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Super Interessante - Quem escreveu a bíblia, Notas de estudo de Cultura

REVISTA SUPER INTERESSANTE

Tipologia: Notas de estudo

2014
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Compartilhado em 21/04/2014

otavio-domiciano-da-gama-6
otavio-domiciano-da-gama-6 🇧🇷

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Baixe Super Interessante - Quem escreveu a bíblia e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity! CA Ra SD = o Ja PR ECA pe AO ba E = R d 5 5 A N T E FOR np ETA O Eder pe CRT: ER E MOISÉS JESUS RE NIM RELA RE a PALg Ee Efe da rAo Ra Na fa od TER E Ta ol e a a E Lugo o textos sagrados foram escritos - e manipulados - pelos homens. Conheça os ecl go autores da Bíblia. E o real significado do di eles disseram. Por re E ca fatal ARMENIA e TATA DN ET DRT OT ea PE E | O Ra A Eron e =jo ED AMAZÔNICA? PORTUGUESA ROSTOS Sc A o À Ro LR ad DEZEMBRO 2008 EDIÇÃO 259 TIRAGEM: 426672 EXEMPLARES CAPA Ahistória de Deus foi escrita por homens. Mas quem eram essas pessoas? E porque escreveram aquelas histórias? SAÚDE Aincrivel história das pessoas que não conseguem reconhecer o rosto de ninguém - nem o delas mesmas. 7 À COMPORTAMENTO Você sabia que carros velhos batem menos, mulheres provocam mais lentidão e placas de rua podem causar acidentes? HISTÓRIA Hã 40 anos, negros não podiam dirigir a palavra a brancos nos EUA. Este ano Barack Obama foi eleito presidente. Como esse país pôde mudar tanto? CULTURA pp z00M A nossa língua está sempre em obras. SRIN : =] Entenda como o idioma muda e saiba Aqui você vai descobrir como é um boneco como ele vaiser no futuro. de Lego e um cachorro de balão por dentro. RR = 300 la 2. Estúdio Deveras 3.76 Otávio 4. Henrique Gualtieri Capa Adriano Sambugaro e Otávio Silveira [DESABAFA] A crise Em meio à avalanche de dados e informações sobre a atual crise econômica (“Crash”, novembro), parece que 0s meios de comunicação e os economistas não estão a fim de explicar nada a população. Nesse sentido, a SUPER se mostra como uma exceção ao publicar a matéria. Com um texto objetivo e simples, mas esclarecedor, vocês mostram as diferenças entre a crisede cdea atual, além de ressaltar os impactos para 0 Brasil. LUANA MARINHO NOGUEIRA Areportagem ficou excelente! Mais umavez, a SUPER demonstrou que faz jus ao nome. Sóesta revista para esclarecer o assunto com todo o rigor característico das suas matérias. ISAAC HENRIQUES, CAMPOS, RJ, NO SITE Corinthians O Engraçado, basta cometer um minimo erro contra algum timezinho do coração que muitos ficam furiosos e protestam (Desabafa, novembro). Agora, sobre a corrupção e 0s roubos em nossa políticavergonhosa, ninguém fala nada. JDÃO PEDRO RAFFOD RODRIGUES Como de costume, fui direto à seção Desabafa. Senti-me envergonhado, mas não surpreso, com os comentários dos leitores sobre o Corinthians. Não daqueles que fizeram correções, mas sobre todo aquele papo de “brio alvinegro” e “sentimentos” dos torcedores do Corinthians. Não tenho nada contra futebol, mas acho preocupante esses níveis de fanatismo. Nenhum fanatismo é bom, seja ele religioso, político, seja outro. DOUGLAS RAMALHO QUEIROZ PACHECO RARAS “Pode não ter mudado a vida de ninguém ainda, mas precisamos aprender o que está acontecendo no mercado. A SUPER foi muito inteligente ao explicar detalhadamente o assunto para nós, que não entendemos metade dessa bagunça. RENATA BASTOS, NO SITE, SOBRE A CRISE FINANCEIRA. Imaginação fértil Na matéria “Ciência, uma Questão de Fé” (Essencial, novembro) há uma parte que aborda a teoria dos muitos mundos. Quando a lime lembrei de umfilme interpretado por JetLi, O Confronto, em queele viaja por diversas dimensões e elimina asi próprio para ficar mais poderoso. JONATà ANDRADE, SALVADOR, BA Quando lio titulo da reportagem sobre a ciência ser questão de fé fiquei animado, mas ao lê-la me decepcionei. Quais as provas da existência do big-hang? Se existem, são forjadas. E quem disse que 0 criacionismo é pseudociência? Eaindavêm com esse papinho de que o Universo pode ser sustentado como cordas de violão. Fala sério! Só engulo essa se vocês disserem que Deus seria 0 Yamandu Costa tocando em ritmo de bossa. THIAGO OLIVEIRA, PAULISTA, PE E vivam as burrices Aprendemos que todo ser humano é falho ("Quando os Gênios Foram Burros”, novembro). Já pensou se vocês tivessem também citado os grandes lideres politicos? Faltaria espaçona revista, hein? WELTON ALMEIDA Os nerds contra-atacam Somos superfas da revista e amamos a matéria “A Vingança do Nerd” (SuperNovas, novembro, pág. 44). Amatéria ficou muito descolada e ao mesmo tempo informativa e crítica, o que é difícil de encontrar num meio de comunicação escrito. Ela faz o público enxergar as duas faces. GABRIELA APARECIDA DE LIMA, EVELYN RIBEIRO DE MORAIS E ALEXSANDRO DE ÓLIVEIRA PINTO Gostei muito da reportagem sobre os nerds! Como diza matéria: ser descolado não é tudo! ALEX RODRIGUES, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP = Onome do diretor comercial da Livraria Cultura é Fabio Herz, não Paulo Herz (SuperFetiche, novembro, pág. 106). m Orelógio relativo ao horário de beber marca 19h30, e não 17h30 como consta no quadro abaixo do relógio (superNovas, novembro, pág. 40). = OD aumento das tulipas no século 17 foi de e00% (“Crash”, novembro). = Michael Phelps venceu a prova de 100m borboleta nos Jogos Olímpicos de Pequim, e não de 400 m (Páster, novembro). REDAÇÃO Envie sugestões, comentários, críticas e dúvidas para Adriana Meneghello peto e-mail superienora ralis . br: para nav das Nações Unidas, 7221, 8º andar CEP 05425-902, Sdo Paulo, SP; ou ainda pelo fax [11] 3037-5891, PARA ANUNCIAR Escreva para fernando. sabadingabril.combr cuentre nosite tangas gutattaboril com br, Telefones: SP-[11]3027-5188, RJ-[21]2546-8200 Qutras praças: [11]3037-5759, Vendas Diretas: [11] 3037-5000. VENDA DE CONTEÚDO Para adquirirasgiretos de reprodução de imagens e textos publicados na SUPER, fale com a nossa mulher maravilha: Giselda Gala. Elavartornar sua vida bem mais fácil. Fax: (11) 3037-5891. E-mail: ggalaB abril. com.br ATENDIMENTO AD ASSINANTE Reclamações ou dúvidas sobre envio, pagamentos ou renovações? Vá aosite mranvabrilsac com, br ouligue de 2! ab? das gas c2h,no(11)5087- elle (Grande São Paulo) ou B800 2775-2112 (Dutras localidades). Fax: (11) 5087-2100. PARA ASSINAR Quer receber à SUPER emicasa? Entrengsite mumeassinesbrilcom.br ou mande um e-mail para abriLassinaturasBabril, com.br Deca bi, das8as 22h, gue para (11) 3347-2121 (Grande São Paulojou 0800775 2828 (outras localidades), Fax:(11)5087-2100. RECURSOS HUMANOS você pensa emtrabalhar, estagiar ou participar de algum das programas de treinamento da Editora Abril? 0 lugar certo para obter informações e enviar seu currículo é o link variam, br/ trabalheconosto. Boa sorte! EDIÇÕES ANTERIORES Solicite exemplares antigos ao seu jormaleiro. Opreçoserá o daúltima edição em banca mais a despesa de remessa. Para ctomprarnossas produtos, acesse mm superinie- ressante.com.bríloja. estreva para produtos abril.com,br ouligue para (11)2199-BB81, TD SUPER | DEZEMBRO | 2008 [AGORRESCUTA] 16 | SUPER | DEZEMBRO | 2008 O mundo está desabando, eu sei. 56 crise, crise e cri- se. Mas é quando o mundo cai que uma das caracte- rísticas mais impressionantes da humanidade aparece: a gente sempre, sempre, anda para a frente —- mesmo despencando. E é por isso que quando eu olho pela janela para 0 lado de fora desse caos, enxer- go um solzinho aparecendo lá no meio das nuvens. Se você tem dinheiro na bolsa, sinto muito. Não é a recuperação do preço das ações que eu estou ven- do. É melhor: um novo capítulo na maneira como tratamos as minorias. Veja bem, eu não seise o Dba- ma vai ser um bom presidente. Não sei se ele vai con- seguir atender às esperanças que os americanos, 05 franceses, os georgianos, os paqguistaneses e os ti- betanos depositam no seu mandato. Se ele vai dar um jeito na Guerra do Iraque ou resolver o problema das suas ações. Sério, não é isso que inte- ressa agora. À eleição de um negro para governar 05 EUA é um evento em si: há apenas 4 décadas, o país os proi- bia de comer ao lado de brancos. Ago- ra, em plena crise, escolhe um negro como líder. É uma mudança e tanto. Queda para a frente Barack Obama, 0 pivô da mudança. Se você quer entender melhor por que a cor da pele do presidente americano é um marco tão relevante, leia com atenção a reportagem escrita por Karin Hueck. Começa na pág. 80. O Obama, porém, não é a única notícia boa. No Essencial, que está na pág. 31,a gente olha para o futuro. E enxerga na ruína dos mercados a semente de uma nova economia, verde e sustentável. A chave desse milagre está no tamanho dos lucros que as energias limpas prometem trazer a quem apostar nelas. E bons lucros, você deve saber, são produto em falta no mundo dos negócios - e também a melhor isca que existe para fazer uma boa idéia dar certo. Há, pelo jeito, uma luz verde piscando no fim do túnel dacrise. E, se isso realmente acontecer, se o próximo ciclo de crescimento trou- xer junto uma economia que não polui, mais uma vez teremos conseguido an- dar para a frente enquanto caímos. Sou 0 único otimista por aí? Sérgio Gwercman Redator-chefe sywercman&abril.com.br 1.AP Images 2. Dulla abou iii raro EPP ITPS A evolução ac: E Pç E rir “Pata o inglês º alógica de Dart não se aplicar mais aos seres humanos e chegamos ao Cd mais alto da genética. porenuaRDOszKLARZ Você já deve ter se perguntado como seremos no futuro. Nosso cérebro vai crescer? O apêndice vai sumir? Teremos uma vida melhor? O cientista bri- tânico Steve Jones dá uma dica: deixe de lado as especulações e se olhe no espelho. Você verá a imagem da humanidade em pleno auge. É isso mesmo: finalmente chegamos ao nosso limite biológico. “A evolução acabou”, diz ele. “As coisas simplesmente pararam de melhorar ou piorar para a nossa espécie. Se você está preocupado sobre como será a utopia, relaxe. Já está vivendo nela.” Segundo Jones, o Homo sapiens sapiens praticamente pulou fora da arena da seleção natural e não vai mais sofrer mudanças drásticas. Graças ao nosso estilo de vida, conseguimos sobreviver e nos reproduzir sem depender das diferenças herdadas para enfrentar o frio, a fome e as doenças. Mesmo as pessoas que morrem por essas causas costumam estar velhas demais para que a máquina de Charles Darwin se interesse por elas. No entanto, ele avi- sa que a evolução não tirou férias no mundo inteiro. Na África e em locais muito vulneráveis a epidemias, ela continua funcionando a todo vapor. Steve Jones é chefe do Departamento de Genética da University College em Londres e conversou com a SUPER por telefone. Por que a evolução acabou? Primeiro precisamos entender o que é evolução. Charles Darwin a definiu em 3 palavras: “descendência com modifi- cação”. Descendência se refere à infor- mação passada de uma geração à outra. E modificação significa que essa informa- ção não é perfeita. Se isso acontecer em muitas gerações, as diferenças vão se con- solidar e a evolução vai acontecer. Assim, parte da evolução é um acúmulo de erros durante longos períodos de tempo. Mas Darwin tinha uma segunda idéia sobre evolução: a seleção natural, que influi nas diferenças herdadas na capacidade de se reproduzir. Se você possui um ge- ne que torna maiores as suas chances de - PLANETA : pouso ER mundo melhor. ; vel O pesquisador Carlos Nobre, estudioso dos assuntos amazônicos, vê na floresta o ponto de partida para a arrancada rumo ao desenvolvimento brasileiro. Conselheiro do movimento Planeta Sustentável, Nobre é também um dos 500 cientistas de vários países que participam das reuniões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas que elabora e divulga os relatórios sobre as mudanças climáticas. À invenção de uma nova economia Planeta Sustentável O sr. acredita que o Brasil tem tudo para passar para o rol dos países desenvolvidos. Qual é o caminho? Carlos Nobre Não há dúvidas de que o Brasil é uma po- tência ambiental por ser abundante em terra, água, sol e biodiversidade. Esses são os ingredientes que temos que utilizar para alavancar o que chamo de desenvolvimento tropical. P.S. Esse tipo de desenvolvimento já existe em algum país? C.N. Não, ele tem que ser inventado e deve ter uma com- binação da riqueza que nós temos em recursos humanos com a riqueza dos nossos recursos naturais. É um modelo de desenvolvimento que explore ao máximo essa combi- nação de biodiversidade, terra, sol, água com um sistema educacional que no Brasil - pelo menos no extrato supe- rior de pós-graduação - já atingiu um nível de sofisticação como poucos países em desenvolvimento. P.5. Como ele pode ser implantado? C.N. É fundamental descobrir e associar mais valor aos produtos naturais que temos. Um país tropical desenvol- vido é industrial. Temos que encontrar um nicho de indus- trialização feito a partir dos nossos recursos naturais. P.S. Então a Amazônia pode ser o caminho mais curto para se atingir o desenvolvimento tropical? C.N. Claro. Apesar de sua riqueza natural, o valor econô- mico da região amazônica é pouquíssimo explorado. O modelo de desenvolvimento deve basear-se fundamen- talmente na exploração econômica e sustentável da bio- diversidade da floresta. P.5. Por onde começar? C.N. industrializando e globalizando os produtos amazô- nicos. O Brasil tem uma área plantada de soja quase 3 ve- zes maior que a da Argentina, mas nosso vizinho obtém o mesmo lucro nas exportações porque exporta o óleo de soja e nós apenas grãos. Se continuarmos a ser apenas grandes plantadores de cana, produtores de soja ou ex- ploradores de minério de ferro para exportar tudo isso in natura não chegaremos lá. P.S. O sr. propõe globalizar a Amazônia? C.N. O que proponho é a necessidade de implementar o que eu chamo de globalização dos produtos da biodiversi- dade da nossa floresta. Já temos hoje alguns deles como o açaí, o cupuaçu e a castanha-do-brasil, mas há muito mais. Produtos com grande potencial para serem globali- zados são toda a fruticultura nativa, todos os óleos e uma série de fitoterápicos. Sem contar que podem existir, nes- sa rica biodiversidade, fármacos ainda não descobertos que levem à cura de muitas doenças. ns.snnna na CACO TERA Ra anos RR RU OU RO encarna aa nana nad a 1d nao nasnas ans * RE avi BANCO qa ENERGIA Luciana De Francesco CPFL BÚÔNGE P.S. Nesse caso, seria