Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Apostila - estresse e produção animal, Notas de estudo de Agronomia

APOSTILA SOBRE ESTRESSE ANIMAL

Tipologia: Notas de estudo

2014

Compartilhado em 31/12/2014

mateus-valdir-muller-6
mateus-valdir-muller-6 🇧🇷

4.6

(177)

594 documentos

1 / 34

Documentos relacionados


Pré-visualização parcial do texto

Baixe Apostila - estresse e produção animal e outras Notas de estudo em PDF para Agronomia, somente na Docsity! ESTRESSE E A PRODUÇÃO ANIMAL Jair de Araújo Marques Médico Veterinário Convênio: IAPAR/EMATER-PR. 2 INDICE I BIOCLIMATOLOGIA ANIMAL ................................................................... 03 1.1 Introdução........................................................................................................... 03 1.2 Efeito do Clima................................................................................................... 03 1.1.1 Efeito direto.......................................................................................................... 03 1.1.2 Efeito indireto....................................................................................................... 03 1.3 Homeotermia...................................................................................................... 05 1.3.1 Condução.............................................................................................................. 06 1.3.2 Radiação............................................................................................................... 07 1.3.3 Convecção............................................................................................................ 07 1.3.4 Evaporação........................................................................................................... 07 1.4 Termoregulação – Limites do frio e do calor................................................... 08 1.4.1 Frio....................................................................................................................... 08 1.4.2 Calor..................................................................................................................... 09 1.4.3 Temperatura Críticas do Ambiente.................................................................. 10 1.4.4 Estresse pelo Frio................................................................................................. 10 1.4.5 Estresse pelo Calor............................................................................................... 11 1.5 Características de adaptabilidade de Bovinos nos Trópicos.......................... 11 1.5.1 Pele....................................................................................................................... 11 1.5.1.1 Coloração da pele................................................................................................. 11 1.5.1.2 Espessura da pele.................................................................................................. 12 1.5.2 Cobertura Pilosa................................................................................................... 12 1.5.3 Constituição dos Folículos Pilosos....................................................................... 12 1.5.4 Medulação dos Pelos............................................................................................ 12 1.5.5 Coloração dos Pelos............................................................................................. 13 1.5.6 Tipo de Pelo.......................................................................................................... 13 1.6 Aparelho Sudoríparo......................................................................................... 14 1.7 Superfície Externa.............................................................................................. 15 1.8 Estresse Térmico em Bovinos – Indicativos..................................................... 16 II O ESTRESSE E A PRODUÇÃO...................................................................... 17 2.1 Melhoramento Genético..................................................................................... 17 2.2 Manipulação do Ambiente................................................................................. 18 2.2.1 Sombra.................................................................................................................. 18 2.2.2 Nebulização ou asperção...................................................................................... 19 2.2.3 Outras Técnicas.................................................................................................... 19 2.3 Efeito do Estresse Calórico sobre o Animal..................................................... 19 2.4 Temperatura Corporal...................................................................................... 