FRUTAS IN NATURA E INDUSTRIALIZADAS.............................................................................. 173 13.7 RESULTADOS E DESAFIOS ....................................................................................................................................175 6 RESUMO Esta obra traz informações importantes sobre o panorama da fruticultura brasileira, a classificação das plantas frutíferas, produção integrada de frutas (PIF), os tipos de pomares e os principais problemas da fruticultura no Brasil. Apresenta informações sobre como produzir uma muda frutífera, os cuidados na instalação e no planejamento de pomares, bem como as técnicas de manejo do solo, da planta e das frutas, antes e depois da colheita; informações sobre fisiologia e reguladores vegetais. São listadas, também, as principais doenças e pragas que ocorrem nos pomares, bem como seus respectivos métodos de controle. Ao longo do texto são apresentadas tabelas e figuras que procuram ilustrá-lo. É uma obra básica para ser utilizada por produtores, técnicos e estudantes. 7 com as diferentes espécies de moscas-das-frutas. Japão e EUA impõem severas restrições à importação de frutas tropicais, proibindo a entrada de produtos oriundos de áreas infestadas. O bloqueio pode ser rompido, desde que o país exportador consiga estabelecer em seu território “áreas livres de pragas e doenças”. Este conceito consta do Art. 6° do Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias do Gatt, que prevê a concessão de acesso razoável para o membro importador, para fins de inspeção, teste e outros procedimentos relevantes. A banana é outro exemplo típico onde o Brasil desponta como sendo o maior produtor mundial e também o maior consumidor. As bananas produzidas encontram dificuldades para competir no mercado internacional com países como o Equador. As técnicas de cultivo e o manejo das frutas, desde a colheita até o mercado, são ainda muito deficientes no Brasil, com isso a banana chega ao mercado com baixa qualidade. O mercado internacional é altamente competitivo e exige ofertas em qualidade e quantidade. Mesmo assim, existem espaços para colocação de frutas “in natura”, particularmente na entre safra do hemisfério norte, com espécies de clima tropical, como melão, abacaxi, banana, manga, mamão, e de clima temperado, como uva, maçã, figo, morango, entre outras. Noventa por cento dos grandes mercados estão localizadas no hemisfério Norte e esta condição precisa ser melhor explorada. Nesse contexto o Brasil tem conseguido aumentar e diversificar a oferta de frutas produzidas em clima semi-árido. Com isso vem aumentado as exportações de frutas como o melão, mamão, manga, mamão e uva. Nessa condição a videira pode produzir, em média, mais de duas safras por ano, permitindo que se tenha uvas de boa qualidade e com altos rendimentos por área em épocas que os preços no mercado internacional é mais atrativo. Dentre as espécies de clima temperado, a maçã passou a ser um negócio altamente competitivo, pois num espaço de pouco mais de 30 anos, o Brasil passou de importador para exportador. No ano de 1970 a produção nacional representava apenas 10% do consumo, hoje são mais de 36.000ha que produzem o suficiente para atender o mercado interno e até permitir a exportação de maçãs de alta qualidade. Principalmente porque o Brasil produz as cultivares do grupo Gala e Fuji, maçãs de alta aceitação no mercado internacional. A viticultura fica mais vulnerável ao Mercosul, uma vez que 60% da nossa produção é baseada em uvas americanas comuns e são utilizadas para produção de vinhos para atender o mercado interno. Na Argentina e no Chile estas videiras americanas são proibidas de serem plantadas. A área cultivada com pêssego para conserva teve uma diminuição de sua área e produção, devido a problemas conjunturais e à importação de compotas com subsídios, porém a área com pêssego para o consumo “in natura” vem aumentando, desde o Rio Grande do Sul até Minas Gerais. O negócio fruticultura, além de se preocupar com o mercado de exportação para a Europa e Ásia, deve estar atento para o MERCOSUL, que se constitui num mercado de mais de 200 milhões de habitantes que não deve ser desprezado. O consumo de frutas no Brasil é da ordem de 57kg habitante ano-1, ao passo que na Europa o consumo supera aos 100kg habitante ano-1, ou seja, existe um grande potencial a ser atingido. Esta atividade poderá ser explorada com sucesso nos mercado estaduais, regionais e locais. Para tanto, além das técnicas de cultivo, o setor deverá ter e formar parcerias entre produtores, pesquisa, extensão, distribuidores e o próprio consumidor, procurando-se obter frutas de boa qualidade, oferta regular, livre de resíduos de agrotóxicos e a preços competitivos. A organização dos produtores, distribuidores e exportadores poderão encurtar o 10 caminho para que as nossas frutas possam atingir novos mercados e dar garantias ao setor. Os exemplos dados pelos produtores de maçãs no Sul, os produtores de frutas tropicais no Vale do São Francisco e a citricultura no Estado de São Paulo são uma demonstração que as dificuldades impostas pelos importadores e o próprio mercado interno podem ser vencidas através de parcerias entre todos os setores envolvidos. O Brasil possui condições ecológicas para produzir uma gama de frutas tropicais, subtropicais e temperadas e situações especiais que permitem que possamos produzir o ano todo. Apesar de todas estas condições favoráveis, o Brasil ainda importa várias frutas que poderiam ser produzidas aqui, entre elas se destacam a pêra, uva para mesa e passas, ameixas, quivi, cerejas e maçã na entre safra. Os nossos principais fornecedores são a Argentina, o Chile e o Uruguai. No Rio Grande do Sul, a situação não é diferente somos tradicionais importadores de frutas de outros países e/ou estados. Mesmo no caso das plantas cítricas, o Estado só consegue atender 60% do consumo nas épocas de maior demanda e tem dificuldade de abastecer e fornecer a matéria-prima para suprir as três indústrias concentradoras de sucos nele instaladas. Portanto a área de laranjas necessitaria ser ampliada, já que os cerca de 28.000ha são insuficientes para atender a demanda. No caso da frutas tropicais, o maior volume vem de outros Estados, mesmo assim o RS possui microclimas que podem produzir mangas, bananas, maracujá, abacaxi entre outras. O Estado produz quantidade suficientes de uva para vinhos, pêssego para mesa e conserva, ameixa, maçã, figo, goiaba, e esta ampliando a área de quivi na Serra Gaúcha e plantas cítricas sem sementes na Metade Sul. A fruticultura é uma atividade que utiliza grande quantidade de mão de obra e atende a necessidade de viabilizar as pequenas propriedades e a fixação do homem no meio rural. Para tanto, é necessário o incentivo e o estabelecimento de parcerias com os setores de produção e comercialização, envolvendo setores públicos e privados para que os produtores possam produzir para o mercado interno, buscar novos mercados e aproveitar os excedentes nas agroindústrias. Dispõe-se de tecnologias e material genético apropriados para produzir nas diferentes condições de clima e solo do Brasil. Não bastam só as potencialidades, são necessários incentivos e políticas que permitam um planejamento a médio e longo prazo, já que os pomares necessitam de, no mínimo, 2 anos para iniciar a produção e os investimentos iniciais costumam serem elevados e o retorno só ocorre depois do 6 da implantação do pomar. É necessário que, ao par da produção, todo o setor esteja de olhos abertos para as tendências mundiais, onde o consumidor não pode ser desconsiderado e a busca de produtos diferenciados através da produção orgânica e integrada de frutas (PIF) e que podem representar dividendos adicionais para o setor de produção e comercialização. Em países europeus, asiáticos e mesmo nos Estados Unidos, a fruticultura se caracteriza por ser uma atividade rentável e que utiliza com vantagens a produção integrada, buscando produtos de qualidade, minimizando riscos ao homem e ao ambiente. No Brasil, a Produção Integrada de Frutas (PIF) está sendo utilizadas por produtores de frutas de diversas regiões, principalmente naquelas áreas destinadas à exportação, como é o caso da maçã, melão, manga, uva, mamão, entre outras. O consumo de frutas visando os aspectos funcionais e/ou nutracêuticos também é um fator que pode contribuir para a elevação do consumo e, consequentemente, o aumento das áreas plantadas de diversas frutas, inclusive frutas nativas das mais diferentes regiões do Brasil. 11 1.2 Importância da fruticultura O cultivo de plantas frutíferas se caracteriza por apresentar aspectos importantes no contexto sócio-econômico de um país, tais como: a) Utilização intensiva de mão-de-obra; b) Possibilita um grande rendimento por área, sendo por isso uma ótima alternativa para pequenas propriedades rurais; c) Possibilita o desenvolvimento de agroindústrias, tanto de pequeno quanto de grande porte; d) Contribui para a diminuição das importações; e) Possibilita aumento nas divisas com as exportações; f) As frutas são de importância fundamental como complemento alimentar, sendo fontes de vitaminas, sais minerais, proteínas e fibras indispensáveis ao bom funcionamento do organismo humano, entre outras. Na Tabela 3 é mostrado o valor nutricional das principais frutas consumidas no Brasil. Tabela 3 - Composição de algumas frutas por 100g de parte comestível FRUTA Cal. Água (g) Prot. (g) Fibra (g) Cálcio (mg) Fósf. (mg) Ferro (mg) Vit. (AUI) B2 (mg) Niacina (mg) C (mg) Abacate 162 75,0 1,8 2,0 13 47 0,7 200 0,24 1,5 12 Abacaxi 52 85,4 0,4 0,4 18 8 0,5 50 0,04 0,2 61 Ameixa 47 87,0 0,6 0,4 8 15 0,4 130 0,04 0,5 6 Banana 87 75,4 1,2 0,6 27 31 1,5 270 0,09 0,6 8 Caju 46 87,1 0,8 1,5 4 18 10,0 400 0,03 0,4 219 Caqui 78 78,2 0,8 1,9 6 26 0,3 2500 0,05 0,3 11 Coco 296 54,6 3,5 3,8 13 83 1,8 - 0,03 0,6 4 Figo 62 82,2 1,2 1,6 50 30 0,5 100 0,05 0,4 4 Goiaba 69 80,8 0,9 5,3 22 26 0,7 260 0,04 1,0 218 Laranja 42 87,7 0,8 0,4 34 20 0,7 130 0,03 0,2 59 Limão 29 90,3 0,6 0,6 41 15 0,7 20 0,02 0,1 51 Maçã 58 84,0 0,3 0,7 6 10 0,4 30 0,05 0,2 6 Mamão 32 90,7 0,5 0,6 20 13 0,4 370 0,04 0,3 46 Manga 59 83,5 0,5 0,8 12 12 0,8 2100 0,06 0,4 53 Maracujá 90 75.,5 2,2 0,7 13 17 1,6 700 0,13 1,5 30 Pêra 56 84,4 0,3 1,9 6 10 0,5 20 0,03 0,2 5 Pêssego 43 87,9 0,8 1,8 9 24 1,0 400 0,07 0,4 6 Uva 68 81,6 0,6 0,5 12 15 0,9 - 0,04 0,5 3 Fonte: MANICA (1987) 1.3 Conceitos A fruticultura pode ser conceituada como sendo o conjunto de técnicas e práticas aplicadas adequadamente com o objetivo de explorar plantas que produzam frutas comestíveis, comercialmente. Segundo Tamaro (1936), fruticultura é a arte de cultivar racionalmente as plantas 12 b) Frutíferas de clima subtropical - as principais características apresentadas por essas plantas são: - Nem sempre apresentam hábito caducifólio; - Mais de um surto de crescimento; - Menor resistência a baixas temperaturas; - Pouca necessidade de frio no período de inverno; - Necessidade de temperatura média anual de 15 a 22°C. As principais frutíferas de clima subtropical são as plantas cítricas, abacateiro, caqui, jabuticaba, nespereira, entre outras. c) Frutíferas de clima tropical - as principais características apresentadas por essas plantas são: - Podem apresentar mais do que um surto de crescimento; - Apresentam folhas persistentes; - Não toleram temperaturas baixas; - Necessidade de temperatura média anual entre 22 e 30°C. As principais frutíferas de clima tropical são bananeira, cajueiro, abacaxizeiro, mamoeiro, mangueira, maracujazeiro, coqueiro da bahia, entre outras. 1.4.2 Quanto ao hábito vegetativo a) Arbóreas - apresentam grande porte e tronco lenhoso. Exemplos: mangueira, abacateiro, nespereira, jaqueira e nogueira-pecan. b) Arbustivas - apresentam porte médio e caule menos resistentes. Exemplos: figueira, amoreira, mamoeiro e romãzeira. c) Trepadeiras - apresentam caule sarmentoso e provido de gavinhas. Exemplos: videira, maracujazeiro e quivi. d) Herbáceas - apresentam porte baixo, rasteiras ou com pseudo-caules. Exemplos: bananeira, morangueiro e abacaxizeiro. 1.4.3 Quanto ao tipo de fruta a) Frutas com sementes - maçã e pêra b) Frutas com caroços - pêssego e ameixa c) Frutas com sementes carnosas - romã d) Frutas em bagas - uva, groselha e quivi. e) Frutas em espirídio - citros f) Frutas agregadas - framboesa g) Frutas compostas - figo h) Frutas secas – noz pecan e pistáchio. i) Frutas tropicais e subtropicais - banana e abacaxi j) Frutas nativas comestíveis - araçá, pitanga, araticum 1.5 Tipos de pomares a) Pomares domésticos ou caseiros - são aqueles pomares que se caracterizam por apresentarem um grande número de espécies e cultivares. b) Pomares comerciais - são aqueles formados por um pequeno número de espécies e 15 cultivares, há um escalonamento da produção, sendo que esta pode ser destinada à industrialização ou ao consumo “in natura”. c) Pomares experimentais - são aqueles que apresentam um grande número de espécies e cultivares. d) Pomares didáticos - são aqueles que apresentam um grande número de espécies e variedades, onde são executadas as práticas corretas e incorretas, pois o fim único é o aprendizado. 1.6 Principais problemas da fruticultura A fruticultura é uma atividade com características bastante regionalizadas, o que faz com que, em cada região onde ocorre predominância pelo cultivo de uma ou outra espécie, surjam problemas diferentes dos de outras regiões. Existem, no entanto, problemas principais que são geralmente comuns a todas as espécies e regiões, como, por exemplo: a) Produção de mudas de qualidade, principalmente no que se refere à falta de controle do material utilizada e fiscalização dos produtores, comerciantes, transportadores, entre outros; b) A comercialização é uma etapa muito pouco eficiente, ocorrendo muitas perdas das frutas antes de chegarem ao consumidor; c) Falta de transporte, armazenamento, assistência técnica e linhas de crédito compatíveis; d) Falta de informação e organização dos produtores, principalmente dos pequenos produtores; e) Baixa renda da população, o que faz com que o consumo per capita de frutas seja muito baixo, no Brasil; f) Plantio muitas vezes em regiões marginais (Figura 1); g) Falta de culturas adaptadas às condições locais; h) Manejo inadequado do solo e da planta; i) Elevados custos de implantação e produção; j) Condições climáticas desfavoráveis em muitas regiões produtoras. Figura 1 – Macieira com brotação irregular devido à falta de frio no período de dormência. Foto: José Carlos Fachinello 16 CAPÍTULO 2 PRODUÇÃO DE MUDAS 2.1 Viveiro Viveiro é uma área de terreno convenientemente demarcada, onde as mudas frutíferas são obtidas e conduzidas até o momento do transplante. Para algumas espécies, entre elas as plantas cítricas, em função de doenças e pragas, todo o processo de obtenção de mudas é realizado em telados a prova de insetos. Por muda, entende-se toda a planta jovem, com sistema radicular e parte aérea, com ou sem folhas, obtida por qualquer método de propagação, utilizada para a implantação de novos pomares. No caso de mudas obtidas por enxertia, as mudas são formadas pela combinação de duas ou mais cultivares diferentes. Muda de pé-franco, é a denominação utilizada para designar aquelas mudas obtidas, normalmente por estaquias, as quais são tem o sistema radicular e a parte aérea formadas por uma única cultivar. Em alguns estados, como em São Paulo, a denominação de pé-franco é utilizada para aquelas mudas oriundas de sementes. 