preciso proteger a Amazônia do desmatamento. C.N. É preciso proteger a Amazônia por tudo o que ela tem de potencial. A globalização seria também uma base para geração de empregos para a população rural da floresta. É um outro modelo econômico que não esteja baseado única e exclusivamente na pecuária e na soja. P.S. Mas a distância não pode inviabilizar esse desenvolvimento? C.N. Realmente as distâncias são muito grandes em re- lação aos mercados consumidores, por isso é necessário agregar valor aos produtos para que eles sejam rentáveis. É preciso ter indústrias locais nas pequenas e médias cidades amazônicas que processem os produtos da bio- diversidade. Assim consegue-se gerar bons empregos e renda as populações rurais. P.5. Como fazer isso? C.N. Temos uma comunidade tecnológica e científica sofisticada. É preciso usar essas potencialidades para, a partir de nossa vantagem comparativa em relação aos recursos naturais, alavancar o desenvolvimento do país. Recentemente, a Academia Brasileira de Ciências pro- pôs a criação de universidades da floresta e institutos de tecnologia da Amazônia que estabeleçam uma revolução científica e tecnológica na região para criar OS recursos humanos e as soluções sustentáveis. P.S. O sr. acredita que o empresário brasileiro tem essa mesma visão? C.N. Sim, temos empresários modernos, audaciosos e inô- vadores em muitas regiões do Brasil. Eles podem enxergar o Brasil como país tropical e entender como vantagem, comparativa a sua riqueza natural - não só os minérios, mas também os recursos renováveis - para explorar ao máximo esse potencial de forma sustentável. Dou sabesp PETROBRAS TECLAS EESTI idéias inovadoras em ambiente, energia, negócios, urbanismo, consumo, lixo, desenvolvimento, saúde e educação [ESSENCIAL] Energias alternativas: elas valem mais do que dinheiro. Rs ai E E Y AA Z MA 'Verde:acordanovaeconomia DPG PEDE EE rr CETIM PRP gr Peng Xiaofeng, de 33 anos, acaba de virar 0 4º homem mais rico da China, com uma fortuna de US$ 3,96 bilhões. No ano passado, ele era o 6º. Nada mau num ano em que magnatas do mundo todo perderam muito com a crise. Qutro que tem motivos para comemorar é Shi Zhengrong, 45 anos. Ele pulou da 25º posição para a 8º, com US$ 3,1 billhões. Essas histórias não teriam nada de mais não fosse o trabalho dos dois empresários: fazer painéis solares. Num país movido a carvão, o combustivel mais poluente que existe, eles juntaram bilhões com uma fonte de energia limpa, que não queima combustíveis fósseis nem libera CO, na atmosfera. Peng e Shi não estão sozinhos. O dinheiro investido em fontes sustentáveis subiu de US$ 33 bilhões em 2004 para US$ 148 bilhões até o final do ano passado. Um salto de 450%. “A mensagem desses números é clara: a energia verde já é um investimento de primeira linha, Wustração Túlio Fagim e continua acelerando”, disse o alemão Achim Steiner, chefe do Programa da ONU para o Ambiente. E a coisa tem espaço de sobra para crescer, já que hoje só 13% da energia mundial vem de fontes limpas. É tanto espaço que, para o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, são justa- mente elas que podem tirar a economia mun- dial do buraco. Por dois motivos. Um: para que o aumento da temperatura mundial seja de apenas 2 “C em 2050 — e não os catastrófi- cos 7 ºC previstos hoje — temos de cortar nos- sas emissões de carbono pela metade, então as alternativas ao petróleo e ao carvão têm de vir já. Dois: para o mundo recuperar a saúde finan- ceira, temos de criar empregos o mais rápido possível. E a economia vive em ciclos, impul- sionada por um novo motor de cada vez. Nos anos 90 era a tecnologia, que criou 1,6 milhão de empregos só nos EUA. Depois que a bolha da internet estourou, o dinheiro migrou para a » As energias renováveis fomentam um mercado bilionário e, além de ajudar a limpar o planeta, serão um dos motores para salvar a economia. TEXTO ALEXANDRE VERSIGNASSI EBARBARAAXT DEZEMBRO | 2008 | SUPER | 3] [SUPERNOVAS] EDIÇÃO BRUNO GARATTONI (bruno.garattoniGabril.com.br) FAÇA BOA VIAGEM- E NÃO MINTA O aeroporto do futuro Detector de metais? Raio X? Alfândega? Você ainda vai ter saudade dessas coisas. Viajar de avião, principalmente para 05 EUA, está cada vez mais difícil. Além de filas e atrasos, é preciso passar por uma verda- deira maratona: esvaziar 05 bolsos, tirar 05 Sapatos, passar no detector de metais, raio X, alfândega, imigração... Um saco. Mas promete ficar muito pior. O governo ame- ricano está desenvolvendo um sistema de segurança ainda mais rigoroso, que deixa 05 passageiros pelados e mede caracteris- ticas corporais dos turistas, do batimento cardíaco à temperatura do rosto. As suas malas serão grampeadas e, enquanto com- putadores tentam avaliar o seu grau de nervosismo, você vai levar um raio laser no peito (veja no infográfico). Tudo isso em um só “túnel da verdade”, que todos os passa- geiros terao de atravessar. As tecnologias podem parecer futuristas demais, mas já existem — e uma delas, o raio X nudista, já está sendo usada em aeropor- tos dos EUA. Tudo com o objetivo de evitar atentados terroristas. “Nossos inimigos querem fazer algo mais devastador que 0 11 de Setembro”, afirma Jay Cohen, diretor de tecnologia do Department of Homeland Security (DHS) - braço do governo que cui- da da segurança nos aeroportos. Segundo as autoridades, o túnel da verdade é preci- so: seus computadores são capazes de dizer, com 78% de acerto, se alguém está nervoso ou mentindo. Mas especialistas apontam problemas. O que acontecerá, por exemplo, se as pessoas estiverem cansadas, agitadas ou estressadas - serão conside- radas terroristas por causa isso? “Eles [o DHS] andam vendo muitos filmes de ficção científica”, debocha o especialista Peter McOwan, da Universidade de Londres. EH 34: SUPER | DEZEMBRO | 2008 CAMINHO DA VERDADE O que os turistas vão enfrentar nos aeroportos dos EUA. chip RFID Bagagem grampeada A mala vai receber uma etiqueta do tipo RFID (Radio Frequency Identification), que contém um pequeno transmissor. sensores espalhados pelo aeroporto captam os sinais dele, permitindo saber onde a bagagem esta. Só não se esqueça de arrancar a etiqueta quando chegar ao destino - ou você poderá ser monitorado fora do aeroporto. dScanis ar ge Cu (pyramidalis nasi) A ALLE CE | microexpressões câmeras |, devideo 4 | As imagens captadas pelas câmeras do aeroporto serão | analisadas por um computador | capaz de identificaras chamadas microexpressões - expressões | faciais involuntárias e ] imperceptíveis a olho nu, que duram frações de segundo e revelam o que a pessoa ] realmente está sentindo 1! (um tique no nariz, | por exemplo, indica raiva). 4 radiação infravermelha zona de calor expressão | Termografia facial Us aeroportos terão sensores infravermelhos capazes de medir a temperatura do seu rosto = que aumenta quando você está nervoso. No exemplo acima, a cor roxa em volta dos olhos indica que eles estão muito quentes (e, portanto, o sujeito provavelmente estã escondendo alguma coisa). Infográfico: Jorge Oliveira Nustração: Contreras Consultoria: Luiz iria - eletro- cardiograma RE degelo Agora é hora de tomar um tiro de laser no peito. Calma, você não vai morrer. É um laserde baixa potência, refletido para um sensor que consegue calcular o movimento do seu tórax- e, com isso, deduzir qual é a sua fregliência cardíaca. Se o seu coração estiver batendo muito rapido, você pode ser chamado para um interrogatório. TEXTO JOSÉ SÉRGIO 055E DESIGN JORGE OLIVEIRA ILUSTRAÇÃO CONTRERAS backscatter EA arma É escondida E To DG e [= e ooit= ho contrário dos raios X tradicionais, que atravessam o corpo, este aqui (que se chama backscatter) usa radiação de baixa potência: 500 vezes menos que uma maquina de hospital. A radiação não penetra no corpo, mas é refletida pela pele. Com isso, os funcionários do aeroporto conseguem ver você nu - saber se esta escondendo algo sob a roupa. DEZEMBRO 2008 "SUPER: 35 [SUPERNOVAS| Mi A URIA: TEXTO NINA WEINGRILL Curiosidades todo dia Code fera EDGE super.abril. [sf Rola [o /ER Dor de ouvido causa obesidade Você adora atacar a geladeira? Pode ser culpa do seu ouvido. Cientistas da Universidade da Flórida constataram que infecções auditivas podem danificar as conexões nervosas entre a língua e o cérebro. Isso deixa os alimentos mais gostosos e faz a pessoa comer mais - ela pode ficar até 30% mais gorda. como texto Er] foto E RAP ES) GT EE La EA Bendita sois vós entre as tubaroas A mãe de Jesus, diz a Bíblia, engravidou sem relação sexual. Para aciência, não faz sentido - a não ser que estejamos falando de tubarões. Pesquisadores americanos descobriram duas fêmeas de tubarão (da espécie galha-preta) que conseguem engravidar sem fecundação. (M 65 mil mm Pessoas despejadas mem Mosquitos transmissores de doença (A CADA 1 000 MOSQUITOS) ã 2005005 2006 OO Crise econômica faz bem para os mosquitos Cada vez mais americanos estão abandonando suas casas por falta de pagamento - e deixando para trás piscinas sujas, cheias de água parada. Um paraíso para os mosquitos do gênero Culex, que transmitem a chamada febre do Nilo (doença com sintomas similares aos da dengue). 36 SUPER | DEZEMBRO | 2008 ustração Rômulo Pacheco e nm a GIATA siri 3 siri Ss E ES am S NS * E ts ms arigiis III Gr Er, EA E Gir Gis ESTES A AEINSNISN II Do supercondutor N ao Super Mario TEXTO FABID MARTON SUPERCONDUTOR 88 Em 1911,0 cientista holandês Heike Kamerlingh descobriu N uma coisa incrível: se você resfriar bastante certos metais, NS eles se tornam supercondutores - conduzem energia de forma perfeita, sem desperdício nenhum. Com os q supercondutores, seria possível criar carros elétricos N hipereficientes e reduzir o consumo de combustíveis 8 fósseis. Um sonho que a ciência persegue desde a... ANN CRISE DO PETRÓLEO Em 1973,as nações árabes da Opep (Organização dos Paises Exportadores de Petróleo) anunciaram que não 8 exportariam mais petróleo aos aliados de Israel -no caso, Ss todas as potências ocidentais e mais 0 Japão. Isso gerou N uma crise econômica global que acabou com o “milagre , econômico” brasileiro e também quebrou negócios mais N triviais. Como o mercado de... 88 RS NES NINE ADE, qua ENSINA SEN, E Dm E] PARQUES DE DIVERSÃO N No Japão de 1975, com a crise mundial no auge, o lazer se à tornou secundário - como a gasolina estava carissima as. pessoas saiam de casa cada vez menos, o que acabou com 8 a popularidade das máquinas de tiro aoalvo. O fabricante. delas, que se chamava Nintendo, resolveu diversificar às negócios e apostou na onda dos fliperamas. Deu certo, e 8 logo a empresa desembarcaria nos... N ANNAN EUA Em 1981, 05 americanos só queriam saber de jogar: RS deixaram mais de USS 10 bilhões em fichase moedinhas. SS nos fliperamas do país. Mas, para a Nintendo, a coisa não 3 começou muito bem: Radar 5cope, um de seus primeiros Es flipers, foi um baita fracasso. Para reaproveitar as SN máquinas encalhadas, a empresa colocou nelas S um novo jogo: Donkey Kong. Era a estréia de... N EN SESIASINNNNAS SEIS AN SUPERMBRIO e Us executivos não botaram muita fé (um homem baixinho, gordo e bigoduda jamais convenceria como super-herói), N mas notaram uma coisa. O personagem se parecia muito S com Mario Segale,dono do prédio onde funcionava a 3 Nintendo das EUA - e por isso ganhou o nome dele. Nascia S alio maior astro da história dos jogos: de pulinho em 8 3 pulinho, ele vendeu mais de c80 milhões de games, [SUPERNOVAS] RELATIVIDADE FROSTEREE A geladeira de Einstein Ele revolucionou a física. Mas, na verdade, só queria entrar na sua cozinha. TEXTO DENNIS BARBOSA Engenheiros ingleses estão construindo o primeiro protótipo de um eletrodoméstico revolucionário: uma geladeira ultra-ecológica, quefoiinventada em 1930 por ninguém menos que Albert Einstein. Ela gasta pouca eletrici- dade, não prejudica a camada de ozônio e, para completar, é totalmente silenciosa. A máquina, que o físico criou e patenteou junto comseucolega húngaro Leo Szilard (que viria a se tornar um dos pais da bomba atômica), faz algo que parece mágica: transforma calor em frio. Tudo graças a umsistema inteligente (veja ao lado), que dispensa o motorzinho presente nas geladeiras convencionais. Mas, se essa tecnologia é tão incrível, por que não é usada hoje em dia? É que, como foi concebido, o refrigerador de Einstein não ge- la muito bem = por isso, nunca foi fabricado em série. Mas os cientistas que estão desen- volvendo a geladeira acreditam que é possível quadruplicar sua potência — a idéia é trocar O butano por gases mais poderosos e Lisar ener- gia solar para alimentar a máquina. “Elaseria muito útilem áreas rurais, onde não há eletri- cidade”, explica o engenheiro Malcolm McCullo- ch, da Universidade de Oxford. E Ciência na cozinha Agenial -e complicada - máquina de Einstein. 1 AQUECIMENTO Um aquecedor elétrico embutido na geladeira esquenta uma mistura de água com amônia. Isso causa uma reação química que separa as duas substâncias. Eae É ca : TREM. NE RERE EE 2 CONDENSAÇÃO A água, na forma de vapor, chega a uma câmara de condensação. Ela vira líquido e é usada para molhar uma mistura de dois gases: amônia e butano. Como é menos solúvel emaágua, o butano fica livre. 