21 2.5 Taxa Respiratória............................................................................................... 23 2.6 Consumo de Alimentos...................................................................................... 24 2.7 Ingestão de Água................................................................................................ 25 2.8 Reprodução......................................................................................................... 27 2.8.1 Macho................................................................................................................... 27 2.8.2 Fêmea................................................................................................................... 28 2.9 Saúde.................................................................................................................... 28 2.10 Estresse e o Crescimento.................................................................................... 29 2.10.1 Crescimento pré-natal........................................................................................... 29 2.10.2 Crescimento Pós-natal.......................................................................................... 31 III CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 32 IV TENDÊNCIAS FUTURAS………………………………………………….... 32 V REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………. 33 5 morte do animal. A ilustração de Bonsma mostra, de forma bastante clara, a necessidade de se conhecer os efeitos diretos e indiretos do clima sobre o animal, para que se possa interferir no meio com o objetivo de melhorar a performance produtiva do animal. FIGURA 2. Representação esquemática da resposta animal a um potencial estressorambiental, que pode influenciar na performance, saúde e bem- estar. (adaptado deHahn, 1999). 1.3 – Homeotermia Os ruminantes são animais homeotérmicos, ou seja, tem capacidade de controlar, dentro de certos limites, a temperatura corporal. Estes animais pertencem ao grupo dos animais de sangue quente, os quais apresentam temperaturas entre 35 e 41ºC. A temperatura de um bovino de até um ano varia de 38,5 a 40,0ºC, ficando a média em 39,0ºC, enquanto que, em animais com idade superior a um ano a variação é de 37,5 a 39,5ºC, sendo a temperatura média de 38,5ºC, segundo Kolb (1984). Para manter a estabilidade térmica, uma vez que o corpo produz calor continuamente, o animal deve perder calor. Como o calor flui das camadas mais quentes para as mais frias, o animal tem que estar mais quente que o ambiente onde ele está. A homeotermia é fundamental para o perfeito funcionamento do organismo animal, que é bastante complexo, envolvendo uma série de processos fisiológicos em condições ambientes diversas. O controle da temperatura fisiológica de 6 animais homeotérmicos é feito pelo centro termorregulador situado no hipotálamo que ao receber sensações de frio ou calor, através do Sistema Nervoso Central que, por sua vez, as recebe das células periféricas especializadas. Este controle ocorre, tanto para a produção de calor em ambiente frio, quanto para perda de calor em ambientes quentes, ou seja, o hipotálamo anterior é responsável pelos ambientes quentes e o hipotálamo posterior protege dos ambientes frios (Figura 3). O controle, pelo Hipotálamo, da produção ou perda de calor é realizado pelos mecanismos a seguir: a) Vasomotor – Controla o fluxo de sangue nos tecidos; b) Pilomotor – Controla a ereção dos pêlos; c) Aparelho sudoríparo – Controla a sudoração; d) Freqüência respiratória; e) Modificação na taxa metabólica. Como a preocupação é com o estresse calórico, as atenções voltar-se-ão para as formas de perda ou dissipação de calor; e as formas físicas do animal perder ou transferir calor para o meio são: 1.3.1 - Condução: Processo que desempenha importante papel na termorregulação do animal, pois é a única forma de transferir calor do centro do organismo até a superfície corporal externa, 7 através do contato de partículas dos tecidos. Além disso, a condução também é responsável pela passagem do calor da superfície do corpo do animal para o meio. Isso ocorre em temperatura de conforto, já em temperaturas elevadas, a velocidade de perda depende do gradiente térmico entre a pele e o meio. 1.3.2 - Radiação: A perda de calor por radiação ocorre pela emissão de raios caloríficos através do meio sem que este se aqueça. O fluxo de calor não depende da temperatura do ar, mas sim da temperatura e da natureza da superfície da pele; ex.: o animal erradia calor até objetos mais frios e recebe irradiação de objetos mais quentes. Animais de cor clara refletem mais calor que animais de cor escura. 1.3.3 - Convecção: Processa-se pela transferência de energia devido a movimentação do ar cujas moléculas vão de corpos mais quentes para os mais frios. Dois fatores interferem na perda de calor por convecção: movimentação do ar e extensão da superfície corporal. 