2.2 Escolha do local Para o estabelecimento do viveiro, interferem fatores econômicos, ambientais, técnicos e as preferências pessoais do viveirista. Recomenda-se não instalar viveiros no mesmo terreno por mais de 2 anos. Deve-se proceder rotação com culturas anuais ou adubação verde. Assim procedendo, obtém-se maior desenvolvimento das mudas. A área do viveiro a ser escolhida deve considerar: - Exposição preferencialmente ao Norte; - Isolada do pomar, observando a legislação para a cada espécie; - Afastada de estradas públicas; - Isenta de ervas daninhas de difícil controle; - Evitar áreas sujeitas a geadas, principalmente no caso dos citros; - Em terrenos de mata, proceder a destoca total, no mínimo 2 anos antes da instalação do viveiro; - Disponibilidade de água para o uso com irrigação e com tratamentos fitossanitários; - Não usar áreas encharcadas ou áreas sujeitas à inundação; - Preferir solos profundos e medianamente arenosos; - Evitar áreas sujeitas a ventos constantes que podem quebrar as mudas na região da enxertia; Na fruticultura, a utilização de sementes basicamente está restrito à obtenção de porta- enxertos e ao melhoramento genético, pois, comercialmente, poucas espécies frutíferas têm suas mudas obtidas por este método. O uso de sementes e a época de semeadura decorrem da época da maturação das frutas e do poder germinativo das mesmas. Normalmente, as sementes devem ser semeadas logo após a colheita das frutas, principalmente no caso dos citros e da nogueira-pecan. Entretanto, existem espécies que necessitam um período de repouso para germinarem (estratificação), superando-se a dormência e favorecendo a maturação fisiológica, como acontece em sementes de pessegueiro. As sementes devem ser provenientes de plantas sadias, adultas, possuírem um bom vigor e características varietais definidas. A semente deve ser separada da polpa logo após o coleta das frutas para evitar a sua fermentação. Na polpa das frutas existem inibidores que impedem a germinação das sementes. Por esta razão, nunca se deve fazer a semeadura de frutas inteiras. Nas plantas cítricas, colhem-se as frutas maduras (inverno); corta-se a fruta ao meio com faca de madeira, para evitar lesões nas sementes e, em seguida, espreme-se em peneiras; lava-se com água corrente ou água de cal e seca-se à sombra, em local ventilado. Já com o pessegueiro, os caroços devem ser de cultivares de maturação tardia (Capdeboscq e Aldrighi), não podem ser cozidos e a polpa deve ser removida para evitar-se a fermentação. Para tanto, eles devem ser mantidos em locais sombreados e úmidos, com baixa temperatura <10°C, o que faz com que a maturação fisiológica seja completa. Armazenamento e estratificação O êxito da germinação nas sementeiras depende da qualidade da semente e do meio que a mesma é conservada desde a coleta até a semeadura. As sementes que tem embrião grande perdem a vitalidade e dessecam durante o armazenamento. Este tipo de semente deve ser conservada com suficiente umidade e temperatura em torno de 2 a 7°C, pode-se misturar uma substância inerte, ligeiramente úmida, como, por exemplo, a areia. A estratificação é o tratamento que se submetem as sementes, durante o armazenamento, sem que se perca o poder germinativo. É feita com o objetivo de acelerar a maturação das mesmas, favorecendo a germinação daquelas que têm o tegumento espesso e relativamente impermeável. Os caroços de pêssego estratificados devem permanecer em locais frescos, enterrados ou em câmaras frias, a temperaturas que variam de 0 a 10°C, e o período de estratificação varia entre 30 e 100 dias. Sementeira O preparo da sementeira começa pela aração do solo, retirada de pedras, restos de vegetais e o preparo do solo através do uso de enxadas rotativas, normalmente acopladas a microtratores. A largura do canteiro normalmente é, em torno, de 1,20m e 10m de comprimento e ficam distanciados de aproximadamente 25cm uns dos outros. A semeadura pode ser feita a lanço ou em linha, observando-se que a semente deve ficar a uma profundidade de, aproximadamente, 3 vezes o seu diâmetro. Época de semeadura 20 A semeadura pode ser feita diretamente no solo ou em embalagens apropriadas. Nas espécies que não necessitam estratificação, a semeadura é feita logo após a coleta, como acontece com as plantas cítricas e a nogueira-pecan. No caso do pessegueiro, a semeadura é feita após 2 a 3 meses de estratificação, sendo que 1 kg de caroços tem aproximadamente 400 sementes, quando bem conduzidas, podem chegar até 70-80% de germinação. Nas condições do agricultor, a germinação está em torno de 20%. Atualmente, os produtores de mudas de pessegueiro estão realizando a semeadura dos caroços diretamente no viveiro, tal fato, embora tenha algumas desvantagens, como uma maior área para controle de ervas daninhas, para irrigação, além de necessitar de um maior número de caroços, facilita o desenvolvimento da muda, pois ela não sofre o estresse causado pela repicagem. Outra vantagem obtida pela eliminação da repicagem é a menor exigência de mão-de-obra, visto que esta operação é bastante demorada e coincide com o arranquio e embalagem das mudas do ano anterior. Em plantas cítricas, em função de restrições por doenças transmitidas por insetos, todo o sistema de produção de mudas é feito em telado, desde a semeadura até a muda pronta. Viveiro Quando as mudas tiverem tamanho adequado, o que é variável com a espécie, elas devem ser repicadas para o viveiro, por exemplo, para mudas de pessegueiro, os cotilédones são mantidos junto com a mudinha por ocasião do transplante, com 5 a 10cm de altura, pois os mesmos são fonte de reservas alimentares, muito importantes nesta fase inicial de desenvolvimento. No viveiro, as mudinhas são plantadas a uma distância de 0,15 x 1,20m; 0,15 x 0,30 x 1,20m. Durante a repicagem, a irrigação é indispensável para favorecer o pegamento. Quando as mudas são destinadas à obtenção de porta-enxertos, devem ser conduzidas em haste única. As mudas também podem ser produzidas em sacos plásticos, torrão ou vasos. Neste caso, todas as operações podem ser realizadas com a muda dentro da embalagem, permitindo, assim, um ganho maior de tempo na obtenção da muda. 2.5.2 Partes vegetativas Em muitos casos, o porta-enxerto é obtido a partir de partes vegetativas, como é o caso da macieira em que o porta-enxerto é obtido por mergulhia de cepa; em outras situações as mudas são obtidas diretamente de estacas, como é o caso das videiras americanas, figueira, marmeleiro, entre outras. Estaquia A estaquia é um processo muito simples, que pode ser utilizado para a produção de porta-enxertos ou diretamente da muda, dispensando a utilização da enxertia. Entretanto, a utilização da estaquia é limitada à capacidade de formar raízes das espécies e/ou cultivares utilizadas. O tamanho e o tipo de estaca a ser utilizada (Figuras 2 e 3) fica na dependência da maior ou menor facilidade de enraizamento. Geralmente a estaquia é realizada no período de inverno, pois a sua utilização no verão requer instalações com sistemas de nebulização intermitente (Figura 4), como casas de vegetação, sombrites e telados. O espaçamento das estacas no viveiro é semelhante ao das 21 mudas, ou seja, 0,15 x 1,20m. No período de inverno são utilizadas estacas lenhosas de aproximadamente 30cm de comprimento. O uso de auxinas na base da estaca contribui para aumentar o enraizamento. Por exemplo, a aplicação de uma solução de ácido indolbutírico (AIB) na concentração de 2g L-1, por cinco segundo aumenta de forma significativa o percentual de estacas enraizadas. Figura 2 – Diferentes tipos de estacas lenhosas. Foto: José Carlos Fachinello. Figura 3 - Estacas com folha, comprimento de 12 cm, utilizada durante o período vegetativo da planta. Foto: José Carlos Fachinello 22 Figura 8 - Mergulhia de cepa (adaptado de WESTWOOD, 1982) Figura 9 - Mergulhia aérea ou alporquia. Foto: José Carlos Fachinello 25 Órgãos especializados Em fruticultura, a obtenção de mudas através de estruturas especializadas está restrito a alguns casos, como o morangueiro, cujas mudas são obtidas por estolões, a bananeira por rizomas e o abacaxizeiro por rebentos. Figura 10 - Estolões utilizados na propagação do morangueiro Figura 11 - Rebentos utilizados na propagação da amoreira-preta Enxertia A enxertia é o principal método de obtenção de mudas para formação de pomares comerciais, e pode ser utilizado para a maioria das plantas frutíferas. A enxertia é realizada quando os porta-enxertos, obtidos através de sementes ou partes vegetativas, atingirem o diâmetro de um lápis ou mais e é realizada a uma altura de 5 a 25cm do solo. As espécies de folhas caducas geralmente são enxertadas em duas épocas, inverno e primavera/verão. Já a maioria das espécies de folhas persistentes são enxertadas na primavera/ 26 verão. Obtenção de borbulhas ou garfos A obtenção de borbulhas ou garfos deve ser feita tomando-se alguns cuidados básicos, entre eles: - Utilizar plantas livres de doenças, principalmente de vírus; - Ser representante típico da cultivar; - Tenha alta produtividade e frutas de boa qualidade; - No caso de existirem vetores que transmitem doenças, as plantas matrizes devem estar protegidas em telados. Figura 12 - Enxertia de borbulhia em T normal. Foto: Jair Costa Nachtigal Figura 13 - Enxertia de borbulhia em T invertido. Foto: Jair Costa Nachtigal 27 forma de torrão, o transplante pode ser realizado em qualquer época do ano, porém realiza-se, de preferência, no início da atividade vegetativa. Quando as mudas forem levadas para locais distantes, devem ser embaladas de acordo com a legislação e, se transportadas no mesmo dia, devem ser mantidas em locais sombreados. No arranquio das mudas, deve-se ter o cuidado para não danificar o sistema radicular e a haste principal. 2.6.1 Tratamento da muda, embalagem e identificação As mudas, depois de desplantadas, deverão ter sua haste reduzida a uma determinada altura (50cm, no caso do pessegueiro); as raízes também são separadas, obedecendo as normas do Ministério da Agricultura. Devem ser protegidas do meio ambiente para evitar desidratação. As mudas de raiz nua podem ter seu sistema radicular mergulhado numa mistura de argila (barro), podendo-se adicionar cobre 2% + fungicida sistêmico à argila. Esta prática é denominada de aboboragem. As mudas tratadas poderão ser reunidas em feixes, embaladas com palha e identificadas (espécie, cultivar e porta-enxerto) para serem comercializadas. A parte aérea de mudas de plantas de clima temperado também poderão receber tratamento para superação da dormência (frio ou aplicação de produtos químicos). Em mudas de macieira, o armazenamento a temperaturas de 4°C durante 45 dias proporciona mudas de excelente qualidade e com brotação uniforme. As mudas também podem ser desplantadas com uma porção de solo, chamada de torrão, desta forma elas podem ser comercializadas sem maiores problemas de desidratação da parte aérea e do sistema radicular. 2.7 Viveirista Todo viveirista deverá estar registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA) como produtor de mudas e/ou comerciante, conforme Lei 10.711/2003 e Decreto 5.153/2004. Toda muda deverá ser comercializada dentro de padrões estabelecidos para a espécie, de acordo com normas elaboradas pelo MAPA ou pelas comissões estaduais para produção de mudas fiscalizadas ou certificadas. A muda fiscalizada é a que mantém todas as características necessárias a uma boa muda com relação à sanidade e vigor, porém não possui autenticidade quanto a sua origem genética, o que a distingue da muda certificada. Toda pessoa física ou jurídica que pretenda produzir material de propagação e/ou mudas fiscalizadas deverá requerer anualmente o seu credenciamento na Entidade Fiscalizadora ou Certificadora, mediante a apresentação dos seguintes documentos: a) Requerimento solicitando credenciamento; b) Comprovante de registro de produtor de mudas junto ao MAPA.; c) Termo de compromisso do Responsável Técnico; d) Projeto técnico de produção de muda fiscalizada ou certificada, com croqui de localização da propriedade, da área destinada ao viveiro e/ou campo de plantas matrizes; e e) Compromisso de produzir mais de 10.000 mudas fiscalizadas de duas ou mais espécies ou, no caso do morangueiro, mais de 200.000 mudas. 30 CAPÍTULO 3 INSTALAÇÃO DE POMARES 3.1 Requisitos básicos Antes de implantar um pomar, deve-se responder alguns questionamentos: O que plantar? Onde plantar? Qual será o mercado existente ou potencial? Em quanto tempo teremos o retorno do investimento? Hoje, a fruticultura deve ser vista como um negócio e, assim, todas as etapas que envolvem questões técnicas, econômicas e ecológicas devem ser consideradas antes da decisão de plantar, pois os custos são elevados, os mercados são exigentes em qualidade e muito competitivos. Portanto, todos os riscos devem ser calculados e analisados antes do plantio do pomar. O sucesso no cultivo de qualquer espécie frutífera deve estar fundamentado em: a) Condições adequadas de clima e solo; b) Plantio de espécies adaptadas; c) Uso de técnicas apropriadas para o manejo do solo e da planta; d) Recursos humanos e financeiros; e) Condições de transporte e armazenamento; f) Existência de mercado para o consumo“in natura” ou de indústria. As frutas, de uma maneira geral, são perecíveis e, portanto, devem ser consumidas ou industrializadas tão logo sejam colhidas no pomar, ou armazenadas em ambientes apropriados, caso contrário as perdas poderão ser totais. 