3 REFRIGERAÇÃO Obutano entra numa terceira câmara-oresfriador. Eagora vemo truque genial. Lembra-se da amônia que foi liberada na etapa 1? Ela vem até aquie se mistura com o butano. Essa mistura evapora, absorvendo calor - eisso deixa a geladeira gelada. Em seguida, os gases voltam paraas etapas lez, reiniciando o processo. [SUPERNOVAS] «q Pensar cansa. Mesmo! Cientistas provam que o cansaço mental não é desculpa de gente preguiçosa. TEXTO MARCELLACHARTIER Sabe quando você está estudando ou trabalhando e precisa dar uma paradinha para descansar? Não se sinta culpado. Uma experiência feita nos EUA acaba de achar uma explicação científica para is- so. A psicóloga Kathlen Vohs, da Univer- sidade de Minnesota, chamou dois grupos de estudantes para uma série de testes de raciocínio - como prêmio, am- bos iriam ganhar um pequeno brinde. Só que o segundo grupo teve o privilégio de escolher esse brinde, num catálogo, an- tes de começar. Parece uma bobagem, mas causou efeitos profundos: os volun- tários do segundo grupo cometeram mais erros e desistiram mais rápido. Tu- do porque, segundo uma nova teoria, O cérebro tem uma capacidade limitada de tomar decisões, que vai sendo gasta ao longo do dia — até chegar a um ponto em que a mente precisa parar, e ficarem 44: SUPER | DEZEMBRO | 2008 repouso, para recuperar o desempenho original. É a mesma coisa que acontece com os músculos durante um exercício físico. “Ainda nao sabemos dizer qual parte do cérebro se cansa, nem quanto tempo ele pode pensar antes de se can- sar”, diz o psicólogo Natham Novemsky, da Universidade Yale. Mas os cientistas já descobriram al- gumas coisas que aumentam a resistên- cia da cachola [veja ao lado). E ter um cérebro malhado também pode ajudar a evitar situações embaraçosas. Duran- te os testes, os pesquisadores prepara- ram um suco bem ruim, com gotas de vinagre, e o deixaram em cima da mesa enquanto entrevistavam os voluntários. As pessoas que foram expostas a situa- ções de cansaço mental beberam mais — Com a mente exausta, nem prestaram atenção no que estavam tomando. E dicas para dar mais fôlego ao seu cérebro COMA SEM CULPA Cientistas americanos descobriram que, quando as pessoas não comemo quequerem (parafazer dieta, por exemplo), 0 cérebro fica frustrado - e desiste 50% mais rápido de tarefas dificeis. SOLTE AS EMOÇÕES Dois grupos de voluntários foram chamados para assistira uma comédia - e depois fizeram uma prova de inglês. O grupo que foi proibido de rirteve um desempenho 33% pior. ACREDITE NO SEU TACO Pessoas mais auto- confiantes, quetomam decisões mais rápido, conseguem pensar poraté 40% maistempo. Ilustração Visca Eb isgn Cadeia Ink Desejadas ou impostas, as tatuagens feitas na cadeia contam a história do tatuado. Conheça esse código, marcado na pele para sempre. ES Len Reto Era AS Tae aà Do SEE E de EN ES ae Le EEE o EE fofa RS Eu ETR y não entra em modinha. “A descrição que a polícia pedia [nina ee oie RE E ea CR de Ele E reconhecido se usar as marcas tipicas da cadeia”, dizum detento de 24 anos que não tem tatuagem. EPP RI RE periculosidade, do po ERRO Else fa o pe CELA COBRA e pe TER E afazer, para que todos saibam que o dono é Gif deb die ups SO o ir TV O) metia o o ie tuto con cais e et RO cadeia” (travestis) Sa EE pi ES VEL Eru Ds Ta ER IR borboletas coloridas ou pda E Rega SRT) [ate Ri RR Ns] homossexual passivo). Lo ES Rss efa E tatuar na pele datas [ao Ei REAR para eles, como as de fugas, a Aa companheiros e inimigos. PDR a od AA 1) | ) ] ] A! H 1] ] | ] ] ] | | ] ] ] | | ] E] EeLRL GRE RR ERA et E E El ER e R ir] elétrica. A tinta muitas vezes é profissional, en u E tleiaud ER iute usa ei Lt AA DR Pta o pop pap papo po papa pa pp pp SP pp BRR! NICAÇÃO rir eai RR pias pj efu fogo ge tia ço meta o sin A Leoa RE Le = pe te Lopo o EE LER Fte Eu TRES | despencar é a pergunta:As pessoas se sentem recompensadas?” [RT de upa aj : abaixo (estagiários)gacima [geo gs dodgefo)] ra , Ea ELEITA ED e FREE ET A / e ER RI RN Raia cr pedi PETI á LEPpco gotta pes lR das o oba Ste pede média de 30%, contra um indice de 235 entre 05 colegas da universigade. Contrariando a lógica das outras profissões, fogo fase pa page nt eQe fo pu Ti a [e poi haixam sua satisfação para 21%. Pudera: 0% se declara recompensado Cofee DE DER 7 ET Os caixas têm “felicidade” acima da média em todos os quesitos, com espetaculares 76% Copa [ooo apar fiRd SpoRE i de possibilidade de crescimento na carreira. DIVERSOS mais um indício de que o diploma não traz felicidade ope dE folnde (RES = terfo oo ot achu as E Pyh e profissão não tem necessariamente on E id a RR ER ja eee peTER aa o pre fo oe ER - por atividade, caro PA Tips) Pad o ERR || | | nes ita fi] RE ro] 24%, RR CER ER EPE Esse o ER GAR E] | do mercado, têm o mais “feliz” dos 963 cargos im [Dm E ac lado. ) o io is | 9% | pesquisados: o diretor de engenharia Ê a” NA F) o | de projetos, que tem 77% de satisfação. NY Km LCA bi | Nas 37 profissões da área jurídica ares REM ER ED EE de direito administrativo (9%) até a felicidade do estagiário de direito tributário (55%). Piu] KEN PN VACA c a Aloe Geo do erp ee opala tee SR profissionais. Aparentemente, ntam diferentes n a especialização que diferencia da mesma atividade, de estagiári da massa traz mais satisfação. VALE A PLENA BE ERR pedi 1 Ega pad [ga To rofissional nem Ju nior nem aumentara alegria de uma sênior, em meio de carreira. Pie E secretária bilingue em 32%. CR E pr Te Les Ene jd ER RR a] RESPOSTAS] Provavelmente nunca em um supermercado perto do você. Agua da privada é potável? TEXTO MICHELE SILVA Não. Nunca. Nem pense nisso. Se pensou “poxa, mas a caixa- d'água é a mesma, a louça é tão branquinha”, pensou errado. E, se agiu antes de pensar, deve procurar um médico. Sério, existem formas mais higiênicas de chocar a sociedade burguesa. De acordo com o biólogo e professor de saúde ambiental da USP José Luiz Negrão Mucci, seres humanos que beberem água do vaso podem ter graves complicações (cachorros e gatos são mais resistentes). “Ali há protozoários e bactérias que podem causar diarréia, hepatite e infecções que ficam no organismo durante um longo período”, diz. Além disso, o cloro colocado pelos órgãos de tratamento da água não tem a concentração suficiente para matar todos os germes que ficam no vaso. Mesmo que a idéia de matar a sede na privada nunca tenha passado pela sua mente sã, é preciso tomar cuidado, pois obje- tos próximos do trono também podem ser contaminados. Em alguns exames, foram encontrados micróbios de origem fecal nas cerdas de escovas de dentes. A origem, claro, era a privada, provavelmente porque alguém deu descarga coma tampa aber- ta, lançando bactérias pelo ambiente. Mas, calma, não precisa jogar no lixo tudo que estiver sobre a pia do banheiro. O biomédico garante que os desinfetantes e a limpeza regular matam as bactérias, e o risco de contaminação é pequeno. “É um dos locais menos contaminados, porque é limpo regularmente”, diz. Mas, por precaução, é bom manter objetos de uso pessoal protegidos no armário. E 50 | SUPER | DEZEMBRO | 2008 SALSICHA | Usa Ra aos QUANDO SURGIRAM? DE QUESÃO FEITAS? QUANTOS TIPOS EXISTEM? QUAL PAÍS QUE MAIS COME? DUANTAS ALGUÉM CONSEGUE COMER? Agi st] gg | OSBASCOS AS a apa QUEM SÃO ELES? QUAL O SEU IDIOMA? POR QUE QUEREM SER UMA NAÇÃO INDEPENDENTE? Fontes Bert Yankielun, autor do livro How to Build an lgloa, e Ed Huesers, do site www.grandshelters.com. ENTRANDO NUMA FRIA [SUPERRESPOSTAS] Como se constrói um iglu? TEXTO MICHELE SILVA Não requer prática nem habilidade. Para construir essa residência rústica, minima- lista e ecológica, basta encontrar 5 m'de neve compacta e convencer alguém a en- trar nessa fria com você. Para que a casa não desabe na sua ca- beça, a neve precisa ser quase sólida, da- quele tipo no qual você não deixa pegadas, afirma o americano Bert Yankielun, autor do livro How to Build an igloo ("Como Cons- truir um Iglu”, sem edição brasileira). HOLIDAY ON ICE Uma dupla de “geleiros” pode erguer seu iglu em cerca de 9 horas. O consolo é que o trabalho nunca leva o dia inteiro: no inverno polar, o Sol nunca se põe. A princípio, parece contradição erguer uma casa de gelo para se proteger do frio. Mas, como explica o professor de fisica da USP Cláudio Furukawa, “o gelo é excelen- te isolante térmico, 100 vezes melhor que o alumínio". É a lógica da garrafa térmica: o gelo atenua a perda do calor gerado por uma fogueira ou pelos moradores. Infelizmente, os iglus correm risco de extinção. Um dos motivos é o famoso pro- gresso: os nativos do Alasca, do Canadá e da Groenlândia estão sendo incorporados a civilização ocidental e aproveitando as benesses da sociedade de consumo, como imóveis não perecíveis. Outro é o aqueci- mento global, que torna escasso o gelo nas redondezas do círculo polar ártico. Quem mantém viva a tradição dos abrigos de gelo são caçadores esquimós, que se abrigam neles durante a temporada de caça, além de aventureiros com espírito empreendedor e muito tempo livre. E ÁREA ÚTIL O primeiro passo é mandar ver no snow angel: deite-se no chão e faça polichinelos na horizontal, Use o “anjo” que ficou no chão para traçar o raio da construção. FORCINHA DA GRAVIDADE O plano inclinado é o segredo: ele fará com que os blocos de gelo se pressionem mutuamente, mantendo o iglu em pé. Acúpula vai tomando forma a cada “andar”, Ilustração Cássio Bittencourt FISSAO A FRIO Encontre um local com neve compacta o suficiente para ser cortada em blocos. São necessários 5 m'de neve na construção de um iglu para 3 ou 4 pessoas. UM DENTRO, UM FORA É preciso que dentro da construção fique alguém que vai moldar e empilhar os blocos, para que reste apenas uma abertura de ventilação no topo doiglu. DESCENDO A RAMPA Preencha circunferência com os tijolos. Após formar o primeiro anel, crie uma rampa circular e inclinada de fora para dentro. Ela será fundamental. PORTA ABERTA Abra uma passagem lateral em semicirculo: você liberta seu amigo e ganha uma porta. Ela deve ser estreita, para uma pessoa, ou o vento vai deixar tudo ainda mais gelado. DEZEMBRO | 2008 | SUPER: 5] —— — - Aral eo E O 1º serial killer brasileiro 7717777 PTD Preto Amaral assombrou a São Paulo dos anos 20) com seus crimes de estrangulamento, morte e estupro. Nessa ordem. textoxarinaninm ra dui(id Numa bela tarde de 1927, o rapazinho Antônio Lemos passeava pelos agitados arredores do Mercado Municipal de São Paulo quando foi abor- dado por um senhor negro, que se ofereceu para lhe pagar um almoço. Conversa vai, conversa vem, às dois partiram num bonde rumo à Lapa. Foi o último bonde de Antônio, a terceira vítima do Pre- to Amaral, que entrou para a história nacional da infâmia como o primeiro serial killer brasileiro. Nascido no interior mineiro em 1871, José Au- gusto do Amaral era filho de escravos. Livre aos 17 anos, quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, entrou para o Exército. Era uma das poucas ocupações disponíveis para ele num país ansioso de ser embranquecido por imigrantes. Depois de rodar o Brasil como voluntário da pátria, aos 56 anos Amaral estava vivendo de bi- cos em São Paulo. Tinha tudo para morrer no anonimato até que, em 1927, foi preso, acusado de 3 homicídios. Confessou todos. Segundo seu depoimento, ele seduzia, depois asfixiava, para então estuprar o cadáver das vítimas — todos hamens. A imprensa delirou; os jornais traziam manchetes sobre o “manstro negro”, o “diabo preto”, o “estrangulador de crianças”. Na verdade, Antônio Sanches, a primeira vítima, já contava 27 anos. Em seu depoimento, Amaral afirma que o encontrou nos arredores da praça Ilustração André Kitagawa Tiradentes e que a vítima lhe pediu fósforos. De- pois de tomarem café num botequim próximo, Amaral teria convidado o rapaz para ver um jogo de futebol. O corpo foi encontrado próximo do aeroporto do Campo de Marte, na zona norte. Avitima seguinte, José Felippe Carvalho, tinha 10 anos quando morreu, na véspera do Natal de 1926. Amaral atraiu O menino dando de presente alguns dos balões que vendia na região do Canin- dé. José foi encontrado 13 dias após a morte, já sem os membros superiores. Antônio Lemos, O rapaz do bonde, tinha 15 anos. Quando seu corpo foi localizado, a polícia se deu conta de que São Paulo tinha um assassino serial. Amaral só foi capturado graças a Roque Picci- li, Um engraxate de 9 anos. Ele levou o menino para debaixo de uma ponte e estava estrangu- lando o coitado quando ouviu vozes, se assustou e fugiu. Ao retornar, não encontrou a quase vítima, que a essa hora já estava na delegacia mais pró- xima delatando seu quase assassino. Consta que os jornais continuaram a noticiar homicídios semelhantes, mesmo depois da prisão de Amaral, aumentando sua lenda. Frustrando a população, que clamava por linchamento ou uma execução, Amaral morreu de tuberculose antes de ser julgado, 5 meses após a prisão, na cadeia pública de São Paulo. E GRANDES MOMENTOS m Encartada no processo criminal nº 1670/1927, a avaliação do psiquiatra que examinou Amaral leva em consideração seu pênis grande como “indício de sua bestialidade”. Na época, era comum relacionar o tamanho do pênis do criminoso com o tamanho do crime. = O caso de Amaral rendeu livros, tese de mestrado e peça de teatro. Na ala dedicada aos criminosos sexuais no Museu do Crime, em 5ão Paulo, ele aparece com destaque. = Amaral serviu na Brasil inteiro: Rio Grande do Sul, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Mato Grosso - na Guerra de Canudos (1897), chegou a tenente. DEZEMBRO | 2008 | SUPER 155 [SUPERRESPOSTAS] rei PTI GIST ja? sie ar PTP pras o» / “Dar lugar pros gringo entrar”, como tocava o Raul, é uma das maiores lendas urbanas sobre a Amazônia. A idéia de que vao vender a floresta existe há décadas. E ganhou força de 2000 para cá. Coincidência ou não, foi depois que FESTA NA FLORESTA ongs ambientalistas dos EUA e da Europa começaram a Amazônia internacional comprar terrenos de floresta pelo mundo para impedir o nadaria na grana. desmatamento. Eles fizeram isso em lugares como Peru, E o Brasil, Ó... Guiana, Serra Leoa Ilhas Fiji - levantando suspeitas cons- piratórias de que isso seria fachada para governos ricos se apoderarem das riquezas dos pobres. Esse tipo de coi- sa rola aqui também. Por exemplo: o magnata sueco Johan Eliasch, dono de ong, comprou uma área na Amazônia do tamanho da cidade de São Paulo — e revende partes de “sua” selva a ambientalistas (ou a cientistas do mal, como pensam os de imaginação fértil). Só que a lei brasileira não permite que um monte de Johans faça a mesma coisa: dois terços da Amazônia não podem sair das mãos do governo. Os 25% que sobram podem ser vendidos. Mas no mundo das teorias mirabolantes o que está em questão nem é esse tipo de comércio. Mas a venda da so- berania mesmo - geralmente com o Estado entregando a floresta a um “consórcio de empresas” ou coisa que 0 va- lha a troco de dinheiro. Nesse cenário doido, em que o mapa do Brasil perderia sua Região Norte, o mais difícil seria encontrar um comprador disposto a pagar o justo. As estimativas do governo, afinal, é de que existam pelo menos USS 15 trilhões em reservas minerais e USS5 trilhões em madeira sustentável, ou seja, que po- de ser cortada, vendida e replantada. Ainda não entrou no cálculo a maior riqueza da região: metade das espécies vegetais e animais do planeta. Curas de doenças como aaids e o câncer podem estar escondidas em uma planta desconhecida, por exemplo - e, como a densidade de es- pécies de plantas lá é a maior do Uni- verso conhecido, trata-se de um belo campo de pesquisas. Quanto isso vale? Bom, só a cura do câncer renderia USS 50 trilhões a quem a descobrisse, segundo um estudo da Universidade de Chicago. Para comparar: a receita anual da maior farmacêutica do planeta, a Pfizer, é de USS 12 bilhões. Por outro lado, uma “Amazônia inter- nacional" até que tato Bonita depois de receber gs TETO DAMELSCHNEIDER enxurrada de investimentos. Já o Brasil, coitado, poderia DESIGN JORGE OLIVEIRA acabar realmente mal. Olha lá. E ILUSTRAÇÃO ESTÚDIO DEVERAS SE SUPER | DEZEMBRO | 2008 “ess EM CENTRO ESPACIAL CARAJÁS A Amazônia seria um bom lugar para construir naves espaciais: está cheia de nióbio, um metal que, por aguentar até é 500C, é essencial para foguetes. Além disso, fica na linha do Equador, de onde dá para lançar naves economizando combustivel, já que elas pegam mais impulso da rotação da Terra nessa região. Com o turismo espacial logo ali, dá para imaginar pacotões de bdiasna floresta e 1 noite no espaço! 