1.3.4 - Evaporação: Ocorre pela transferência de energia ocasionada pela transformação da água líquida em vapor. Dentro da faixa de conforto térmico para os animais, 75% das perdas de calor se fazem por Condução, Radiação e Convecção, também chamada de perdas sensíveis de calor. Em temperaturas elevadas a perda se faz quase que totalmente por Evaporação. Este processo ocorre na pele e nas vias respiratórias nas formas de perspiração sensível e perspiração insensível. A primeira é a eliminação visível de água através da pele que ocorre antes devido as glândulas sudoríparas. A Segunda é a perda de água através do ar expirado. A extensão da respiração sensível e insensível depende da temperatura e da umidade do ar, do revestimento cutâneo, da temperatura do corpo, dos movimentos respiratórios e da atividade metabólica do animal. Além da temperatura, umidade e movimentação do ar, várias características do animal influenciam a perda sensível de calor, como: Área de superfície corporal; Revestimento cutâneo; Condutividade térmica dos tecidos; Fluxo sangüíneo periférico. A perda sensível de calor é controlada pelo organismo através da ação reflexa dos mecanismos vasomotores. Estes mecanismos estão na dependência de nervos que 10 amplitude de variação da temperatura do ambiente existe uma faixa em que a temperatura corporal se mantém constante com o mínimo de esforço dos mecanismos termoreguladores, onde, para os animais não existe sensação de frio ou de calor, a chamada “Zona de Conforto Térmico” (A – A’). Apesar de difícil determinação em animais, pode ser obtida de modo aproximado pelas seguintes observações: inexistência de vasodilatação ou vasoconstrição, inexistência de piloereção e pela taxa normal de metabolismo. Quando a temperatura do meio se afasta dos limites da Zona de Conforto (A – A’), o mecanismo termorregulador é acionado seguindo uma seqüência de respostas ao estresse térmico. 1.4.4 - Estresse pelo Frio Inicia-se quando a temperatura do meio cai abaixo do início da Zona de Conforto (A), verificando-se uma piloereção e uma vasoconstrição generalizadas que resultam em um ligeiro aumento na conservação de calor. Ao continuar decrescendo, a temperatura do ambiente atinge a temperatura crítica mínima (B). Para a manutenção da temperatura interna o animal lança mão do aumento da produção de calor pelo incremento da taxa metabólica que atinge seu máximo quando a temperatura do ambiente atinge valor mais baixo (C). A partir daí o animal perde a capacidade de produzir calor como conseqüência, a temperatura corporal começa a descer, acelerando, assim, o processo de esfriamento até atingir a temperatura letal (D) e o animal morre pelo frio. 11 1.4.5 - Estresse pelo Calor Quando a temperatura do meio ambiente sobe acima do limite superior da Zona de Conforto (A’) os mecanismos de dissipação, para evitar o super aquecimento, são acionados, iniciando com a vasodilatação generalizada, sudorese e aumento do ritmo respiratório (taquipnéia). Ao elevar-se a temperatura (B’) há um incremento na sudorese e taquipnéia para que haja diminuição compensatória de calor. Entretanto, uma maior elevação da temperatura (C’) aumenta ainda mais a sudorese e a taquipnéia, porém estes recursos são insuficientes para abaixar a temperatura do corpo, que começa a se elevar. A medida que a temperatura do meio se eleva mais, os processos de refrigeração perdem a eficácia e o animal morre devido ao calor acumulado. Tanto no estresse pelo frio como pelo calor o tempo de exposição àquelas condições é de vital importância, pois este é que vai determinar a extensão dos efeitos dos elementos do meio sobre os animais. 1.5 - Características de Adaptabilidade de Bovinos nos Trópicos 1.5.1 – Pele: A influência da pele na troca de calor do animal com o meio é determinada por duas características: extensão da pigmentação e espessura. 1.5.1.1 - Coloração da Pele (Pigmentação): A coloração da pele é controlada geneticamente e resulta da quantidade de melanina presente na mesma. O grau de pigmentação está associado com o clima, mais especificamente com a radiação solar, especialmente em grandes altitudes. Animais de regiões quentes e úmidas apresentam maior pigmentação que aqueles de zonas frias e secas. A pigmentação é importante na absorção da radiação ultravioleta, que provoca o Eritrema Solar (Queimadura da pele). A pele pigmentada de preta absorve totalmente os raios ultravioletas, enquanto que, peles despigmentadas são mais susceptíveis às queimaduras e a sofrer danos devido à fotossensibilidade. A raça Hereford e a raça Simental, em menor escala, são bons exemplos da importância da pigmentação, pois devido a falta desta, animais dessas raças apresentam, com freqüência, carcinoma ocular escamoso (HAFEZ, 1973) . 