3.2 Custo de implantação O pomar requer grandes investimentos no momento da implantação. Os custos envolvem o valor da terra e seu preparo, mudas, insumos, equipamentos, infra-estrutura e mão-de-obra, entre outras, fazendo com que esta atividade tenha um alto investimento inicial. Deve-se considerar o período de carência da espécie, a vida útil, o mercado e a produtividade do pomar. Com isso é possível realizar uma análise apurada da viabilidade técnica e econômica. Deve-se levar em conta todos os aspectos de ordem técnica e financeira para que o produtor tenha garantia no empreendimento, melhorias na sua condição sócio-econômica e um aproveitamento racional no uso da terra. De uma maneira geral, o custo de implantação de um hectare de pessegueiro ou ameixeira está é mais de 3.000 dólares, ao passo que para a cultura da macieira e pereira o 31 valor ultrapassa a 4.000 dólares. Esta diferença, em parte, é atribuída à quantidade e ao valor das mudas utilizadas; para pessegueiro em torno de 400 e para macieira em torno de 2.000 mudas/ha (Tabela 5). Estes valores não consideram o valor da terra e podem ser mais elevados quando são realizados em alta densidade (+ de 2000 plantas h-1) e utilizam sustentação.. Normalmente, as plantas frutíferas só iniciam a produção a partir do segundo ano e alcançam ótimos rendimentos a partir do sexto e sétimo ano de produção. Os custos de implantação e produção também podem variar de região para região e com a tecnologia utilizada. Tabela 5 – Custos de implantação e produção de um hectare de algumas fruteiras. Cultura Período Improdutivo Período Produtivo (Ano 3 ou mais) Cultivar Espaça- mento Região Ano 1 (US$/ha) Ano 2 (US$/ha) Produtividad e Média (kg/ha/ano) Valor/kg FOB (US$) Ameixeira Rubi 1, Rubi 2, Gema de Ouro 5,5 x 3,5m Paranapa- nema/SP 4.802,79 3.535,15 14.333 0,31 Goiabeira Paluma 6,5 x 4,0m Taquaritinga /SP 1.979,53 1.254,88 37.500 0,08 Pessegueiro Aurora, Flor da Prince, Douradão 5,0 x 4,0m Paranapa- nema/SP 4.508,84 3.480,93 16.875 0,30 Pessegueiro Precocinho, Maciel, Granada, Jade, Esmeralda, Cerrito 5,0 x 2,0m Pelotas/RS 3.273,02 1.325,58 11.964 0,25 Macieira Gala e Fuji 4,0 x 1,0m Vacaria/RS 11.501,86 2.364,65 42.110 0,12 Mangueira Cultivares para mesa 11,0 x 9,0m Noroeste de SP 2.086,98 676,28 9.700 0,22 Mangueira Cultivares para mesa 7,0 x 4,5m Petrolina/PE 2.734,88 1.552,09 25.000 0,15 Videira Niágara Rosada 2,5 x 2,0m Jales/SP 26.619,07 8.000,47 28.000 0,34 Videira Itália 3,5 x 2,5m Petrolina/PE 18.892,56 11.723,72 40.000 0,38 Fonte: INSTITUTO FNP (2007). 32 onde: y = número de horas de frio diárias T = temperatura máxima diária t = temperatura mínima diária Estimativa de Weinberger: Está baseada na seguinte correlação: T 13,2 12,8 11,4 10,6 9,8 9,0 8,3 7,6 6,9 6,3 horas ≤7ºC 450 550 650 750 850 950 1050 1150 1250 1350 sendo t a média das temperaturas médias de junho e julho. O uso destas fórmulas deve ser realizado com prudência, pois elas apenas apontam uma estimativa aproximada das horas de frio. Freqüentemente, se obtêm resultados diferentes, numa mesma região, usando fórmulas diferentes. Modelo de Richardson ou modelo de Utah: Baseia-se na premissa de que uma temperatura de 6ºC contribui mais para a saída do repouso que qualquer outra; 10ºC corresponde à metade da eficiência e 21ºC anularia o efeito de uma temperatura anterior mais baixa. O modelo relaciona a temperatura com unidades de frio efetivas, de forma que uma unidade de frio eqüivaleria a uma hora de exposição a 6ºC e considera o efeito negativo das temperaturas elevadas. A conversão dos valores de temperatura em unidades de frio é da seguinte maneira: TEMPERATURA (ºC ) UNIDADES DE FRIO < 1,4 1,5 - 2,4 2,5 - 9,1 9,2 - 12,4 12,5 - 15,9 16,0 - 18,0 > 18,0 0 0,5 1 0,5 0 - 0,5 - 1 Para determinar o número total de unidades de frio, basta dispor-se das temperaturas horárias e multiplicá-las pela unidade de frio, segundo a escala anterior. b) Chuvas A distribuição pluviométrica, ao longo do período do ano, é importante, pois o excesso de chuvas em um determinado período pode provocar o aparecimento de doenças, como, por exemplo, quatro dias seguidos com uma lâmina de água na folha é suficiente para que ocorram as primeiras infecções da sarna em macieira. Chuvas pesadas podem também provocar o aparecimento de zonas encharcadas no interior do pomar, o que pode ser muito prejudicial às plantas frutíferas, visto que a maioria delas não suporta períodos prolongados com solos alagados. Por outro lado, a falta de chuvas no período que antecede à colheita pode causar diminuição do tamanho e até mesmo queda das frutas. 35 Quando as médias das precipitações pluviométricas forem consideradas altas (± 1500mm ano-1), todos os cuidados devem ser tomados em relação a doenças, conservação do solo e polinização, caso contrário os danos poderão ser de grandes proporções. Tradicionalmente as zonas produtoras de frutas em todo o mundo são áreas com baixas precipitações, menores que 500mm ano-1, onde a necessidade hídrica é complementada com irrigação. c) Umidade relativa Locais com umidade relativa elevada aumentam os riscos e prejuízos com doenças. Já plantas como o quivizeiro não se adaptam a locais com baixa umidade relativa do ar, devido à perda de água pelas folhas. Esta variável é muito presente nas regiões edafoclimáticas produtoras de frutas no sul do Brasil, o que contribui para elevar o custo de produção e o uso de agrotóxicos. d) Ventos Os ventos dominantes danificam as plantas, principalmente os ramos novos, aumentando os riscos de doenças pela facilidade na disseminação das mesmas. No caso de bacterioses em rosáceas (Xanthomonas pruni) e mesmo doenças fúngicas como é o caso da ferrugem na goiabeira, antracnose na videira entre outras, podem ser reduzidas de forma importante com a presença de uma cortina vegetal. Além disso, o vento causa quebra de ramos, quebra das mudas no ponto de enxertia, queda de frutas, entre outros. Durante o período de floração, o vento pode dificultar o trabalho de insetos polinizadores, como, por exemplo, das abelhas, diminuindo a polinização e, conseqüentemente, a frutificação. Recomenda-se implantar quebra-ventos para deter os ventos dominantes, de preferência na forma de L. Normalmente o quebra-vento protege uma área anterior quatro vezes maior do que sua altura e uma área posterior de até 20 vezes, ou seja, se as plantas do quebra-vento tiverem 5 metros de altura, a proteção do pomar será de aproximadamente 100 metros. As plantas utilizadas para a formação do quebra-vento devem ser de preferência melíferas, que apresentem crescimento rápido, boa ramificação, folhas perenes e sistema radicular pouco agressivo, devendo serem dispostas em filas duplas ou triplas para fornecer melhor proteção. Quando forem utilizadas espécies de crescimento lento, recomenda-se que o quebra- vento seja implantado de 1 a 3 anos antes do plantio da cultura. Como isso nem sempre é possível, pode-se utilizar uma espécie de porte mais baixo, porém com crescimento inicial rápido, como é o caso do capim elefante e camerão. Com isso, consegue-se uma proteção na fase inicial da cultura, que é uma fase bastante delicada para a maioria das espécies, depois, com o passar do tempo, pode-se eliminar o capim, deixando-se o quebra-vento definitivo. 36 Figura 18 – Utilização de quebra-vento em pomares. Foto: José Carlos Fachinello Figura 19 - Diversos efeitos conseguidos com diferentes tipos de quebra-ventos. A - Quebra- vento impermeável, protegendo uma área de 15 a 20 vezes a sua altura; B - Quebra-vento impermeável, a área protegida é menor e; C - Quebra-vento sem proteção na base (adaptado de VELARDE, 1991) e) Granizos e geadas O controle de granizo é muito difícil e, em locais sujeitos a chuvas de granizo, não se recomenda o plantio de frutíferas. O controle de granizo, através do uso de foguetes a base de nitrato de prata, para ser eficiente, necessita de radares para determinar a altura e o ponto de nucleação das nuvens, permitindo que se faça o lançamento do foguete no momento exato. Uma alternativa que vem sendo utilizada é o emprego de telas de proteção colocadas ao longo das filas, em locais onde as chuvas de granizo são freqüentes e para pomares com grande retorno econômico, como uvas para mesa e maçãs. O efeito prejudicial do abaixamento de temperaturas, provocado por geadas, depende do estádio fenológico da planta. Geadas do cedo ou tardias são mais prejudiciais à planta e seu controle envolve grandes despesas com energia. Para se controlar o abaixamento da temperatura a níveis danosos às plantas, diversos métodos têm sido empregados, entre eles os métodos passivos, biológicos e ativos. 37 Figura 22 - Evolução do rendimento de pessegueiro em solos com diferentes drenagens. (GRAAF, 1939) Problemas de replantio de frutíferas Quando são plantadas frutíferas em solos previamente ocupados pela mesma espécie ou por espécie intimamente afim, pode resultar um crescimento deficiente. Os sintomas são um pequeno sistema aéreo e um sistema radicular fraco, com raízes freqüentemente descoloridas, com poucas ramificações laterais e poucos pêlos absorventes. Estes sintomas têm sido reconhecidos, desde há mais de 250 anos, como "doença do solo" ou "problemas de replantio". Embora o termo "doença específica de replantio" tenha sido proposto para evitar confusão com muitos outros problemas de replantio não relacionados, esta expressão pode não ser de grande utilidade, pois nem sempre as plantas estão sujeitas a esses problemas. Similarmente, nem sempre é necessário que se tenha o mesmo tipo de planta replantada para se observar o problema. Ele deveria, portanto, ser considerado não como doença, mas como uma indisposição geral do solo. Essa indisposição é mais severa no estabelecimento de macieiras, cerejeiras, pessegueiros e plantas cítricas e menos severa em ameixeiras e pereiras. Várias opções, tais como patógenos, nutrição e fatores físicos e químicos tem sido consideradas como possíveis explicações. Estudos com cerejeiras e ameixeiras, cultivadas em vaso, sugerem que o fungo Thielaviopsis basicola é responsável pelo aparecimento deste tipo de problema. Algumas cepas do fungo, isolado do solo, produziram todas as características da doença, incluindo especificidade inter e intra-genéticas, sintomas do hospedeiro, estabelecimento, imobilidade e persistência do agente causal do solo, crescimento normal das plantas após a sua transferência a solos de "não replantio" e influências limitadas do tipo de solo na incidência da doença. Assim, parece que plantas mais velhas podem tolerar a presença do fungo no solo, enquanto que as plantas em estabelecimento não podem, pois apenas algumas cepas do fungo são patogênicas. O T. basicola não afeta as várias espécies de Malus, na qual se inclui a macieira. O problema da maçã foi investigado de maneira similar ao da cerejeira e da ameixeira, mas mostrou-se mais intratável. Pythium sylvaticum e outros sete Pythium spp foram isolados do solo de replantio e descobriu-se que a maioria deles podia reduzir o crescimento da planta quando aplicado ao novo solo. As depressões no crescimento foram similares aos aumentos 40 que ocorriam após a fumigação de cloropicrina do solo de replantio em pomares de macieira. Os fungos tinham apenas uma baixa virulência à cereja. No entanto, as observações não são completamente conclusivas, porque os fenômenos de crescimento deficiente são muito mais difíceis de serem diagnosticados do que sintomas mais definidos, tais como as lesões causadas pela maioria dos patógenos. Os efeitos alelopáticos, dentro da mesma espécie, ocorrem pela liberação de substâncias no solo pelo sistema radicular, assim as raízes de pessegueiro liberam prunasina, as raízes de ameixeira amigdalina e as raízes de nogueira o jiglone. Estas substâncias inibem o desenvolvimento normal da espécie, no mesmo local. 3.3.3 Água A propriedade deve possuir água de qualidade e em quantidade para realização de irrigações, tratamentos fitossanitários, para o consumo humano, entre outros. 3.3.4 Exposição do terreno e topografia Em solos planos este item não tem importância, porém, em solos mais inclinados, deve-se escolher a exposição norte, devido à melhor insolação e à menor incidência de vento. De preferência na meia encosta, evitando-se o plantio em áreas muito acidentadas, com declives acima de 20%. A disposição das plantas no pomar deve considerar o melhor aproveitamento da luz solar. Assim, as plantas que receberam uma maior quantidade de luz solar serão também as mais produtivas. 3.3.5 Mão-de-obra As práticas realizadas no pomar necessitam de mão-de-obra qualificada e em grande quantidade. Normalmente são necessários de um a três homens por hectare, pois, praticamente todas as atividades que envolvem o manejo da planta, são realizadas manualmente. Para tanto, é necessário que se faça uma pesquisa com antecedência da disponibilidade de mão-de-obra na região, com isso evita-se prejuízos devido a não realização de uma atividade por falta de pessoal, ou mesmo a má realização desta devido à falta de experiência. A fruticultura é uma atividade típica para pequenas propriedades. A mão-de-obra familiar nem sempre é suficiente e, na maioria das vezes, necessita ser complementada, principalmente no período da poda hibernal, raleio e colheita das frutas. 3.3.6 Transporte As frutas se caracterizam por serem bastante perecíveis e sensíveis ao manuseio. Isso exige que se tenha estradas que permitam o transporte rápido do local de produção ao destino final da fruta, quer seja a indústria ou o consumo “in natura”. Somente a rapidez não é suficiente, é preciso ter-se estradas em boas condições de tráfego, além de veículos e embalagens adequadas. Os cuidados devem ser iniciados no momento da colheita, procurando-se evitar, de todas as formas, os danos nas frutas, que irão depreciá-los no momento da comercialização, causando, até mesmo, o descarte dos mesmos. 3.3.7 Mercado Antes de instalar um pomar deve-se ter informações sobre as demandas regionais, 41 estaduais, nacionais e internacionais; os períodos do ano que as frutas alcançam melhores preços; sobre as variedades de preferência do consumidor, principalmente com relação ao tamanho, cor e sabor das frutas. As frutas de película vermelha, como é o caso de algumas cultivares de maçã, tem um mercado mais garantido. Pois, as frutas com cores avermelhadas chamam mais atenção do que as frutas com cores esverdeadas. As frutas destinados ao mercado “in natura” alcançam preços mais elevados do que as frutas destinados à indústria, porém requerem embalagem adequada e maiores cuidados no manuseio por parte dos produtores. Deve-se, também, considerar a distância do pomar ao centro de consumo, a perecibilidade das frutas e a existência de agroindústrias para o aproveitamento do excedente. 