48 FE ZONA FRANCAGENÉTICA A Amazônia é o maior banco de genes do mundo - estima-se que haja milhões de espécies, como plantas e microorganismos, ainda desconhecidas porlá. E genes são a matéria-prima dos remédios de amanhã, que deverão agir direto no DNA. Hoje, o governo pode cobrar royalties sobre qualquer droga criada com material brasileiro. Sem esse inconveniente, laboratórios investiriam pesado. EI ÁGUASA. A água doce é um recurso finito, “estocado” emrios, no subsolo e na atmosfera. Eumterço dela está na bacia Amazônica. Algumas regiões já sofrem uma falta crônica, e 0 consumo vai aumentar 25% até 2030. Nesse cenário, daria para exportar a vazão do rio Amazonas. Aum preço hipotético de USS 0,10 o litro, as empresas levantariam mais de USS 400 bilhões anuais - 4vezes 0 faturamento da Petrobras em 2007. BRASIL DO SUL X BRASIL DO NORTE Avenda da região Amazônica tiraria 40% do Brasil do nosso mapa, mas só 7% do PIB pela proporção de hoje. Mesmo assim seria um trauma forte o bastante para fomentar o separatismo. Num cenário desses, o Sule o Sudeste formariam um país com PIB de USS 785 bilhões, pouco maior que o da Holanda. Us estados do norte ficariam com USS 233 bilhões, o que dá uma Venezuela. DEZEMBRO | 2008 | SUPER 157 Pra qs Quando os hebreus 4 eram escravos no Egito, 4 o Senhor enviou 1 pragas contra os opressores do povo escolhido. À primeira delas foitransformar todaa água do país em sangue (Êxodo 7:21). Como faraó não libertava E” F os hebreus, o Senhor RE E | radicalizou: matou, numa só noite, todos 05 primogênitos do Egito. “Ehouve grande clamor no país, pois não havia casa onde não houvesse um morto” (Êxodo 12:30). Desgostoso com os -pecados de Sodomae Gomorra, Deus destruiuas duascidadescomuma chuvarada de fogo eenxofre (Gênesis 19:24). Para punir as desobediências do rei Davi, o Senhor Enviouumaticença não identificada, que matou 70 mil homens e 200 mil mulheres e crianças (2 Samuel, 24: 1-13). j Quando a nação dos filisteus roubou aarca da Aliança, onde estavam guardados 05 10 Mandamentos, o Senhor os castigou comum surto de hemorróidas letais. “Os intestinos lhes saiam para fora eapodreciam” (L5amuel5:9). Adão e Eva, Caim e Abel, o dilúvio e a fuga do Egito: tudo isso foi escrito 12 séculos antes de Cristo. 60 | SUPER | DEZEMBRO | 2008 2 A própria Igreja admite que a revelação divina só veio até nós por meio de mãos humanas. A palavra do Senhor é sagrada, mas foi escrita porreles mortais. Como não sobraram vestígios nem evidências concretas da maioria deles, a chave para encontrá-los está na própria Bíblia. Mas ela não é um simples livro: imagine as Es- crituras como uma biblioteca inteira, que guar- da textos montados pelo tempo, pela história e pela fé. Aliás, o termo “Bíblia”, que usamos no singular, vem do plural grego ta biblia ta hagia— “os livros sagrados”. A tradição religio- sa sempre sustentou que cada livro bíblico foi escrito por um autor claramente identificável. Os5 primeiros livros do Antigo Testamento (que no judaísmo se chamam Torá e no catolicismo Pentateuco) teriam sido escritos pelo profeta Moisés por volta de 1200 a.C. Os Salmos se- riam obra do rei Davi, o autor de Juízes seria o profeta Samuel, e assim por diante. Hoje, a maioria dos estudiosos acredita que os livros sagrados foram um trabalho coletivo. E há uma boa explicação para isso. As histórias da Bíblia derivam de lendas sur- gidas na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a Líbano, Palestina, Israel e peda- ços da Jordânia, do Egito e da Síria. Durante séculos acreditou-se que Canaã fora dominada pelos hebreus. Mas descobertas recentes da ar- queologia revelam que, na maior parte do tem- po, Canaã não foi um Estado, mas uma terra sem fronteiras habitada por diversos povos—os hebreus eram apenas uma entre muitas tribos que andavam por ali. Por isso, sua cultura e seus escritos foram fortemente influenciadas por vi- zinhos como os cananeus, que viviam ali desde o ano 5000 a.C. E eles não foram os únicos a influenciar as histórias do livro sagrado. - sraizes da árvore bi- blica também remon- tam aos sumérios, antigos habitantes do atual Iraque, que no 3º milênio a.C. es- creveram a Epopéia e Gilgamesh. Essa listória, protagoni- zada pelo semideus Gilgamesh, mencio- na uma enchente que devasta o mundo (e da qual algumas pessoas se salvam construindo um barco). Notou se- melhanças com a Bíblia e seus textos sobre o dilúvio, a arca de Noé, o fato de Cristo ser hu- mano e divino ao mesmo tempo? Não é mera coincidência. “A Bíblia era uma obra aberta, com influências de muitas culturas”, afirma o especialista em história antiga Anderson Za- lewsky Vargas, da UFRGS. Foi entre os séculos 10 e 9 a.C. que os escri- tores hebreus começaram a colocar essa sopa multicultural no papel. Isso aconteceu após o reinado de Davi, que teria unificado as tribos hebraicas num pequeno e frágil reino por volta do ano 1000 a.C. A primeira versão das Escri- turas foi redigida nessa época e corresponde à maior parte do que hoje são o Gênesis e o Éxo- do. Nesses livros, o tema principal é a relação passional (e às vezes conflituosa) entre Deus e os homens. Só que, logo no começo da Bee- blia, já existiu uma divergência sobre o papel do homem e do Senhor na história toda. Isso porque o personagem principal, Deus, é tratado por dois nomes diferentes. Em alguns trechos ele é chamado pelo nome próprio, Yahweh — traduzido em português co- mo Javé ou Jeová. É um tratamento informal, como se o autor fosse intimo de Deus. Em outros pontos, o Todo-Poderoso é chamado de Elohim, um título respeitoso e distante (que pode ser traduzido simplesmente como “Deus”). Como se explica isso? Para os fundamentalistas, não tem conversa: Moisés escreveu tudo sozinho e usou os dois nomes simplesmente porque quis. Só que um trecho desse texto narra a morte ALLLADO Na prime Deus criava O e fazia | do próprio Moisés. Isso indica que ele não é o único autor. Os historiadores e a maioria dos religiosos aceitam outra teoria: esses textos ti- veram pelo menos outros dois editores. Acredita-se que ostrechos que falam de Javé sejam os mais antigos, escritos numa época em que a religiosidade era menos formal. Eles con- têm uma passagem reveladora: antes da cria- ção do mundo, “Yahweh não derramara chuva sobre a terra, e nem havia homem para lavrar o solo”. Essa frase, “não havia homem para la- vrar o solo”, indica que, na primeira versão da Bíblia, o homem não era apenas mais uma cria- ção de Deus ele desempenha um papel ativo e fundamental na história toda. “Nesse relato, o homem é co-criador do mundo”, diz o teólogo Humberto Gonçalves, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, no Rio Grande do Sul. Pelo nome que usa para se referir a Deus (Ja- vé), o autor desses trechos foi apelidado de Ja- vista. Já o outro autor, que teria vivido por volta de 850a.€., é apelidado de Eloísta. Mais sisudo ereligioso, ele compôs uma narrativa bastante diferente. Ao contrário do Deus-Javé, que fez o mundo num único dia, o Deus-Elohim levou 6 (e descansou no 7º). Nessa história, a criação é um ato exclusivo de Deus, e o homem surge apenas no 6º dia, junto aos animais. Tempos mais tarde, os dois relatos foram mis- turados por editores anônimos — e a narrativa do Eloista, mais comportada, foi parar no iní- cio das Escrituras. Começando por aquela frase incrivelmente simples e poderosa, notória até entre quem nunca leu a Bíblia: “E, no início, Deus criou o céu e a terra...” Em 589a.C., Jerusalém foi arrasada pelos ba- bilônios, e grande parte da população foi apri- sionada e levada para o atual Iraque. Décadas depois, os hebreus foram libertados por Ciro, senhor do Império Persa —um conquistador “es- clarecido”, que tinha tolerância religiosa. Aos poucos, os hebreus retornaram a Canaã - mas com sua fé transformada. Agora os sacerdotes judaicos rejeitavam o politeísmo e diziam que Javé era o único e absoluto deus do Universo. “O monoteísmo pode ter surgido pelo contato com os persas — a religião deles, o masdeismo, b eira versão da Bíblia, mundo. em apenas um dia - sso com a ajuda do homem. Segundo uma lenda judaica, a Torá (obra precursora da Bíblia) teria sido escrita por ele. Mas há controvérsias, pois Ai ER pda [PEER O DES aa e foi sepultado pelo Senhor foge Ali Da EP AT Ed como ele poderia ter relatado a própria morte? Viveu na corte do rei Davi, no antigo reino de Israel, eeraumaristocrata. Ra aristocrata: para o crítico Harold Bloom, lavista Ele Qu Ego de AEE DR Ei da Bíblia (Eva e Sara, por exemplo) são muito mais Ela o Dr Eta POR DEZEMBRO | 2008 | SUPER | 6] tas malcriados zombou ” da calvície do profeta Eliseu. Pra quê! Na hora, dois ursos famintos saíram de um bosque e comeram as crianças (2 Reis 2:24). Cercado por um exército de filisteus, o herói Sansão apanhou a mandíbula de um jumento morto. Usando o 0550 como arma, ele massacrou milinimigos (Juizes, 15:16). O profeta Elias convidou os sacerdotes do deus Baal para uma competição de orações. Era uma armadilha: Elias incitou o povo, que linchou os pagãos (1 Reis 18:40). Os judeus haviam perdido a fé e começaram aadorar um bezerro de ouro. Moisés ficou furioso e mandou sacerdotes levitas matar 3milinfiéis (Êxodo 32:19). Anação dos amaleguitas disputava oterritório de Canaã com os judeus. O Senhor ordena que todos os amalequitas sejam chacinados (1 Samuel 15:18). Quanto mais piorava a situação dos hebreus, mais violento ficava o Deus da Bíblia. Be SUPER | DEZEMBRO | 2006 Um grupo «4 de meninos | * pregava a existência de um deus bondoso, Ahu- ra Mazda, em constante combate contra um deus maligno, Arimã. Essa noção se reflete até na idéia cristã de um combate entre Deus e o Diabo”, afirma Zalewsky, da UFRGS. Aversão final do Pentateuco surgiu por volta de 389 a.C. Nessa época, um religioso chama- do Esdras liderou um grupo de sacerdotes que mudaram radicalmente o judaísmo — a começar por suas escrituras. Eles editaram os livros an- teriores e escreveram a maior parte dos livros Deuteronômio, Números, Levítico etambém um dos pontos altos da Bíblia: os 10 Mandamentos. Além de afirmar o monoteísmo sem sombra de dúvidas (“amarás a Deus acima de todas as coisas” é o primeiro mandamento), a reforma conduzida por Esdras impunha leis religiosas bem rígidas, como a proibição do casamento entre hebreus e não-hebreus. Algumas das leis encontradas no Levítico se assemelham à éti- ca moderna dos direitos humanos: “Se um es- trangeiro vier morar convosco, não o maltrates. Ama-o como se fosse um de vós”. Outras passagens, no entanto, descrevem um Senhor belicoso, vingativo e sanguinário, que ordena o extermínio de cidades inteiras — mulheres e crianças incluídas. “Se a religião prega a compaixão, por que os textos sagrados têm tanto ódio?”, pergunta a historiadora ame- ricana Karen Armstrong, autora de um novo e provocativo estudo sobre a Bíblia. Para os es- pecialistas, a violência do Antigo Testamento é fruto dos séculos de guerras com os assíriose os babilônios. Os autores do livro sagrado foram influenciados por essa atmosfera de ódio, e daí surgiram as histórias em que Deus se mostra bastante violento e até cruel. Os redatores da Bíblia estavam extravasando sua angústia. '/ incluir 7 livros que os judeus les escolheram os evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João para representar a bio- grafia oficial de Cristo, enquanto as invenções dos docetas, dos ebio- nistas e de outras seitas foram ex- cluídas, e seus au- tores declarados hereges. Os textos excluídos do cânone ganharam o nome de “apócrifos” — palavra que vem do grego apocrypha, “o que foi ocultado”. A maioria dos apócrifos se per- deu — afinal de contas, os escribas da Igreja não estavam interessados em recopiá-los para a posteridade. Mas, com o surgimento da ar- queologia, no século 19, pedaços desses textos foram encontrados nas areias do Oriente Mé- dio. É o caso de um polêmico texto encontrado em 1886 no Egito. Ele é assinado por uma certa “Maria” que muitos acreditam ser a Madalena, discípula de Jesus, presente em vários trechos do Novo Testamento. O evangelho atribuído a ela é bem feminista: Madalena é descrita como Seus autores decidiram não reconheciam. mas também incluilivros uma figura tão importante quanto Pedro e os outros apóstolos. Nos primórdios do cristianis- mo, as mulheres eram aceitas no tlero-e eram, inclusive, consideradas capazes de fazer profe- cias. Foi só no século 3 que o sacerdócio virou monopólio masculino, o que explicaria a cen- sura da apóstola e seu testemunho. Aliás, tudo indica que Madalena não foi prostituta — idéia que teria surgido por um erro na interpretação do livro sagrado. No ano 591, o papa Gregório fez um sermão dizendo que Madalena e outra mulher, também citada nas Escrituras e essa sim ex-pecadora, na verdade seriam a mesma pessoa (em 1967, o Vaticano desfez o equívoco, limpando a reputação de Maria). Na evolução da Bíblia, foram aparecendo vá- rios trechos machistas — e suspeitos. É o caso de uma passagem atribuída ao apóstolo Paulo: “A mulher aprenda (...) com toda a sujeição. Não permito à mulher que ensine, nem que tenha domínio sobre o homem (...) porque Adão foi formado primeiro, e depois Eva”. É provável que Paulo jamais tenha escrito essas palavras — porque, na época em que ele viveu, o cris- tianismo não pregava a submissão da mulher, Acredita-se que essa parte tenha sido adiciona- da por algum escriba por volta do século 2. Eat) Ro) Cá f * Aotraduzir a Bíblia para 7 o alemão, Martinho Lutero excluiu os livros