12 1.5.1.2 - Espessura da Pele: A espessura da pele varia com a região do corpo, também é influenciada pela idade, estado nutricional e raça. Animais velhos e mal nutridos tem a pele mais grossa. A raça Devon tem uma espessura de pele de 8,15 mm, ao passo que, a pele do Zebu tem uma espessura de 5,75 mm (Mc DOWELL, 1974). Nas regiões tropicais, principalmente quentes e úmidas, a pele mais recomendada é a preta e fina que reduz os efeitos da radiação solar e favorece a perda de calor. 1.5.2 - Cobertura Pilosa: A cobertura pilosa representa papel preponderante na adaptação dos animais aos climas tropicais, principalmente referente à radiação solar, pois, o calor proveniente da mesma pode ser três vezes o calor produzido nos processos metabólicos e que pode trazer sérios transtornos à fisiologia do animal. A eficiência da cobertura, quanto a reflexão dos raios solares, está ligada a sua constituição, cor e tipo. 1.5.3 - Constituição dos Folículos Pilosos: Importante na proteção do animal contra a radiação solar e, em conseqüência, evita o aparecimento do Eritrema Solar. O folículo piloso é constituído de: • Cutícula: é a delimitação do pêlo, formada por células escamosas; • Córtex: responsável pela cor dos pêlos e é constituída de células cornificadas com crescimento semelhante ao da unha; • Medula: parte central do pêlo e, sempre que estiver presente, será de cor preta; • Bulbo: contém os melanócitos de cor branca que, pelo contato com a luz e ação da tirosinase, transforma-se em cor preta impedindo a passagem dos raios ultravioletas e com isso protege os animais do Eritrema Solar. 1.5.4 - Medulação dos Pêlos: É uma característica dos pêlos de raças zebuínas, cujo o pelame de verão é quase totalmente medulado. No inverno verifica-se alta percentagem destes pêlos medulados 15 Glândulas sudoríparas do tipo écrina se localizam na camada papilar da pele e são compostas por duas partes, uma secretora e a outra excretora. A parte secretora é constituída de uma camada basal, outra de células mioepiteliais e mais uma de células epiteliais cubóides. O suor é aí produzido e lançado na luz da glândula e chega ao exterior por meio do canal excretor. A composição do suor é 99% de água e 1% de cloretos de sódio e potássio. O suor ao ser produzido apresenta percentagem mais elevada de cloretos, mas, ao passar pelo canal excretor, parte desses sais são absorvidos como participantes da defesa do organismo no controle de seu equilíbrio metabólico. As glândulas sudoríparas do tipo apócrina diferem do tipo anterior na localização, maneira de produzir e na eliminação do suor. Estando localizadas na camada reticular da pele, aparecem associadas a folículos pilosos, músculos eretores do pêlo e às glândulas sebáceas formando um sistema pilo-sebáceo músculo sudoríparo. A parte secretora da glândula é composta de uma camada basal envolvida por células cubiliformes. Para que haja secreção de suor, há necessidade que as células secretoras se rompam liberando parte do conteúdo citoplasmático, fazendo com que a composição deste tipo de suor seja 94,5% de água, 5% de cloretos e 0,5% de albumina. Ocasionando este processo, quando utilizado intensivamente, um grande desgaste para o animal, além destas glândulas serem menos eficientes que as do tipo écrina. A credita-se que o melhor desempenho dos zebuínos em relação aos taurinos esteja ligado ao maior número de glândulas sudoríparas que os mesmos dispõem. Apesar de verdadeiro, esta diferença não é significativa. O que, naturalmente, dá mais resistência ao zebu é o maior volume das glândulas, cerca de quatro vezes maiores, pois quanto maior o volume maior a secreção. Associada ao maior volume, o zebu tem outra característica importante que é ter as glândulas mais superficiais, o que facilita a secreção e excreção do suor. A distribuição de glândulas sudoríparas, pelo corpo, é desuniforme, isso faz com que algumas partes do corpo secretem mais suor que outras. As regiões de sudorese mais intensa se localizam no peito, braços, axilas, seguida das regiões da espátula, cupim e nádegas, depois pescoço, costelas e tórax, seguida pela cabeça e, por último, prepúcio. 