3.4 Seleção das espécies a serem plantadas 3.4.1 Valor cultural Diz respeito à resistência das plantas a doenças, produtividade, resistência ao transporte, vigor e precocidade. Nem sempre é possível juntar todas estas características na mesma cultivar. No caso de pomares domésticos, dá-se preferência para as cultivares que sejam resistentes a doenças e pragas, em detrimento da qualidade das frutas. 3.4.2 Valor comercial Diz respeito à preferência do mercado, tamanho, cor, aspecto da fruta e destinação da produção. Tradicionalmente, em qualquer parte do mundo, as frutas destinados ao consumo “in natura”, alcançam melhores preços que aqueles destinados à indústria. 3.4.3 Época de amadurecimento No caso de frutas destinados ao consumo “in natura”, deve-se procurar utilizar espécies que apresentem o pico de maturação em épocas diferentes das cultivares existentes na região, por exemplo, no caso de laranjas, deve-se dar preferências às cultivares tardias, como a Valência e a Pêra, pois, para as cultivares precoces e de meia estação, o mercado já está saturado. Já no caso de pomares destinados à indústria, que geralmente se caracterizam por serem pomares mais extensos, normalmente se recomenda utilizar cultivares com época de maturação diferente, pois com isso evita-se a concentração de atividades no mesmo período. Além disso, diminui-se o risco de grandes perdas devido à ocorrência de geadas, granizos, estiagens, entre outros. Sempre que possível, recomenda-se fazer um escalonamento da produção, plantando cultivares precoces, medianas e tardias. Lembrando sempre que as cultivares precoces, ou seja, aquelas que suas frutas amadurecem no cedo, necessitam de menores gastos com a produção, pois geralmente escapam ao ataque das pragas e doenças. Um exemplo típico acontece com a mosca das frutas no sul do Brasil, onde as cultivares precoces de pêssegos, de ameixas e de nectarinas são pouco afetadas, pois as gerações desta praga ainda são insuficientes para um ataque mais severo, devido à baixa soma térmica que ocorre no período. O planejamento da colheita das frutas aproveita melhor o equipamento e a mão-de-obra disponível. 42 A determinação do número de plantas é feita da seguinte forma: Número de plantas = S/L x l onde: S = área a ser plantada l = lado menor L = lado maior Exemplo: Plantio de 1ha de pessegueiro no espaçamento 6 x 4 m. Número de Plantas = 10.000 m2/24m2 = 417 plantas.ha-1 Quadrado Esta disposição mantém a mesma distância entre as plantas e entre as filas e permite o tráfego de máquinas e equipamentos em dois sentidos, porém diminui a área útil do terreno e dificulta os tratos culturais mecanizados, em virtude de que aproxima as linhas das plantas. Este sistema é pouco emprego em pomares comerciais. Figura 24 - Esquema de um pomar na forma quadrangular. Figura: Jair Costa Nachtigal A determinação do número de plantas é feita da seguinte forma: Número de plantas = S/LxL onde: S = área a ser plantada L = lado do quadrado Exemplo: Plantio de 1ha de goiabeira no espaçamento de 5 x 5 m. Número de Plantas = 10.000 m2/ 25 m2 = 400 plantas.ha-1 Triângulo Esta disposição também é pouco empregada, sendo que apresenta as seguintes características: uma eqüidistância entre as plantas, permite o trânsito em três sentidos, utiliza 45 L L o terreno de uma maneira bastante uniforme e permite um aumento de aproximadamente 15% no número de plantas por área, em relação ao sistema quadrado. Figura 25 - Esquema de um pomar na forma triangular A determinação do número de plantas é feita da seguinte forma: Número de plantas = S/LxL x 1/0,866 onde: S = área a ser plantada L = lado do triângulo h = √3/2 = 0,866 Exemplo: Plantio de 1ha de abacateiro no espaçamento de 7 x 7m. A altura do triângulo é dada pela fórmula h = L. √3/2 h = 7 x 0,866 = 6,062 m Número de Plantas = 10.000 m2/7x6,062m2 = 235 plantas.ha-1 ou Número de Plantas = 10.000m2/7x7 x 1/0,866 = 235 plantas.ha-1 Quincôncio Este sistema pode ser definido como uma sobreposição de dois sistemas quadrados. Esta disposição pode ser aplicada na implantação de pomares em que se consorcia duas espécies frutíferas. A consorciação de espécies é viável quando se deseja instalar um pomar de uma espécie frutífera que apresenta um longo período improdutivo, como, por exemplo, a nogueira-pecan. Neste caso, podemos implantar entre as fileiras desta espécie, mudas de pessegueiro ou outra frutífera de reduzido período improdutivo e que permita obter retorno dos investimentos num menor período de tempo. Também, ao invés de usar uma espécie complementar para a nogueira-pecan, poder-se-ia usar a mesma espécie para esta disposição, mas neste caso torna-se necessário um desbaste das plantas no momento em que houver concorrência por espaço físico entre as mesmas. Esta disposição de plantas tem o inconveniente de dificultar o trânsito de implementos, em virtude da proximidade das fileiras. 46 Figura 26 - Esquema de um pomar na forma de quincôncio 3.8.2 Disposição das plantas em contorno Em solos que apresentam declividade deve-se optar por sistemas que permitam um bom controle da erosão. Nesta situação, deve-se combinar as práticas de conservação incluindo a cobertura permanente do solo. Plantio em fileiras paralelas entre os terraços Esta forma de disposição das plantas permite que se mantenha constante a distância entre fileiras. As fileiras de plantas devem ser demarcadas a partir de um determinado terraço, em ambas as direções, ou seja, para cima e para baixo. Desta forma, este terraço não terá contato com nenhuma fileira de plantas. Neste sistema de disposição de plantas não ocorrem linhas mortas, ou seja, fileiras que não entram em contato com os carreadores junto ao terraço. Os carreadores devem ser dispostos junto aos terraços em que desembocam as fileiras de plantas, o que acontece a cada dois terraços; deste modo, evitar-se-á a erosão nos carreadores. Figura 27 - Esquema de um pomar implantado em fileiras paralelas ao terraço. 47 L L Figura 31 - Esquema de um pomar implantado em patamar contínuo 3.9 Plantio 3.9.1 Época A época mais adequada para realizar o plantio das mudas no campo depende, basicamente, da região e do tipo de muda utilizada. Para mudas de raiz nua, o plantio deve ser realizado no período de baixa atividade fisiológica da planta e quando o solo apresente um bom teor de umidade, o que corresponde, para a região sul, aos meses de junho a agosto. Para mudas produzidas em embalagens, comum nos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e nordeste do Brasil, o plantio pode ser realizado no período das chuvas ou em qualquer período do ano, desde que haja uma irrigação freqüente. As mudas produzidas em embalagens apresentam a vantagem de não interromperem o seu ciclo de crescimento com o transplante, atingindo, desta maneira, um crescimento mais rápido e uniforme. 3.9.2 Espaçamento O espaçamento é definido como sendo a distância existente entre plantas de mesma fileira (espaçamento entre plantas) ou entre plantas de fileiras diferentes (espaçamento entre linhas). Os espaçamentos recomendados para as principais culturas são apresentados na Tabela 8. 50 51    Tabela 8 - Espaçamentos recomendados para as principais espécies frutíferas   O espaçamento é bastante variável entre as espécies e, mesmo para uma mesma espécie, entre as cultivares. Está também relacionado com diversos fatores, como, por exemplo, tecnologia adotada, maquinário disponível na propriedade, vigor do porta-enxerto e da cultivar-copa, disponibilidade de área, entre outros. 3.9.3 Densidade do pomar A utilização de maiores ou menores espaçamentos irá resultar em pomares de baixa ou alta densidade, respectivamente. Com isso, surgem termos importantes, com significados diferentes, que muitas vezes são fonte de grandes equívocos, entre eles: a) Densidade de implantação - definida como sendo o número de plantas por unidade de área. A densidade de implantação fica constante durante toda a vida do pomar se não forem feitos desbastes; b) Densidade do pomar propriamente dita - definida como a percentagem da área do pomar coberta pelas copas das plantas. Quanto maior a área útil do pomar, maior sua densidade. Pomares jovens apresentam baixa densidade inicial, que vai aumentando com desenvolvimento das plantas. Para classificar os pomares quanto à densidade, pode-se estabelecer parâmetros para definir baixa, média e alta densidade, conforme mostra a Figura 32. a) Baixa densidade - quando não há correlação entre o aumento do número de plantas Tabela 8 - Espaçamentos recomendados para as principais espécies frutíferas CULTURA DISTÂNCIA ENTRE PLANTAS (m) DISTÂNCIA ENTRE LINHAS (m) ESPAÇAMENTO MAIS UTILIZADO (m) Aceroleira Abacateiro Abacaxizeiro Ameixeira Amoreira-preta Araçazeiro Bananeira Caquizeiro Citros Figueira Framboeseira Goiabeira Jabuticabeira Quivizeiro Macieira Mamoeiro Mangueira Maracujazeiro Marmeleiro Mirtilo Morangueiro Nespereira Pereira Pessegueiro Romanzeira Videira 2,0 a 5,0 7,0 a 10,0 0,3 3,0 a 4,0 0,3 a 0,7 2,0 a 4,0 2,5 5,0 a 7,0 2,0 a 7,0 2,0 a 3,0 0,3 a 0,7 3,0 a 11,0 4,0 a 7,0 4,0 a 6,0 0,8 a 5,0 2,0 8,0 a 12,0 2,5 3,0 1,0 a 1,5 0,3 a 0,4 5,0 a 7,0 4,0 a 10,0 1,0 a 4,0 4,0 a 6,0 1,0 a 3,5 4,0 a 6,0 9,0 a 12,0 0,8 a 1,0 5,0 a 7,0 2,5 a 3,0 2,5 a 6,0 3,0 6,0a 8,0 5,0 a 8,0 3,0 a 5,0 2,5 a 3,0 6,0 a 11,0 4,0 a 7,0 4,0 a 6,0 4,0 a 7,0 3,0 8,0 a 12,0 3,0 4,0 3,0 a 4,0 0,3 a 0,4 5,0 a 7,0 5,0 a 10,0 5,0 a 7,0 4,0 a 6,0 2,5 a 4,0 4,0 x 5,0 10 x 10 0,3 x 0,9 4,0 x 6,0 0,5 x 3,0 2,0 x 4,0 2,5 x 3,0 7,0 x 7,0 4,0 x 6,0 3,0 x 5,0 0,5 x 3,0 5,0 x 7,0 6,0 x 6,0 5,0 x 5,0 1,25 x 5,0 2,0 x 3,0 10,0 x 10,0 2,5 x 3,0 3,0 x 4,0 1,0 x 4,0 0,3 x 0,4 6,0 x 6,0 4,0 x 60 4,0 x 6,0 5,0 x 5,0 2,0 x 3,0 O espaçamento é bastante variável entre as espécies e, mesmo para uma mesma espécie, entre as cultivares. Está também relacionado com diversos fatores, como, por exemplo, tecnologia adotada, maquinário disponível na propriedade, vigor do porta-enxerto e da cultivar-copa, disponibilidade de área, entre outros. 3.9.3 Densidade do pomar A utilização de maiores ou menores espaçamentos irá resultar em pomares de baixa ou alta densidade, respectivamente. Com isso, surgem termos importantes, com significados diferentes, que muitas vezes são fonte de grandes equívocos, entre eles: a) Densidade de implantação - definida como sendo o número de plantas por unidade de área. A densidade de implantação fica constante durante toda a vida do pomar se não forem feitos desbastes; b) Densidade do pomar propriamente dita - definida como a percentagem da área do pomar coberta pelas copas das plantas. Quanto maior a área útil do pomar, maior sua densidade. Pomares jovens apresentam baixa densidade inicial, que vai aumentando com desenvolvimento das plantas. Para classificar os pomares quanto à densidade, pode-se estabelecer parâmetros para definir baixa, média e alta densidade, conforme mostra a Figura 32. a) Baixa densidade - quando não há correlação entre o aumento do número de plantas 51 CAPÍTULO 4 MANEJO DO SOLO E IRRIGAÇÃO EM POMARES 4.1 Introdução O manejo do solo envolve todos os tratos culturais aplicados à camada de solo utilizada pelas plantas frutíferas, desde o momento do plantio até a colheita. Deve ser o mais eficiente possível quanto ao controle da erosão do solo, regulação da disponibilidade de água, manutenção de um bom nível de matéria orgânica, redução da competição com ervas daninhas, manutenção da fertilidade do solo, facilidade no trânsito do homem e máquinas no pomar, levando em consideração a economicidade, equipamentos e máquinas disponíveis na propriedade. O manejo do solo e a sua execução estão intimamente ligados ao sistema de plantio, espaçamento adotado, dimensão da área, espécie cultivada, clima e topografia. 4.2 Preparo do solo antes do plantio As plantas frutíferas apresentam um sistema radicular que se concentra numa faixa de 0 a 40cm, entretanto é possível que algumas espécies atinjam até alguns metros de profundidade. O solo, portanto, deve ser profundo, bem drenado e conter nutrientes e água em quantidades adequadas para que a planta alcance um bom desenvolvimento. O solo deve ser preparado até uma profundidade de 40 a 50cm, para que seja possível incorporar os fertilizantes e corretivos. Para isso, é utilizada subsolagem seguida de lavração profunda, quando as condições do terreno permitirem. Para plantas frutíferas, o solo deve ser corrigido até uma profundidade de 40cm, portanto a quantidade de corretivos deve ser duplicada, uma vez que a análise de solo prescreve os corretivos para uma faixa que vai até 20cm de profundidade. Durante o preparo do solo, antes do plantio, é a melhor ocasião para incorporar os corretivos em profundidade, tendo-se em vista que os mesmos são pouco móveis no solo; e que, depois de implantado o pomar, as dificuldades para colocá-los a disposição do sistema radicular seriam aumentadas. O preparo do solo de maneira superficial dificulta a penetração do sistema radicular da planta e limita a disponibilidade de nutrientes e água, provocando menor crescimento das mesmas, podendo, em algumas situações, aumentar o risco de erosão pela menor retenção de água das chuvas. Deve-se levar em conta o tipo de solo e a declividade do terreno, condições climáticas, recursos do fruticultor, espécie cultivada, condução da planta e área do pomar. 54 Em terrenos pedregosos ou muito acidentados o preparo normalmente é feito em covas. 