São os chamados Deuterocanônicos: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Barugue, Macabeus 1 e 2 (mais trechos dos livros Daniel e Ester). A Biblia católica bate natecla do monoteísmo: a palavra hebraica Elohim, usada na Tanach para designar a divindade, é o plural de El, um deus cananeu. Mas foi traduzida no singular evirou “Senhor”. M considerados apócrifos por católicos e protestantes: Esdras 1, Macabeus 3e 4 e 0 Salmo 151. Atradução é mais exata (nesta Bíblia, Moisés nunca teve chifres, umerro de tradução introduzido pela Bíblia latina), & os escritos não são levados ao pé da letra: para os ortodoxos, o que conta são as interpretações do texto bíblico, feitas porteólogos e À ao longo dos séculos. M Deuterocanônicos e mudou algumas coisas. Um exemplo é a palavra grega metanoia, que na Bíblia católica significa “fazer penitência” - uma referência à confissão dos pecados, um dos sacramentos católicos. Já Lutero traduziu metanoia como “reviravolta”. Para ele, confessar os pecados era inútil. O importante era transformar a vida pela fé. h + Se rEfa ga ET favoritos de Jesus - E, paga a To A ELE ES Caen séculos, nunca foi prostituta. Pelo contrário: tinha oia a Eu a suposta autora do Apócrifo de Maria, um livro em que fala sobre sua relação pessoal com Jesus e divulga os ensinamentos dele. Escreveu 04º evangelho do Novo Testamento (João) APR A o último da Bíblia. Para ele, Jesus não é apenas um messias - Éum ser sobrenatural, a própria encarnação de Deus. Essa interpretação mística marca a ruptura definitiva entre RELA EA DEZEMBRO | 2008 | SUPER | B5 Mi la - milagres divinos foi o primeiro: a Criação do mundo, pelo poder da palavra. “E Deus disse: que haja luz. E houve luz” (Gênesis 1:3). Para dar-lhe uma amostra de seus poderes, o Senhor leva Ezequiel a um campo cheio de esqueletos - e os traz de volta à vida. “O vento do Senhor soprou neles, eviveram” (Ezequiel, 37; 1-28). Graças à benção divina, o herói Sansão tinha a força de muitos homens. Certa vez, foi atacado porum leão. “O espirito do Senhor deu-lhe poder, e Sansão destroçou afera com as próprias mãos, como se matasse um cabrito” (Juízes 14:65). Josué liderava uma batalha contra os amalequitas, mas 0 5ol estava se pondo. Como não queria lutar no escuro, o hebreu pediu ajuda divina -e 05ol ficou no céu (Josué 10:13). Para fugir do Egito, os hebreus precisavam atravessar o mar Vermelho. Enão tinham navios. Moisés ergueu seu bastão e as águas do mar se dividiram. Após a passagem dos hebreus, 0 profeta deixou que as ondas se fechassem sobre os exércitos do faraó (Êxodo 14;21-30). Ao esculpir a imagem de Moisés, Michelangelo colocou dois chifres nele - por causa de um erro na tradução da Bíblia. BE | SUPER | DEZEMBRO | 2008 O maior g de todos os A " ad Após a conversão do imperador Constantino, o eixo do cristianismo se deslocou do Oriente Médio para Roma. Só que, para completar a romanização da fé, faltava um passo: traduzir a palavra de Deus para o latim. A missão cou- be ao teólogo Eusebius Hyeronimus, que mais tarde viria a ser canonizado com o nome de são Jerônimo. Sob ordens do papa Damaso, ele via- jou a Jerusalém em 406 para aprender hebraico e traduzir o Antigo e o Novo Testamento. Não foi nada fácil: o trabalho durou 17 anos. Daí saiu a Vulgata, a Bíblia latina, que até hoje é o texto oficial da Igreja Católica. Essa é a Bíblia que todo mundo conhece. “A Vulgata foi o alicerce da Igreja no Ocidente”, explica o padre Luigi. Ela é tão influente, mas tão influente, que até seus erros de tradução se tornaram clássi- cos. Ao traduzir uma passagem do Êxodo que descreve o semblante do profeta Moisés, são Jerônimo escreveu em latim: cornuta esse facies sua, ou seja, “sua face tinha chifres”. Esse deta- lhe esquisito foi levado a sério por artistas como Michelangelo — sua famosa escultura represen- tando Moisés, hoje exposta no Vaticano, está ornada com dois belos corninhos. Tudo porque Jerônimo tropeçou na palavra hebraica karan, que pode significar tanto “chifre” quanto “raio de luz”. A tradução correta está na Septuaginta: o profeta tinha o rosto iluminado, e não chifru- do. Apesar de erros como esse, a Vulgata reinou absoluta ao longo da Idade Média — durante séculos, não houve outras traduções. O único jeito de disseminar o livro sagrado era copiá-lo à mão, tarefa realizada pelos mon- ges copistas. Eles raramente saíam dos mostei- ros e passavam a vida copiando e catalogando manuscritos antigos. Só que, às vezes, também se metiam a fazer o papel de autores. pós a queda do Império Romano, grande parte da literatura da An- tiguidade grega e romana se perdeu — foi graças ao tra- balho dos monges “copistas que livros como a Ilíada e a Odisséia chega- E sd ram até nós. Mas alguns deles eram meio malandros: costuma- vam interpolar textos nas Escrituras Sagradas para agradar a reis e imperadores. No século 15, por exemplo, monges espanhóis trocaram o termo “babilônios” por “infiéis” no texto do Antigo Testamento — um truque para atacar os muçulmanos, que disputavam com os espa- nhóis a posse da península Ibérica. Escrituras em série Tudo isso mudou após a invenção da impren- sa, em 1455. Agora ninguém mais dependia dos copistas para multiplicar os exemplares da Bíblia. Por isso, o grande foco de mudanças no texto sagrado passou a ser outro: as traduções. Em 1522, o pastor Martinho Lutero usou a im- prensa para divulgar em massa sua tradução da Bíblia, que tinha feito direto do hebraico e do grego para o alemão. Era a primeira vez que o texto sagrado era vertido numa língua moderna — e a nova versão trouxe várias mu- danças, que provocavam a Igreja (veja quadro na pág. 65). Logo depois um britânico, William Tyndale, ousou traduzir a Bíblia para o inglês. No Novo Testamento, ele traduziu a palavra ec- clesia por “congregação”, em vez de “igreja”, o termo preferido pelas traduções católicas. A mudança nessa palavrinha era um desafio ao poder dos papas: como era protestante, Tyn- dale tinha suas diferenças com a Igreja. Resul- tado? Ele foi queimado como herege em 1536. Mas até hoje seu trabalho é referência para as versões inglesas do livro sagrado. A Bíblia chegou ao nosso idioma em 1753 — quando foi publicada sua primeira tradu- ção completa para o português, feita pelo protestante João Ferreira de Almeida. Hoje, a tradução considerada oficial é a feita pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e lançada em 2001. Ela é considera- da mais simples e coloquial que as traduções anteriores. De lá para cá, a Bíblia ganhou o mundo e as línguas. Já foi vertida para mais de 300 idiomas e continua um dos livros mais influentes do mundo: todos os anos, são publi- cadas 11 milhões de cópias do texto integral, e 14 milhões só do Novo Testamento. Depois de tantos séculos de versões e contra- versões, ainda não há consenso sobre a forma certa de traduzi-la. Alguns buscam traduções mais próximas do sentido e da época original — como as passagens traduzidas do hebraico pelo lingiista David Rosenberg na obra O Livro de J, de 1990. Outros acham que a Bíblia deve ser modernizada para atrair leitores. O lingúis- ta Eugene Nida, que verteu a Bíblia na déca- da de 1960, chegou ao extremo de traduzir a palavra “sestércios”, a antiga moeda romana, por “dólares”. Em 2008, duas versões igual- mente ousadas estão agitando as Escrituras: a Green Bible (“Bíblia Verde”, ainda sem versão em português), que destaca 1 000 passagens relacionadas à ecologia — como o momento em que Jó fala sobre os animais -, e a Bible Ilu- minated (“Bíblia Iluminada”, em inglês), com design ultramoderno e fotos de celebridades como Nelson Mandela e Angelina Jolie. A Bíblia se transforma, mas uma coisa não muda: cada pessoa, ou grupo de pessoas, a in- terpreta de uma maneira diferente-às vezes, com propósitos equivocados. Em pleno século 21, pastores fundamentalistas tentam proibir o ensino da Teoria da Evolução nas escolas dos EUA, sendo que a própria Igreja aceita as teorias de Darwin desde a década de 1950. Líderes como o pastor Jerry Falwell defendem oretorno da escravidão e o apedrejamento de adúlteros, e no Oriente Médio rabinos extre- mistas usam trechos da Torá para justificar a ocupação de terras árabes. Por quê? Porque está na Bíblia, dizem os radicais. Não é nada disso. Hoje, os principais estudiosos afirmam que a Bíblia não deve ser lida como um ma- nual de regras literais — e sim como o relato da jornada, tortuosa e cheia de percalços, do ser humano em busca de Deus. Porque esse é, afinal, o verdadeiro sentido dessa árvore de histórias regada há 3 milanos por centenas de mãos, cabeças e corações humanos: a crença num sentido transcendente da existência. E PARA SABER MAIS A Biblia: Uma Biografia Karen Armstrong, Jorge Zahar Editora, 2007. Who Wrote the Bible? Richard Elliott Friedman, Harperône, 1997 DÉ SUA OPINIÃO La LR TER DD E RE CDE Ta A Ep fed a] RT RAD IR Ea cio Te (o da atual Hungria, este padre TRE ER IT e] uma missão importantissima: ur tee DATE Doe geo] para latim. Cometeu alguns erros, como dizer que o profeta Moisés tinha chifres (uma confusão com a palavra lp (Dee rel (api a significa “raio de luz”). Possuir trechos da Bíblia em RELER u ERES o latim era crime. O professor LEE EA A AR traduziu tudo para o inglês, e acabouna fogueira. Mas seu Glee ea AS RE RR E RETRO “Biblia do Rei James”, até hoje atradução mais lida nos países de lingua inglesa. E E SEREI Er DEZEMBRO | 2008 | SUPER | B7 [SAÚDE] eute conheço? TEXTO TARSO ARAÚJO DESIGN GABRIEL GIANORDOL! Já pensou como seria viver sem reconhecer o rosto de ninguém, e não identificar nem mesmo a sua própria cara? Seja bem-vindo dO I e é] inas Gerais, férias de verão. À produtora de moda Mônica, de 24 anos, está com um amigonumalanchone- te quando chega outro jovem. Ela o cum- primenta polidamente. Meio espantado, o amigo pergunta: “Mônica, você não se lembra do Marcelo?” Ela não consegue reconhecer o tal Marcelo, que dá um sor- risinho constrangido. Era seu ex-namo- rado. São Paulo, Hospital da Unifesp. O médico Rodrigo Schultz, de 25 anos, está trabalhando no setor de neurologia. Até que chega uma paciente se queixando de um estranho problema. Schultz mostra uma foto à paciente e pergunta: “Quem é esta mulher?” A paciente não sabe res- ponder, mas a pessoa em questão era ela mesma. Nos dois casos, o diagnóstico foi o mesmo: prosopagnosia, uma estranha doença que torna o cérebro incapaz de identificar rostos. A prosopagnosia foi descoberta no front de batalha. O ano é 1944, e estamos na 2º Guerra Mundial. Durante um bom- bardeio russo, um soldado nazista se fe- re — alguns estilhaços de bomba atingem sua cabeça, causando lesões cerebrais. Ele é tratado pelo neurologista alemão Joachim Bodamer, que faz uma opera- ção para remover os estilhaços e depois aplica um teste para avaliar o estado do paciente. O médico pede que a esposa do soldado vista um uniforme de enfermeira e fique entre enfermeiras de verdade. Aí pergunta ao doente: “Percebe algo de di- ferente nessas mulheres?” O soldado diz que não. Ele simplesmente não reconhece mais a esposa. Bodamer faz mais testes e constata o que aconteceu: o paciente está normal, só que não consegue mais identi- Fatos Getty Images undo misterioso da prosopagnosia a das doenças mais bizarras que existem. ficar rostos. Nenhum deles. Para batizar esse estranhiíssimo sintoma, o médico cria o termo prosopagnosia: uma junção das palavras gregas prosopo (“rosto”) e agno- sia (“sem conhecimento”). O que Bodamer não sabia, e só recen- temente a ciência descobriu, é que a pro- sopagnosia também pode ser genética e afetar pessoas comuns - que não leva- ram nenhuma pancada na-cabeça. E ela é muito mais frequente do que se pensa. Em 2006, num estudo com 689 voluntá- rios selecionados de forma aleatória, o geneticista alemão Thomas Griiter diag- nosticou nada menos que 17 casos de pro- sopagnosia — o que dá 2,5% da amostra. “Existem cerca de 2 milhões de pessoas com prosopagnosia na Alemanha, E, pro- vavelmente, milhões delas no Brasil, afirma Griúter (para ser mais preciso, até 4,7 milhões). Parece um exagero para vo- cê? O neurocientista Brad Duchaine, da Universidade de Londres, chegou a um resultado parecido: de 1 600 indivíduos testados, cerca de 2% tinham alguma di- ficuldade em reconhecer rostos. Mas, se a doença é tão comum, por que as ruas não estão cheias de prosopagnó- sicos? É que, na maior parte das vezes, as pessoas nem se dão conta de que têm o problema. “A pessoa compensa isso, encontra outras formas de reconhecer rostos, e sua dificuldade não aparece”, afirma Duchaine. Pelo que já se sabe, a prosopagnosia afeta todos os tipos de gente. Você, inclusive, pode ter e não sa- ber (veja no final desta reportagem como fazer o teste). Não é motivo para se jogar pela janela. Ela só atrapalha nos casos mais fortes, quando realmente destrói a capacidade de identificar rostos-e muda totalmente a vida das pessoas. > DEZEMBRO | 2008 | SUPER 7] Se você perguntar a uma pessoa nor- mal como ela reconhece um rosto, prova- velmente vai ouvir algo simples, do tipo: “olhando para ele, oras”. Se for alguém com prosopagnosia, no entanto, a res- posta será bem mais elaborada. “Eu vejo como a pessoa se mexe, reparo na voz, no cabelo, no sapato, procuro caracte- rísticas marcantes”, diz a produtora de moda Mônica — aquela que, no começo desta reportagem, não identificou o ex- namorado. Ela jura que reconhece o atual namorado, apesar de o relacionamento serrecente. “Ele tem um cabelo encaraco- lado, e isso ajuda bastante.” Cabelo, aliás, é uma referência frágil. “Quando minhas clientes cortam ou mudam o penteado, é um problema. Às vezes coloco a culpa na miopia, para não dar vexame” Mesmo com essas estratégias, ou jus- tamente por causa delas, os prosopag- nósicos costumam levar mais tempo que o normal para reconhecer alguém. “Quando encontro alguém na rua, levo alguns segundos montando um quebra- cabeça com diferentes pistas até desco- brir quem é a pessoa”, diz Mônica. Amãe dela, Maria, também tem prosopagnosia e enfrenta ainda mais dificuldade — chega alevar vários minutos para reconhecer as pessoas. Como todos os prosopagnósicos, Mônica e Maria são consideradas esnobes pelas outras pessoas. E, por causa das difi- culdades que enfrentam, desenvolveram uma personalidade tímida e reservada. “Nunca consigo reconhecer uma pessoa na segunda vez em que a vejo. Passei a caminhar na rua de cabeça