1.7 - Superfície Externa O tamanho e a extensão da superfície do corpo expressam uma adaptação especial aos fatores do meio. A quantidade de troca de calor entre o animal e o meio ambiente 16 depende da relação entre a superfície corporal e a taxa metabólica. Uma superfície corporal extensa apenas proporciona uma maior perda de calor na forma sensível, quando a temperatura do meio está abaixo da temperatura do animal. Em temperaturas ambientais iguais ou acima da temperatura do corpo do animal esta superfície mais extensa se torna desvantajosa. Nesta situação, os animais modificam seu tamanho e forma, o que ocorre em bovinos europeus que, introduzidos nos trópicos, ficam mais baixos, mais grossos e curtos, e, em conseqüência, aumentam sua capacidade de perder calor. Os apêndices, compostos pelas orelhas, barbela (papadas), cupim, umbigo e prepúcio, tem importância secundária na capacidade termorreguladora do animal. As orelhas apresentam uma alta relação entre superfície e peso, associada a uma maior vascularização. No entanto, representam, apenas, 2% da superfície total do corpo, representando muito pouco na perda total de calor pelo animal. O cupim e papada ou barbela, apesar de apresentarem maior quantidade de glândulas sudoríparas, não são eficientes devido a baixa irrigação presente nessas áreas. O umbigo e o prepúcio tem baixo poder de evaporação devido ao menor número de glândulas sudoríparas. Em síntese, os apêndices desempenham alguma função na dissipação de calor, apesar de não apresentarem papel chave na adaptação dos animais aos climas quentes. 1.8 - Estresse Térmico em Bovinos – Indicativos Quando os bovinos são expostos ao calor elevado e as formas físicas de perda de calor, como condução, radiação, convecção e evaporação, por sudoração, não são suficientes, estes apresentam as seguintes reações biológicas: a) Elevação da temperatura interna; b) Aumento do ritmo respiratório; c) Diminuição do consumo de alimento; d) Aumento da ingestão de água; e) Diminuição da produção de leite; f) Alteração da composição do leite; g) Diminuição do crescimento corporal; h) Alterações dos parâmetros reprodutivos. 17 II - O ESTRESSE E A PRODUÇÃO Segundo ENCARNAÇÃO (1997), é uma utopia pensar em um ambiente sem estressores. Por menor que seja, sempre haverá um agente exógeno influindo sobre o organismo, seja ele um fator climático, seja um agente patógeno, ou ainda a fome, a sede, o medo provocado por um companheiro de rebanho ou por elemento estranho, mudança do manejo, etc. Porém, isso não deve servir como desestímulo, nem como conformismo. Pelo contrário, existem práticas de manejo baratas e simples que maximizam consideravelmente os lucros do produtor. Somam-se a essas as vacinas, desinfecções de estábulos e demais medidas profiláticas, além de boa distribuição de cochos e bebedouros, estábulos adequados aos animais, boa divisão de pastagens. Também é importante um bom conhecimento zootécnico, um manejo eficaz e observação freqüente do comportamento animal. Segundo BERBIGIER (1986), a produção nos trópicos é baixa em função de: 1 – a tolerância ao calor das raças criadas nos trópicos implica em baixa produção; 2 – o processo de melhoramento genético destas raças começou a pouco tempo. Nos trópicos, duas estratégias são possíveis para melhorar os níveis produtivos dos animais: 2.1 - Melhoramento Genético: Melhorar geneticamente as raças locais é a estratégia mais usada, pois as raças tropicais são mais hábeis para manter a temperatura retal em ambientes quentes. Este melhoramento pode ser obtido pelo cruzamento de raças adaptadas com raças européias melhoradas ou por seleção sem introdução de sangue exótico, apesar da primeira opção, introdução de raças exóticas, freqüentemente induzir a sensibilidade às doenças tropicais. (ex. ecto e endoparasitoses). A utilização de cruzamento de animais adaptados com raças exóticas resultam em maior ganho em peso dos animais F 1 quando comparados com o desempenho de animais adaptados ao clima tropical. Isso pode ser comprovado quando se observa os resultados obtidos por MARQUES (1999), que trabalhando com novilhas F 1 (Nelore x Simental e 20 Animais confinados, próximo do ponto de abate, e vacas de alta produção sentem mais o efeito do calor excessivo. Deve-se ter o conhecimento de como e porque os animais respondem aos desafios do ambiente para tomar a decisão estratégica e/ou tática para reduzir as perdas durante o calor. Estratégica: – saber como o animal se comporta no ambiente, como e quais são as perdas a longo prazo e usar isso como base para promover as modificação adequadas no ambiente. Tática – está ligada com o dia-a-dia (ex.: hora de ligar ventiladores, hora de nebulizar...) e é influenciada pela dinâmica: “desafio do ambiente x resposta animal”. 