4.2.1 Preparo do solo com subsolagem e lavração profunda A subsolagem é uma prática realizada a uma profundidade de 40 a 50cm no solo, seguida de lavração e gradagem. Este sistema permite colocar os nutrientes em maiores profundidades e a disposição das raízes das plantas, melhorando a aeração do solo, e a infiltração de água, além de romper camadas adensadas existentes, facilitando a penetração e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Esta forma de cultivo não pode ser utilizada em solos rasos, pedregosos ou que apresentem horizonte com adensamento. Exige máquinas apropriadas e apresenta um custo inicial mais elevado. O calcário e os demais corretivos podem ser aplicados em duas etapas; metade da quantidade antes da subsolagem e a outra metade antes da lavração. Quando for usado um fosfato natural, como fonte de P2O5, deve-se aplicá-lo antes da aplicação do calcário, pois em meio ácido esta fonte de fósforo se solubiliza mais facilmente, aproveitando, desta forma, a acidez natural do solo. Os corretivos são aplicados em toda a área e, por ocasião do plantio, faz-se abertura de pequenas covas, com tamanho suficiente para acomodar o sistema radicular da planta, não havendo necessidade de adubação nas covas. O plantio das mudas, dependendo da declividade, poderá ser: a) Em nível, quando a declividade do terreno for menor do que 3%; b) Com construção de terraços, quando a declividade for menor do que 20% e; c) Em patamares, quando a declividade for superior a 20%. 4.2.2 Preparo convencional do solo seguido ou não de abertura de covas Neste sistema o solo é preparado e corrigido até uma profundidade de 20 a 25cm, em seguida são abertas covas de 60 x 60 x 60 ou 80 x 80 x 80cm. Os fertilizantes são utilizados de acordo com o volume do solo e os resultados da análise do mesmo. Este sistema pode ser utilizado em situações onde não é possível realizar o preparo do solo, devido à presença de impedimentos à mecanização, tais como pedras e declive acentuado, ou quando a espécie a ser cultivada não apresenta um sistema radicular profundo. Em solos mal drenados ou muito argilosos a utilização de covas pode provocar acúmulo de água e morte das raízes por asfixia. Em outras situações, a adubação na cova cria um ambiente propício ao desenvolvimento da planta e não permite que haja uma expansão lateral, quer por problemas mecânicos (parede espessa) ou químicos (maior disponibilidade de nutrientes na cova). 4.2.3 Preparo convencional seguido da construção de terraços tipo camalhão O solo é preparado até uma profundidade de 20 a 40cm, ao mesmo tempo em que é realizada a correção de acordo com os resultados da análise do solo. Sobre o solo previamente preparado são construídos camalhões, ou seja, terraços de base estreita com 2,0 a 3,0m de largura e 40 a 60cm de altura, sobre os quais são plantadas as 55 mudas, conforme indica a Figura 34. Figura 34 - Corte de um terraço, mostrando sua localização, bem como a do canal Os camalhões são construídos com trator equipados com arados reversíveis, locados em nível ou desnível de 0,3 a 0,8%. A distância entre eles pode ser de 5 a 10m dependendo da espécie a ser cultivada. Pode ser utilizado em terrenos de até 20% de declividade. Permite um bom desenvolvimento radicular da planta, pois aumenta a quantidade de solo arável a ser explorado; preparo totalmente mecanizado; contribui para o controle da erosão e auxilia a drenagem em solos planos. 4.2.4 Preparo do solo em faixas Consiste em preparar apenas uma faixa do terreno, na qual será plantada a espécie frutífera. A faixa de preparo, dependendo do terreno, pode ser em nível e ter uma largura de até 2,5m. Nesta faixa são aplicados todos os corretivos e a muda é plantada sobre solo preparado. A medida que a planta vai crescendo, a faixa de cultivo pode ser ampliada. Entre as duas filas de plantas pode permanecer uma faixa de vegetação nativa ceifada periodicamente, conforme Figura 35. O preparo do solo pode ser com subsolagem e lavração profunda ou ainda lavração convencional seguida da construção de camalhões. Este sistema tem um custo menor na instalação do pomar e permite um bom controle da erosão do solo. A desvantagem seria que ele não permite a instalação de culturas intercalares no pomar. Figura 35 - Sistema de cultivo onde as linhas de plantas são mantidas limpas e as entrelinhas com cobertura vegetal. Foto: José Carlos Fachinello 56 Em locais onde ocorre déficit hídrico por longos períodos é necessário prever práticas de irrigação. Já em solos com excesso de água, é necessário executar um sistema de drenagem eficiente, pois as plantas frutíferas não toleram solos encharcados ou com lençol freático muito próximo à superfície. Pomar permanentemente limpo Neste sistema, toda área do pomar é mantida livre de vegetação nativa ou invasoras, por meio de mobilizações periódicas e superficiais ou mesmo com uso de herbicidas. Apesar desta forma de manejo evitar a concorrência das plantas daninhas, facilitar a incorporação de nutrientes e demais tratos culturais, expõe o solo à erosão; provoca compactação, pelo trânsito de máquinas e implementos agrícolas; além de diminuir a matéria orgânica, deixando o solo mais sujeito às variações de temperatura durante o dia e a noite. O uso freqüente de equipamentos que pulverizam o solo, tais como enxadas rotativas, além de desagregar o solo, facilita, enormemente, a erosão. A manutenção do solo limpo, com aplicações sucessivas de herbicidas, provoca um endurecimento na camada superficial, contribuem para aumentar os riscos de intoxicação dos aplicadores e podem poluir os mananciais de água. Pomar com cultivo intercalar Neste sistema de cultivo, o pomar é mantido na entrelinha com um cultivo intercalar, que pode ter um caráter temporário ou permanente. As espécies cultivadas devem ser de porte baixo e, normalmente, leguminosas ou associação com gramíneas e têm o objetivo de melhorar as propriedades físicas e químicas do solo, porém deve-se considerar que, em períodos de seca, as leguminosas causam maiores prejuízos às plantas do que as gramíneas, pois apresentam sistema radicular mais desenvolvido e, com isso, uma maior capacidade de absorção de água do solo. Quando se mantém a vegetação espontânea, a mesma é mantida ceifada periodicamente. Ao longo das filas é mantida uma faixa limpa, do tamanho ou um pouco maior do que a projeção da copa das plantas, através do uso de capinas ou aplicações de herbicidas. Este sistema combina as vantagens do sistema que mantém o solo limpo na linha da planta e da cobertura vegetal na entrelinha como auxílio no controle da erosão. Esta modalidade de sistema pode ser alterada ao longo do ciclo vegetativo da planta, no caso específico de plantas frutíferas de clima temperado. Depois que as frutas foram colhidas pode-se deixar a vegetação espontânea crescer também ao longo da linha de plantas, até o início da primavera seguinte. No caso de algumas espécies de folhas permanentes, como é o caso de plantas cítricas no estado de São Paulo, recomenda-se, na época das águas, manter a faixa limpa periodicamente e a entrelinha ceifada ou discada através de grades. Se for utilizada uma planta intercalar para exploração econômica, deve-se realizar a adubação da planta independente da adubação da frutífera. Pomar com cobertura vegetal permanente O solo todo do pomar é mantido com uma cobertura vegetal rasteira, nativa ou cultivada de forma permanente. Oferece vantagens para a proteção do solo no que diz respeito à melhoria na estrutura, proteção contra erosão, trânsito de máquinas e diminui a compactação. Entretanto, é um sistema que a vegetação dentro do pomar concorre com a planta 59 frutífera em água e nutrientes, podendo causar prejuízos em épocas de estiagem. Este sistema pode ser utilizado em solos com grande declividade, apenas realizando um pequeno coroamento na projeção da copa durante o ciclo vegetativo da planta, através do uso de capinas ou herbicidas. Pode ser utilizado em plantas que apresentem um sistema radicular profundo, como é o caso da nogueira-pecan. Pomar com cobertura morta permanente O solo é mantido com uma cobertura de restos vegetais, cortados de espécies forrageiras, palha ou casca de arroz, serragem, palha de leguminosas, entre outras. A espessura da cobertura varia de 10 a 20cm, conforme o material utilizado. Através de experimentos, verificou-se que é necessário cortar até 3m2 de área de capim gordura para cobrir 1m2 do pomar com folha seca, numa espessura de 20cm. Apesar deste sistema ser oneroso e limitado à pequenas áreas, traz vantagens para o desenvolvimento das plantas, tais como: a) Redução das perdas de água, pois funciona como uma válvula que permite a penetração da água, opondo-se, no entanto, a sua perda por evaporação direta; b) Evita que a gota da chuva cause desagregação das partículas pelo impacto direto; c) Aumenta as taxas de N, S, B e P no solo; d) Contribui para o controle das ervas daninhas, possibilitando que as plantas possam desenvolver o sistema radicular na superfície do solo. As limitações para uso deste sistema de cultivo seriam: a) Em solos mal drenados os problemas de aeração são acentuados; b) Em pomares conduzidos com cobertura morta por alguns anos, o abandono da prática pode trazer sérias conseqüências, pois o sistema mantém as raízes da planta na superfície do solo; c) A cobertura morta aumenta o risco de geadas por impedir a irradiação do calor do solo para o ar; d) Favorece o risco de incêndio e ataque de roedores; e) O custo é significativo, pois necessita-se adicionar matéria seca anualmente; f) Não deve ser estabelecida antes de três anos de vida da planta, pois estimula o desenvolvimento superficial das raízes da planta. A adição periódica de restos vegetais faz com que se necessite de uma adubação suplementar de nitrogênio, na base de 50 kg/tonelada de cobertura morta, uma vez que a mesma altera a relação C/N. Variantes para combinar sistemas de cultivo do pomar Na prática os sistemas de cultivos citados anteriormente são pouco utilizados isoladamente, o que se utiliza são as combinações deles durante o desenvolvimento da cultura, baseados na espécie vegetal, regime hídrico, declividade, disponibilidade de mão-de-obra, equipamentos e custos. Em algumas situações, pode-se utilizar: a) Cobertura vegetal permanente e cobertura morta na linha das plantas; b) Cobertura com vegetal ceifado na entrelinha e limpo na projeção da copa, através de herbicidas e/ou capinas periódicas; c) Cultivo do solo com planta leguminosa durante parte do ano para posterior incorporação ao solo; d) Vegetação nativa na entrelinha, mantida rasteira através do uso de grades que atingem pequenas profundidades do solo; e) Vegetação natural ceifada no período das chuvas e limpo, na época da seca, com 60 máquinas ou herbicidas; f) Vegetação natural ceifada quando necessário e plantas coroadas com herbicidas. 4.3.3 Escolha do sistema de cultivo É difícil recomendar um ou outro sistema de cultivo apenas a partir de considerações teóricas, pois a escolha do sistema deverá levar em conta: a) Aspectos relativos à planta (espécie, espaçamento); b) Aspectos relativos ao solo (profundidade, textura, estrutura, topografia); c) Aspectos relativos ao clima (chuvas, geadas); d) Aspectos econômicos (custo operacional, equipamentos disponíveis); 61 4.4 Resultados com sistemas de manejo do solo e da cobertura vegetal em pomares Na prática, verifica-se que as associações de sistemas de manejo dão melhores resultados e procura-se alterá-los durante o ciclo de desenvolvimento da planta. 4.4.1 Pessegueiro e ameixeira O cultivo do solo com cobertura vegetal na entrelinha e a manutenção de uma faixa limpa ao longo da linha é aquele que tem apresentado os melhores resultados. Esta faixa corresponde à projeção da copa e é realizada através de capinas manuais, roçadas ou por meio de herbicidas. Depois da colheita até o início da primavera pode-se deixar todo o solo coberto com vegetação, procurando ceifá-la através de roçadas manuais ou mecanizadas. Sempre que possível, deve-se cultivar, no inverno, uma planta leguminosa para ser incorporada ao solo, como fonte de matéria orgânica e nutrientes. Na Tabela 10 é mostrada a importância da manutenção da cobertura do solo através da quantidade de nitrogênio possível de ser reciclado em um pomar de pessegueiro onde solo coberto com aveia preta. A vegetação da entrelinha deve ser cortada periodicamente que tenham pouca penetração no solo. Deve-se evitar a utilização de enxadas rotativas que provocam uma pulverização do solo, contribuindo para aumentar a erosão. Tabela 10. Cobertura de solo com aveia preta e produção de matéria verde, seca e nitrogênio reciclado em pomar de pessegueiro cv Cerrito, média 2000 e 2001 em kg/ha, Sistema de condução Matéria verde Matéria seca Nitrogênio reciclado Produção integrada 19,879 a 5,903 a 98 a Produção convencional* 3,925 b 661 b 16 b Fonte: GOMES (2003). * Cobertura espontânea que se estabeleceu no intervalo entre as práticas de limpeza do pomar. 4.4.2 Videira A viticultura é uma atividade cuja exploração é feita, principalmente, nas pequenas propriedades e normalmente em solos que apresentam uma declividade acentuada. O RS é o estado que apresenta a maior área cultivada e, nas regiões de cultivo, ocorrem precipitações que podem chegar a 2.000mm/ano, contribuindo de sobremaneira para agravar os problemas de erosão. A forma de cultivo do solo que tem sido recomendada é aquela que procura manter o solo com uma cobertura vegetal, seja ela proveniente de restos de cultivo ou cultivada. Sendo que as espécies são plantadas no outono e mantidas durante o ciclo vegetativo da planta. Na primavera, quando a videira começa a emitir as brotações, a cobertura deve ser dessecada ou acamada para evitar a concorrência com as plantas. É uma prática de custo baixo e que diminui os gastos com mão-de-obra, herbicidas e fertilizantes. Em regiões de clima quente, o sistema adotado é a manutenção da vegetação nativa na 64 entrelinha, mantida baixa com o uso de roçadas periódicas, e a linha das plantas limpa por meio de capinas manuais ou por meio de herbicidas. Em boa parte das regiões vitícolas, outra prática que vem trazendo bons resultados é a utilização de adubos orgânicos, tais como camas de aviário, esterco curtido de curral e restos vegetais obtidos na propriedade. Esta prática contribui para aumentar a produtividade do vinhedo, além de trazer significativas melhorias nas propriedades físico-químicas do solo e um melhor controle da erosão. Em muitas regiões são utilizadas cerca de 60 a 80 toneladas/hectare/ano de esterco curtido de curral em parreiras para produção de uvas para mesa. No caso de uvas para vinhos finos, a adição de matéria-orgânica deve ser feita com cuidado, em função de evitar o excesso de nitrogênio que pode comprometer a qualidade da uva e, consequentemente, dos vinhos elaborados. 