baixa, para ter a desculpa de que não vi as pessoas caso elas me reconheçam e eu não.” Os prosopagnósicos não têm nenhum tipo de problema de visão e, da mesma forma que observam e guardam outros detalhes das pessoas, são capazes de dis- tinguir claramente se alguém está feliz ou triste. Mas o que eles vêem, então, quan- do olham para uma face? “Eu não consi- go 'montar' o rosto inteiro. Se eu fechar os olhos, só lembro das partes, nunca do conjunto. E isso acontece inclusive com o meu próprio rosto: não consigo imagi- ná-lo mentalmente”, diz a estudante de arquitetura Patrícia, 30 anos. Se isso já parece um pouco assustador, veja a situação dos americanos Bill Chois- siere Mordechai Housman, que estão en- tre os piores casos de prosopagnosia já TE SUPER | DEZEMBRO | 2008 Zoe virou modelo e capa de revista. só que ela não se reconhecia nas fotos. Você sabia que os carros velhos batem menos e ruas sem sinalização podem ser mais seguras? Que mais de 70% dos motoristas aceleram para atropelar os pedestres, e as mulheres causam mais congestionamentos que os homens? Conheça as descobertas mais incríveis da ciência do trânsito. TEXTO BRUNO GARATTONI DESIGN BRUNA LORA ILUSTRAÇÃO ESTÚDIO MOPA slim E os anos 90, a prefeitura de Londres decidiu reformar a rua Kensington, uma das mais movimentadas da cidade. Os lo- jistas estavam preocupados, com medo de perder clientes para os shopping centers, e queriam deixar a via mais bonita. Para acabar com a poluição visual, eles resolveram eliminar quase todas as faixas de pedestres, canteiros e grades de proteção que se- paravam as pessoas dos carros. O trânsito virou uma carnificina, certo? Muito pelo contrário: o número de atropelamentos caiu 64%. Um estudo Dem sec Nisto png e feito na Europa descobriu que as placas com limites de velocidade fazem os motoristas correr mais -— e, por isso, o ideal seria se livrar delas em ruas residenciais. E, após analisar o trânsito de 11 países, um grupo de espe- cialistas chegou a uma conclusão bizarra: reduzindo o número de ruas, os congestionamentos diminuem. Se essas coisas lhe parecem incríveis (e são mesmo), é porque você não conhece uma das ciências mais surpreendentes que existem: a psicologia do trânsito, cujos mistérios e revelações vão mudar a sua maneira de rodar — ou andar — pelas ruas da cidade. — 2 e veis mem Se SO So SD O O e e ST BRO | 2008 | SUPER 175 + Ê ih RR ROS Você UPER : DEZEMBRO | 20DB 2 Você já teve a sensação, como pedestre ou motorista, de que as pessoas se trans- formam quando estão no trânsito — e pas- sam a ter atitudes agressivas, anti-sociais, que jamais adotariam fora do asfalto? Se- gundo comprovam várias pesquisas, isso é mais do que uma simples impressão. Por exemplo: quando estão se aproximando de uma pessoa que atravessa a rua, 73% dos motoristas mantêm a velocidade ou aceleram. E, quando existe outro carro esperando, demoram em média 11 segun- dos a mais para desocupar uma vaga de estacionamento. Mas por que tanta hos- tilidade? Por que o trânsito muda as pes- soas? No fim do século 19 o engenheiro alemão Karl Benz, fundador da Mercedes- Benz, fez uma profecia curiosa: poucos carros seriam vendidos no mundo, por- que a maioria das pessoas não tinha ca- pacidade de guiar um automóvel. Benz errou no palpite (hoje existem mais de 800 milhões de carros), mas sua idéia tinha fundamento. Como estão comprovando os estudos mais recentes sobre o comportamento dos motoristas, o trânsito realmente pode sobrecarregar o cérebro. Quando você está dirigindoa 45 km/h, uma velocidade normal para áreas urbanas, tem de processar cerca de 1 300 informações visuais -obstáculos, carros, placas, faixas de trânsito, pedestres, cur- vas etc. -por minuto. Se cada uma dessas informações fosse uma simples letrinha, o esforço mental equivaleria a ler este pa- rágrafo inteiro em apenas um minuto - e fazer tudo isso dirigindo o carro. Outra característica ajuda a explicar a mudança de comportamento das pessoas atrás do volante. Nós evoluimos, ao longo de milhares de anos, com o instinto de formar alianças. Quando o homem das cavernas conhecia alguém, precisava avaliar rapidamente as intenções daque- le indivíduo e, se possível, formar uma aliança com ele. Foi isso o que criou a vida em sociedade. No trânsito, esse tipo | nenem | Lugares onde acoritecer de julgamento não tem tanta importância — pouco importa se alguém lhe der pas- sagem ou uma fechada, pois você dificil- mente voltará a ver aquela pessoa. Mas o seu corpo pensa diferente. “O cérebro processa essas informações [a gentileza ou a fechada) como se fossem o começo de um relacionamento de longo prazo”, explica o biólogo evolucionista Jack Katz, da Universidade da Califórnia. É como se você estivesse conseguindo um novo membro para a sua tribo, ou fazendo um inimigo mortal, a cada quilômetro. É por isso que as pessoas têm reações exagera- das e agressivas. Outro exemplo: quando levam uma buzinada, 75% dos motoristas têm algum tipo de reação verbal — mes- mo sabendo que o autor da buzinada não irá ouvi-la. O cérebro não entende que os outros motoristas estão longe e não con- seguem ouvir. Ele simplesmente fala. Parece, mas não é As ruas estão cheias de coisas que podem enganar a mente. Você já reparou que a faixa de trânsito ao lado da sua sempre parece andar mais rápido? Basta você en- trar numa faixa para que ela fique con- gestionada? Tem explicação. Cientistas ingleses descobriram que os motoristas passam 60% do tempo olhando para a frente, 30% olhando para as faixas do lado (pois elas ajudam a manter a direção do carro), e apenas 6% olhando pelo espelho retrovisor. Isso significa que, na prática, o motorista dá pouquissima atenção aos carros que ultrapassou. Agora veja só o que acontece no cérebro. Ninguém sabe exatamente por quê, mas vários estudos já demonstraram que a mente humana é mais sensível a perdas (como serultrapas- sado) do que a ganhos (como ultrapassar alguém). Somados, esses dois fatores — o cérebro não gosta de perder, mas presta pouca atenção ao que ganhou — criam a sensação de que a faixa ao lado sempre anda mais. Seja como for, relaxe. Segun- do uma experiência feita no Canadá, ficar “costurando” geralmente traz pouco be- nefício: em média, 5% (num trajeto que normalmente leva uma hora, isso signifi- ca economizar miseros 3 minutos). Também não adianta muito querer dar uma de esperto na hora de parar O carro no estacionamento. “Em média, as pessoas que ficam procurando vaga não levam vantagem em relação aquelas que estacionam no primeiro lugar que encon- tram”, diz o psicólogo Andrew Velkey, que estudou o comportamento dos motoristas no estacionamento de um shopping cen- ter de Mississippi, nos EUA. Ele descobriu diferenças entre os sexos: enquanto os ho- mens deixam o carro em qualquer lugar, sem pensar muito, as mulheres são mais cismadas - e, por causa disso, acabam perdendo mais tempo. Por falar nisso, uma nova teoria pro- mete apimentar a guerra dos sexos no volante: as mulheres causam mais con- gestionamentos do que os homens. Essa idéia se baseia numa conclusão surpre- endente — de que, nas grandes cidades, o principal uso do automóvel já não é mais ir e voltar do trabalho. A maioria dos carros particulares está na rua por outro motivo. Fazer compras, levar crian- ças à escola, passar na lavanderia ou no dentista, ir a um restaurante etc. Esses trajetos, que os especialistas chamam de “viagens de serviço”, correspondem a 84% de todos os quilômetros rodados nos EUA. E as mulheres, veja só, fazem duas vezes mais esse tipo de viagem do que os homens. “Para piorar, geralmente rodam em ruas pequenas, que são pouco equipadas para lidar com trânsito pesa- do”, escreve o jornalista americano Tom Vanderbilt no livro Traffic, que analisa centenas de estudos sobre trânsito. An- tes que as feministas protestem, ele faz uma ressalva: as mulheres não devem ser criticadas, pois também são vítimas dos congestionamentos que provocam. E, para compensar, elas se envolvem em menos acidentes do que os homens. Isso porque, como você já deve ter ima- ginado, os acidentes têm tudo a ver com psicologia — as mulheres batem menos justamente porque são mais prudentes. O que pouca gente sabe é que, indepen- dentemente do sexo do motorista, as iniciativas para melhorar a segurança no trânsito podem ter efeito oposto ao desejado — e deixar tudo mais perigoso. Um estudo feito em Munique, na Ale- manha, mostrou que os carros com siste- ma ABS (que impede o travamento das rodas em freadas bruscas) batiam mais do que os demais veículos. E, ao contrário do que os engenheiros de tráfego sem- pre acreditaram, uma pesquisa nos EUA mostrou que faixas mais largas podem au- mentar o número de acidentes nas ruas. Não é que essas coisas, em si, sejam ruins. Mas elas deixam os motoristas com exces- so de confiança, dispostos a se arriscar mais, o que pode ter um efeito perverso — é estatisticamente comprovado que os carros mais novos, mesmo sendo mais se- guros, se envolvem em mais acidentes. E essa distorção psicológica também afe- ta quem está a pé. Há estudos mostran- do que, quando atravessam a rua fora da faixa destinada a eles, os pedestres ficam mais rápidos e cuidadosos. “Não conhecer as leis de trânsito pode ser bom para o pedestre”, diz Vanderbilt, Ele está brincando, claro, mas o conceito por trás dessa frase é sério e aceito por muitos es- pecialistas: a sensação de perigo pode ser benéfica para o trânsito. Quer ver? Motoristas levemente bêbados podem causar menos acidentes. É isso mesmo: um estudo feito nos EUA apontou que motoristas com até 0,04% de álcool no sangue (o equivalente a uma lata de cer- veja) batiam menos que os sóbrios. Co- mo eles sabiam que estavam meio “altos”, ficavam com medo de fazer besteira no trânsito, e por isso guiavam com mais cui- p | chau, querida”, foi o que Em- Í l met Till disse para Carolyn Bryant num supermercado na cidadezinha de Money, no Mississippi. Emmet era um menino negro de 14 anos, Carolyn uma mulher branca. Seis dias mais tarde, o corpo do garoto foi encontrado boian- do num rio. Ele havia sido torturado e morto com um tiro na cara. O marido e o irmão de Carolyn foram vistos come- tendo o crime, mas inocentados por um júri de homens brancos. Parece história de filme, mas em 1955 o sul dos EUA era assim: negros não deveriam dirigir a pala- vra a brancos e podiam ser linchados sem Foto AFP divulgação punição por causa disso. Ser racista era um direito protegido por lei — e foi assim até 1964. Num país que permitia isso há 44 anos, como Barack Obama pôde ter sido eleito para a Presidência em 2008? Que tipo de mudança radical aconteceu nos EUA em apenas 4 décadas? É essa a fantástica história dos negros americanos que você vai conhecer agora. segregação, racismo elinchamento; assim era O dia-a-dia dos negros O primeiro passo para um negro ter chegado à Casa Branca este ano foi da- do pelo movimento dos direitos civis lá Até a década de 1950, negros não podiam dirigir a palavra a brancos. A solução? Protestos pacíficos, como ficar sentado em restaurantes segregados até ser atendido. nosERENEI Até essa época, as relações entre as raças eram “separadas-mas- iguais”. Negros não eram proibidos de nada, mas levavam sua vida em ambien- tes distintos. Assim, havia restaurantes especiais, hospitais especiais e escolas especiais para negros — que de especiais não tinham nada. No estado da Carolina do Sul, por exemplo, o governo gastava US$ 179 por ano para cada aluno branco e apenas USS 43 para cada negro. Na maio- ria dos estados do sul, um negro só podia se sentar num ônibus se todos os brancos estivessem sentados. O apelido dado a es- sas leis separatistas era ERES, um personagem estereotipado de um negro que falava alto, brincava demais, traba- lhava de menos e não cheirava bem. Foram os protestos de pessoas comuns que começaram a botar o assunto na ro- da: como RESEEENES, uma senhora que se recusou a dar lugar a um branco em um ônibus, e Charles Houston, um advogado que resolveu comprar a briga contra as leis segregacionistas. Houston, aliás, foi o responsável pela primeira vitória dos negros rumo à igualdade. Em FERE, ele conseguiu provar na Suprema Corte americana que escolas separadas faziam mal ao desenvolvimento e à auto-estima das crianças. Para isso, citou um estudo que foi feito com 16 estudantes negros dos estados do sul, A cada uma das crian- ças foram mostradas duas bonecas: uma branca e uma negra. Dez das crianças disseram que gostavam mais da boneca branca e 11 responderam que anegraera feia. Quando perguntados com qual das duas eles se pareciam, 7 alunos responde- ram a branca, e os outros não conseguiam admitir que eram parecidos com a boneca rejeitada. “Segregação faz um grupo de pessoas acreditar que é inferior”, disse alguns anos depois o psicólogo que con- duziu o estudo, Kenneth Clark. E não foi só nas cortes que as pessoas acharam meios para lutar contra a sepa- ração. À famosa campanha pelos direitos civis, liderada por AREIAS e seu sonho de igualdade, foi na verdade uma série de pequenos atos de protesto es- palhados pelo sul do país. Aquela senhora que se recusou a se levantar num ônibus no Alabama levou ao boicote do trans- porte público da cidade inteira emEER: durante 13 meses, nenhum negro andou de ônibus por lá. Em Nashville, pequenos » DEZEMBRO | 2008 1 SUPER | 8] à grupos de estudantes decidiram que não seriam mais maltratados em restaurantes só para brancos. Durante meses, eles iam às lanchonetes, mas não eram atendidos. Em vez de irem embora, passavam horas sentados no lugar e voltavam no dia se- guinte para continuar com os protestos. Eram os chamados sit-ins. Muitas vezes, estudantes brancos jogavam comida ou cuspiam neles, mas os negros não retruca- vam. Em abril de EE, eles finalmente foram atendidos. Acerto de contas. Separar brancos e negros virou caso de prisão. Com a cobertura da imprensa, os protes- tos foram motivo de mais protestos, até chegarem aos ouvidos do candidato à Pre- O protesto dos Panteras Negras chegou ao pódio olimpico. E o de Aretha Franklin e James Brown, | à parada de sucessos. sidência pelo partido democrata daquele ano: El NE. Até então, elenão estava muito sensibilizado pela questão. Em seu livro Eyes on the Prize (“De Olho no Prêmio”), o escritor americano Juan Williams cita as palavras de Kennedy so- bre o assunto: “Eu quase não conheci ne- gros na minha vida. Eu