21 2.4 - Temperatura Corporal A manutenção da temperatura corporal ocorre em duas fases: A primeira – naturalmente ocorre variação na temperatura corporal durante o dia, num ambiente de termo neutralidade a variação vai de 0,1 a 0,3ºC, sem estar associado com o estresse pelo calor. A segunda – há dois estágios de administração da produção de calor: Um estágio é marcado pelo aumento da dissipação de calor, através da perda de calor pela evaporação. O outro pela redução do consumo de alimentos para reduzir a produção de calor metabólico. Quando o animal é exposto ao calor ele leva de três a quatro dias para sua temperatura corporal diminuir e então aumentar o consumo de alimento, porém este aumento no consumo pode não necessariamente voltar ao mesmo nível que tinha no ambiente de termo neutralidade, este aumento no consumo de alimentos vai até um novo ponto ideal que ocorre normalmente de oito a dez dias após o inicio da exposição ao calor. HAHN (1992) determinou como sendo a temperatura de 25ºC o limite para expressão do potencial produtivo de bovinos europeus machos castrados, a partir da qual os animais reduzem a 22 sua produção. Como já foi visto, o animal produz calor continuamente e deve ceder calor para o meio ambiente para manter constante o nível da temperatura corporal, e que há um gradiente térmico do interior do animal, local mais quente, à sua superfície, local menos quente. Com isso a temperatura corporal varia a medida que se aproxima ou se afasta da periferia do corpo animal. Em conseqüência, a temperatura retal pode ser considerada uma temperatura local, mas a maioria dos pesquisadores a considera uma boa indicação da temperatura interna. A elevação da temperatura retal mostra falta de adaptabilidade do animal à manutenção do equilíbrio térmico. A simples elevação da temperatura retal não quer dizer que o animal esteja em desequilíbrio térmico, pois existe uma amplitude aceitável de variação de temperatura, que é influenciada pelo nível nutricional, atividade física, idade, estação do ano. O estresse térmico surge quando a temperatura se desloca dessa faixa de amplitude. A temperatura fisiológica de bovinos, nos trópicos, varia de 38,0ºC a 39,3ºC. O aumento de 1ºC na temperatura retal é suficiente para produzir efeitos detectáveis nos vários processos fisiológicos. Os elementos climáticos de maior influência sobre a temperatura retal são a temperatura do ar, umidade relativa e radiação solar que, em níveis elevados, fazem esta temperatura elevar-se pela dificuldade imposta ao animal na manutenção do equilíbrio térmico. Estas influências podem ser verificadas em animais de origem européia, quando submetidos a temperatura de 40,5ºC apresentam temperaturas retais mais elevadas que animais submetidos a 25,0ºC. Este efeito é mais intenso quando associados à umidade do ar acima de 70% e radiação solar intensa (FALCO, 1997). MCMANUS et al. (1999) trabalhando com bovinos mestiços (Holandesa x Zebu e Holandesa x Simental) e Zebu no cerrado brasileiro, observaram uma maior temperatura retal nos animais mestiços quando comparados com os zebuínos. Da mesma forma, MAGALHÃES et al. (1998) utilizando bovinos da raça girolanda e bubalinos, em condições de trópico úmido de Rondônia, avaliando a temperatura retal pela manhã (8:30 h) e à tarde (14:30 h) desses animais expostos ao sol, observaram um aumento da temperatura retal no período da tarde. Enquanto que, SCHAFHÄUSER Jr. et al. (1998) utilizando novilhas de diferentes condições corporais (musculosas e não musculosas), observaram que as novilhas musculosas apresentaram temperatura retal mais elevada no período quente que no período frio, enquanto que as novilhas não musculosas não apresentaram diferença significativa na temperatura retal nos dois períodos. Ao contrário do que foi observado por TURCO et al. (1998) que utilizando animais da raça Sindhi, em condições de semi-árido brasileiro, não encontraram alteração na temperatura retal desses animais quando expostos a esse ambiente no período de novembro de 1997 a fevereiro de 25 superior nos meses de dias longos e 1,5 a 2,0% inferior nos dias curtos. Entretanto, esses valores não repetir-se-ão no Brasil, pois as variações de insolação são menores que nos países da América do Norte. Conrad (1985), citado por BERBIGIER (1986), observou em gado leiteiro que com o aumento da temperatura de 20ºC (termo neutralidade) para 32ºC ocorreu um aumento da digestibilidade energética de 0,20%/ºC e de 0,96%/ºC no FDA, porém este autor observou menores valores de aumento quando avaliou em gado de corte. Em condições de termo neutralidade existe um alto grau de associação entre a temperatura corporal e o consumo de alimento, aumentando a temperatura corporal após o consumo, porém quando a temperatura supera a termo neutralidade o consumo de alimento diminui. O animal se utiliza desse artifício também para manter o equilíbrio térmico entre o calor produzido e/ou absorvido e o eliminado. O consumo de alimentos é regulado pelo hipotálamo que, influenciado pelo calor, reduz o estímulo sobre a medula adrenal que deixa de liberar adrenalina, hormônio responsável pela manifestação da fome. Duas áreas estão envolvidos na regulação do consumo. A primeira, localizada na região dos núcleos ventromedias, é o centro da saciedade e a segunda, no hipotálamo lateral, que é o centro da fome. Como o consumo de alimento está associado à produção de calor, a manifestação do apetite é um mecanismo termorregulador. Vacas zebuínas apresentam redução no consumo quando a temperatura do ar atinge valores entre 32 a 35ºC. Em vacas de origem européia esta redução no apetite ocorre quando a temperatura supera 25ºC ( FALCO, 1997). Outra manifestação se observa no hábito de pastejo do gado europeu nos trópicos, onde os animais aumentam o pastejo nas horas mais frescas e à noite, o que auxilia o mesmo no processo de dissipação de calor. Outros fatores climáticos influem no consumo de alimento, como a umidade relativa do ar e a radiação solar, mas sempre associadas a altas temperaturas. Em condições de insolação direta, em temperatura de 32,2ºC e umidade de 40%, o consumo de alimento baixa cerca de 50% (FALCO, 1997). 