4.4.3 Figueira A figueira, assim como a videira, é cultivada em pequenas propriedades, pois exige uma grande quantidade de mão-de-obra. No estado de São Paulo, onde se encontra a maior área cultivada, principalmente no município de Valinhos, a utilização da cobertura morta é uma prática muito difundida. Já no primeiro ano que o pomar é implantado, toda a área é coberta por uma camada espessa (20cm) de matéria morta. Esta prática é repetida anualmente e traz ótimos resultados, pois além de controlar a erosão, contribui para manutenção da umidade do solo e diminui a população de nematóides do solo. Aliada a esta prática, a adubação mineral é complementada com o uso de lixo urbano previamente tratado e que é aplicado em covas ao redor das plantas em produção. A adubação mineral é aplicada a lanço sobre a palha, tendo-se o cuidado de aumentar a quantidade de adubos nitrogenados. 4.4.4 Plantas cítricas A citricultura no Brasil tem-se desenvolvido de maneira acentuada, principalmente no estado de São Paulo, onde mais de 850.000ha de plantas cítricas. O clima neste Estado se caracteriza, durante o ano, por um período de relativa falta de chuvas no inverno, podendo em algumas regiões causar prejuízos às plantas, e por um período de chuvas na primavera/verão. Assim sendo, procura-se realizar práticas que diminuam a evapotranspiração do pomar, ou seja, mantem-se o pomar limpo ou com a vegetação ceifada na entrelinha e limpo na projeção da copa da planta. O revolvimento do solo na superfície, com uso de grades, provoca rompimento de tubos capilares. No período das águas, busca-se manter, no pomar, uma cobertura vegetal nativa ou cultivada para prevenir os danos provocados pela erosão. Trabalhos realizados na Estação Experimental de Limeira, no período de 1954 a 1963, revelaram a superioridade da cobertura morta em relação a outros oito sistemas de cultivos com grades de discos, adubos verdes, aração e roçada. Entretanto, é considerada antieconômica, pois exige grande quantidade de massa vegetal e não seria viável em grandes pomares. O outro tratamento que apresentou bom resultado foi aquele que utilizou soja perene (Glycine javanica L.) controlada de abril a setembro com 3 gradeações. A combinação de roçadeira + grade + capina é uma prática bem aceita entre os citricultores. Consiste em usar roçadeiras nas entrelinhas no período chuvoso (setembro a março), 3 a 4 vezes, e gradeação no período seco (abril a agosto). Nas linhas são feitas capinas com herbicidas ou com enxada. Os adubos e corretivos são aplicados e incorporados na projeção da copa da planta. 65 Para as condições do RS, a utilização de sistemas de cultivo que permitam a incorporação de fertilizantes e roçadas para manter a vegetação rasteira, tem aumentado nos últimos anos. A projeção da copa é mantida limpa através de capinas manuais ou com o uso de herbicidas. 4.4.5 Macieira e pereira A macieira é uma frutífera de clima temperado que teve a sua área de cultivo mais ampliada nos últimos anos, sendo que os estados de SC e RS são os que apresentam a maior área cultivada. Normalmente, estas regiões apresentam topografias suaves onduladas e onduladas e o sistema de preparo do solo é aquele em que as mudas são plantadas levando-se em conta as principais práticas conservacionistas. O sistema de cultivo mais utilizado até o 3o e 4o ano de vida do pomar é o de culturas intercalares, combinadas com limpeza de uma faixa lateral das plantas. A cultura intercalar, neste período, pode ser explorada economicamente. Do 4o ano em diante, indica-se a combinação de faixa lateral limpa e plantio de leguminosas ou gramíneas rasteiras na entrelinha. Quando a cultura intercalar é ceifada ela pode ser aproveitada como cobertura morta. Através de trabalho realizado com diversos sistemas de cultivo, para macieira, no município de Videira/SC, concluiu que: a) O uso da cobertura morta, na projeção da copa, beneficia o crescimento e a produção de frutas; b) O plantio em cova é uma alternativa somente para solos de difícil mecanização; c) A subsolagem a 60cm de profundidade é uma prática importante no preparo do solo; e d) O preparo do solo através de subsolagem e/ou lavração profunda propicia uma distribuição mais uniforme do sistema radicular no perfil do solo. 4.5 Irrigação em fruticultura As regiões tradicionais produtoras de frutas de todo o mundo utilizam a irrigação como um insumo importante para garantir produtividade e qualidade das frutas. Isto acontece na Argentina, Chile, Estados Unidos, Espanha, Itália, Egito, Israel, região nordeste do Brasil, onde se produz um grande volume de frutas tropicais e temperadas sob irrigação. No Sul e Sudeste do Brasil, normalmente ocorrem precipitações em torno de 1.500mm, porém nem sempre há uma boa distribuição das chuvas durante o ano. É comum acontecerem estiagens durante os meses de dezembro e janeiro e no período de inverno, respectivamente. Estes períodos com falta de umidade do solo, ocasionam perdas nas colheitas, pois provocam rachaduras nas frutas e diminuição do tamanho das frutas, além de diminuir a absorção de nutrientes do solo. Os sistemas de irrigação disponíveis permitem que se tenham projetos eficientes, com economia hídrica e permitindo que sejam aplicados os fertilizantes através da água de irrigação, a chamada fertirrigação. A fertirrigação é o processo pelo qual os fertilizantes são aplicados junto com a água de irrigação. Esta prática se converteu em rotina e é um componente essencial dos modernos sistemas de irrigação. Neste sistema são aplicados os macro e micronutrientes para as plantas frutíferas, para isso é necessário que os mesmos sejam solúveis em água. O consumo de água depende de fatores como o solo, a cultura, a umidade do ar, entre outros. A umidade do solo é determinada por tensiômetros. Por exemplo, quando os tensiômetros chegam a uma tensão de 15 a 20 centibares, em solos leves, deve-se renovar a 66 Irrigação por gotejamento Trata-se de um sistema moderno de irrigação e consiste, basicamente, na aplicação frequente de água a um volume de solo limitado e com um consumo inferior a qualquer outro sistema. A água é aplicada em pontos localizados na superfície do terreno, sob a copa das plantas. O solo é mantido próximo à capacidade de campo (CC), o que proporciona condições mais adequadas ao desenvolvimento e à produção. O gotejamento é uma instalação permanente, isto é, não pode ser deslocada de uma área para outra e os gotejadores são distribuídos sob a planta ou enterrados no solo. Este sistema utiliza pouca mão-de-obra e apresenta uma eficiência de 95% em zonas tropicais, porém requer o uso de água de boa qualidade e de filtros eficientes, normalmente filtros de areia. Os gotejadores são peças especiais que dissipam a pressão da água de irrigação, a fim de manter a vazão homogênea ao longo da linha de gotejamento. Tal dissipação de energia se dá pela passagem da água por delgadas secções. Por essa razão ela deve ser limpa e livre de impurezas em suspensão. Este sistema é muito utilizado na fruticultura moderna e, normalmente, associado à fertirrigação. Figura 38 – Irrigação por gotejamento em pereira. Foto: José Carlos Fachinello. Na Tabela 11 é apresentado um resumo dos principais fatores que afetam a escolha do sistema de irrigação. 69 Tabela 11 - Fatores que afetam a escolha dos sistemas de irrigação Sistemas de Irrigação Fatores Inundação Sulcos Aspersão Gotas Limitações declividade < 1% < 2% Nenhuma Nenhuma Limitações do solo Infiltração (cm h-1) Perigo de erosão Perigo de salinidade 0,2-5,0 Moderado Moderado 0,2-7,5 Severo Severo 1,5-15,0 Pequeno Pequeno >0,05 Nenhum Moderado Limitações de água Fluxo (L seg. ha-1) 1,6 1,2-1,6 1,0 < 1,0 Clima Influência do vento Não Não Sim Não Custo do Sistema Instalação Trabalho Energia Eficiência da irrigação (%) Baixo Moderado Baixo 40-80 Baixo Alto Baixo 40-70 Alto Moderado a baixo Alto 70-90 Alto Baixo Moderado 80-90 Fonte: ESCOBAR (1988) 70 CAPÍTULO 5 NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DE PLANTAS FRUTÍFERAS 5.1 Introdução Embora os princípios gerais de disponibilidade de nutrientes no solo sejam bastante conhecidos, a sua aplicação em fruticultura enfrenta algumas dificuldades, principalmente devido ao pouco conhecimento do sistema radicular no que diz respeito à morfologia, distribuição e absorção dos nutrientes do solo. Além da falta de conhecimento do sistema radicular e de técnicas de aplicação de fertilizantes, ainda não existem critérios definidos para a recomendação segura destes insumos em plantas perenes. As plantas frutíferas exploram grandes volumes de solo e se diferenciam das plantas anuais pois apresentam estruturas que podem armazenar nutrientes de um ano para outro, como raízes, caule, ramos e folhas. A análise química das plantas frutíferas mostra que 17 elementos são considerados essenciais: carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), ferro (Fe), zinco (Zn), manganês (Mn), cobre (Cu), molibdênio (Mo), cloro (Cl) e sódio (Na). O Zn, B, Mn, Cu, Fe, Mo, Cl e Na entram em pequenas quantidades na composição das plantas, por isso são chamados de micronutrientes, os demais são chamados de macronutrientes. Aproximadamente 95% do peso seco das plantas e ao redor de 98% do peso fresco correspondem ao carbono, hidrogênio e oxigênio. Portanto, os elementos que constituem os restantes 5% do peso seco são os mais importantes na adubação dos pomares. Na prática de adubação, procura-se suprir a diferença entre a necessidade da planta e a quantidade dos nutrientes que o solo é capaz de fornecer. 5.2 Distribuição do sistema radicular e exportação de nutrientes 5.2.1 Distribuição do sistema radicular Em plantas herbáceas anuais, o sistema radicular se desenvolve na camada arável do solo, onde é possível incorporar o fertilizante antes do plantio. Ao passo que, em plantas perenes, o sistema radicular se concentra numa faixa que vai de 0 a 40cm de profundidade, dificultando a colocação dos fertilizantes à disposição das raízes, depois que o pomar esta implantado. As plantas frutíferas permanecem num mesmo local por vários anos, apresentando, a cada ano, condições fisiológicas diferentes, além de explorarem volumes variáveis de solo, através de um sistema radicular igualmente variável. Através de experimentos, verificou-se que 50% das radicelas de laranjeiras da cultivar Pêra, sob a influência de 12 formas de cultivo do solo, se concentravam numa profundidade de 0 a 15cm, as demais se encontravam em profundidade superior, o que vale dizer que as práticas culturais, com máquinas para a distribuição de adubos, devem ser realizadas com cuidados para 71 conhecimento de várias fases do processo usado e, o de natureza subjetiva, da experiência de quem usa o processo, pois este está intimamente relacionado com a observação do comportamento da planta. 5.3.1 Métodos de diagnose O caminho mais adequado, para serem tomadas as decisões convenientes, situa-se no âmbito da análise dos fundamentos e limitações da metodologia a ser utilizada e, assim procedendo-se, ajustá-la a cada circunstância. Diagnose visual Baseia-se no fato de que cada elemento exerce a mesma função em todas as plantas, ou seja, o que o elemento provoca na cultura da macieira, provoca também na cultura do milho e a manifestação visível de anormalidade, seja por falta ou por excesso, será sempre a mesma. Na Tabela 15 são apresentados os principais sintomas manifestados pelas plantas quando na deficiência de determinado nutriente. A manifestação externa de uma carência ou excesso tóxico pode ser concebida como último passo de uma seqüência de eventos, por exemplo, com a deficiência de Zn: A falta de Zn provoca: 1o) Modificação molecular - diminuição do ácido indolacético (AIA) e de proteínas 2o) Modificação subcelular - diminuição das proteínas rígidas 3o) Alteração celular - células menores 4o) Manifestação visível do sintoma - internódios curtos Tabela 15 - Principais sintomas de deficiência mineral nas folhas NUTRIENTE SINTOMA NAS FOLHAS VELHAS Nitrogênio Fósforo Potássio Magnésio Clorose, talo fino, raquitismo. Manchas necróticas, coloração verde-escuro, folhas mais estreitas. Necrose nos bordos das folhas, folhas em forma de concha. Clorose na folha com nervuras verdes. NUTRIENTE SINTOMA NAS FOLHAS NOVAS Cálcio Ferro Boro Zinco Enxofre Cobre Manganês Molibdênio Encurtamento e morte das gemas terminais. Amarelecimento da zona terminal. Amarelecimento do broto terminal Tamanho reduzido das folhas e amarelecimento internerval. Clorose geral. Distorção das folhas em forma de “S” e clorose internerval, morte da ponta dos ramos. Pontilhado de manchas amarelas, estrias amarelas ocupando parte da lâmina (tamanho normal). Manchas amareladas, margens crespas, folhas encurvadas. FONTE: Adaptado de JORGE (1983) Apesar de ser possível a diagnose visual da maioria das deficiências nutricionais que ocorrem em plantas frutíferas, a sua utilização não tem grande importância, tendo-se em vista que, 74 ao se identificar a deficiência no campo, a produção já está seriamente afetada a algum tempo. Análise química do solo A análise das condições químicas do solo, onde será instalado o pomar, tem uma importância decisiva, pois com ela é possível corrigir eventuais deficiências deste. Depois de instalado o pomar, as dificuldades práticas de incorporação de fertilizantes são muito aumentadas. Com ela é possível a determinação dos teores dos macronutrientes, de alguns micro e, principalmente, da acidez ou alcalinidade do solo. O conhecimento do pH do solo pode fornecer dados importantes, uma vez que os nutrientes estão mais ou menos disponíveis de acordo com a reação do solo. Em pomares, recomenda-se retirar amostras em duas profundidades: 0 a 20cm e 20 a 40cm, pois a maior concentração do sistema radicular situa-se nesta faixa de profundidade. O sucesso da análise de solo, principalmente para as culturas anuais, se deve ao fato de contar com significativos resultados de pesquisa, úteis para a calibração da adubação. Ao passo que, com plantas frutíferas, os trabalhos são ainda insuficientes. Por este motivo, as comparações, quanto as formas de extração de nutrientes e quantidades a serem aplicadas, conduzem a erros significativos. De uma maneira geral, todas as tentativas de correlacionar os valores da análise de solo com as necessidades de nutrientes, medidos por outros métodos, não tem apresentado resultados que permitam estabelecer uma boa correlação. Isto acontece, provavelmente, porque é quase impossível coletar uma amostra que represente a massa de solo explorada pelas raízes e, também, pelo fato de que as plantas perenes apresentam uma capacidade de extração de nutrientes do solo diferente das plantas anuais. Nas Figuras 35 e 36 são apresentados dados referentes a análise foliar e de solo de pomares do RS e SC. Quando