nunca pensei muito nesse assunto, na verdade. Preciso aprender sobre isso”. Conhecer os direitos civis foi um bom jeito de angariar votos. Ainda antes das eleições, Kennedy se aproximou de Martin Luther King Jr. O democrata começou uma campanha para registrar eleitores negros do sul e prome- teu que resolveria a segregação assim que chegasse à Casa Branca, com “apenas uma canetada”. Em Ellit], Kennedy recebeu 68% dos votos dos negros. Martin Luther King Jr. gritou e esperneou. E John F. Kennedy foi o 1º presidente americano que resolveu prestar "= atenção nos negros. A canetada milagrosa acabou sendo apenas uma promessa de campanha e nunca aconteceu, mas o presidente co- meçou a se engajar numa questão polê- mica: a das cotas. “Cem anos se passaram desde que o presidente Lincoln libertou os escravos, mas seus herdeiros não são realmente livres. Eles não se livraram da opressão econômica e social. Chegou a hora de esta nação cumprir a promessa de Lincoln”, discursou Kennedy em EERE (Aliás, Kennedy era um excelente orador, tinha idéias inovadoras e era jovem — e não é à toa que Obama é constantemente comparado a ele.) O fato é que os negros viviam num círculo vicioso: tinham ape- nas o equivalente a dois terços do tempo de estudo dos brancos. Por consegiiên- cia, não conseguiam bons empregos e viviam com um salário muito menor: em 1960, uma família branca recebia US$ 5 800 ao ano, enquanto que uma família negra ganhava US$ 3 200. Havia empre- sas como a Lockheed Aircraft Corpora- tion, uma fábrica de aviões com 10 500 funcionários, dos quais apenas 450 eram negros. O presidente queria instituir uma política que compensasse os séculos de marginalização dos negros e criou leis que os privilegiavam. E mais importante: Ken- nedy lutou para levar ao Congresso uma lei que proibia a segregação e o racismo. “Chegou a hora de escalarmos o abismo escuro e desolador da segregação para chegarmos à trilha ensolarada da justiça racial”, dizia Martin Luther King em 1963. Mal sabia ele que os passos seguintes nes- sa trilha seriam dados à força. Chega de ser o coitadinho. Sayit Loud, I'm Black and i'm Prouo. Kennedy foi assassinado em novembro de 1963. Em Eli, chegaria a hora de Luther King. Embora todas as leis sepa- ratistas tivessem sido abolidas e as cotas agora agissem a favor dos negros, a igual- dade estava longe de ser real. Na verda- de, um pouco antes da década de FEM, uma boa parcela de negros continuava bem insatisfeita. Foi assim que surgiram os grupos mais radicais. O mais famoso deles, os EEESERENE foi fundado para vigiar os abusos cometidos por po- liciais contra negros. Só que seu conceito de vigilância era acompanhar as patru- lhas com carros próprios — e carregan- do armas. Eles costumavam citar o líder negro REIRSNA, quando diziam que a igualdade entre raças seria alcançada por “qualquer meio necessário”. Essa mistura eratão explosiva que o próprio fundador dos Panteras, Huey Newton, acabou pre- so por matar um policial. O ódio racial não era mais contra negros, mas contra brancos. Não é à toa que no começo deste ano os assessores de Barack Obama tre- meram quando o ex-pastor do candida- to, Jeremiah Wright, foi flagrado dando declarações racistas, do tipo que a aids seria uma invenção do governo dos EUA para eliminar os negros. Mas, se o radicalismo racial é visto com maus olhos até hoje, a maneira como os negros começaram a se comportar nas décadas seguintes foi essencial para que eles abandonassem o papel de vítimas e ds protagonistas. No rádio, ; ] estourava coma música Respect, James n4 cantava Say it Loud, I'm Black and I'm Proud (“Fale Alto, Eu Sou Negro e Tenho Orgulho"). No jeito de se vestir e de se portar, o black is beautiful se espalhava pelas ruas. Em EEJHZ negro se candidatou à Presidência — quer dizer, uma negra. Shirley Chisholm con- seguiu ganhar 28 delegados de estado para sua campanha. Os tempos estavam mudando. “Qualquer reforma prática co- meça com uma conscientização, na qual os oprimidos passam a reconhecer seu va- lor”, escreveu James Marsh, filósofo da Fordham University de Nova York. Das páginas policiais para o horário nobre. Dos EUA para o mundo inteiro. Essa conscientização levou a limites nunca antes imaginados. O movimento hip-hop começou como um processo de identificação de negros enfurnados nas periferias das grandes cidades, mas aca- bou conquistando os brancos. Quando o ERRAR lançou o Gp dis- co com músicas faladas em , não imaginaria que 15 anos mais is um branco magrelo, como Eminem, tomaria o mundo dentro do gênero black music. Para Leon Wynter, escritor que viveu no Bronx (bairro predominantemente negro de Nova York) nos últimos 40 anos, um momento decisivo da integração racial foi quando, graças ao hip-hop, já não se conseguia mais identificar se um adoles- Foto AFP Luizinho Coruja, divulgação cente era branco ou negro pelas roupas. Todos se vestiam do mesmo jeito: como um rapper. Aliás, Obama foi o candidato favorito dos rappers e artistas de um mo- do geral — o cantor Common até citou o político numa de suas músicas: “My raps ignite the people like Obama” (“Meu rap incendeia as pessoas como Obama”). Para onde quer que o americano olhas- se, lá estava um negro debaixo dos ho- lofotes. Ou dentro da telinha. Quando o seriado Ff MA entrou no ar 16 , ninguém entendeu ao certo por que ele fazia tanto sucesso. A grande inovação do programa nada mais era do que mostrar o dia-a-dia de uma família Bill Cosby, Michael "Jackson, Michael Jordan e 50 Cent. Todos os bacanas agora eram negros. negra de classe alta. O impressionante é que os EUA nunca tinham visto de perto a história de um pai de família negro que fosse presente, carinhoso, um profissio- nal respeitado e ainda criasse os filhos de maneira funcional. Ou seja, normal. (Não foi por acaso que Obama carregou a mu- lher e as filhas para lá e para cá durante a campanha. Ele estava querendo mostrar que tem uma familia perfeitamente feliz e comum. ) Derepente, ser negro virou cool. t Rojo] eranegro. ORE de basquete também. “À medida. que ne- gros foram alcançando postos mais altos no mercado e na cultura, as novas gera- ções de brancos abandonaram as ideolo- b DEZEMBRO | 2008: SUPER: B3 “ro ema tom) o For AL DIG! Avi ORA E JULIAN UNAL DESIGN BR Preocupado com a reforma ortográfica? Nossa língua está sempre em obras. Entenda as forças que moldam o português do Brasil e saiba como a gente pode estar falando logo mais. isvaissai logo pa eischega cedo. Alingua que a gente fala pode ser assim no futuro. Não entendeu? De acordo coma gra- mática atual, seria: “Eles vão sair logo para “chegar cedo”. Lendo em voz alta, nem é tão distante do que se ouve por aí, pois a fala do presente traz pistas da gramática do futuro. Mesmo assim, brasileiros “de hoje dificilmente se entenderiam com os do ano 2500 — ou com portugueses de 1500. * Para qualquer lingua, 5 séculos é muito tempo: só pa- ra citar um exemplo, usar o verbo “ter” com sentido de “existir”, fundamental em qualquer conversa, é coisa de 100 anos pra cá. Pense na dificuldade que temos com a - Carta do Descobrimento, de Pero Vaz de Caminha. Para “decifrar “da marinhagem e das singraduras do caminho”, - é preciso um dicionário, como no estudo de um novo “idioma. Essas mudanças ocorrem porque línguas são me- “ tamorfoses ambulantes, moldadas pelas necessidades “dos usuários - não pelas regras gramaticais. - Ecomoseo português do Brasil fosse uma sopa, eterna- “ menteno fogo, que recebe ingredientes e temperos e ao “longo do tempo vai tendo o seu sabor alterado. Palavras Es nascem, crescem ou se encurtam, se combinam, mudam “ desentidoe de pronúncia e, um dia, morrem. Que gosto — issovaitera gente não garante, mas, nas próximas pági- “ nas, damos a receita do prato. Bom apetite. po DEZEMBRO! aD0a Si NA PONTA DA LÍNGUA O tempo todo, o português brasileiro é temperado com ingredientes que vão modificar seu sabor no futuro. Seja por influência de índios, escravos e imigrantes, seja por mera globalização, nossa língua sempre acolheu bem palavras de fora. O inglês continuará sendo um grande fornecedor, mas a integração coma América do Sul pode render novos verbetes no dicionário. : Neologismo delivery O português brasileiro, diferentemente do lusitano, é extremamente aberto a no- vas experiências. Importar e adaptar pa- lavras é uma tendência antiga e continua sendo força poderosa para definir Vo futuro da nossa lingua. “Vocês são muito abertos aos estrangeirismos e incorpo- ram com extrema naturalidade vários termos”, diz o português Augusto Soares da Silva, linguista da Universidade Cató- lica Portuguesa. “Há uma tendência inata para isso, diferente da do português de Portugal, que transforma o 'mouse' em “rato'” Augusto fez uma pesquisa compa- rando jornais de Portugal e do Brasil dos últimos 50 anos e percebeu que ficamos com diversos termos do inglês tais como eram na origem. Foi assim que nasceram o “xis-tudo” (de cheese, “queijo”), os servi- cos “delivery”, a “customização” de rou- pas e a “equalização” do som. “Se um dia 88 SUPER: DEZEMBRO | 2008 CVEMDEDENTRO Também tem tempero regional na mistura. OR caipira, o “tu” gaúcho e outras marcas linguísticas (“jeitos de falar”) típicas devem permanecer firmes e fortes, por representarem um diferencial de sua comunidade de falantes em relação ao resto. alguém resolver expurgar as palavras de fora, 70% do que temos vai embora”, pre- vê o filólogo Mário Viaro, da USP. Os presentes gringos costumavam ser mais requisitados pelo universo da cultu- ra (show, blockbuster, best seller), da gas- tronomia (suflê, purê, bufê) e da moda (aliás, “fashion”), mas hoje são principal- mente associados ao vocabulário corpo- rativo (“pessoal do marketing”, “atingir o target”, “briefing”) e informal (“let's go”, “whatever”, “kisses”, “yvessss!”). Dá para perceber que boa parte do vo- cabulário importado vem do inglês, não por acaso a língua da principal potência econômica, militar e cultural do planeta. Sempre foi assim: o que temos de hospi- taleiros temos de puxa-sacos, copiando o idioma de quem está por cima. Atéa 2º Guerra Mundial, o monopólio da sofisticação pertencia ao francês, de chaujfeur, garçon, lingerie, cabaret, ballet, RE E - VAIRENOVANDO Na língua, há um eterno movimento de aposentar palavras e estruturas que caíram em desuso e colocar em evidência novas expressões e formatos. Palavras nascem e morrem: se hoje ninguém solta um “cujo” na mesa de jantar, é sinal de que a saúde dele inspira cuidados. filet e mulher mignon. Com a ascensão do poder americano, o inglês foi toman- do espaço, até virar a 2º língua de todo mundo, daquele engravatado com MBA ao roqueiro underground. E a história da língua ensina que rou- baremos sem piedade palavras de outros países que se tornarem importantes. Como o mandarim dos chineses é uma lingua exótica demais para nossos ouvi- dos, a previsão é de que surjam regalos do espanhol, já que o Brasil aumentou o intercâmbio com os seus vizinhos e tu- do indica que os hispânicos devem ser a maioria dos EUA até o final do século. Um exemplo a favor da hipótese: blecaute (blackout) já virou apagão (apagón). Mas não são só os produtos importados que se valorizam. A história recente ensi- na que, para não se perderem na globali- zação, alguns grupos passam a valorizar suas diferenças, e uma delas, claro, é a een met “Este” e seus derivados estão sendo engolidos pela família do “esse”, usado na maioria das vezes. Esse Cogue ira que da CO0Co. srito (“eu poderia”) dos protestos, o futuro do pretéri ; o ndo diigsr ão “gerundismo ("vou estar podendo ). você ndo 1a eslor gue Eu se ou oculto, que não aparece na frase, ieito minado a ACAO Q chamado sujeito indeter canhado de "a gente” e “você! está dando as caras, sempre acom tuginde de mim, Á geme não quer Aos poucos, 05 de su deixando a missão de deter e o Eu enpre / Me dá um cigarro”. Ataliba compara: “A língua é como uma bola que nunca mais parou de rolar. Alguém desviou o chute para a esquerda e, pronto, a influência aparece em vários lugares”, Falando desse jeito, parece que o por- tuguês caminha para algo bem mais simples, um punhado de monossilabos com poucas conjugações e flexões. Mas não é bem assim. Quem fala gosta de ser notado pelo que diz, não vai abdicar de caprichar nas palavras. E aí entra em ce- naacriatividade e a expressividade que, juntas, contribuem para manter o idioma complexo. “A única regra das línguas é a busca da expressividade, e nunca da simplificação”, afirma Ataliba. “Dizer que os idiomas mudam para ficarem rasos é esquecer que, no fundo, são mudanças extremamente complexas.” Certo ou errado? Em 46 a.€., o estadista Marco Túlio Ci- cero fez um discurso no Senado romano sobre a arte da oratória. A certa altura, inflamado, lamentou que o povão não sa- bia mais o que era latim; falavam tudo errado, era uma calamidade. Na verdade, poucos romanos se expres- savam como Cicero gostaria — assim como poucas discussões em botecos brasileiros Toallha e guardanapo Roupa de mesa Louça Divino Espaço Potes de tempero Pepper bstantivos e adjetivos vai sendo eco minar o plural para “as e 05. ntavra es batalhas, es & vnnda. ndo economizado, Es = o + passariam intactas pelo corretor de texto. Da mesma maneira que o latim vulgar repaginou o latim clássico e se misturou a dialetos para dar origem a outras línguas, é o “português vulgar” que puxa as mu- danças. Quando ninguém está prestando atenção em como fala, atento ao que está dizendo e não como está dizendo, é que as mudanças ocorrem. “As pesquisas sociolingúísticas, feitas desde a década de 1960, têm mostrado que as formas inovadoras surgem no seio da classe média baixa”, explica o socio- lingúista Marcos Bagno, autor de A Nor- ma Oculta — Língua e Poder na Sociedade Brasileira. “Aos poucos, essas formas ino- vadoras vão ganhando prestígio e sendo adotadas pelas classes média e alta urba- nas, até atingirem textos escritos.” Foi o que aconteceu, por exemplo, com o par- ticípio de alguns verbos. A forma antiga —e certa — um dia já foi conhoçudo, e não conhecido; perdudo, e não perdido. Mas, de tanto o povo falar, o “ido” pegou. Mesmo o mais culto do brasileiros de vez em quando solta um “deixe ele en- trar” e não “deixe-o entrar”, ou “o livro que eu falei” e não “de que falei” (ver quadro O Presente do Português). As- sim, meio sem querer, frases como essas podem vir a ser a regra da gramática do alemão é seus canha, futuro. “É divertido ver a campanha dos gramáticos de antigamente contra as for- mas que eram consideradas erradas na época deles e que hoje são usadas inclu- sive em textos literários”, diz Bagno. “No futuro, nossos bisnetos vão se admirar com os 'erros' criticados em 2008.” O “erro” é entre aspas mesmo: para os linguistas, só há erro quando as pessoas não se entendem, não porque uma regra diz que aquilo é errado. Para evitar o descompasso entre língua falada e escrita, órgãos como o Instituto Houaiss, que faz o conhecido dicionário, vão aderindo aos poucos às inovações, colocando novos significados e usos em seus verbetes. Daqui a algumas centenas de anos, talvez ele também registre a fra- se “Eles vão sair logo para chegar cedo!” como a forma arcaica de “Eisvaissai logo pa eischega cedo!" E A Norma Oculta - Lingua e Poder na Sociedade Brasileira Marcos Bagno, Parábola Editorial, 2003, Por Trás das Palavras - Manual de Etimologia do Português Mário Eduardo Viaro, Globo, Shla. Gramáticado Brasileiro Celso Ferrareai Junior & lara Maria Teles, Globo, 2008. paira di Participe do fórum sobre esta reportagem em super.abril.com.be/forum WWw.educarparacrescer.com.br [ZOOM] Brinquedos por dentro O americano Jason Freeny misturou a anatomia de humanos, cachorros e ursos para imaginar o interior de algumas miniaturas. 