2.7 - Ingestão de Água. A água é consumida pelos bovinos como água livre e aquela presente no alimento. A ingestão de água varia com a idade, tamanho, produtividade do animal, o peso vivo, o consumo de alimento, o estado fisiológico e a temperatura ambiente, mas de modo geral, os ruminantes, em especial os bovinos, requerem acessos livres à água. A necessidade 26 aumenta com o consumo elevado de proteína ou sal e em vacas em lactação. As relações entre temperatura ambiente e a exigência de água para bovinos são resumidas na Tabela 2. De um modo geral, com o calor diminui o consumo de alimento e aumenta o consumo de água. Conrad (1985), citado por BERBIGIER (1986), utilizou bovinos de clima temperado e observou uma redução no consumo de matéria seca (MS) de 3 a 10% quando a temperatura ambiente subiu de 25 para 35ºC, enquanto que o consumo de água aumentou de 4 para 10 l/kg de MS consumida, isto resulta numa menor eficiência alimentar, pois as necessidades de mantença permanecem as mesmas. O efeito do ambiente sobre a ingestão de água, pelos bovinos, é complexo. A água é exigida pelo animal como nutriente essencial, fazendo parte da estrutura do corpo e para auxiliar a redução de calor pelo resfriamento por condução e/ou evaporação. O controle da ingestão de água é feito pelo centro da sede localizado no hipotálamo, através de mecanismos hormonais. Em temperaturas elevadas dois fatores principais regem a ingestão de água: a severidade do calor e a relação entre a água ingerida e o consumo de alimentos. A maioria dos animais aumentam a ingestão a medida que aumenta a temperatura do ar, sendo que o maior acréscimo ocorre acima de 26ºC, aumentando, também, a freqüência de ingestão de três a quatro vezes. Quando ocorre associação de temperatura elevada e umidade elevada, há um decréscimo na quantidade ingerida e aumento na freqüência de ingestão, isso reflete a diminuição no consumo de alimento e dificuldade de utilização da água para fins de resfriamento por evaporação. Animais quando submetidos a estresse térmico, quando ingerem maior quantidade de água, apresentam: 27 a) Menor temperatura retal; b) Maior capacidade de consumo de alimentos; c) Menor depressão na produção. Assim, há uma necessidade de disponibilidade de água abundante e de fácil acesso para os animais em ambientes tropicais. 2.8 - Reprodução A reprodução é a mais importante das funções dos animais, visto que a produção dos mesmos é dependente do bom funcionamento reprodutivo, influenciando indiretamente as funções produtivas como produção de leite, carne etc.. O calor tropical atua com intensidade diferente nos machos e nas fêmeas. 2.8.1 - Machos: O tamanho e o peso dos testículos estão diretamente relacionados com a produção espermática, pois 1 g. de tecido testicular normal produz 18 milhões de espermatozóides por dia ou 12.500 por minuto. Por isso que existe a preocupação com a circunferência escrotal na seleção de reprodutores que devem ter, no mínimo, 30 cm. em touros da raça Nelore aos 24 meses. A bolsa ou saco escrotal, onde os testículos ficam, tem como função alojá-los, protegê-los e manter a temperatura testicular, cerca de 4 0 C mais baixa que a temperatura corporal, isto facilita com que ocorra a espermatogênese. O principal efeito nocivo do estresse térmico pelo calor, nos machos, é sobre os testículos como será visto a seguir: a) Diminuição do peso dos testículos; b) Túbulos seminíferos entram em degradação; c) Produção de sêmen de qualidade inferior; d) Diminuição do volume total de sêmen; e) Diminui a concentração; f) Aumento das anomalias; g) Diminuição da atividade metabólica do sêmen; WECHLER et al. (1999) avaliaram a tolerância ao calor de touros da raça Simental mantidos à sombra ou sol nas horas mais quentes do dia e correlações entre tolerância ao calor, qualidade do sêmen e comprimento dos pêlos dos animais. Observaram que os 30 elevada. Segundo Weniger citado por ENCARNAÇÃO (1986), a temperatura ambiente atua não só em animais adultos ou jovens, mas também no desenvolvimento embrionário. Durante a gestação, a taxa decrescimento do embrião é reduzida proporcionalmente à duração do estresse de calor. A miniaturização é um efeito específico da