é que as análises químicas do solo têm valor? a) Quando existir, dentro de limites, uma relação direta entre o teor do elemento encontrado no solo e a produção ou quantidade de elementos que a cultura foi capaz de absorver e; b) Quando os resultados analíticos forem calibrados com ensaios de campo, de modo a permitir que se faça, com segurança aceitável, recomendações da quantidade de adubo que deve ser usada para cobrir a diferença entre o exigido pela cultura e o fornecido pelo solo. Análise foliar As folhas são importantes centros metabólicos e a análise foliar reflete o estado nutricional da planta com mais fidelidade. Por isso, a análise foliar é uma das melhores técnicas disponíveis para avaliar o estado nutricional dos pomares e orientar programas de adubação, juntamente com o conhecimento da fertilidade do solo e de diversas influências de ordem técnica e climática. É útil na identificação de sintomas visuais de deficiência e importante para deficiências múltiplas. Apesar das vantagens deste método, necessita-se de trabalhos de pesquisa visando o estabelecimento de níveis críticos para cada cultura e estabelecimento de correlações com as quantidades de nutrientes aplicados no solo. Na Tabela 16 são mostrados os teores foliares de nutrientes, em diferentes pomares de pessegueiro, na região de Pelotas, onde se verifica que os macronutrientes mais críticos são o cálcio e o magnésio e, os micronutrientes, manganês, ferro e boro. As análises foliares podem ser empregadas também, as vezes, com a finalidade de previsão, 75 especialmente no que se refere a doenças fisiológicas de pós-colheita. Assim, na macieira cv. Cox's Orange, se considera que, no início do mês de março, uma relação (K + Mg)/Ca > 0,6 permite prever uma ocorrência bastante forte de "bitter pit". Tabela 16 - Teores de nutrientes, determinados pela análise foliar, em amostras colhidas em pomares de pessegueiro, cv. Aldrighi, da região produtora de Pelotas. TEORES % DOS POMARES AMOSTRADOS ELEMENTOS MIN MED. MÁX PADRÃO 1 2 3 4 5 Macronutrientes (%) N 2,16 3,23 3,80 3,87 0 52 48 0 0 P 0,25 0,30 0,42 0,26 0 0 76 20 4 K 1,16 2,04 2,68 1,68 0 0 56 40 4 Ca 0,71 0,89 1,11 2,12 4 96 0 0 0 Mg 0,29 0,47 0,72 0,67 0 80 20 0 0 Micronutrientes (mg kg-1) Mn 66 100 145 151 0 40 60 0 0 Fe 87 115 153 166 0 52 48 0 0 Cu 16 22 30 18 0 0 100 0 0 B 26 29 32 48 0 92 8 0 0 Zn 24 35 56 30 0 0 68 20 12 * 1 - Insuficiente; 2 - Abaixo do normal; 3 - Normal; 4 - Acima do normal e; 5 – Excesso. Fonte: Adaptado de EMBRAPA/CNPFT (1984) Comportamento das plantas O comportamento das plantas é função de vários fatores que estão interrelacionados, tais como, formação de gemas de flor, hábito de florescimento e frutificação, produção, crescimento, entre outros. Todos esses fatores, cuja expressão definem o comportamento, são influenciados pela poda, fornecimento de nutrientes, umidade, entre outros. Assim sendo, a avaliação do comportamento das plantas, apesar de suas características de subjetividade, pode ser considerado como prevalente sobre os demais processos utilizados para o diagnóstico. Em pessegueiro, a coloração, forma e tamanho das folhas e frutas, a época de maturação e queda das folhas são indicações valiosas, imediatas e práticas do estado nutricional das plantas. O crescimento médio do ramo do ano não deve ser inferior a 50cm em plantas jovens e 35cm em pomares mais velhos. O crescimento da planta pode ser avaliado pela circunferência do tronco a 20cm do solo, já que existe uma relação entre ela e a capacidade de produção (Tabela 17). 76 Quando a adubação for realizada em toda a área, não é necessário realizá-la nas covas de plantio. No caso da área não ter sido corrigida totalmente, aplica-se o calcário e os demais corretivos de acordo com análise de solo, levando-se em conta o volume de solo a ser adubado, ou seja, a quantidade de adubos depende do tamanho da cova. Na fase de plantio deve-se ter o cuidado com a adubação na cova, principalmente adubos potássicos (salinidade). As fontes de fósforo utilizadas devem ser, de preferência, naturais ou parcialmente aciduladas, para que o nutriente possa ser aproveitado à medida que for sendo liberado. Plantas em formação e produção Deve-se levar em conta os princípios gerais de fertilização, ou seja, que a ação de cada nutriente depende da quantidade dos outros nutrientes com os quais, direta ou indiretamente, irá se combinar. Nos primeiros anos de vida do pomar, basicamente, a fertilização é feita somente utilizando- se o nitrogênio. No caso do pessegueiro, a partir do 4o ano, recomenda-se atingir os seguintes níveis de fertilização do solo: pH > 6,0 Al < 0,5 me/100 g Ca + Mg > 5,0 me/100 g P > 10 mg kg-1 K > 40 mg kg-1 Matéria orgânica > 2% As quantidades de adubos a serem aplicados, nas plantas em produção, são baseados em vários critérios: a) experiência regional; b) resultados experimentais; c) comportamento das plantas; d) análise de solo, folha e frutas; e) exportação de nutrientes; e f) previsão de safra e produção do ano anterior. Todos esses critérios têm grande valor e, em conjunto, proporcionam o melhor suporte para determinação de adubações. No Estado de São Paulo, para citricultura, recomenda-se considerar a análise de solo e foliar e aplicar, a partir do 8o ano, adubação com 180g de N; 90g de P2O5; 180g de K2O para cada caixa de 40,8kg de frutas produzidas no último ano ou quantidade que a planta tenha capacidade de produzir, até cerca de 200-100-200 kg da mistura. 5.4.3 Distribuição dos fertilizantes no pomar A maior parte dos nutrientes da mistura está em forma solúvel em água; tendem por isso a entrar logo na solução do solo, pondo-se em movimento para baixo depois das chuvas, e, para cima, quando a umidade se evapora na superfície; o movimento lateral é relativamente pequeno. Os nitratos se movem livremente, os sais de potássio e amoniacais bem menos e os fosfatos quase nada. O movimento é, em grande parte, controlado pela intensidade de fixação de diversos materiais coloidais do solo. A distribuição dos fertilizantes é feita com o objetivo de colocar o nutriente à disposição do sistema radicular da planta. 79 Distribuição a lanço Este é o sistema mais utilizado. Os fertilizantes são aplicados na superfície do solo, podendo ou não serem incorporados através de implementos ou capinas, tendo-se o cuidado para não danificar o sistema radicular das plantas. Quando os nutrientes forem incorporados, a época mais apropriada é no período que antecede as brotações de primavera e, como os nutrientes no solo só acabam de atingir as raízes depois de algum tempo, é conveniente que nos primeiros anos, depois de plantio, eles sejam incorporados. Nos pomares mantidos com cultivos em cobertura, os nutrientes podem ser aplicados sobre toda a área cultivada. Distribuição em sulcos Com o uso de sulcadores, abrem-se sulcos ao longo das filas onde são lançados os fertilizantes, que são cobertos posteriormente. A distância entre o sulco e a linha das plantas varia com a idade do pomar, aumentando com ela para acompanhar a expansão das raízes. Devem ser realizados sulcos com profundidades até 15cm. Em viticultura, abrem-se valas com profundidade de até 40cm entre filas. Nestas valas são colocados os adubos, sejam eles de origem mineral ou orgânica. Não há problema em se cortar algumas raízes novas nesta operação, devendo-se evitar, contudo, o corte ou ferimento das raízes mais desenvolvidas. Ao se incorporar o adubo, este deve ser bem misturado com o solo. Coroa circular O sulco é feito na forma de circunferência em volta da planta, geralmente com enxada. Este processo, por isso, tem o inconveniente de ser mais lento e trabalhoso. Aplicação em profundidade Nesta situação os fertilizantes podem ser aplicados até profundidades de 40 a 50cm. Para tanto, utiliza-se sulcadores ou equipamentos que injetam os fertilizantes, sob pressão, em pequenos furos na projeção da copa da planta. A utilização de sulcadores, ao longo da linha de plantas, em profundidade provocam danos no sistema radicular das plantas. Quando necessário este sistema, deve passar em linhas alternadas do pomar, ou seja, uma fila a cada ano, em direções perpendiculares, assim, cada planta é fertilizada todos os anos, mas apenas de um lado de cada vez, só voltando-se ao mesmo local ao fim de quatro anos. Em covas Neste sistema, abrem-se covas na projeção da copa da planta onde são colocados os fertilizantes e, em seguida, a cova é coberta. Quando for realizada a aplicação de adubos orgânicos não decompostos é conveniente aplicá-los com antecedência e, posteriormente, misturados com fertilizantes minerais. As covas devem ter um tamanho aproximado de 30cm de comprimento por 15 a 20cm de profundidade, sendo que a distância entre elas depende do espaçamento utilizado. Este sistema é muito utilizado na região de Campinas/SP, para incorporação de matéria orgânica no solo, na cultura da figueira, o que melhora as condições de fertilidade próximo ao sistema radicular da planta. Aplicação através da irrigação 80 Principalmente para fertilizantes solúveis em água, como a maioria dos adubos nitrogenados, particularmente a uréia, e potássicos. Para o caso dos nitrogenados, deve-se fracionar a quantidade para evitar-se danos às plantas, para tanto utiliza-se doses máximas de 1 a 2%. Os sistemas de irrigação por gotejamento e micro aspersão permitem aplicar praticamente todos os nutrientes, com a vantagem de melhor localização e aproveitamento pelas plantas. Fertilização foliar Para este tipo de fertilização, recomenda-se equipamentos que produzam partículas pequenas, para que as folhas fiquem cobertas por micropartículas, pois as doses são pequenas e assim obtêm-se menores perdas. A aplicação no final da tarde ou à noite evita a secagem rápida da folha, já que o orvalho ajuda a absorção. Apesar das plantas necessitarem grandes quantidades de N, é possível aplicar doses razoáveis, desde que sejam aplicações freqüentes junto aos tratamentos fitossanitários, principalmente por proporcionar um pequeno desperdício. Os nutrientes facilmente absorvidos por este processo são nitrogênio, magnésio, ferro e boro. O fósforo e o potássio são pouco absorvidos por este método. O potássio, aplicado na forma de nitrato de potássio, tem sua absorção facilitada devido à presença do íon nitrato. Normalmente, aplica-se soluções bastante diluídas (menos que 1%), para evitar-se queimaduras nas folhas, e, quando utiliza-se produtos de reação muito ácida, deve-se fazer neutralização com cal. Em fruticultura, os micronutrientes podem ser aplicados via foliar. Alguns macronutrientes são aplicados com maior freqüência, entre eles sulfato de magnésio a 2%, cloreto de cálcio a 0,6%, entre outros. 5.4.4 Épocas de fertilização As plantas frutíferas de clima temperado possuem ciclos vegetativos determinados, que precisam ser considerados na época de aplicação dos fertilizantes. No outono/inverno deve-se aplicar os fertilizantes fosfatados e material orgânico. O nitrogênio apresenta grande mobilidade no solo e está prontamente disponível às raízes das plantas dentro de pouco tempo, dependendo da umidade, muitas vezes dentro de 15 dias. Em conseqüência, ele não deve ser aplicado todo de uma só vez, devendo ser fracionado da seguinte forma: 30% no início da brotação, 30% depois do raleio e 40% depois da colheita, sendo que esta aplicação é feita, basicamente, para que a planta mantenha as folhas por um período mais longo. No início da brotação o nitrogênio deve ser aplicado, preferencialmente, na forma de nitrato ou amoniacal; na diferenciação floral, na forma amoniacal, e, quando aplicado no final de verão, deve-se aplicar na forma orgânica ou amoniacal. As deficiências que ocorram durante o ciclo vegetativo podem ser corrigidas com aplicações foliares de macro e micronutrientes. 5.4.5 Fontes de nutrientes Os nutrientes podem ser originados de processos industriais ou a partir de restos de culturas, resíduos urbanos tratados, estercos e resíduos industriais líquidos, por exemplo, o vinhoto de cana-de-açúcar. Independente da fonte, a composição e as quantidades do material devem ser conhecidas para que seja possível estabelecer-se uma adubação equilibrada para as plantas. Os solos que contêm um teor mais elevado de matéria orgânica respondem melhor a adubação mineral, pois a matéria orgânica aumenta a Capacidade de Troca Catiônica (CTC), além 81 Cobre Normal Não aplicar Boro Normal Não aplicar Amostra 3 A interpretação dos resultados da análise foliar da amostra 3 está baseada nos dados das Tabela 19 e 20 e apresentada na Tabela 23. Tabela 23 - Interpretação e recomendação nutricionais para citros, de acordo com os teores analisados a partir da amostra 3 NUTRIENTE INTERPRETAÇÃO RECOMENDAÇÃO Nitrogênio Excesso Não aplicar N Fósforo Excesso Não aplicar Potássio Excesso Não aplicar Cálcio Insuficiente Corrigir a acidez do solo Magnésio Insuficiente Corrigir a acidez do solo com calcário dolomítico e aplicar sulfato de magnésio via foliar Ferro Normal Não aplicar Manganês Insuficiente Aplicar sulfato de manganês via foliar Zinco Insuficiente Fazer pulverizações com sulfato de zinco a 0,2% Cobre Insuficiente Não aplicar Boro Excesso Não aplicar As deficiências de zinco, manganês e de magnésio, podem ser corrigidas com duas pulverizações foliares por ano, uma em setembro e a outra em fevereiro. Em caso de deficiência aguda de magnésio, pode-se realizar 5 aplicações anuais, espaçadas de um mês. Normalmente as deficiências de micronutrientes estão associadas à falta de matéria orgânica no solo. 5.5.2 Macieira A coleta de folhas é realizada entre 15 de janeiro a 15 de fevereiro da porção mediana da brotação do ano. A amostra é composta de aproximadamente 100 folhas de 20 plantas representativas da área. Tabela 24 - Resultados da análise foliar em dois pomares de macieira do município de Vacaria/RS, no ano de 1990. N P K Ca Mg Fe Mn Zn Cu B AMOSTRA (%) (mg kg-1) 1 2,31 0,14 1,60 1,21 0,44 90 148 30 7 25 2 2,22 0,16 1,13 0,84 0,36 90 210 130 9 19 84 Amostra 1 Para interpretação dos resultados, utiliza-se os dados obtidos nas amostras e compara-se com os padrões das Tabelas 25 e 26. Tabela 25 - Padrões para interpretação dos resultados da análise foliar de macronutrientes para macieira e pereira, amostras coletadas entre 15 janeiro e 15 de fevereiro Interpretação N P K Ca Mg % Insuficiente < 1,70 < 0,10 < 0,80 < 0,80 < 0,20 Abaixo do normal 1,70 - 1,99 0,10 - 0,14 0,80 - 1,19 0,80 - 1,09 0,20 - 0,24 Normal 2,00 - 2,50 0,15 - 0,30 1,20 - 1,50 1,10 - 1,70 0,25 - 0,45 Acima do normal 2,51 - 3,00 > 0,30 1,51 - 2,00 > 1,70 > 0,45 Excessivo > 3,00 - > 2,00 - - Tabela 26 - Padrões para interpretação dos resultados da análise foliar de micronutrientes para macieira e pereira, amostras coletadas entre 15 janeiro e 15 de fevereiro. Interpretação Fe Mn Zn Cu B (mg kg-1) Insuficiente - < 20 < 15 < 3 < 20 Abaixo normal < 50 20 - 29 15 - 19 3 - 4 20 - 40 Normal 50 - 250 30 -130 20 - 100 5 - 30 25 - 50 Acima normal > 250 131 - 200 > 100 31 - 50 51 - 140 Excessivo - > 200 - > 50 > 140 85 Tabela 27 - Interpretação e recomendação nutricionais para macieira, de acordo com os teores analisados a partir da amostra 1 NUTRIENTE INTERPRETAÇÃO RECOMENDAÇÃO Nitrogênio Normal Continuar a adubação de rotina Fósforo Abaixo do normal Ainda não justifica a aplicação de adubo fosfatado Potássio Acima do normal Não aplicar Cálcio Normal Corrigir a acidez do solo se necessário e fazer aplicações para controle de “bitter pit” Magnésio Normal Corrigir a acidez do solo se necessário Ferro Normal Não aplicar Manganês Acima do normal Corrigir a acidez do solo; a amostra pode estar contaminada por poeira ou por defensivos Zinco Normal Fazer pulverizações com sulfato de zinco a 0,2% Cobre Normal Não aplicar Boro Normal Caso tenha sido aplicado boro, repetir as pulverizações no próximo ciclo Amostra 2 Tabela 28 - Interpretação e recomendação nutricionais para macieira, de acordo com os teores analisados a partir da amostra 2 NUTRIENTE INTERPRETAÇÃO RECOMENDAÇÃO Nitrogênio Normal Continuar a adubação de rotina Fósforo Normal Não aplicar Potássio Abaixo do normal Aumentar a adubação potássica Cálcio Abaixo do normal Corrigir a acidez do solo. Fazer aplicações de cálcio para controle de “Bitter Pit” Magnésio Normal Corrigir a acidez do solo se necessário Ferro Normal Não aplicar Manganês Acima do normal Realizar a análise e corrigir o pH caso seja necessário. Zinco Acima do normal Não aplicar Cobre Normal Não aplicar Boro Insuficiente Fazer 2 a 3 pulverizações quinzenais com sulfato de zinco Como se verifica os resultados de análise foliar são qualitativos e não dispensam a interpretação de um técnico com base na experiência regional, experiência do produtor, idade das 86 Figura 39 – Ramos mistos (com gemas vegetativas e floríferas) de pessegueiro. Foto: José Carlos Fachinello 6.4 Floração e frutificação Segundo as espécies, as gemas floríferas podem ser formadas antes da brotação, durante a brotação ou posterior a abertura das gemas vegetativas. Geralmente, em plantas frutíferas de clima temperado, o processo de diferenciação de gemas ocorre no final da primavera ou no verão, ou seja, 6 a 8 meses antes da abertura na primavera seguinte. Este processo é realizado de forma evolutiva, começa com a diferenciação floral (escamas, sépalas, pétalas, estames e primórdio do pistilo) e termina com a abertura da flor na primavera. Trabalhos desenvolvidos, em 6 cultivares de pessegueiro, concluíram que o início da diferenciação floral ocorre de meados de janeiro a meados de fevereiro (verão), podendo adiantar 15 a 20 dias dependendo de fatores climáticos. As datas de final da meiose mantiveram-se para a mesma cultivar, com diferenças inferiores a 10 dias. O processo de indução floral é largamente estudado em fruticultura. De acordo com a teoria de Klaus e Kraybill, em 1918, o processo dependia da relação C/N (Figura 40), segundo esta teoria, se esta relação fosse moderadamente alta, haveria indução floral, entretanto se ela fosse baixa, favoreceria o crescimento vegetativo. Estudos posteriores demonstraram que, além do carbono e do nitrogênio, estão envolvidos hormônios endógenos. Hoje se aceita que a indução floral depende de balanço hormonal e da nutrição e é claramente favorecido pela massa fotossintética e pelos tratos culturais aplicados às plantas. 89 Figura 40 - Influência da relação C/N no crescimento e na floração (Adaptado de VELARDE, 1991) Algumas práticas culturais, tais como o anelamento de ramos e o uso de reguladores vegetais (etileno), estimulam a indução floral. Ao passo que a presença de frutas em quantidades elevadas concorrem com a indução floral, principalmente pela relação que existe com a síntese e translocação de giberelinas das sementes dos frutas e nos ápices de crescimento. Estabelecendo-se, em muitas safras, o que se chama de alternância de produção. A poda pode ajudar a diminuir este fenômeno. A formação da fruta se dá por fecundação do óvulo ou por processos de partenocarpia. Para que haja fecundação é necessário que ocorra formação de pólen, polinização, germinação do pólen, crescimento do tubo polínico e fecundação. O processo de floração apresenta uma duração variável, podendo chegar até 25 dias, sendo que se chama de plena floração quando 50 a 70% das flores estão abertas. As plantas frutíferas, salvo no caso de serem auto-férteis, como o pessegueiro, necessitam de polinização cruzada como forma de garantir uma boa produção do pomar. Particularmente no caso de macieiras, pereiras e ameixeiras é necessário o plantio intercalado de plantas polinizadoras, numa proporção de 10 a 20%, para garantir uma boa produção do pomar. A presença de insetos polinizadores ajuda a diminuir os riscos na produção. Assim, o uso de abelhas, no período de floração, é uma prática bastante recomendada. 6.5 Desenvolvimento da fruta O processo de formação das frutas inicia com a floração, fecundação e vingamento, e termina com a maturação. A duração varia de menos de um mês, como no caso do morangueiro, até 16 meses, como no caso de algumas cultivares de laranja. O desenvolvimento das frutas de sementes são expressos por uma curva sigmóide simples, ao passo que, para as frutas com caroço, são expressos por uma curva sigmóide dupla, conforme mostra a Figura 41. Durante este processo, a fruta passa pelas seguintes fases: a) Multiplicação celular - esta fase apresenta duração de 10 a 30 dias, ocorrendo intensa divisão celular, fazendo com que a fruta atinja praticamente o número total de células; b) Elongação celular - as células acumulam água e nutrientes, provocando aumento no volume e tamanho da fruta. Esta fase pode durar de 30 a 90 dias. No caso de frutas de 90 caroço, como pêssego e ameixa, durante esta fase pode ocorrer uma paralisação do crescimento da fruta para dar lugar ao desenvolvimento do caroço, sendo que a duração é variável para as cultivares precoces ou tardias; c) Maturação - nesta fase, ocorrem uma série de transformações bioquímicas, tais como a diminuição da acidez, aumento dos teores de açúcares, alterações na cor e aroma, entre outras. O aumento do tamanho ocorre fundamentalmente devido ao acúmulo de água. A duração desta fase varia de 10 a 30 dias. Figura 41 - Curvas de desenvolvimento de frutas. 6.6 Quedas fisiológicas das frutas Ao longo de todo o processo de desenvolvimento das frutas, ocorrem uma série de fenômenos fisiológicos, que provocam a queda dos mesmos. Também podem ocorrer, em qualquer momento, as quedas acidentais que são provocadas por ventos, chuvas de granizo, doenças, pragas, entre outras. a) Queda das frutas no vingamento - neste momento ocorrem a queda de flores e frutas mal fecundadas. Pode acontecer uma queda de até 95% da floração total, sem prejuízos para a colheita. Esta situação pode ser agravada quando ocorrer, simultaneamente, geadas, chuvas em excesso ou falta de polinização; b) Queda no inchamento das frutas (“June drop”) - neste período ocorre uma competição entre as frutas, normalmente no final do período de multiplicação celular e início do engrossamento da fruta. Neste período podem cair de 10 a 30% das frutas presentes na planta. Esta situação pode ser agravada por problemas nutricionais e climáticos; c) Queda pré-colheita - forma-se uma camada de abscisão entre a fruta e o pedúnculo, o que facilita a queda das frutas. Este processo é mais comum em algumas espécies frutíferas, como a macieira e a pereira. Alguns fenômenos climáticos podem agravar ainda mais a situação, tais como períodos de seca, ventos, pragas e doenças. As frutas caem antes do tempo e, quase sempre, estão ainda inadequados para o consumo. 91 produtivos e vice-versa; d) Facilitar a entrada de ar e luz no interior da planta, com a abertura da copa; e) Suprimir ramos supérfluos, doentes e improdutivos; f) Facilitar a colheita das frutas e os tratos culturais dentro do pomar; g) Evitar a alternância de safras, de modo a proporcionar anualmente colheitas médias com regularidade. 7.5 Fundamentos da poda Sob o ponto de vista fisiológico, a poda pode ser fundamentada pelo que segue: a) A seiva se dirige com maior intensidade para as partes altas e iluminadas da planta; b) A circulação da seiva é mais intensa em ramos retos e verticais; c) Quanto mais intensa for a circulação de seiva, maior será o vigor nos ramos, maior será a vegetação e, ao contrário, quanto maior a dificuldade na circulação de seiva mais gemas de flor serão formadas; d) Cortada uma parte da planta, a seiva fluirá para as partes remanescentes, aumentando-lhe o vigor vegetativo; e) Podas curtas (severas) têm a tendência de provocar desenvolvimento vegetativo, retardando a frutificação; f) Diminuindo a intensidade de circulação de seiva, o que ocorre no período após a maturação das frutas, verifica-se uma correspondente maturação de ramos e de folhas. Nesse período, acumulam-se grandes quantidades de reservas nutritivas, que são utilizadas para transformar as gemas foliares em frutíferas; g) O vigor das gemas depende da sua posição e do seu número nos ramos, geralmente as gemas terminais são mais vigorosas; h) O vigor e a fertilidade de uma planta dependem, em grande parte, das condições climáticas e edáficas; i) Deve haver um equilíbrio na relação entre copa e sistema radicular. Este equilíbrio afeta o vigor e a longevidade das plantas. Numerosos trabalhos têm demonstrado que a poda tem um efeito ananizante sobre o crescimento vegetativo, ou seja, as plantas podadas, além de terem uma menor longevidade, apresentam um porte menor. Geralmente a poda reduz os pontos de crescimento da planta, aumentando, assim, a provisão de nitrogênio aproveitável e de outros elementos essenciais para os pontos de crescimento que permaneceram e isto, por sua vez, aumenta o número de células que podem ser formadas. Desta maneira, a poda da copa favorece a formação de células e a utilização de carboidratos. Por conseguinte, favorece a fase vegetativa e retarda a fase reprodutiva. O estímulo à fase vegetativa pode ser ou não desejável, depende da espécie frutífera que se está trabalhando. A redução do sistema aéreo pela poda, qualquer que seja o método utilizado, leva consigo uma perda mais ou menos importante das reservas contidas na madeira suprimida e na diminuição do número de folhas, ou seja, de órgãos assimiladores de carbono. Nos primeiros anos de vida, toda a energia produzida é gasta para o próprio crescimento da planta. Depois de formada as estrutura da planta, então começa a sobrar seiva elaborada, que se transforma em reserva e é armazenada na planta. Desta maneira, a planta, através destas reservas, pode transformar as gemas vegetativas em botões florais. Esta acumulação é maior nos ramos novos e finos do que nos ramos velhos e grossos. O equilíbrio entre a fase vegetativa e reprodutiva é esquematizado na Tabela 29, onde se considera a relação entre o carbono e o nitrogênio nas diferentes fases da vida da planta. 94 Tabela 29 - Relação esquemática entre carbono (C) e nitrogênio (N) em diferentes fases da vida da planta PERÍODO MANIFESTAÇÃO DA PLANTA CAUSAS PRÁTICAS A APLICAR I (C < N) Crescimento vigoroso e pouca produção Planta jovem; planta adulta em terreno fértil e adubado Pouco adubo nitrogenado; pouca poda II (C = N) Bom desen- volvimento Planta equilibrada com ótimas condições de vegetação e produção Boa adubação; poda média; raleio de frutas III (C > N) Crescimento estacionado; produção escassa e inconstante Planta velha; planta pouco podada; planta que produziu excessivamente Fortes adubações; podas severas; raleio de frutas 7.6 Hábito de frutificação das principais espécies frutíferas Afim de entender as necessidades da poda das plantas cultivadas, é necessário um conhecimento prático dos seus hábitos de frutificação. De acordo com a natureza que possuem, as plantas frutíferas podem ser divididas em três tipos: 7.6.1 Plantas que produzem em ramos especializados Só produzem em ramos especializados, os demais ramos dessas plantas produzem brotos vegetativos e folhas. Ex.: macieiras e pereiras (Figura 42). Esses ramos especializados são geralmente curtos e muitos deles denominados esporões, podendo apresentarem as seguintes denominações: a) Dardos - são estruturas pequenas e pontiagudas, com entrenós muito curtos. Apresentam uma roseta de folhas na extremidade, pouco maior que uma gema. b) Lamburda - ramo curto com nodosidades na base, sem gemas laterais, podendo terminar em gemas vegetativas ou de frutas (coroadas). c) Bolsa - parte curta, inchada, constituída por tecido pouco diferenciado, porém com grande acumulação de substâncias nutritivas, que se formam no ponto de união da fruta colhida com o ramo. É um órgão de transição que pode dar origem a novas gemas florais, dardos, lamburdas, brindilas ou vários deles de cada vez. Geralmente, são formadas a partir de um esporão depois de vários anos. d) Brindilas - são ramos finos, com diâmetro de 3 a 5mm e comprimento em torno de 20cm. Na ponta, podem apresentar um dardo, gema vegetativa ou floral. e) Botão floral - forma arredondada e destacado, em geral apresenta maior volume do que as gemas vegetativas. 95 Figura 42 - Principais tipos de ramos especializados encontrados em plantas frutíferas. Foto: José Carlos Fachinello 7.6.2 Plantas que produzem em ramos mistos São aquelas que além de frutificarem sobre esporões, frutificam também sobre os ramos do ano anterior, como, por exemplo, o pessegueiro e a ameixeira japonesa. 7.6.3 Plantas que produzem em ramos do ano Frutificação em flores que nascem sobre ramos da brotação nova. É o que ocorre com as plantas cítricas, caquizeiro, figueira e goiabeira, entre outras. Nelas o ramo frutífero, ao invés de ser formado no inverno, nasce na primavera e floresce abundantemente. É importante que se conheça o hábito de frutificação da planta para que se possa preconizar um bom sistema de poda, sendo que tanto mais importante será a poda quanto mais novo for o ramo frutífero. 96
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