1. Dentes e. Língua 3. Esófago 4. Fígado 5. Estômago 6. Intestino 7.Reto 8.Rim 9. Bexiga 10. Testículos 11. Pênis 94 : SUPER | DEZEMBRO | 2008 DESIGN JULIA CABRAL ILUSTRAÇÃO JASON FREENY 12. Crânio 13. Mandíbula 14. Vertebras cervicais 15. Vértebras torácicas 16. Vértebras lombares 17. Vértebras caudais 18. Caixa torácica 19. Escápula 20. Úmero 21. Rádio 22.Ulna 23. Carpo 24. Metacarpo 25. Falanges 26. Pelve 27. Fêmur 28. Tíbia 29. Metatarso 30. Borracha 31. Hélio 32. Oxigênio 33. Laringe 34. Traquéia 35. Pulmão 36. Coração 37.Baço 38. Artéria carótida 39. Aorta descendente 40. Veia cava inferior 41. Veia safena magna 42. Artéria femoral 43.Veia jugular 44. Cérebro 45. Cerebelo 46. Tronco cerebral 47. Medula espinhal 48. Tálamo 49. Lobo frontal 50. Lobo temporal 51. Lobo parietal 52. Lobo occipital ESQUELETO 1. Crânio 2. Mandíbula 3. Vértebras cervicais 4. Vértebras torácicas 5. Vértebras lombares 6. Sacro 7. Cóccix B. Caixa torácica G. Esterno 10. Escápula 11. Clavícula 12. Úmero 13. Rádio 14. Ulna 15. Carpo 16. Metacarpo 17. Falange proximal 18. Falange média 19. Falange distal 20. Pelve 21. Fêmur 22. Patela 23. Tíbia 24. Fibula 25. Tarso 26. Metatarso 27. Falange proximal 28. Falange distal SISTEMA DIGESTÓRIO 29. Boca 30. Dentes 31. Cavidade oral 32. Esôfago 33. Estômago 34. Intestino delgado 35. Fígado 36. Colo ascendente 37. Colo transverso 38. Colo descendente 39. Colo sigmóide 40. Reto 41. Vesícula biliar 42. Pâncreas SISTEMA NERVOSO 43. Cerebelo 44. Cérebro 45. Tronco cerebral 46. Medula espinhal 47. Hipófise SISTEMA URINÁRIO 48. Bexiga 49. Glândula supra-renal 50. Rim 51. Ureter SISTEMA GENITAL 52. Pênis 53. Glande 54. Testículos 55. Próstata Sb. Canal deferente SISTEMA RESPIRATÓRIO 57. Cartilagem tireóide 58. Traquéia 59. Cricóide bo. Pulmão 61. Laringe SISTEMA CARDIDVASCULAR bz. Coração 63. Artéria aorta 64. Veia cava inferior 65. Veia cava superior 66. Veia pulmonar 67. Artéria pulmonar 68. Veia jugular 69. Artéria carótida 70. Veia subclávia 71. Artéria subclávia 72.Veia femoral 73. Artéria femoral RP ER AS NOVAS ANNES FRANK Um dia qualquer no inferno Esqueça Hitler. E Churchill, Roosevelt e Stálin também. O melhor jeito de saber o que realmente foia e: Guerra Mundial não são as histórias das batalhas ou os conchavos políticos, mas o dia-a-dia de gente comum que teve a vida virada de ponta-cabeça pela guerra. É o que mostram os diários destas 3 mulheres * uma francesa, uma judia- polonesa e uma alema. Para quem tem estômago forte, como o delas. TEXTO ALEXANDRE CARVALHO DOS SANTOS RESISTÊNCIA Agnês Humbert é uma heroina da Resistência à ocupação nazista na França. Ela redigiu e distribuiu, clandestinamente, o jornal Résistance, contra 0 governo controlado pelos alemães. E pagou caro. Denunciada e entregue ao inimigo, Agnês foicondenadaa 5 anos de trabalhos forçados, comendo o pão que Goebhels amassou em prisões francesas e, pior ainda, em fábricas alemãs, onde tinha de manusear ácidos que queimavam a pele. Dureza. “Para as mãos, eu precisava de bandagens úmidas, só que não havia água... Tentemos, então, xixi”, escreveu a francesa. Agnês chegou a emagrecer 20 quilos (não havia comida suficiente), e ficar semanas sem tomar banho (não havia água para todo mundo), mas nem por isso entregou os colegas de subversão. E ainda - ajudou 05 americanos a caçar nazistas quando a Alemanha entregou os pontos. AGNES HUMBERT EDITORA NOVA FRONTEIRA 319 PÁGINAS E R$39 = a O DIARIO DE RUTKA Asvésperas de ser mandada para o campo de concentração de Auschwitz, onde morreria numa câmara de gás em 1943, a adolescente polonesa Rutka Laskier redigiu um diário curto, tipo agenda - típico das meninas da sua idade. Obrigada a viver no queto judaico de Bedzin, distraía-se do horror em volta escrevendo frivolidades sobre as amigas e seus amores platônicos = que não eram poucos. Mas não deixou de descrever as restrições e o assombro dos judeus, cada vez mais encurralados, e a angústia de quem tem amorte diante de si. Além do diário, o livro traz um posfácio generoso, com um resumo da história dos judeus na Polônia, as manifestações anti-semitas que persistiram no país após o fim da querra e uma explicação sobre como se formou o iídiche, o dialeto judeu que combina alemão antigo e hebraico. RUTKA LASKIER EDITORA ROCCO 83 PÁGINAS UMA MULHER EM BERLIM Se 05 nazistas foram terríveis com judias e estrangeiras, a vida das alemãs na Berlim de 1945 também não foi moleza. Comaderrota nazista ea chegada do Exército russo à cidade, as moças tiveram que se virar para evitar o pior. Mas o pior invariavelmente acontecia. Pelotões russos movidos a vodca não perdiam oportunidade para descontar nas derrotadas os meses de abstinência sexual e a fúria contra qualquer um que falasse o idioma de Hitler. O diário de uma herlinense anônima, testemunha evítima desses últimos dias da querra, revela um cotidiano de estupros, medo e vergonha. A própria autora passa a explorar 0 sexo como ferramenta de proteção, atraindo oficiais para a cama - e paraa escada, e para o sofá - afim de evitar a violência. “Tudo isso devemos ao fiihrer”, comenta ela. AUTORA ANÔNIMA EDITORA RECORD 285 PÁGINAS R$40 PUC Eis Seria AU SALCNE Você RAT z Sa Pa r | Brejo 20] A SECRETAS “ Re RCE Pa [us PU Edição Especial Superinteressante - Sociedades Secretas. E Livros O oa DR Ep AEANA Seus mistérios, segredos, rituais e tudo mais sobre os grupos GuISR EO Ra] F , Piná : e E A ne E ET fo TR gi Mc afortelç= ao cR To Pa reit= apito a [Pao [OR TT ras [OS MAIS DO MÊS] A BURRICE NÃO COMPENSA * Ele roubou a TV de uma casa e, quando percebeu que tinha esquecido o controle remoto, voltou para pegar e acabou preso. * Outro cidadão foi a uma pizzaria preencher uma ficha de emprego e aproveitou para assaltar 0 caixa. SIMON VIGAR Levou USS 110 e foi encontrado RA A fi a logo depois - no endereço que 1, go AS DIOR AS ad Ea na ficha. a “ DO MUNDO AS HISTÓRIAS BIZARRAS DOS ROUBOS MAIS TOSCOS QUE VOCE JA VIU - Outro foi roubar uma casa e foi pego porque parou para... jogar o videogame da vítima. Quer mais? Leia aqui: 05 LADRÕES MAIS IDIOTAS DO MUNDO Simon Vigar Matrix R$25 Sabia que ele inventou 2 035 | EA NU ae DE O desaparecer? Qual o melhor jeito de manter Hamlet? E que existem mais de 5 millivros sugerindo que vários relacionamentos ao mesmo tempo? E de suas obras foram escritas por outras pessoas? Depois de k fazer sexo em um carro? explicar a vida, 0 Universo etudo ra Como preparar um ovo 0 ás em Uma Breve História SHAKESPERRE, CEEE FR ostas estão sobre Quase Tudo, o livro mais O MUNDO É UM p nus cheio de curiosidades dadécada, PALCO: UMA no Howcast, um site com , | o americano Bill Bryson resolveu BIDGRAFIA centenas de manuais em E dissecar a vida de William Bill Bryson vídeo, um mais engraçado Shakespeare. O resultado E a que o outro, sobre | é uma biografia ágil, focada 200 páginas ed | | mais nas Cusiáies R$ 3? à Q QUALQUER coisa. | | que naalta cultura. howcast.com Colaboraram Alexandre Carvalho dos Santos, Rafael Tonon, Reinaldo José Lopes, Victor Bianchin 1DD [SUPER | DEZEMBRO | 2008 hmagers Divulgação DIGA HIS Anova eradas câmeras GPS, touchscreen, vídeos em alta definição: conheça as máquinas da próxima geração. TEXTO BRUNO GARATTONI COM QUE LENTE EU VOU? Sabe as cameras profissionais, que aceitam vários tipos de lente? ADMC-G] também permite usar lentes especiais para cada tipo de foto (de longe, de perto, panorâmica etc.). Mas tema metade do tamanho, e do preço, dos modelos profissa. LUMIX DMC-G1 Nos EUA: RS 1700 WWW.panasonic.com GLOBETROTTER Você adora viajar e tirar LAVA, PASSA montes de fotos? A Coolpixtem E COZINHA um receptor GP5 embutido, Ok, ela não faz isso. Mas que grava automaticamente quase: é a primeira máquina sua localização ao tirar cada ultracompacta (cabe no bolso foto - aí, ao descarregar as da camisa) que, além detirar ILESO S Pd imagens no pc, ela organiza boas fotos - com resolução de SRU SE pa tudo sozinha (em pastas com 10 megapixels - também grava Ee a e o nome de cada cidade). vídeo em alta definição (720 dt NA COOLPIX P5000 linhas). E ela não tem botões: Nos EUA: R$ 1 066 todos os comandos ficam na www.nikon.com suatela, do tipo touchscreen. D5SC-T500 Nos EUA: R$ 850 www.sonystyle.com | CINEMA NOVO | Pela primeira vez na história, a tecnologia digital permite gravar | vídeos com 4 mil linhas de resolução = o dobro das câmeras usadas por George Lucas na série Star Wars. ARed ONE vai revolucionar | o cinema (só nos EUA, 40 filmes já estão sendo produzidos com ela). | Ea suavida também: o fabricante da máquina promete lançar, | no 1º semestre de 2008, uma versão para uso doméstico. | RED ONE Nos EUA: R$ 51 mil www.red.com | 104 SUPER | DEZEMBRO | 20086 HORA DO JOGO O que é: Anova linha de notebooks da Apple. Qualéo barato: O finíssimo MacBook Air ganhou 50% mais capacidade (subiu para 120 GB), e todos os modelos receberam placas de vídeo superpotentes - sendo que o monstruoso MacBook Pro tem duas delas. Us melhores laptops para mexer com músicas e vídeos agora também são os campeões dos games. MACBOOK, MACBOOK AIR E MACBOOK PRO Nos EUA: de R$ 2 900 a R5 6300 www.apple.com ESCREVEU, NAO LEU... O que é: Um e-book com caneta digital. Qual é o barato: Além deter capacidade para 10 millivros e tela de papel eletrônico (que usa microesferas cheias de tinta, e por iss0 não cansa a vista), o iLiad é o primeiro livro eletrônico que também permite escrever na tela - ele reconhece a sua caligrafia e transforma tudo em arquivos de texto, que podem ser lidos e editados no pe. ILIAD BOOK EDITION Na Europa: R$ 1 400 WWWL.irex technologies.com Fotos Divulgação OLÁ! VC QUER D TC-EM 3D? O que é: Uma webcam com duas lentes. Qualéo barato: Cada uma das lentes capta uma imagem ligeiramente diferente. Ai, o software da câmera junta essas informações para recriar a imagem em 3D. A câmera funciona com Skype e MSN. O único porém é que os seus amigos precisam usar óculos especiais (aqueles de papelão, meio ridículos) para ver as transmissões em 3D. MINORU3D Nos EUA: RS 215 wuw.minoru3d webcam.com E E b- SE CUIDA, IPHONE O que é: O celular do Google. Qual é o harato: Em sua primeira versão, ele não é ameaça para O iPhone: sua capacidade é menor (8 GB, contra 16 GB do Apple), o navegador é mais lento e aparelho em si não é tão bonito. Mas, como o telefone usa o sistema operacional Google Android, que é totalmente aberto, pode ganhar uma avalanche de softwares eviraro jogo em 2009. É Esperar pra ver. HTCG1 Nos EUA: RS 380 www.htc.com NO PAIN, NO GAIN O que é: Umtoca- mp3 com medidor de batimentos cardíacos. Qualé o barato: Correr, pular, puxar ferro... O Bodibeat mede o ritmo cardíaco do usuário durante os exercícios, e usa essa informação para escolher as músicas que mais combinam com cada momento. A capacidade dele, 512 MB, pode parecer baixa. Mas dá para 8 horas de música [você aguenta malhar todo esse tempo?). YAMAHA BODIBEAT Nos EUA: E5 640 www.yamaha.com/ hodibeat DEZEMBRO | 2008 | SUPER 1105 [MANUAL] EDIÇÃO KARIN HUECK (karin.hueckQabril.com.br] COMO ESCAPAR DO CRIME URGANIZADO Se a máfia ou o chefe do tráfico estiverem atrás de você, siga as nossas dicas para não virar presunto. TEXTO LUISA DESTRI PLANO A: NÃo SE ENVOLVA COM ELES «Não deva favores. Especialmente se oferecem algo muito generoso. O crime organizado está onde está o dinheiro. « Respeite a mulher do próximo. Não paquere nem faça gracinhas com esposa de bandido. Delegados que tratam as mulheres dos mafiosos com respeito também são respeitados pelo crime organizado. « Se você pretende ser advogado, nunca aceite que um desconhecido banque seus estudos. Você pode ter um emprego para toda a vida, do qual não conseguirá se livrar. PLANO B: conHeça AS REGRAS DO JOGO «Você pode ser a pessoa mais bacana do mundo, mas só a sua palavra vai valer. Organizações criminosas não trabalham com acordos escritos. É tudo verbal ou gestual: o ok para matar pode ser o sinal negativo com o dedão. « Não adianta pedir pra sair. Se quiser uma dispensa, tenha certeza: você vai tombar na sequência. «Você dificilmente vai conseguir se livrar do crime, mas também não piore sua situação. Se sua fita é com o PLC, não procure os cariocas do Comando Vermelho - pode ser fatal. « Não ande com identificações, como crachás ou adesivas, e evite a rotina, Almoçar todo dia no mesmo lugar ou visitar religiosamente a sogra pode virar uma aventura. Trágica. «Mude de casa, de cidade, de estado. Faça uma plástica. Se nada disso for possivel, feche as cortinas da sala e coloque Insulfilm no carro. PLANO D: APELE PARA A MÃE «Implore para a mãe de seu algoz. Elas são tão respeitadas que um secretário de Estado em São Paulo já caiu por não permitir que a mãe de um chefe do tráfico visitasse o filho na prisão, PLANO Z: DIGA ADEUS Fonte vv, ole ieaada ma di idi il Mondo Mascarestas, comnci ca Policia Militar de São Paulo, Sindicato do Crime, Percival de Souza, Ediouro, 2006. - Avise a sua família, porque DESCANSE pode ser tarde demais. EM PAZ aÃ. Wustração Sattu 106 | SUPER | DEZEMBRO + 2008
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