temperatura e não devido a menor ingestão de alimento, visto que o animal nasce com o corpo proporcionalizado, condição esta diferente das crias nascidas de fêmeas desnutridas. A miniaturização pode estar ligada a defeitos da placenta, diminuição da irrigação sangüínea, insuficiência hipofisária, entre outros, situações que ocorre com fêmeas sob estresse térmico. O peso ao nascer de bovinos são bem maiores nas zonas temperadas que nas tropicais (Tabela - 3) pois os animais oriundos dos trópicos, ao utilizarem-se dos processos adaptativos ao longo das gerações, tiveram o peso das suas crias diminuídos. O mesmo ocorre com a introdução de animais europeus nos trópicos (Tabela - 4). As condições inóspitas das regiões tropicais são tão importantes, que mesmo nesta região, a melhora nas condições trazem benefícios aos animais, o que pode ser observado na raça Nelore, que no Brasil tem um desempenho melhor que na Índia, seu país de origem. O conhecimento da influência do meio, principalmente da temperatura, sobre o peso ao nascer é grande importância, visto que este está altamente correlacionado com o ganho em peso à desmama, peso à cobertura, parâmetros zootécnicos importantes na seleção animal. 31 2.10.2 - Crescimento pós-natal O crescimento de bovinos depende do meio ambiente, e por serem mamíferos, também depende das condições climáticas impostas à mãe, pois este vai influenciar na quantidade de leite disponível para a cria. A estação em que ocorre o nascimento afeta ambos, em função da temperatura e disponibilidade de alimento para a mãe, tanto no pré como no pós-parto. Ex.: Partos próximo a primavera resultam em bezerros mais pesados à desmama. As altas temperaturas do meio podem impedir o crescimento dos animais após a desmama, em diferentes graus dependendo da raça, idade, estado nutricional, plano nutricional e umidade relativa. A temperatura de conforto para as raças européias está na faixa de 0,5 – 16ºC. O crescimento destas raças é diminuídos em temperaturas acima de 24ºC. Estes efeitos se agravam se a temperatura é elevada de 29 para 32ºC, paralisando praticamente o crescimento. Ao chegar a 41ºC, o animal entra prostração e dependendo do tempos de exposição o animal morre. Em todas as espécies animais o crescimento pára em temperaturas limites, tanto baixas como altas, dando-se o crescimento máximo nas zonas de conforto térmico do animal. Isto é compreendido pelo melhor crescimento das raças européias em zonas temperadas e das zebuínas nas tropicais. A temperatura ambiente influencia na nutrição dos animais. A temperatura elevada pode provocar uma redução ou cessação do crescimento, devido aparentemente a: a) Diminuição da ingestão voluntária do alimento; b) Aumento do gasto de energia para a dissipação do calor, principalmente pelo aumento do ritmo respiratório; c) Diminuição da quantidade de N 2 (proteína), gordura e água armazenada. Em virtude disto o ganho em peso nas zonas tropicais é baixo pois dependem do crescimento biológico e este do metabolismo, que não se processa de forma normal, tornando a produção de carne menos eficiente. O peso ao nascer é a informação mais correta da adaptação do animal ao meio ambiente. Isso dá uma informação precoce da perspectiva futura do animal, pois existe uma estreita correlação entre peso ao nascer, na desmama e na idade adulta. 32 III - CONSIDERAÇÕES FINAIS Os bovinos tem habilidades para ativar mecanismos fisiológicos, comportamentais e imunológicos para minimizar a agressão de agentes estressores, dentro de certos limites. O estresse calórico afeta o comportamento ingestivo e aumenta a taxa respiratória, por exemplo. O animal também pode reduzir os efeitos do estresse calórico através da compensação noturna, em função do declínio da temperatura ambiente à noite. O estresse calórico também pode produzir danos ao sistema imunológico, deixando o animal suscetível à doenças. A temperatura, quando muito elevada e persistente, pode levar o animal a morte ou provocar reduzida produção permanente, o que leva a perdas econômicas para o produtor. IV - TENDÊNCIAS FUTURAS A tendência da produção agropecuária é a polarização entre dois sistemas. O primeiro, no qual busca-se a produção máxima e, para isso, utiliza-se os recursos da engenharia genética, lançando mão, entre outras tecnologias, dos produtos transgênicos. Os quais, segundo especialistas, o conhecimento dos efeitos positivos ou negativos à saúde humana só serão conhecidos nos próximos 50 anos. E o segundo sistema é aquele no qual procura-se a qualidade de vida, o consumo e utilização de produtos conseguidos de forma mais naturais. No caso da carne, procura-se consumir aquela produzida com o menor estresse para o animal. Este segundo sistema atenderá as pessoas que se preocupam com a qualidade de vida.
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved