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textos sagrados foram escritos - e manipulados - pelos homens. Conheça
os ecl go autores da Bíblia. E o real significado do di eles disseram.
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DEZEMBRO 2008
EDIÇÃO 259
TIRAGEM:
426672 EXEMPLARES
CAPA
Ahistória de Deus foi escrita por homens.
Mas quem eram essas pessoas? E porque
escreveram aquelas histórias?
SAÚDE
Aincrivel história das pessoas que
não conseguem reconhecer o rosto de
ninguém - nem o delas mesmas.
7 À COMPORTAMENTO
Você sabia que carros velhos batem menos,
mulheres provocam mais lentidão e placas
de rua podem causar acidentes?
HISTÓRIA
Hã 40 anos, negros não podiam dirigir
a palavra a brancos nos EUA. Este ano
Barack Obama foi eleito presidente.
Como esse país pôde mudar tanto?
CULTURA
pp z00M
A nossa língua está sempre em obras. SRIN : =]
Entenda como o idioma muda e saiba Aqui você vai descobrir como é um boneco
como ele vaiser no futuro. de Lego e um cachorro de balão por dentro.
RR = 300
la 2. Estúdio Deveras 3.76 Otávio 4. Henrique Gualtieri
Capa Adriano Sambugaro e Otávio Silveira
[DESABAFA]
A crise
Em meio à avalanche de dados e informações
sobre a atual crise econômica (“Crash”,
novembro), parece que 0s meios de comunicação
e os economistas não estão a fim de explicar nada
a população. Nesse sentido, a SUPER se mostra
como uma exceção ao publicar a matéria. Com um
texto objetivo e simples, mas esclarecedor, vocês
mostram as diferenças entre a crisede cdea
atual, além de ressaltar os impactos para 0 Brasil.
LUANA MARINHO NOGUEIRA
Areportagem ficou excelente! Mais umavez, a
SUPER demonstrou que faz jus ao nome. Sóesta
revista para esclarecer o assunto com todo o rigor
característico das suas matérias.
ISAAC HENRIQUES, CAMPOS, RJ, NO SITE
Corinthians O
Engraçado, basta cometer um minimo erro contra
algum timezinho do coração que muitos ficam
furiosos e protestam (Desabafa, novembro).
Agora, sobre a corrupção e 0s roubos em nossa
políticavergonhosa, ninguém fala nada.
JDÃO PEDRO RAFFOD RODRIGUES
Como de costume, fui direto à seção Desabafa.
Senti-me envergonhado, mas não surpreso, com
os comentários dos leitores sobre o Corinthians.
Não daqueles que fizeram correções, mas
sobre todo aquele papo de “brio alvinegro” e
“sentimentos” dos torcedores do Corinthians. Não
tenho nada contra futebol, mas acho preocupante
esses níveis de fanatismo. Nenhum fanatismo é
bom, seja ele religioso, político, seja outro.
DOUGLAS RAMALHO QUEIROZ PACHECO
RARAS
“Pode não ter mudado a vida de ninguém ainda, mas
precisamos aprender o que está acontecendo no
mercado. A SUPER foi muito inteligente ao explicar
detalhadamente o assunto para nós, que não
entendemos metade dessa bagunça.
RENATA BASTOS, NO SITE, SOBRE A CRISE FINANCEIRA.
Imaginação fértil
Na matéria “Ciência, uma Questão de Fé”
(Essencial, novembro) há uma parte que aborda a
teoria dos muitos mundos. Quando a lime lembrei
de umfilme interpretado por JetLi, O Confronto, em
queele viaja por diversas dimensões e elimina asi
próprio para ficar mais poderoso.
JONATÃ ANDRADE, SALVADOR, BA
Quando lio titulo da reportagem sobre a ciência
ser questão de fé fiquei animado, mas ao lê-la
me decepcionei. Quais as provas da existência do
big-hang? Se existem, são forjadas. E quem disse
que 0 criacionismo é pseudociência? Eaindavêm
com esse papinho de que o Universo pode ser
sustentado como cordas de violão. Fala sério! Só
engulo essa se vocês disserem que Deus seria 0
Yamandu Costa tocando em ritmo de bossa.
THIAGO OLIVEIRA, PAULISTA, PE
E vivam as burrices
Aprendemos que todo ser humano é falho
("Quando os Gênios Foram Burros”, novembro).
Já pensou se vocês tivessem também citado
os grandes lideres politicos? Faltaria
espaçona revista, hein?
WELTON ALMEIDA
Os nerds contra-atacam
Somos superfas da revista e amamos a matéria “A
Vingança do Nerd” (SuperNovas, novembro, pág.
44). Amatéria ficou muito descolada e ao mesmo
tempo informativa e crítica, o que é difícil de
encontrar num meio de comunicação escrito.
Ela faz o público enxergar as duas faces.
GABRIELA APARECIDA DE LIMA, EVELYN RIBEIRO DE
MORAIS E ALEXSANDRO DE ÓLIVEIRA PINTO
Gostei muito da reportagem sobre os nerds!
Como diza matéria: ser descolado não é tudo!
ALEX RODRIGUES, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP
= Onome do diretor comercial da Livraria Cultura
é Fabio Herz, não Paulo Herz (SuperFetiche,
novembro, pág. 106).
m Orelógio relativo ao horário de beber marca
19h30, e não 17h30 como consta no quadro abaixo
do relógio (superNovas, novembro, pág. 40).
= OD aumento das tulipas no século 17 foi de e00%
(“Crash”, novembro).
= Michael Phelps venceu a prova de 100m
borboleta nos Jogos Olímpicos de Pequim,
e não de 400 m (Páster, novembro).
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comentários, críticas
e dúvidas para Adriana
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TD SUPER | DEZEMBRO | 2008
[AGORRESCUTA]
16 | SUPER | DEZEMBRO | 2008
O mundo está desabando, eu sei. 56 crise, crise e cri-
se. Mas é quando o mundo cai que uma das caracte-
rísticas mais impressionantes da humanidade
aparece: a gente sempre, sempre, anda para a frente
—- mesmo despencando. E é por isso que quando eu
olho pela janela para 0 lado de fora desse caos, enxer-
go um solzinho aparecendo lá no meio das nuvens.
Se você tem dinheiro na bolsa, sinto muito. Não é
a recuperação do preço das ações que eu estou ven-
do. É melhor: um novo capítulo na maneira como
tratamos as minorias. Veja bem, eu não seise o Dba-
ma vai ser um bom presidente. Não sei se ele vai con-
seguir atender às esperanças que os americanos, 05
franceses, os georgianos, os paqguistaneses e os ti-
betanos depositam no seu mandato.
Se ele vai dar um jeito na Guerra do
Iraque ou resolver o problema das
suas ações. Sério, não é isso que inte-
ressa agora. À eleição de um negro
para governar 05 EUA é um evento em
si: há apenas 4 décadas, o país os proi-
bia de comer ao lado de brancos. Ago-
ra, em plena crise, escolhe um negro
como líder. É uma mudança e tanto.
Queda para a frente
Barack Obama, 0 pivô da mudança.
Se você quer entender melhor por que a cor da pele
do presidente americano é um marco tão relevante,
leia com atenção a reportagem escrita por Karin
Hueck. Começa na pág. 80.
O Obama, porém, não é a única notícia boa. No
Essencial, que está na pág. 31,a gente olha para o
futuro. E enxerga na ruína dos mercados a semente
de uma nova economia, verde e sustentável. A chave
desse milagre está no tamanho dos lucros que as
energias limpas prometem trazer a quem apostar
nelas. E bons lucros, você deve saber, são produto
em falta no mundo dos negócios - e também a melhor
isca que existe para fazer uma boa idéia dar certo.
Há, pelo jeito, uma luz verde piscando no fim do túnel
dacrise. E, se isso realmente acontecer,
se o próximo ciclo de crescimento trou-
xer junto uma economia que não polui,
mais uma vez teremos conseguido an-
dar para a frente enquanto caímos.
Sou 0 único otimista por aí?
Sérgio Gwercman
Redator-chefe
sywercman&abril.com.br
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A evolução ac:
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“Pata o inglês º
alógica de Dart não se aplicar mais aos seres
humanos e chegamos ao Cd mais alto da genética. porenuaRDOszKLARZ
Você já deve ter se perguntado como seremos no futuro. Nosso cérebro vai
crescer? O apêndice vai sumir? Teremos uma vida melhor? O cientista bri-
tânico Steve Jones dá uma dica: deixe de lado as especulações e se olhe no
espelho. Você verá a imagem da humanidade em pleno auge. É isso mesmo:
finalmente chegamos ao nosso limite biológico. “A evolução acabou”, diz ele.
“As coisas simplesmente pararam de melhorar ou piorar para a nossa espécie.
Se você está preocupado sobre como será a utopia, relaxe. Já está vivendo
nela.” Segundo Jones, o Homo sapiens sapiens praticamente pulou fora da
arena da seleção natural e não vai mais sofrer mudanças drásticas. Graças ao
nosso estilo de vida, conseguimos sobreviver e nos reproduzir sem depender
das diferenças herdadas para enfrentar o frio, a fome e as doenças. Mesmo
as pessoas que morrem por essas causas costumam estar velhas demais para
que a máquina de Charles Darwin se interesse por elas. No entanto, ele avi-
sa que a evolução não tirou férias no mundo inteiro. Na África e em locais
muito vulneráveis a epidemias, ela continua funcionando a todo vapor. Steve
Jones é chefe do Departamento de Genética da University College em Londres
e conversou com a SUPER por telefone.
Por que a evolução acabou?
Primeiro precisamos entender o que é
evolução. Charles Darwin a definiu em
3 palavras: “descendência com modifi-
cação”. Descendência se refere à infor-
mação passada de uma geração à outra.
E modificação significa que essa informa-
ção não é perfeita. Se isso acontecer em
muitas gerações, as diferenças vão se con-
solidar e a evolução vai acontecer. Assim,
parte da evolução é um acúmulo de erros
durante longos períodos de tempo. Mas
Darwin tinha uma segunda idéia sobre
evolução: a seleção natural, que influi
nas diferenças herdadas na capacidade
de se reproduzir. Se você possui um ge-
ne que torna maiores as suas chances de
- PLANETA
: pouso
ER
mundo melhor. ;
vel
O pesquisador Carlos
Nobre, estudioso dos
assuntos amazônicos,
vê na floresta o ponto
de partida para
a arrancada rumo
ao desenvolvimento
brasileiro. Conselheiro
do movimento Planeta
Sustentável, Nobre é
também um dos 500
cientistas de vários
países que participam
das reuniões do Painel
Intergovernamental
sobre Mudanças
Climáticas (IPCC), órgão
das Nações Unidas
que elabora e divulga
os relatórios sobre as
mudanças climáticas.
À invenção de
uma nova economia
Planeta Sustentável O sr. acredita que o Brasil
tem tudo para passar para o rol dos países
desenvolvidos. Qual é o caminho?
Carlos Nobre Não há dúvidas de que o Brasil é uma po-
tência ambiental por ser abundante em terra, água, sol e
biodiversidade. Esses são os ingredientes que temos que
utilizar para alavancar o que chamo de desenvolvimento
tropical.
P.S. Esse tipo de desenvolvimento já existe
em algum país?
C.N. Não, ele tem que ser inventado e deve ter uma com-
binação da riqueza que nós temos em recursos humanos
com a riqueza dos nossos recursos naturais. É um modelo
de desenvolvimento que explore ao máximo essa combi-
nação de biodiversidade, terra, sol, água com um sistema
educacional que no Brasil - pelo menos no extrato supe-
rior de pós-graduação - já atingiu um nível de sofisticação
como poucos países em desenvolvimento.
P.5. Como ele pode ser implantado?
C.N. É fundamental descobrir e associar mais valor aos
produtos naturais que temos. Um país tropical desenvol-
vido é industrial. Temos que encontrar um nicho de indus-
trialização feito a partir dos nossos recursos naturais.
P.S. Então a Amazônia pode ser o caminho mais
curto para se atingir o desenvolvimento tropical?
C.N. Claro. Apesar de sua riqueza natural, o valor econô-
mico da região amazônica é pouquíssimo explorado. O
modelo de desenvolvimento deve basear-se fundamen-
talmente na exploração econômica e sustentável da bio-
diversidade da floresta.
P.5. Por onde começar?
C.N. industrializando e globalizando os produtos amazô-
nicos. O Brasil tem uma área plantada de soja quase 3 ve-
zes maior que a da Argentina, mas nosso vizinho obtém o
mesmo lucro nas exportações porque exporta o óleo de
soja e nós apenas grãos. Se continuarmos a ser apenas
grandes plantadores de cana, produtores de soja ou ex-
ploradores de minério de ferro para exportar tudo isso in
natura não chegaremos lá.
P.S. O sr. propõe globalizar a Amazônia?
C.N. O que proponho é a necessidade de implementar o
que eu chamo de globalização dos produtos da biodiversi-
dade da nossa floresta. Já temos hoje alguns deles como
o açaí, o cupuaçu e a castanha-do-brasil, mas há muito
mais. Produtos com grande potencial para serem globali-
zados são toda a fruticultura nativa, todos os óleos e uma
série de fitoterápicos. Sem contar que podem existir, nes-
sa rica biodiversidade, fármacos ainda não descobertos
que levem à cura de muitas doenças.
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CACO TERA Ra anos RR RU OU RO encarna aa nana nad a 1d nao nasnas ans
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BANCO qa
ENERGIA
Luciana De Francesco
CPFL BÚÔNGE
P.S. Nesse caso, seria preciso proteger
a Amazônia do desmatamento.
C.N. É preciso proteger a Amazônia por tudo o que ela
tem de potencial. A globalização seria também uma base
para geração de empregos para a população rural da
floresta. É um outro modelo econômico que não esteja
baseado única e exclusivamente na pecuária e na soja.
P.S. Mas a distância não pode inviabilizar
esse desenvolvimento?
C.N. Realmente as distâncias são muito grandes em re-
lação aos mercados consumidores, por isso é necessário
agregar valor aos produtos para que eles sejam rentáveis.
É preciso ter indústrias locais nas pequenas e médias
cidades amazônicas que processem os produtos da bio-
diversidade. Assim consegue-se gerar bons empregos
e renda as populações rurais.
P.5. Como fazer isso?
C.N. Temos uma comunidade tecnológica e científica
sofisticada. É preciso usar essas potencialidades para,
a partir de nossa vantagem comparativa em relação aos
recursos naturais, alavancar o desenvolvimento do país.
Recentemente, a Academia Brasileira de Ciências pro-
pôs a criação de universidades da floresta e institutos de
tecnologia da Amazônia que estabeleçam uma revolução
científica e tecnológica na região para criar OS recursos
humanos e as soluções sustentáveis.
P.S. O sr. acredita que o empresário brasileiro
tem essa mesma visão?
C.N. Sim, temos empresários modernos, audaciosos e inô-
vadores em muitas regiões do Brasil. Eles podem enxergar
o Brasil como país tropical e entender como vantagem,
comparativa a sua riqueza natural - não só os minérios,
mas também os recursos renováveis - para explorar ao
máximo esse potencial de forma sustentável.
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TECLAS EESTI
idéias inovadoras em ambiente,
energia, negócios, urbanismo, consumo,
lixo, desenvolvimento, saúde e educação
[ESSENCIAL]
Energias
alternativas: elas
valem mais do
que dinheiro.
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'Verde:acordanovaeconomia
DPG PEDE EE rr CETIM PRP gr
Peng Xiaofeng, de 33 anos, acaba de virar 0 4º
homem mais rico da China, com uma fortuna
de US$ 3,96 bilhões. No ano passado, ele era
o 6º. Nada mau num ano em que magnatas
do mundo todo perderam muito com a crise.
Qutro que tem motivos para comemorar é Shi
Zhengrong, 45 anos. Ele pulou da 25º posição
para a 8º, com US$ 3,1 billhões.
Essas histórias não teriam nada de mais não
fosse o trabalho dos dois empresários: fazer
painéis solares. Num país movido a carvão,
o combustivel mais poluente que existe, eles
juntaram bilhões com uma fonte de energia
limpa, que não queima combustíveis fósseis
nem libera CO, na atmosfera.
Peng e Shi não estão sozinhos. O dinheiro
investido em fontes sustentáveis subiu de US$
33 bilhões em 2004 para US$ 148 bilhões até
o final do ano passado. Um salto de 450%. “A
mensagem desses números é clara: a energia
verde já é um investimento de primeira linha,
Wustração Túlio Fagim
e continua acelerando”, disse o alemão Achim
Steiner, chefe do Programa da ONU para o
Ambiente. E a coisa tem espaço de sobra para
crescer, já que hoje só 13% da energia mundial
vem de fontes limpas.
É tanto espaço que, para o secretário-geral
das Nações Unidas, Ban Ki-moon, são justa-
mente elas que podem tirar a economia mun-
dial do buraco. Por dois motivos. Um: para
que o aumento da temperatura mundial seja
de apenas 2 “C em 2050 — e não os catastrófi-
cos 7 ºC previstos hoje — temos de cortar nos-
sas emissões de carbono pela metade, então as
alternativas ao petróleo e ao carvão têm de vir
já. Dois: para o mundo recuperar a saúde finan-
ceira, temos de criar empregos o mais rápido
possível. E a economia vive em ciclos, impul-
sionada por um novo motor de cada vez. Nos
anos 90 era a tecnologia, que criou 1,6 milhão
de empregos só nos EUA. Depois que a bolha
da internet estourou, o dinheiro migrou para a »
As energias
renováveis
fomentam um
mercado bilionário
e, além de ajudar
a limpar o planeta,
serão um dos
motores para
salvar a economia.
TEXTO ALEXANDRE VERSIGNASSI
EBARBARAAXT
DEZEMBRO | 2008 | SUPER | 3]
[SUPERNOVAS]
EDIÇÃO BRUNO GARATTONI (bruno.garattoniGabril.com.br)
FAÇA BOA VIAGEM- E NÃO MINTA
O aeroporto
do futuro
Detector de metais? Raio X?
Alfândega? Você ainda vai ter
saudade dessas coisas.
Viajar de avião, principalmente para 05 EUA,
está cada vez mais difícil. Além de filas e
atrasos, é preciso passar por uma verda-
deira maratona: esvaziar 05 bolsos, tirar 05
Sapatos, passar no detector de metais, raio
X, alfândega, imigração... Um saco. Mas
promete ficar muito pior. O governo ame-
ricano está desenvolvendo um sistema de
segurança ainda mais rigoroso, que deixa
05 passageiros pelados e mede caracteris-
ticas corporais dos turistas, do batimento
cardíaco à temperatura do rosto. As suas
malas serão grampeadas e, enquanto com-
putadores tentam avaliar o seu grau de
nervosismo, você vai levar um raio laser no
peito (veja no infográfico). Tudo isso em um
só “túnel da verdade”, que todos os passa-
geiros terao de atravessar.
As tecnologias podem parecer futuristas
demais, mas já existem — e uma delas, o raio
X nudista, já está sendo usada em aeropor-
tos dos EUA. Tudo com o objetivo de evitar
atentados terroristas. “Nossos inimigos
querem fazer algo mais devastador que 0
11 de Setembro”, afirma Jay Cohen, diretor
de tecnologia do Department of Homeland
Security (DHS) - braço do governo que cui-
da da segurança nos aeroportos. Segundo
as autoridades, o túnel da verdade é preci-
so: seus computadores são capazes de
dizer, com 78% de acerto, se alguém está
nervoso ou mentindo. Mas especialistas
apontam problemas. O que acontecerá, por
exemplo, se as pessoas estiverem cansadas,
agitadas ou estressadas - serão conside-
radas terroristas por causa isso? “Eles [o
DHS] andam vendo muitos filmes de ficção
científica”, debocha o especialista Peter
McOwan, da Universidade de Londres. EH
34: SUPER | DEZEMBRO | 2008
CAMINHO
DA VERDADE
O que os turistas
vão enfrentar
nos aeroportos
dos EUA.
chip RFID
Bagagem grampeada
A mala vai receber uma etiqueta
do tipo RFID (Radio Frequency
Identification), que contém
um pequeno transmissor.
sensores espalhados pelo
aeroporto captam os sinais
dele, permitindo saber onde
a bagagem esta. Só não se
esqueça de arrancar a etiqueta
quando chegar ao destino -
ou você poderá ser monitorado
fora do aeroporto.
dScanis ar ge Cu
(pyramidalis nasi) A
ALLE CE |
microexpressões
câmeras |,
devideo 4
|
As imagens captadas pelas
câmeras do aeroporto serão |
analisadas por um computador |
capaz de identificaras chamadas
microexpressões - expressões |
faciais involuntárias e ]
imperceptíveis a olho nu,
que duram frações de segundo
e revelam o que a pessoa ]
realmente está sentindo 1!
(um tique no nariz, |
por exemplo, indica raiva). 4
radiação
infravermelha
zona
de calor
expressão
| Termografia facial
Us aeroportos terão
sensores infravermelhos
capazes de medir
a temperatura do seu rosto
= que aumenta quando
você está nervoso.
No exemplo acima, a cor roxa
em volta dos olhos indica
que eles estão muito quentes
(e, portanto, o sujeito
provavelmente estã
escondendo alguma coisa).
Infográfico: Jorge Oliveira Nustração: Contreras Consultoria: Luiz iria
- eletro-
cardiograma
RE degelo
Agora é hora de tomar um
tiro de laser no peito. Calma,
você não vai morrer. É um
laserde baixa potência, refletido
para um sensor que consegue
calcular o movimento do seu
tórax- e, com isso, deduzir
qual é a sua fregliência cardíaca.
Se o seu coração estiver
batendo muito rapido, você
pode ser chamado para
um interrogatório.
TEXTO JOSÉ SÉRGIO 055E
DESIGN JORGE OLIVEIRA
ILUSTRAÇÃO CONTRERAS
backscatter
EA arma
É escondida
E To DG e [= e ooit=
ho contrário dos raios X
tradicionais, que atravessam
o corpo, este aqui (que se chama
backscatter) usa radiação de
baixa potência: 500 vezes menos
que uma maquina de hospital.
A radiação não penetra no corpo,
mas é refletida pela pele.
Com isso, os funcionários do
aeroporto conseguem ver você nu
- saber se esta escondendo
algo sob a roupa.
DEZEMBRO 2008 "SUPER: 35
[SUPERNOVAS|
Mi A URIA:
TEXTO NINA WEINGRILL
Curiosidades todo dia
Code fera EDGE
super.abril.
[sf Rola [o /ER
Dor de ouvido causa obesidade
Você adora atacar a geladeira? Pode ser culpa do seu ouvido. Cientistas da
Universidade da Flórida constataram que infecções auditivas podem danificar
as conexões nervosas entre a língua e o cérebro. Isso deixa os alimentos mais
gostosos e faz a pessoa comer mais - ela pode ficar até 30% mais gorda.
como texto
Er]
foto E
RAP ES)
GT EE La EA
Bendita sois vós entre as tubaroas
A mãe de Jesus, diz a Bíblia, engravidou sem relação sexual. Para
aciência, não faz sentido - a não ser que estejamos falando de tubarões.
Pesquisadores americanos descobriram duas fêmeas de tubarão (da
espécie galha-preta) que conseguem engravidar sem fecundação.
(M
65 mil mm Pessoas despejadas
mem Mosquitos transmissores de doença
(A CADA 1 000 MOSQUITOS)
ã 2005005 2006 OO
Crise econômica faz bem para os mosquitos
Cada vez mais americanos estão abandonando suas casas por falta de
pagamento - e deixando para trás piscinas sujas, cheias de água parada.
Um paraíso para os mosquitos do gênero Culex, que transmitem a
chamada febre do Nilo (doença com sintomas similares aos da dengue).
36 SUPER | DEZEMBRO | 2008
ustração Rômulo Pacheco
e
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GIATA
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III
Gr
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EA E
Gir
Gis
ESTES
A
AEINSNISN II
Do supercondutor N
ao Super Mario
TEXTO FABID MARTON
SUPERCONDUTOR
88
Em 1911,0 cientista holandês Heike Kamerlingh descobriu N
uma coisa incrível: se você resfriar bastante certos metais, NS
eles se tornam supercondutores - conduzem energia
de forma perfeita, sem desperdício nenhum. Com os q
supercondutores, seria possível criar carros elétricos N
hipereficientes e reduzir o consumo de combustíveis 8
fósseis. Um sonho que a ciência persegue desde a...
ANN
CRISE DO PETRÓLEO
Em 1973,as nações árabes da Opep (Organização dos
Paises Exportadores de Petróleo) anunciaram que não 8
exportariam mais petróleo aos aliados de Israel -no caso, Ss
todas as potências ocidentais e mais 0 Japão. Isso gerou N
uma crise econômica global que acabou com o “milagre ,
econômico” brasileiro e também quebrou negócios mais N
triviais. Como o mercado de... 88
RS NES NINE ADE, qua
ENSINA SEN,
E
Dm E]
PARQUES DE DIVERSÃO N
No Japão de 1975, com a crise mundial no auge, o lazer se à
tornou secundário - como a gasolina estava carissima as.
pessoas saiam de casa cada vez menos, o que acabou com 8
a popularidade das máquinas de tiro aoalvo. O fabricante.
delas, que se chamava Nintendo, resolveu diversificar às
negócios e apostou na onda dos fliperamas. Deu certo, e 8
logo a empresa desembarcaria nos... N
ANNAN
EUA
Em 1981, 05 americanos só queriam saber de jogar: RS
deixaram mais de USS 10 bilhões em fichase moedinhas. SS
nos fliperamas do país. Mas, para a Nintendo, a coisa não 3
começou muito bem: Radar 5cope, um de seus primeiros
Es
flipers, foi um baita fracasso. Para reaproveitar as SN
máquinas encalhadas, a empresa colocou nelas S
um novo jogo: Donkey Kong. Era a estréia de... N
EN SESIASINNNNAS SEIS AN
SUPERMBRIO e
Us executivos não botaram muita fé (um homem baixinho,
gordo e bigoduda jamais convenceria como super-herói), N
mas notaram uma coisa. O personagem se parecia muito S
com Mario Segale,dono do prédio onde funcionava a 3
Nintendo das EUA - e por isso ganhou o nome dele. Nascia S
alio maior astro da história dos jogos: de pulinho em 8
3 pulinho, ele vendeu mais de c80 milhões de games,
[SUPERNOVAS]
RELATIVIDADE FROSTEREE
A geladeira
de Einstein
Ele revolucionou a física.
Mas, na verdade, só queria
entrar na sua cozinha.
TEXTO DENNIS BARBOSA
Engenheiros ingleses estão construindo o
primeiro protótipo de um eletrodoméstico
revolucionário: uma geladeira ultra-ecológica,
quefoiinventada em 1930 por ninguém menos
que Albert Einstein. Ela gasta pouca eletrici-
dade, não prejudica a camada de ozônio e,
para completar, é totalmente silenciosa. A
máquina, que o físico criou e patenteou junto
comseucolega húngaro Leo Szilard (que viria
a se tornar um dos pais da bomba atômica),
faz algo que parece mágica: transforma calor
em frio. Tudo graças a umsistema inteligente
(veja ao lado), que dispensa o motorzinho
presente nas geladeiras convencionais.
Mas, se essa tecnologia é tão incrível, por
que não é usada hoje em dia? É que, como foi
concebido, o refrigerador de Einstein não ge-
la muito bem = por isso, nunca foi fabricado
em série. Mas os cientistas que estão desen-
volvendo a geladeira acreditam que é possível
quadruplicar sua potência — a idéia é trocar O
butano por gases mais poderosos e Lisar ener-
gia solar para alimentar a máquina. “Elaseria
muito útilem áreas rurais, onde não há eletri-
cidade”, explica o engenheiro Malcolm McCullo-
ch, da Universidade de Oxford. E
Ciência na cozinha
Agenial -e complicada - máquina de Einstein.
1 AQUECIMENTO
Um aquecedor elétrico embutido
na geladeira esquenta uma
mistura de água com amônia.
Isso causa uma reação química
que separa as duas substâncias.
Eae É ca :
TREM.
NE RERE EE
2 CONDENSAÇÃO
A água, na forma de vapor, chega
a uma câmara de condensação.
Ela vira líquido e é usada para molhar
uma mistura de dois gases: amônia
e butano. Como é menos solúvel
emaágua, o butano fica livre.
3 REFRIGERAÇÃO
Obutano entra numa terceira
câmara-oresfriador.
Eagora vemo truque genial.
Lembra-se da amônia que
foi liberada na etapa 1?
Ela vem até aquie se mistura
com o butano. Essa mistura
evapora, absorvendo calor -
eisso deixa a geladeira
gelada. Em seguida, os gases
voltam paraas etapas lez,
reiniciando o processo.
[SUPERNOVAS]
«q
Pensar cansa. Mesmo!
Cientistas provam que o cansaço mental não é desculpa
de gente preguiçosa. TEXTO MARCELLACHARTIER
Sabe quando você está estudando ou
trabalhando e precisa dar uma paradinha
para descansar? Não se sinta culpado.
Uma experiência feita nos EUA acaba de
achar uma explicação científica para is-
so. A psicóloga Kathlen Vohs, da Univer-
sidade de Minnesota, chamou dois
grupos de estudantes para uma série de
testes de raciocínio - como prêmio, am-
bos iriam ganhar um pequeno brinde. Só
que o segundo grupo teve o privilégio de
escolher esse brinde, num catálogo, an-
tes de começar. Parece uma bobagem,
mas causou efeitos profundos: os volun-
tários do segundo grupo cometeram
mais erros e desistiram mais rápido. Tu-
do porque, segundo uma nova teoria, O
cérebro tem uma capacidade limitada
de tomar decisões, que vai sendo gasta
ao longo do dia — até chegar a um ponto
em que a mente precisa parar, e ficarem
44: SUPER | DEZEMBRO | 2008
repouso, para recuperar o desempenho
original. É a mesma coisa que acontece
com os músculos durante um exercício
físico. “Ainda nao sabemos dizer qual
parte do cérebro se cansa, nem quanto
tempo ele pode pensar antes de se can-
sar”, diz o psicólogo Natham Novemsky,
da Universidade Yale.
Mas os cientistas já descobriram al-
gumas coisas que aumentam a resistên-
cia da cachola [veja ao lado). E ter um
cérebro malhado também pode ajudar
a evitar situações embaraçosas. Duran-
te os testes, os pesquisadores prepara-
ram um suco bem ruim, com gotas de
vinagre, e o deixaram em cima da mesa
enquanto entrevistavam os voluntários.
As pessoas que foram expostas a situa-
ções de cansaço mental beberam mais
— Com a mente exausta, nem prestaram
atenção no que estavam tomando. E
dicas para
dar mais
fôlego ao
seu cérebro
COMA SEM CULPA
Cientistas americanos
descobriram que, quando
as pessoas não comemo
quequerem (parafazer
dieta, por exemplo), 0
cérebro fica frustrado - e
desiste 50% mais rápido de
tarefas dificeis.
SOLTE AS EMOÇÕES Dois
grupos de voluntários
foram chamados para
assistira uma comédia - e
depois fizeram uma prova
de inglês. O grupo que foi
proibido de rirteve um
desempenho 33% pior.
ACREDITE NO SEU TACO
Pessoas mais auto-
confiantes, quetomam
decisões mais rápido,
conseguem pensar poraté
40% maistempo.
Ilustração Visca
Eb isgn
Cadeia Ink
Desejadas ou impostas, as tatuagens feitas na cadeia
contam a história do tatuado. Conheça esse código,
marcado na pele para sempre.
ES Len Reto Era AS Tae aÃ
Do SEE E de EN ES
ae Le EEE o EE fofa RS Eu ETR y
não entra em modinha. “A descrição que a polícia
pedia [nina ee oie RE E ea CR de Ele E
reconhecido se usar as marcas tipicas da cadeia”,
dizum detento de 24 anos que não tem tatuagem.
EPP RI
RE
periculosidade, do
po ERRO
Else fa o pe CELA
COBRA
e pe TER E
afazer, para que todos
saibam que o dono é
Gif deb die
ups
SO o ir TV O) metia o o ie tuto con cais e et RO
cadeia” (travestis)
Sa EE pi ES VEL
Eru Ds Ta ER IR
borboletas coloridas ou
pda E Rega SRT)
[ate Ri RR Ns]
homossexual passivo).
Lo ES Rss efa E
tatuar na pele datas
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para eles, como as de fugas,
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companheiros e inimigos.
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elétrica. A tinta muitas
vezes é profissional,
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DR Pta o pop pap papo po papa pa pp pp SP pp
BRR! NICAÇÃO rir eai
RR pias pj efu fogo ge tia ço meta o sin A Leoa
RE Le = pe te Lopo o EE LER Fte Eu TRES
| despencar é a pergunta:As pessoas
se sentem recompensadas?”
[RT de upa aj :
abaixo (estagiários)gacima
[geo gs dodgefo)] ra ,
Ea ELEITA ED e
FREE ET A
/ e
ER RI RN Raia cr pedi PETI
á LEPpco gotta pes lR das o oba Ste pede
média de 30%, contra um indice de 235
entre 05 colegas da universigade.
Contrariando a lógica das outras profissões,
fogo fase pa page nt eQe fo pu Ti a [e poi
haixam sua satisfação para 21%.
Pudera: 0% se declara recompensado
Cofee DE DER 7 ET
Os caixas têm “felicidade” acima da média
em todos os quesitos, com espetaculares 76%
Copa [ooo apar fiRd SpoRE i
de possibilidade de crescimento na carreira.
DIVERSOS mais um indício de
que o diploma não traz felicidade
ope dE folnde (RES = terfo oo ot
achu as E Pyh e profissão não tem necessariamente
on E id a RR ER ja eee peTER aa o pre fo oe ER
- por atividade, caro PA Tips) Pad o ERR || | |
nes ita fi] RE ro] 24%, RR CER ER EPE
Esse o ER GAR E] | do mercado, têm o mais “feliz” dos 963 cargos
im [Dm E
ac lado. ) o io is | 9% | pesquisados: o diretor de engenharia
Ê a” NA F) o | de projetos, que tem 77% de satisfação.
NY Km LCA bi |
Nas 37 profissões da área jurídica
ares REM ER ED EE
de direito administrativo (9%) até a felicidade
do estagiário de direito tributário (55%).
Piu]
KEN
PN VACA c a
Aloe Geo do erp ee opala tee SR
profissionais. Aparentemente, ntam diferentes n
a especialização que diferencia da mesma atividade, de estagiári
da massa traz mais satisfação.
VALE A PLENA
BE ERR pedi 1
Ega pad [ga To rofissional nem Ju nior nem
aumentara alegria de uma sênior, em meio de carreira.
Pie E secretária bilingue em 32%.
CR E
pr Te Les Ene jd ER RR a]
RESPOSTAS]
Provavelmente nunca
em um supermercado
perto do você.
Agua
da privada
é potável?
TEXTO MICHELE SILVA
Não. Nunca. Nem pense nisso. Se pensou “poxa, mas a caixa-
d'água é a mesma, a louça é tão branquinha”, pensou errado. E,
se agiu antes de pensar, deve procurar um médico. Sério, existem
formas mais higiênicas de chocar a sociedade burguesa.
De acordo com o biólogo e professor de saúde ambiental da
USP José Luiz Negrão Mucci, seres humanos que beberem água
do vaso podem ter graves complicações (cachorros e gatos são
mais resistentes). “Ali há protozoários e bactérias que podem
causar diarréia, hepatite e infecções que ficam no organismo
durante um longo período”, diz. Além disso, o cloro colocado
pelos órgãos de tratamento da água não tem a concentração
suficiente para matar todos os germes que ficam no vaso.
Mesmo que a idéia de matar a sede na privada nunca tenha
passado pela sua mente sã, é preciso tomar cuidado, pois obje-
tos próximos do trono também podem ser contaminados. Em
alguns exames, foram encontrados micróbios de origem fecal
nas cerdas de escovas de dentes. A origem, claro, era a privada,
provavelmente porque alguém deu descarga coma tampa aber-
ta, lançando bactérias pelo ambiente.
Mas, calma, não precisa jogar no lixo tudo que estiver sobre a
pia do banheiro. O biomédico garante que os desinfetantes e a
limpeza regular matam as bactérias, e o risco de contaminação
é pequeno. “É um dos locais menos contaminados, porque é
limpo regularmente”, diz. Mas, por precaução, é bom manter
objetos de uso pessoal protegidos no armário. E
50 | SUPER | DEZEMBRO | 2008
SALSICHA |
Usa Ra aos
QUANDO
SURGIRAM?
DE QUESÃO
FEITAS?
QUANTOS
TIPOS
EXISTEM?
QUAL PAÍS
QUE MAIS
COME?
DUANTAS
ALGUÉM
CONSEGUE
COMER?
Agi
st]
gg
| OSBASCOS
AS a apa
QUEM SÃO ELES?
QUAL O SEU IDIOMA?
POR QUE QUEREM
SER UMA NAÇÃO
INDEPENDENTE?
Fontes Bert Yankielun, autor do livro How to Build an lgloa, e Ed Huesers, do site www.grandshelters.com.
ENTRANDO NUMA FRIA
[SUPERRESPOSTAS]
Como se constrói um iglu? TEXTO MICHELE SILVA
Não requer prática nem habilidade. Para
construir essa residência rústica, minima-
lista e ecológica, basta encontrar 5 m'de
neve compacta e convencer alguém a en-
trar nessa fria com você.
Para que a casa não desabe na sua ca-
beça, a neve precisa ser quase sólida, da-
quele tipo no qual você não deixa pegadas,
afirma o americano Bert Yankielun, autor
do livro How to Build an igloo ("Como Cons-
truir um Iglu”, sem edição brasileira).
HOLIDAY ON ICE
Uma dupla de “geleiros” pode erguer seu iglu em cerca de 9 horas. O consolo
é que o trabalho nunca leva o dia inteiro: no inverno polar, o Sol nunca se põe.
A princípio, parece contradição erguer
uma casa de gelo para se proteger do frio.
Mas, como explica o professor de fisica da
USP Cláudio Furukawa, “o gelo é excelen-
te isolante térmico, 100 vezes melhor que
o alumínio". É a lógica da garrafa térmica:
o gelo atenua a perda do calor gerado por
uma fogueira ou pelos moradores.
Infelizmente, os iglus correm risco de
extinção. Um dos motivos é o famoso pro-
gresso: os nativos do Alasca, do Canadá e
da Groenlândia estão sendo incorporados
a civilização ocidental e aproveitando as
benesses da sociedade de consumo, como
imóveis não perecíveis. Outro é o aqueci-
mento global, que torna escasso o gelo
nas redondezas do círculo polar ártico.
Quem mantém viva a tradição dos abrigos
de gelo são caçadores esquimós, que se
abrigam neles durante a temporada de
caça, além de aventureiros com espírito
empreendedor e muito tempo livre. E
ÁREA ÚTIL
O primeiro passo é mandar ver no snow
angel: deite-se no chão e faça polichinelos
na horizontal, Use o “anjo” que ficou no
chão para traçar o raio da construção.
FORCINHA DA GRAVIDADE
O plano inclinado é o segredo: ele fará
com que os blocos de gelo se pressionem
mutuamente, mantendo o iglu em pé.
Acúpula vai tomando forma a cada “andar”,
Ilustração Cássio Bittencourt
FISSAO A FRIO
Encontre um local com neve compacta
o suficiente para ser cortada em blocos.
São necessários 5 m'de neve na construção
de um iglu para 3 ou 4 pessoas.
UM DENTRO, UM FORA
É preciso que dentro da construção
fique alguém que vai moldar e empilhar
os blocos, para que reste apenas uma
abertura de ventilação no topo doiglu.
DESCENDO A RAMPA
Preencha circunferência com os tijolos.
Após formar o primeiro anel, crie uma
rampa circular e inclinada de fora para
dentro. Ela será fundamental.
PORTA ABERTA
Abra uma passagem lateral em semicirculo:
você liberta seu amigo e ganha uma porta.
Ela deve ser estreita, para uma pessoa,
ou o vento vai deixar tudo ainda mais gelado.
DEZEMBRO | 2008 | SUPER: 5]
—— — -
Aral eo
E O 1º serial killer brasileiro
7717777 PTD
Preto Amaral assombrou a São Paulo dos anos 20) com seus crimes
de estrangulamento, morte e estupro. Nessa ordem. textoxarinaninm
ra dui(id
Numa bela tarde de 1927, o rapazinho Antônio
Lemos passeava pelos agitados arredores do
Mercado Municipal de São Paulo quando foi abor-
dado por um senhor negro, que se ofereceu para
lhe pagar um almoço. Conversa vai, conversa vem,
às dois partiram num bonde rumo à Lapa. Foi o
último bonde de Antônio, a terceira vítima do Pre-
to Amaral, que entrou para a história nacional da
infâmia como o primeiro serial killer brasileiro.
Nascido no interior mineiro em 1871, José Au-
gusto do Amaral era filho de escravos. Livre aos
17 anos, quando a princesa Isabel assinou a Lei
Áurea, entrou para o Exército. Era uma das poucas
ocupações disponíveis para ele num país ansioso
de ser embranquecido por imigrantes.
Depois de rodar o Brasil como voluntário da
pátria, aos 56 anos Amaral estava vivendo de bi-
cos em São Paulo. Tinha tudo para morrer no
anonimato até que, em 1927, foi preso, acusado
de 3 homicídios. Confessou todos. Segundo seu
depoimento, ele seduzia, depois asfixiava, para
então estuprar o cadáver das vítimas — todos
hamens. A imprensa delirou; os jornais traziam
manchetes sobre o “manstro negro”, o “diabo
preto”, o “estrangulador de crianças”.
Na verdade, Antônio Sanches, a primeira vítima,
já contava 27 anos. Em seu depoimento, Amaral
afirma que o encontrou nos arredores da praça
Ilustração André Kitagawa
Tiradentes e que a vítima lhe pediu fósforos. De-
pois de tomarem café num botequim próximo,
Amaral teria convidado o rapaz para ver um jogo
de futebol. O corpo foi encontrado próximo do
aeroporto do Campo de Marte, na zona norte.
Avitima seguinte, José Felippe Carvalho, tinha
10 anos quando morreu, na véspera do Natal de
1926. Amaral atraiu O menino dando de presente
alguns dos balões que vendia na região do Canin-
dé. José foi encontrado 13 dias após a morte, já
sem os membros superiores. Antônio Lemos, O
rapaz do bonde, tinha 15 anos. Quando seu corpo
foi localizado, a polícia se deu conta de que São
Paulo tinha um assassino serial.
Amaral só foi capturado graças a Roque Picci-
li, Um engraxate de 9 anos. Ele levou o menino
para debaixo de uma ponte e estava estrangu-
lando o coitado quando ouviu vozes, se assustou
e fugiu. Ao retornar, não encontrou a quase vítima,
que a essa hora já estava na delegacia mais pró-
xima delatando seu quase assassino.
Consta que os jornais continuaram a noticiar
homicídios semelhantes, mesmo depois da prisão
de Amaral, aumentando sua lenda. Frustrando a
população, que clamava por linchamento ou uma
execução, Amaral morreu de tuberculose antes
de ser julgado, 5 meses após a prisão, na cadeia
pública de São Paulo. E
GRANDES
MOMENTOS
m Encartada no processo
criminal nº 1670/1927,
a avaliação do psiquiatra
que examinou Amaral
leva em consideração
seu pênis grande
como “indício de sua
bestialidade”. Na época,
era comum relacionar
o tamanho do pênis
do criminoso com
o tamanho do crime.
= O caso de Amaral rendeu
livros, tese de mestrado
e peça de teatro. Na ala
dedicada aos criminosos
sexuais no Museu do
Crime, em 5ão Paulo, ele
aparece com destaque.
= Amaral serviu na Brasil
inteiro: Rio Grande do
Sul, Bahia, São Paulo,
Rio de Janeiro, Goiás e
Mato Grosso - na Guerra
de Canudos (1897),
chegou a tenente.
DEZEMBRO | 2008 | SUPER 155
[SUPERRESPOSTAS]
rei PTI GIST ja?
sie ar PTP pras o» /
“Dar lugar pros gringo entrar”, como tocava o Raul, é uma
das maiores lendas urbanas sobre a Amazônia. A idéia de
que vao vender a floresta existe há décadas. E ganhou
força de 2000 para cá. Coincidência ou não, foi depois que FESTA NA FLORESTA
ongs ambientalistas dos EUA e da Europa começaram a Amazônia internacional
comprar terrenos de floresta pelo mundo para impedir o nadaria na grana.
desmatamento. Eles fizeram isso em lugares como Peru, E o Brasil, Ó...
Guiana, Serra Leoa Ilhas Fiji - levantando suspeitas cons-
piratórias de que isso seria fachada para governos ricos
se apoderarem das riquezas dos pobres. Esse tipo de coi-
sa rola aqui também. Por exemplo: o magnata sueco Johan
Eliasch, dono de ong, comprou uma área na Amazônia do
tamanho da cidade de São Paulo — e revende partes de
“sua” selva a ambientalistas (ou a cientistas do mal, como
pensam os de imaginação fértil). Só que a lei brasileira não
permite que um monte de Johans faça a mesma coisa: dois
terços da Amazônia não podem sair das mãos do governo.
Os 25% que sobram podem ser vendidos.
Mas no mundo das teorias mirabolantes o que está em
questão nem é esse tipo de comércio. Mas a venda da so-
berania mesmo - geralmente com o Estado entregando a
floresta a um “consórcio de empresas” ou coisa que 0 va-
lha a troco de dinheiro. Nesse cenário doido, em que o
mapa do Brasil perderia sua Região Norte, o mais difícil
seria encontrar um comprador disposto a pagar o justo.
As estimativas do governo, afinal, é de que existam pelo
menos USS 15 trilhões em reservas minerais e USS5
trilhões em madeira sustentável, ou seja, que po-
de ser cortada, vendida e replantada. Ainda
não entrou no cálculo a maior riqueza da
região: metade das espécies vegetais e
animais do planeta. Curas de doenças como
aaids e o câncer podem estar escondidas
em uma planta desconhecida, por
exemplo - e, como a densidade de es-
pécies de plantas lá é a maior do Uni-
verso conhecido, trata-se de um belo
campo de pesquisas. Quanto isso vale? Bom,
só a cura do câncer renderia USS 50 trilhões
a quem a descobrisse, segundo um estudo da
Universidade de Chicago. Para comparar: a receita
anual da maior farmacêutica do planeta, a Pfizer, é de
USS 12 bilhões. Por outro lado, uma “Amazônia inter-
nacional" até que tato Bonita depois de receber gs TETO DAMELSCHNEIDER
enxurrada de investimentos. Já o Brasil, coitado, poderia DESIGN JORGE OLIVEIRA
acabar realmente mal. Olha lá. E ILUSTRAÇÃO ESTÚDIO DEVERAS
SE SUPER | DEZEMBRO | 2008
“ess EM CENTRO ESPACIAL CARAJÁS
A Amazônia seria um bom lugar para construir naves
espaciais: está cheia de nióbio, um metal que, por
aguentar até é 500C, é essencial para foguetes. Além
disso, fica na linha do Equador, de onde dá para lançar
naves economizando combustivel, já que elas pegam
mais impulso da rotação da Terra nessa região. Com o
turismo espacial logo ali, dá para imaginar pacotões
de bdiasna floresta e 1 noite no espaço!
48 FE ZONA FRANCAGENÉTICA
A Amazônia é o maior banco de genes do mundo
- estima-se que haja milhões de espécies, como
plantas e microorganismos, ainda desconhecidas
porlá. E genes são a matéria-prima dos remédios
de amanhã, que deverão agir direto no DNA. Hoje,
o governo pode cobrar royalties sobre qualquer
droga criada com material brasileiro. Sem esse
inconveniente, laboratórios investiriam pesado.
EI ÁGUASA.
A água doce é um recurso finito, “estocado”
emrios, no subsolo e na atmosfera. Eumterço
dela está na bacia Amazônica. Algumas regiões
já sofrem uma falta crônica, e 0 consumo vai
aumentar 25% até 2030. Nesse cenário, daria
para exportar a vazão do rio Amazonas. Aum
preço hipotético de USS 0,10 o litro, as empresas
levantariam mais de USS 400 bilhões anuais -
4vezes 0 faturamento da Petrobras em 2007.
BRASIL DO SUL
X BRASIL
DO NORTE
Avenda da região
Amazônica tiraria 40%
do Brasil do nosso mapa,
mas só 7% do PIB pela
proporção de hoje. Mesmo
assim seria um trauma forte
o bastante para fomentar o
separatismo. Num cenário
desses, o Sule o Sudeste
formariam um país com PIB
de USS 785 bilhões, pouco
maior que o da Holanda.
Us estados do norte ficariam
com USS 233 bilhões,
o que dá uma Venezuela.
DEZEMBRO | 2008 | SUPER 157
Pra
qs
Quando os hebreus 4
eram escravos no Egito, 4
o Senhor enviou
1 pragas contra
os opressores do povo
escolhido. À primeira
delas foitransformar
todaa água do país
em sangue (Êxodo 7:21).
Como faraó não libertava E” F
os hebreus, o Senhor RE E
| radicalizou: matou,
numa só noite, todos 05
primogênitos do Egito.
“Ehouve grande clamor
no país, pois não havia
casa onde não houvesse
um morto” (Êxodo 12:30).
Desgostoso com os
-pecados de Sodomae
Gomorra, Deus destruiuas
duascidadescomuma
chuvarada de fogo
eenxofre (Gênesis 19:24).
Para punir as
desobediências
do rei Davi, o Senhor
Enviouumaticença
não identificada,
que matou 70 mil
homens e 200 mil
mulheres e crianças
(2 Samuel, 24: 1-13).
j Quando a nação
dos filisteus roubou
aarca da Aliança,
onde estavam guardados
05 10 Mandamentos,
o Senhor os castigou
comum surto
de hemorróidas letais.
“Os intestinos lhes
saiam para fora
eapodreciam”
(L5amuel5:9).
Adão e Eva, Caim
e Abel, o dilúvio e
a fuga do Egito:
tudo isso foi
escrito 12 séculos
antes de Cristo.
60 | SUPER | DEZEMBRO | 2008
2 A própria Igreja admite que a revelação divina
só veio até nós por meio de mãos humanas. A
palavra do Senhor é sagrada, mas foi escrita
porreles mortais. Como não sobraram vestígios
nem evidências concretas da maioria deles, a
chave para encontrá-los está na própria Bíblia.
Mas ela não é um simples livro: imagine as Es-
crituras como uma biblioteca inteira, que guar-
da textos montados pelo tempo, pela história
e pela fé. Aliás, o termo “Bíblia”, que usamos
no singular, vem do plural grego ta biblia ta
hagia— “os livros sagrados”. A tradição religio-
sa sempre sustentou que cada livro bíblico foi
escrito por um autor claramente identificável.
Os5 primeiros livros do Antigo Testamento (que
no judaísmo se chamam Torá e no catolicismo
Pentateuco) teriam sido escritos pelo profeta
Moisés por volta de 1200 a.C. Os Salmos se-
riam obra do rei Davi, o autor de Juízes seria
o profeta Samuel, e assim por diante. Hoje, a
maioria dos estudiosos acredita que os livros
sagrados foram um trabalho coletivo. E há uma
boa explicação para isso.
As histórias da Bíblia derivam de lendas sur-
gidas na chamada Terra de Canaã, que hoje
corresponde a Líbano, Palestina, Israel e peda-
ços da Jordânia, do Egito e da Síria. Durante
séculos acreditou-se que Canaã fora dominada
pelos hebreus. Mas descobertas recentes da ar-
queologia revelam que, na maior parte do tem-
po, Canaã não foi um Estado, mas uma terra
sem fronteiras habitada por diversos povos—os
hebreus eram apenas uma entre muitas tribos
que andavam por ali. Por isso, sua cultura e seus
escritos foram fortemente influenciadas por vi-
zinhos como os cananeus, que viviam ali desde
o ano 5000 a.C. E eles não foram os únicos a
influenciar as histórias do livro sagrado.
- sraizes da árvore bi-
blica também remon-
tam aos sumérios,
antigos habitantes
do atual Iraque, que
no 3º milênio a.C. es-
creveram a Epopéia
e Gilgamesh. Essa
listória, protagoni-
zada pelo semideus
Gilgamesh, mencio-
na uma enchente que
devasta o mundo (e da qual algumas pessoas
se salvam construindo um barco). Notou se-
melhanças com a Bíblia e seus textos sobre o
dilúvio, a arca de Noé, o fato de Cristo ser hu-
mano e divino ao mesmo tempo? Não é mera
coincidência. “A Bíblia era uma obra aberta,
com influências de muitas culturas”, afirma o
especialista em história antiga Anderson Za-
lewsky Vargas, da UFRGS.
Foi entre os séculos 10 e 9 a.C. que os escri-
tores hebreus começaram a colocar essa sopa
multicultural no papel. Isso aconteceu após o
reinado de Davi, que teria unificado as tribos
hebraicas num pequeno e frágil reino por volta
do ano 1000 a.C. A primeira versão das Escri-
turas foi redigida nessa época e corresponde à
maior parte do que hoje são o Gênesis e o Éxo-
do. Nesses livros, o tema principal é a relação
passional (e às vezes conflituosa) entre Deus
e os homens. Só que, logo no começo da Bee-
blia, já existiu uma divergência sobre o papel
do homem e do Senhor na história toda. Isso
porque o personagem principal, Deus, é tratado
por dois nomes diferentes.
Em alguns trechos ele é chamado pelo nome
próprio, Yahweh — traduzido em português co-
mo Javé ou Jeová. É um tratamento informal,
como se o autor fosse intimo de Deus. Em outros
pontos, o Todo-Poderoso é chamado de Elohim,
um título respeitoso e distante (que pode ser
traduzido simplesmente como “Deus”). Como
se explica isso? Para os fundamentalistas, não
tem conversa: Moisés escreveu tudo sozinho e
usou os dois nomes simplesmente porque quis.
Só que um trecho desse texto narra a morte
ALLLADO Na prime
Deus criava O
e fazia |
do próprio Moisés. Isso indica que ele não é o
único autor. Os historiadores e a maioria dos
religiosos aceitam outra teoria: esses textos ti-
veram pelo menos outros dois editores.
Acredita-se que ostrechos que falam de Javé
sejam os mais antigos, escritos numa época em
que a religiosidade era menos formal. Eles con-
têm uma passagem reveladora: antes da cria-
ção do mundo, “Yahweh não derramara chuva
sobre a terra, e nem havia homem para lavrar
o solo”. Essa frase, “não havia homem para la-
vrar o solo”, indica que, na primeira versão da
Bíblia, o homem não era apenas mais uma cria-
ção de Deus ele desempenha um papel ativo e
fundamental na história toda. “Nesse relato, o
homem é co-criador do mundo”, diz o teólogo
Humberto Gonçalves, do Centro Ecumênico de
Estudos Bíblicos, no Rio Grande do Sul.
Pelo nome que usa para se referir a Deus (Ja-
vé), o autor desses trechos foi apelidado de Ja-
vista. Já o outro autor, que teria vivido por volta
de 850a.€., é apelidado de Eloísta. Mais sisudo
ereligioso, ele compôs uma narrativa bastante
diferente. Ao contrário do Deus-Javé, que fez o
mundo num único dia, o Deus-Elohim levou 6
(e descansou no 7º). Nessa história, a criação
é um ato exclusivo de Deus, e o homem surge
apenas no 6º dia, junto aos animais.
Tempos mais tarde, os dois relatos foram mis-
turados por editores anônimos — e a narrativa
do Eloista, mais comportada, foi parar no iní-
cio das Escrituras. Começando por aquela frase
incrivelmente simples e poderosa, notória até
entre quem nunca leu a Bíblia: “E, no início,
Deus criou o céu e a terra...”
Em 589a.C., Jerusalém foi arrasada pelos ba-
bilônios, e grande parte da população foi apri-
sionada e levada para o atual Iraque. Décadas
depois, os hebreus foram libertados por Ciro,
senhor do Império Persa —um conquistador “es-
clarecido”, que tinha tolerância religiosa. Aos
poucos, os hebreus retornaram a Canaã - mas
com sua fé transformada. Agora os sacerdotes
judaicos rejeitavam o politeísmo e diziam que
Javé era o único e absoluto deus do Universo.
“O monoteísmo pode ter surgido pelo contato
com os persas — a religião deles, o masdeismo, b
eira versão da Bíblia,
mundo. em apenas um dia -
sso com a ajuda do homem.
Segundo uma lenda judaica,
a Torá (obra precursora
da Bíblia) teria sido escrita por
ele. Mas há controvérsias, pois
Ai ER pda
[PEER O DES aa
e foi sepultado pelo Senhor
foge Ali Da EP
AT Ed
como ele poderia ter relatado a
própria morte?
Viveu na corte do rei Davi,
no antigo reino de Israel,
eeraumaristocrata.
Ra
aristocrata: para o crítico
Harold Bloom, lavista
Ele Qu Ego
de AEE DR Ei
da Bíblia (Eva e Sara,
por exemplo) são muito mais
Ela o Dr Eta POR
DEZEMBRO | 2008 | SUPER | 6]
tas
malcriados zombou ”
da calvície do profeta
Eliseu. Pra quê! Na
hora, dois ursos
famintos saíram
de um bosque e
comeram as crianças
(2 Reis 2:24).
Cercado por
um exército
de filisteus, o herói
Sansão apanhou
a mandíbula
de um jumento morto.
Usando o 0550 como
arma, ele massacrou
milinimigos
(Juizes, 15:16).
O profeta Elias
convidou os
sacerdotes do deus
Baal para uma
competição
de orações. Era uma
armadilha: Elias
incitou o povo, que
linchou os pagãos
(1 Reis 18:40).
Os judeus haviam
perdido a fé
e começaram
aadorar
um bezerro de ouro.
Moisés ficou furioso
e mandou sacerdotes
levitas matar
3milinfiéis
(Êxodo 32:19).
Anação dos
amaleguitas disputava
oterritório de Canaã
com os judeus.
O Senhor ordena que
todos os amalequitas
sejam chacinados
(1 Samuel 15:18).
Quanto mais
piorava a situação
dos hebreus, mais
violento ficava o
Deus da Bíblia.
Be SUPER | DEZEMBRO | 2006
Um grupo «4
de meninos |
* pregava a existência de um deus bondoso, Ahu-
ra Mazda, em constante combate contra um
deus maligno, Arimã. Essa noção se reflete até
na idéia cristã de um combate entre Deus e o
Diabo”, afirma Zalewsky, da UFRGS.
Aversão final do Pentateuco surgiu por volta
de 389 a.C. Nessa época, um religioso chama-
do Esdras liderou um grupo de sacerdotes que
mudaram radicalmente o judaísmo — a começar
por suas escrituras. Eles editaram os livros an-
teriores e escreveram a maior parte dos livros
Deuteronômio, Números, Levítico etambém um
dos pontos altos da Bíblia: os 10 Mandamentos.
Além de afirmar o monoteísmo sem sombra
de dúvidas (“amarás a Deus acima de todas as
coisas” é o primeiro mandamento), a reforma
conduzida por Esdras impunha leis religiosas
bem rígidas, como a proibição do casamento
entre hebreus e não-hebreus. Algumas das leis
encontradas no Levítico se assemelham à éti-
ca moderna dos direitos humanos: “Se um es-
trangeiro vier morar convosco, não o maltrates.
Ama-o como se fosse um de vós”.
Outras passagens, no entanto, descrevem
um Senhor belicoso, vingativo e sanguinário,
que ordena o extermínio de cidades inteiras
— mulheres e crianças incluídas. “Se a religião
prega a compaixão, por que os textos sagrados
têm tanto ódio?”, pergunta a historiadora ame-
ricana Karen Armstrong, autora de um novo e
provocativo estudo sobre a Bíblia. Para os es-
pecialistas, a violência do Antigo Testamento é
fruto dos séculos de guerras com os assíriose os
babilônios. Os autores do livro sagrado foram
influenciados por essa atmosfera de ódio, e daí
surgiram as histórias em que Deus se mostra
bastante violento e até cruel. Os redatores da
Bíblia estavam extravasando sua angústia.
'/ incluir 7 livros que os judeus
les escolheram
os evangelhos de
Marcos, Mateus,
Lucas e João para
representar a bio-
grafia oficial de
Cristo, enquanto
as invenções dos
docetas, dos ebio-
nistas e de outras
seitas foram ex-
cluídas, e seus au-
tores declarados hereges. Os textos excluídos
do cânone ganharam o nome de “apócrifos”
— palavra que vem do grego apocrypha, “o que
foi ocultado”. A maioria dos apócrifos se per-
deu — afinal de contas, os escribas da Igreja
não estavam interessados em recopiá-los para
a posteridade. Mas, com o surgimento da ar-
queologia, no século 19, pedaços desses textos
foram encontrados nas areias do Oriente Mé-
dio. É o caso de um polêmico texto encontrado
em 1886 no Egito. Ele é assinado por uma certa
“Maria” que muitos acreditam ser a Madalena,
discípula de Jesus, presente em vários trechos
do Novo Testamento. O evangelho atribuído a
ela é bem feminista: Madalena é descrita como
Seus autores decidiram
não reconheciam.
mas também incluilivros
uma figura tão importante quanto Pedro e os
outros apóstolos. Nos primórdios do cristianis-
mo, as mulheres eram aceitas no tlero-e eram,
inclusive, consideradas capazes de fazer profe-
cias. Foi só no século 3 que o sacerdócio virou
monopólio masculino, o que explicaria a cen-
sura da apóstola e seu testemunho. Aliás, tudo
indica que Madalena não foi prostituta — idéia
que teria surgido por um erro na interpretação
do livro sagrado. No ano 591, o papa Gregório
fez um sermão dizendo que Madalena e outra
mulher, também citada nas Escrituras e essa
sim ex-pecadora, na verdade seriam a mesma
pessoa (em 1967, o Vaticano desfez o equívoco,
limpando a reputação de Maria).
Na evolução da Bíblia, foram aparecendo vá-
rios trechos machistas — e suspeitos. É o caso de
uma passagem atribuída ao apóstolo Paulo: “A
mulher aprenda (...) com toda a sujeição. Não
permito à mulher que ensine, nem que tenha
domínio sobre o homem (...) porque Adão foi
formado primeiro, e depois Eva”. É provável
que Paulo jamais tenha escrito essas palavras
— porque, na época em que ele viveu, o cris-
tianismo não pregava a submissão da mulher,
Acredita-se que essa parte tenha sido adiciona-
da por algum escriba por volta do século 2.
Eat) Ro)
Cá
f * Aotraduzir a Bíblia para
7 o alemão, Martinho Lutero
excluiu os livros
São os chamados
Deuterocanônicos: Tobias,
Judite, Sabedoria,
Eclesiástico, Barugue,
Macabeus 1 e 2 (mais
trechos dos livros Daniel
e Ester). A Biblia católica
bate natecla
do monoteísmo: a palavra
hebraica Elohim, usada
na Tanach para designar
a divindade, é o plural de El,
um deus cananeu. Mas foi
traduzida no singular
evirou “Senhor”.
M
considerados apócrifos por
católicos e protestantes:
Esdras 1, Macabeus 3e 4
e 0 Salmo 151. Atradução
é mais exata (nesta Bíblia,
Moisés nunca teve chifres,
umerro de tradução
introduzido pela Bíblia
latina), & os escritos não
são levados ao pé da letra:
para os ortodoxos, o que
conta são as interpretações
do texto bíblico, feitas
porteólogos
e
À
ao longo dos séculos. M
Deuterocanônicos e mudou
algumas coisas.
Um exemplo é a palavra
grega metanoia, que na
Bíblia católica significa
“fazer penitência” -
uma referência à confissão
dos pecados, um dos
sacramentos católicos. Já
Lutero traduziu metanoia
como “reviravolta”. Para
ele, confessar os pecados
era inútil. O importante era
transformar a vida pela fé. h
+
Se rEfa ga ET
favoritos de Jesus - E,
paga a To
A ELE ES Caen
séculos, nunca foi prostituta.
Pelo contrário: tinha
oia a Eu
a suposta autora do Apócrifo
de Maria, um livro em que
fala sobre sua relação pessoal
com Jesus e divulga
os ensinamentos dele.
Escreveu 04º evangelho do
Novo Testamento (João)
APR A
o último da Bíblia. Para ele,
Jesus não é apenas um messias
- Éum ser sobrenatural,
a própria encarnação
de Deus. Essa interpretação
mística marca a ruptura
definitiva entre
RELA EA
DEZEMBRO | 2008 | SUPER | B5
Mi
la
- milagres divinos foi
o primeiro: a Criação
do mundo, pelo poder da
palavra. “E Deus disse: que
haja luz. E houve luz”
(Gênesis 1:3).
Para dar-lhe uma amostra de
seus poderes, o Senhor leva
Ezequiel a um campo cheio
de esqueletos - e os traz
de volta à vida. “O vento do
Senhor soprou neles,
eviveram”
(Ezequiel, 37; 1-28).
Graças à benção divina, o herói
Sansão tinha a força de muitos
homens. Certa vez, foi atacado
porum leão. “O espirito
do Senhor deu-lhe poder, e
Sansão destroçou
afera com as próprias mãos,
como se matasse um cabrito”
(Juízes 14:65).
Josué liderava uma batalha
contra os amalequitas,
mas 0 5ol estava se pondo.
Como não queria lutar no
escuro, o hebreu pediu ajuda
divina -e 05ol ficou
no céu (Josué 10:13).
Para fugir do Egito,
os hebreus precisavam
atravessar o mar Vermelho.
Enão tinham navios. Moisés
ergueu seu bastão e as águas
do mar se dividiram. Após
a passagem dos hebreus, 0
profeta deixou que as ondas se
fechassem sobre os exércitos
do faraó (Êxodo 14;21-30).
Ao esculpir
a imagem de Moisés,
Michelangelo
colocou dois chifres
nele - por causa
de um erro na
tradução da Bíblia.
BE | SUPER | DEZEMBRO | 2008
O maior g
de todos os A
"
ad
Após a conversão do imperador Constantino,
o eixo do cristianismo se deslocou do Oriente
Médio para Roma. Só que, para completar a
romanização da fé, faltava um passo: traduzir
a palavra de Deus para o latim. A missão cou-
be ao teólogo Eusebius Hyeronimus, que mais
tarde viria a ser canonizado com o nome de são
Jerônimo. Sob ordens do papa Damaso, ele via-
jou a Jerusalém em 406 para aprender hebraico
e traduzir o Antigo e o Novo Testamento. Não foi
nada fácil: o trabalho durou 17 anos.
Daí saiu a Vulgata, a Bíblia latina, que até
hoje é o texto oficial da Igreja Católica. Essa é a
Bíblia que todo mundo conhece. “A Vulgata foi o
alicerce da Igreja no Ocidente”, explica o padre
Luigi. Ela é tão influente, mas tão influente, que
até seus erros de tradução se tornaram clássi-
cos. Ao traduzir uma passagem do Êxodo que
descreve o semblante do profeta Moisés, são
Jerônimo escreveu em latim: cornuta esse facies
sua, ou seja, “sua face tinha chifres”. Esse deta-
lhe esquisito foi levado a sério por artistas como
Michelangelo — sua famosa escultura represen-
tando Moisés, hoje exposta no Vaticano, está
ornada com dois belos corninhos. Tudo porque
Jerônimo tropeçou na palavra hebraica karan,
que pode significar tanto “chifre” quanto “raio
de luz”. A tradução correta está na Septuaginta:
o profeta tinha o rosto iluminado, e não chifru-
do. Apesar de erros como esse, a Vulgata reinou
absoluta ao longo da Idade Média — durante
séculos, não houve outras traduções.
O único jeito de disseminar o livro sagrado
era copiá-lo à mão, tarefa realizada pelos mon-
ges copistas. Eles raramente saíam dos mostei-
ros e passavam a vida copiando e catalogando
manuscritos antigos. Só que, às vezes, também
se metiam a fazer o papel de autores.
pós a queda do
Império Romano,
grande parte da
literatura da An-
tiguidade grega e
romana se perdeu
— foi graças ao tra-
balho dos monges
“copistas que livros
como a Ilíada e a
Odisséia chega-
E sd ram até nós. Mas
alguns deles eram meio malandros: costuma-
vam interpolar textos nas Escrituras Sagradas
para agradar a reis e imperadores. No século
15, por exemplo, monges espanhóis trocaram
o termo “babilônios” por “infiéis” no texto do
Antigo Testamento — um truque para atacar os
muçulmanos, que disputavam com os espa-
nhóis a posse da península Ibérica.
Escrituras em série
Tudo isso mudou após a invenção da impren-
sa, em 1455. Agora ninguém mais dependia
dos copistas para multiplicar os exemplares da
Bíblia. Por isso, o grande foco de mudanças no
texto sagrado passou a ser outro: as traduções.
Em 1522, o pastor Martinho Lutero usou a im-
prensa para divulgar em massa sua tradução
da Bíblia, que tinha feito direto do hebraico e
do grego para o alemão. Era a primeira vez
que o texto sagrado era vertido numa língua
moderna — e a nova versão trouxe várias mu-
danças, que provocavam a Igreja (veja quadro
na pág. 65). Logo depois um britânico, William
Tyndale, ousou traduzir a Bíblia para o inglês.
No Novo Testamento, ele traduziu a palavra ec-
clesia por “congregação”, em vez de “igreja”,
o termo preferido pelas traduções católicas. A
mudança nessa palavrinha era um desafio ao
poder dos papas: como era protestante, Tyn-
dale tinha suas diferenças com a Igreja. Resul-
tado? Ele foi queimado como herege em 1536.
Mas até hoje seu trabalho é referência para as
versões inglesas do livro sagrado.
A Bíblia chegou ao nosso idioma em 1753
— quando foi publicada sua primeira tradu-
ção completa para o português, feita pelo
protestante João Ferreira de Almeida. Hoje,
a tradução considerada oficial é a feita pela
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) e lançada em 2001. Ela é considera-
da mais simples e coloquial que as traduções
anteriores. De lá para cá, a Bíblia ganhou o
mundo e as línguas. Já foi vertida para mais
de 300 idiomas e continua um dos livros mais
influentes do mundo: todos os anos, são publi-
cadas 11 milhões de cópias do texto integral,
e 14 milhões só do Novo Testamento.
Depois de tantos séculos de versões e contra-
versões, ainda não há consenso sobre a forma
certa de traduzi-la. Alguns buscam traduções
mais próximas do sentido e da época original
— como as passagens traduzidas do hebraico
pelo lingiista David Rosenberg na obra O Livro
de J, de 1990. Outros acham que a Bíblia deve
ser modernizada para atrair leitores. O lingúis-
ta Eugene Nida, que verteu a Bíblia na déca-
da de 1960, chegou ao extremo de traduzir a
palavra “sestércios”, a antiga moeda romana,
por “dólares”. Em 2008, duas versões igual-
mente ousadas estão agitando as Escrituras: a
Green Bible (“Bíblia Verde”, ainda sem versão
em português), que destaca 1 000 passagens
relacionadas à ecologia — como o momento em
que Jó fala sobre os animais -, e a Bible Ilu-
minated (“Bíblia Iluminada”, em inglês), com
design ultramoderno e fotos de celebridades
como Nelson Mandela e Angelina Jolie.
A Bíblia se transforma, mas uma coisa não
muda: cada pessoa, ou grupo de pessoas, a in-
terpreta de uma maneira diferente-às vezes,
com propósitos equivocados. Em pleno século
21, pastores fundamentalistas tentam proibir
o ensino da Teoria da Evolução nas escolas
dos EUA, sendo que a própria Igreja aceita as
teorias de Darwin desde a década de 1950.
Líderes como o pastor Jerry Falwell defendem
oretorno da escravidão e o apedrejamento de
adúlteros, e no Oriente Médio rabinos extre-
mistas usam trechos da Torá para justificar a
ocupação de terras árabes. Por quê? Porque
está na Bíblia, dizem os radicais. Não é nada
disso. Hoje, os principais estudiosos afirmam
que a Bíblia não deve ser lida como um ma-
nual de regras literais — e sim como o relato
da jornada, tortuosa e cheia de percalços, do
ser humano em busca de Deus. Porque esse é,
afinal, o verdadeiro sentido dessa árvore de
histórias regada há 3 milanos por centenas de
mãos, cabeças e corações humanos: a crença
num sentido transcendente da existência. E
PARA SABER MAIS
A Biblia: Uma Biografia
Karen Armstrong, Jorge Zahar Editora, 2007.
Who Wrote the Bible?
Richard Elliott Friedman, Harperône, 1997
DÉ SUA OPINIÃO
La LR TER DD E RE CDE Ta A
Ep fed a] RT RAD IR
Ea cio Te (o
da atual Hungria, este padre
TRE ER IT e]
uma missão importantissima:
ur tee DATE Doe geo]
para latim. Cometeu alguns
erros, como dizer que o
profeta Moisés tinha chifres
(uma confusão com a palavra
lp (Dee rel (api a
significa “raio de luz”).
Possuir trechos da Bíblia em
RELER u ERES
o latim era crime. O professor
LEE EA A AR
traduziu tudo para o inglês,
e acabouna fogueira. Mas seu
Glee ea AS
RE RR E RETRO
“Biblia do Rei James”, até hoje
atradução mais lida nos países
de lingua inglesa.
E
E SEREI Er
DEZEMBRO | 2008 | SUPER | B7
[SAÚDE]
eute
conheço?
TEXTO TARSO ARAÚJO
DESIGN GABRIEL GIANORDOL!
Já pensou como seria viver sem reconhecer
o rosto de ninguém, e não identificar nem
mesmo a sua própria cara? Seja bem-vindo
dO I
e é]
inas Gerais, férias de
verão. À produtora
de moda Mônica, de
24 anos, está com um
amigonumalanchone-
te quando chega outro jovem. Ela o cum-
primenta polidamente. Meio espantado,
o amigo pergunta: “Mônica, você não se
lembra do Marcelo?” Ela não consegue
reconhecer o tal Marcelo, que dá um sor-
risinho constrangido. Era seu ex-namo-
rado. São Paulo, Hospital da Unifesp. O
médico Rodrigo Schultz, de 25 anos, está
trabalhando no setor de neurologia. Até
que chega uma paciente se queixando de
um estranho problema. Schultz mostra
uma foto à paciente e pergunta: “Quem
é esta mulher?” A paciente não sabe res-
ponder, mas a pessoa em questão era ela
mesma. Nos dois casos, o diagnóstico foi
o mesmo: prosopagnosia, uma estranha
doença que torna o cérebro incapaz de
identificar rostos.
A prosopagnosia foi descoberta no
front de batalha. O ano é 1944, e estamos
na 2º Guerra Mundial. Durante um bom-
bardeio russo, um soldado nazista se fe-
re — alguns estilhaços de bomba atingem
sua cabeça, causando lesões cerebrais.
Ele é tratado pelo neurologista alemão
Joachim Bodamer, que faz uma opera-
ção para remover os estilhaços e depois
aplica um teste para avaliar o estado do
paciente. O médico pede que a esposa do
soldado vista um uniforme de enfermeira
e fique entre enfermeiras de verdade. Aí
pergunta ao doente: “Percebe algo de di-
ferente nessas mulheres?” O soldado diz
que não. Ele simplesmente não reconhece
mais a esposa. Bodamer faz mais testes e
constata o que aconteceu: o paciente está
normal, só que não consegue mais identi-
Fatos Getty Images
undo misterioso da prosopagnosia
a das doenças mais bizarras que existem.
ficar rostos. Nenhum deles. Para batizar
esse estranhiíssimo sintoma, o médico cria
o termo prosopagnosia: uma junção das
palavras gregas prosopo (“rosto”) e agno-
sia (“sem conhecimento”).
O que Bodamer não sabia, e só recen-
temente a ciência descobriu, é que a pro-
sopagnosia também pode ser genética e
afetar pessoas comuns - que não leva-
ram nenhuma pancada na-cabeça. E ela
é muito mais frequente do que se pensa.
Em 2006, num estudo com 689 voluntá-
rios selecionados de forma aleatória, o
geneticista alemão Thomas Griiter diag-
nosticou nada menos que 17 casos de pro-
sopagnosia — o que dá 2,5% da amostra.
“Existem cerca de 2 milhões de pessoas
com prosopagnosia na Alemanha, E, pro-
vavelmente, milhões delas no Brasil,
afirma Griúter (para ser mais preciso, até
4,7 milhões). Parece um exagero para vo-
cê? O neurocientista Brad Duchaine, da
Universidade de Londres, chegou a um
resultado parecido: de 1 600 indivíduos
testados, cerca de 2% tinham alguma di-
ficuldade em reconhecer rostos.
Mas, se a doença é tão comum, por que
as ruas não estão cheias de prosopagnó-
sicos? É que, na maior parte das vezes,
as pessoas nem se dão conta de que têm
o problema. “A pessoa compensa isso,
encontra outras formas de reconhecer
rostos, e sua dificuldade não aparece”,
afirma Duchaine. Pelo que já se sabe, a
prosopagnosia afeta todos os tipos de
gente. Você, inclusive, pode ter e não sa-
ber (veja no final desta reportagem como
fazer o teste). Não é motivo para se jogar
pela janela. Ela só atrapalha nos casos
mais fortes, quando realmente destrói a
capacidade de identificar rostos-e muda
totalmente a vida das pessoas. >
DEZEMBRO | 2008 | SUPER 7]
Se você perguntar a uma pessoa nor-
mal como ela reconhece um rosto, prova-
velmente vai ouvir algo simples, do tipo:
“olhando para ele, oras”. Se for alguém
com prosopagnosia, no entanto, a res-
posta será bem mais elaborada. “Eu vejo
como a pessoa se mexe, reparo na voz,
no cabelo, no sapato, procuro caracte-
rísticas marcantes”, diz a produtora de
moda Mônica — aquela que, no começo
desta reportagem, não identificou o ex-
namorado. Ela jura que reconhece o atual
namorado, apesar de o relacionamento
serrecente. “Ele tem um cabelo encaraco-
lado, e isso ajuda bastante.” Cabelo, aliás,
é uma referência frágil. “Quando minhas
clientes cortam ou mudam o penteado, é
um problema. Às vezes coloco a culpa na
miopia, para não dar vexame”
Mesmo com essas estratégias, ou jus-
tamente por causa delas, os prosopag-
nósicos costumam levar mais tempo
que o normal para reconhecer alguém.
“Quando encontro alguém na rua, levo
alguns segundos montando um quebra-
cabeça com diferentes pistas até desco-
brir quem é a pessoa”, diz Mônica. Amãe
dela, Maria, também tem prosopagnosia
e enfrenta ainda mais dificuldade — chega
alevar vários minutos para reconhecer as
pessoas. Como todos os prosopagnósicos,
Mônica e Maria são consideradas esnobes
pelas outras pessoas. E, por causa das difi-
culdades que enfrentam, desenvolveram
uma personalidade tímida e reservada.
“Nunca consigo reconhecer uma pessoa
na segunda vez em que a vejo. Passei a
caminhar na rua de cabeça baixa, para ter
a desculpa de que não vi as pessoas caso
elas me reconheçam e eu não.”
Os prosopagnósicos não têm nenhum
tipo de problema de visão e, da mesma
forma que observam e guardam outros
detalhes das pessoas, são capazes de dis-
tinguir claramente se alguém está feliz ou
triste. Mas o que eles vêem, então, quan-
do olham para uma face? “Eu não consi-
go 'montar' o rosto inteiro. Se eu fechar
os olhos, só lembro das partes, nunca do
conjunto. E isso acontece inclusive com
o meu próprio rosto: não consigo imagi-
ná-lo mentalmente”, diz a estudante de
arquitetura Patrícia, 30 anos.
Se isso já parece um pouco assustador,
veja a situação dos americanos Bill Chois-
siere Mordechai Housman, que estão en-
tre os piores casos de prosopagnosia já
TE SUPER | DEZEMBRO | 2008
Zoe virou
modelo e
capa de revista.
só que ela não
se reconhecia
nas fotos.
Você sabia que os carros velhos batem menos
e ruas sem sinalização podem ser mais seguras?
Que mais de 70% dos motoristas aceleram para
atropelar os pedestres, e as mulheres causam mais
congestionamentos que os homens? Conheça as
descobertas mais incríveis da ciência do trânsito.
TEXTO BRUNO GARATTONI DESIGN BRUNA LORA ILUSTRAÇÃO ESTÚDIO MOPA
slim
E
os anos 90, a prefeitura de Londres decidiu reformar a rua
Kensington, uma das mais movimentadas da cidade. Os lo-
jistas estavam preocupados, com medo de perder clientes
para os shopping centers, e queriam deixar a via mais bonita.
Para acabar com a poluição visual, eles resolveram eliminar
quase todas as faixas de pedestres, canteiros e grades de proteção que se-
paravam as pessoas dos carros. O trânsito virou uma carnificina, certo?
Muito pelo contrário: o número de atropelamentos caiu 64%. Um estudo
Dem sec Nisto png e feito na Europa descobriu que as placas com limites de velocidade fazem
os motoristas correr mais -— e, por isso, o ideal seria se livrar delas em ruas
residenciais. E, após analisar o trânsito de 11 países, um grupo de espe-
cialistas chegou a uma conclusão bizarra: reduzindo o número de ruas, os
congestionamentos diminuem. Se essas coisas lhe parecem incríveis (e são
mesmo), é porque você não conhece uma das ciências mais surpreendentes
que existem: a psicologia do trânsito, cujos mistérios e revelações vão mudar
a sua maneira de rodar — ou andar — pelas ruas da cidade.
— 2 e veis mem Se SO So SD O O e e ST
BRO | 2008 | SUPER 175
+ Ê ih
RR
ROS
Você
UPER : DEZEMBRO | 20DB
2 Você já teve a sensação, como pedestre
ou motorista, de que as pessoas se trans-
formam quando estão no trânsito — e pas-
sam a ter atitudes agressivas, anti-sociais,
que jamais adotariam fora do asfalto? Se-
gundo comprovam várias pesquisas, isso
é mais do que uma simples impressão. Por
exemplo: quando estão se aproximando
de uma pessoa que atravessa a rua, 73%
dos motoristas mantêm a velocidade ou
aceleram. E, quando existe outro carro
esperando, demoram em média 11 segun-
dos a mais para desocupar uma vaga de
estacionamento. Mas por que tanta hos-
tilidade? Por que o trânsito muda as pes-
soas? No fim do século 19 o engenheiro
alemão Karl Benz, fundador da Mercedes-
Benz, fez uma profecia curiosa: poucos
carros seriam vendidos no mundo, por-
que a maioria das pessoas não tinha ca-
pacidade de guiar um automóvel.
Benz errou no palpite (hoje existem
mais de 800 milhões de carros), mas sua
idéia tinha fundamento. Como estão
comprovando os estudos mais recentes
sobre o comportamento dos motoristas,
o trânsito realmente pode sobrecarregar o
cérebro. Quando você está dirigindoa 45
km/h, uma velocidade normal para áreas
urbanas, tem de processar cerca de 1 300
informações visuais -obstáculos, carros,
placas, faixas de trânsito, pedestres, cur-
vas etc. -por minuto. Se cada uma dessas
informações fosse uma simples letrinha,
o esforço mental equivaleria a ler este pa-
rágrafo inteiro em apenas um minuto - e
fazer tudo isso dirigindo o carro.
Outra característica ajuda a explicar a
mudança de comportamento das pessoas
atrás do volante. Nós evoluimos, ao longo
de milhares de anos, com o instinto de
formar alianças. Quando o homem das
cavernas conhecia alguém, precisava
avaliar rapidamente as intenções daque-
le indivíduo e, se possível, formar uma
aliança com ele. Foi isso o que criou a
vida em sociedade. No trânsito, esse tipo
| nenem |
Lugares onde
acoritecer
de julgamento não tem tanta importância
— pouco importa se alguém lhe der pas-
sagem ou uma fechada, pois você dificil-
mente voltará a ver aquela pessoa. Mas
o seu corpo pensa diferente. “O cérebro
processa essas informações [a gentileza
ou a fechada) como se fossem o começo
de um relacionamento de longo prazo”,
explica o biólogo evolucionista Jack Katz,
da Universidade da Califórnia. É como
se você estivesse conseguindo um novo
membro para a sua tribo, ou fazendo um
inimigo mortal, a cada quilômetro. É por
isso que as pessoas têm reações exagera-
das e agressivas. Outro exemplo: quando
levam uma buzinada, 75% dos motoristas
têm algum tipo de reação verbal — mes-
mo sabendo que o autor da buzinada não
irá ouvi-la. O cérebro não entende que os
outros motoristas estão longe e não con-
seguem ouvir. Ele simplesmente fala.
Parece, mas não é
As ruas estão cheias de coisas que podem
enganar a mente. Você já reparou que a
faixa de trânsito ao lado da sua sempre
parece andar mais rápido? Basta você en-
trar numa faixa para que ela fique con-
gestionada? Tem explicação. Cientistas
ingleses descobriram que os motoristas
passam 60% do tempo olhando para a
frente, 30% olhando para as faixas do lado
(pois elas ajudam a manter a direção do
carro), e apenas 6% olhando pelo espelho
retrovisor. Isso significa que, na prática,
o motorista dá pouquissima atenção aos
carros que ultrapassou. Agora veja só o
que acontece no cérebro. Ninguém sabe
exatamente por quê, mas vários estudos
já demonstraram que a mente humana é
mais sensível a perdas (como serultrapas-
sado) do que a ganhos (como ultrapassar
alguém). Somados, esses dois fatores — o
cérebro não gosta de perder, mas presta
pouca atenção ao que ganhou — criam a
sensação de que a faixa ao lado sempre
anda mais. Seja como for, relaxe. Segun-
do uma experiência feita no Canadá, ficar
“costurando” geralmente traz pouco be-
nefício: em média, 5% (num trajeto que
normalmente leva uma hora, isso signifi-
ca economizar miseros 3 minutos).
Também não adianta muito querer
dar uma de esperto na hora de parar O
carro no estacionamento. “Em média, as
pessoas que ficam procurando vaga não
levam vantagem em relação aquelas que
estacionam no primeiro lugar que encon-
tram”, diz o psicólogo Andrew Velkey, que
estudou o comportamento dos motoristas
no estacionamento de um shopping cen-
ter de Mississippi, nos EUA. Ele descobriu
diferenças entre os sexos: enquanto os ho-
mens deixam o carro em qualquer lugar,
sem pensar muito, as mulheres são mais
cismadas - e, por causa disso, acabam
perdendo mais tempo.
Por falar nisso, uma nova teoria pro-
mete apimentar a guerra dos sexos no
volante: as mulheres causam mais con-
gestionamentos do que os homens. Essa
idéia se baseia numa conclusão surpre-
endente — de que, nas grandes cidades,
o principal uso do automóvel já não é
mais ir e voltar do trabalho. A maioria
dos carros particulares está na rua por
outro motivo. Fazer compras, levar crian-
ças à escola, passar na lavanderia ou no
dentista, ir a um restaurante etc. Esses
trajetos, que os especialistas chamam
de “viagens de serviço”, correspondem
a 84% de todos os quilômetros rodados
nos EUA. E as mulheres, veja só, fazem
duas vezes mais esse tipo de viagem do
que os homens. “Para piorar, geralmente
rodam em ruas pequenas, que são pouco
equipadas para lidar com trânsito pesa-
do”, escreve o jornalista americano Tom
Vanderbilt no livro Traffic, que analisa
centenas de estudos sobre trânsito. An-
tes que as feministas protestem, ele faz
uma ressalva: as mulheres não devem
ser criticadas, pois também são vítimas
dos congestionamentos que provocam.
E, para compensar, elas se envolvem
em menos acidentes do que os homens.
Isso porque, como você já deve ter ima-
ginado, os acidentes têm tudo a ver com
psicologia — as mulheres batem menos
justamente porque são mais prudentes.
O que pouca gente sabe é que, indepen-
dentemente do sexo do motorista, as
iniciativas para melhorar a segurança
no trânsito podem ter efeito oposto ao
desejado — e deixar tudo mais perigoso.
Um estudo feito em Munique, na Ale-
manha, mostrou que os carros com siste-
ma ABS (que impede o travamento das
rodas em freadas bruscas) batiam mais
do que os demais veículos. E, ao contrário
do que os engenheiros de tráfego sem-
pre acreditaram, uma pesquisa nos EUA
mostrou que faixas mais largas podem au-
mentar o número de acidentes nas ruas.
Não é que essas coisas, em si, sejam ruins.
Mas elas deixam os motoristas com exces-
so de confiança, dispostos a se arriscar
mais, o que pode ter um efeito perverso
— é estatisticamente comprovado que os
carros mais novos, mesmo sendo mais se-
guros, se envolvem em mais acidentes.
E essa distorção psicológica também afe-
ta quem está a pé. Há estudos mostran-
do que, quando atravessam a rua fora
da faixa destinada a eles, os pedestres
ficam mais rápidos e cuidadosos. “Não
conhecer as leis de trânsito pode ser bom
para o pedestre”, diz Vanderbilt, Ele está
brincando, claro, mas o conceito por trás
dessa frase é sério e aceito por muitos es-
pecialistas: a sensação de perigo pode ser
benéfica para o trânsito. Quer ver?
Motoristas levemente bêbados podem
causar menos acidentes. É isso mesmo:
um estudo feito nos EUA apontou que
motoristas com até 0,04% de álcool no
sangue (o equivalente a uma lata de cer-
veja) batiam menos que os sóbrios. Co-
mo eles sabiam que estavam meio “altos”,
ficavam com medo de fazer besteira no
trânsito, e por isso guiavam com mais cui- p
| chau, querida”, foi o que Em-
Í l met Till disse para Carolyn
Bryant num supermercado
na cidadezinha de Money,
no Mississippi. Emmet era
um menino negro de 14 anos, Carolyn
uma mulher branca. Seis dias mais tarde,
o corpo do garoto foi encontrado boian-
do num rio. Ele havia sido torturado e
morto com um tiro na cara. O marido e
o irmão de Carolyn foram vistos come-
tendo o crime, mas inocentados por um
júri de homens brancos. Parece história
de filme, mas em 1955 o sul dos EUA era
assim: negros não deveriam dirigir a pala-
vra a brancos e podiam ser linchados sem
Foto AFP divulgação
punição por causa disso. Ser racista era
um direito protegido por lei — e foi assim
até 1964. Num país que permitia isso há
44 anos, como Barack Obama pôde ter
sido eleito para a Presidência em 2008?
Que tipo de mudança radical aconteceu
nos EUA em apenas 4 décadas? É essa a
fantástica história dos negros americanos
que você vai conhecer agora.
segregação, racismo
elinchamento; assim
era O dia-a-dia dos negros
O primeiro passo para um negro ter
chegado à Casa Branca este ano foi da-
do pelo movimento dos direitos civis lá
Até a década de 1950, negros
não podiam dirigir a palavra
a brancos. A solução? Protestos
pacíficos, como ficar sentado
em restaurantes segregados
até ser atendido.
nosERENEI Até essa época, as relações
entre as raças eram “separadas-mas-
iguais”. Negros não eram proibidos de
nada, mas levavam sua vida em ambien-
tes distintos. Assim, havia restaurantes
especiais, hospitais especiais e escolas
especiais para negros — que de especiais
não tinham nada. No estado da Carolina
do Sul, por exemplo, o governo gastava
US$ 179 por ano para cada aluno branco e
apenas USS 43 para cada negro. Na maio-
ria dos estados do sul, um negro só podia
se sentar num ônibus se todos os brancos
estivessem sentados. O apelido dado a es-
sas leis separatistas era ERES, um
personagem estereotipado de um negro
que falava alto, brincava demais, traba-
lhava de menos e não cheirava bem.
Foram os protestos de pessoas comuns
que começaram a botar o assunto na ro-
da: como RESEEENES, uma senhora que
se recusou a dar lugar a um branco em um
ônibus, e Charles Houston, um advogado
que resolveu comprar a briga contra as
leis segregacionistas. Houston, aliás, foi
o responsável pela primeira vitória dos
negros rumo à igualdade. Em FERE,
ele conseguiu provar na Suprema Corte
americana que escolas separadas faziam
mal ao desenvolvimento e à auto-estima
das crianças. Para isso, citou um estudo
que foi feito com 16 estudantes negros
dos estados do sul, A cada uma das crian-
ças foram mostradas duas bonecas: uma
branca e uma negra. Dez das crianças
disseram que gostavam mais da boneca
branca e 11 responderam que anegraera
feia. Quando perguntados com qual das
duas eles se pareciam, 7 alunos responde-
ram a branca, e os outros não conseguiam
admitir que eram parecidos com a boneca
rejeitada. “Segregação faz um grupo de
pessoas acreditar que é inferior”, disse
alguns anos depois o psicólogo que con-
duziu o estudo, Kenneth Clark.
E não foi só nas cortes que as pessoas
acharam meios para lutar contra a sepa-
ração. À famosa campanha pelos direitos
civis, liderada por AREIAS
e seu sonho de igualdade, foi na verdade
uma série de pequenos atos de protesto es-
palhados pelo sul do país. Aquela senhora
que se recusou a se levantar num ônibus
no Alabama levou ao boicote do trans-
porte público da cidade inteira emEER:
durante 13 meses, nenhum negro andou
de ônibus por lá. Em Nashville, pequenos »
DEZEMBRO | 2008 1 SUPER | 8]
à grupos de estudantes decidiram que não
seriam mais maltratados em restaurantes
só para brancos. Durante meses, eles iam
às lanchonetes, mas não eram atendidos.
Em vez de irem embora, passavam horas
sentados no lugar e voltavam no dia se-
guinte para continuar com os protestos.
Eram os chamados sit-ins. Muitas vezes,
estudantes brancos jogavam comida ou
cuspiam neles, mas os negros não retruca-
vam. Em abril de EE, eles finalmente
foram atendidos.
Acerto de contas.
Separar brancos e negros
virou caso de prisão.
Com a cobertura da imprensa, os protes-
tos foram motivo de mais protestos, até
chegarem aos ouvidos do candidato à Pre-
O protesto dos
Panteras Negras
chegou ao pódio
olimpico. E o de
Aretha Franklin
e James Brown, |
à parada
de sucessos.
sidência pelo partido democrata daquele
ano: El NE. Até então, elenão
estava muito sensibilizado pela questão.
Em seu livro Eyes on the Prize (“De Olho
no Prêmio”), o escritor americano Juan
Williams cita as palavras de Kennedy so-
bre o assunto: “Eu quase não conheci ne-
gros na minha vida. Eu nunca pensei
muito nesse assunto, na verdade. Preciso
aprender sobre isso”. Conhecer os direitos
civis foi um bom jeito de angariar votos.
Ainda antes das eleições, Kennedy se
aproximou de Martin Luther King Jr. O
democrata começou uma campanha para
registrar eleitores negros do sul e prome-
teu que resolveria a segregação assim que
chegasse à Casa Branca, com “apenas uma
canetada”. Em Ellit], Kennedy recebeu
68% dos votos dos negros.
Martin Luther King Jr.
gritou e esperneou.
E John F. Kennedy
foi o 1º presidente
americano que
resolveu prestar
"= atenção nos negros.
A canetada milagrosa acabou sendo
apenas uma promessa de campanha e
nunca aconteceu, mas o presidente co-
meçou a se engajar numa questão polê-
mica: a das cotas. “Cem anos se passaram
desde que o presidente Lincoln libertou
os escravos, mas seus herdeiros não são
realmente livres. Eles não se livraram da
opressão econômica e social. Chegou a
hora de esta nação cumprir a promessa de
Lincoln”, discursou Kennedy em EERE
(Aliás, Kennedy era um excelente orador,
tinha idéias inovadoras e era jovem — e
não é à toa que Obama é constantemente
comparado a ele.) O fato é que os negros
viviam num círculo vicioso: tinham ape-
nas o equivalente a dois terços do tempo
de estudo dos brancos. Por consegiiên-
cia, não conseguiam bons empregos e
viviam com um salário muito menor: em
1960, uma família branca recebia US$
5 800 ao ano, enquanto que uma família
negra ganhava US$ 3 200. Havia empre-
sas como a Lockheed Aircraft Corpora-
tion, uma fábrica de aviões com 10 500
funcionários, dos quais apenas 450 eram
negros. O presidente queria instituir uma
política que compensasse os séculos de
marginalização dos negros e criou leis que
os privilegiavam. E mais importante: Ken-
nedy lutou para levar ao Congresso uma
lei que proibia a segregação e o racismo.
“Chegou a hora de escalarmos o abismo
escuro e desolador da segregação para
chegarmos à trilha ensolarada da justiça
racial”, dizia Martin Luther King em 1963.
Mal sabia ele que os passos seguintes nes-
sa trilha seriam dados à força.
Chega de ser o coitadinho.
Sayit Loud, I'm Black
and i'm Prouo.
Kennedy foi assassinado em novembro
de 1963. Em Eli, chegaria a hora de
Luther King. Embora todas as leis sepa-
ratistas tivessem sido abolidas e as cotas
agora agissem a favor dos negros, a igual-
dade estava longe de ser real. Na verda-
de, um pouco antes da década de FEM,
uma boa parcela de negros continuava
bem insatisfeita. Foi assim que surgiram
os grupos mais radicais. O mais famoso
deles, os EEESERENE foi fundado
para vigiar os abusos cometidos por po-
liciais contra negros. Só que seu conceito
de vigilância era acompanhar as patru-
lhas com carros próprios — e carregan-
do armas. Eles costumavam citar o líder
negro REIRSNA, quando diziam que a
igualdade entre raças seria alcançada por
“qualquer meio necessário”. Essa mistura
eratão explosiva que o próprio fundador
dos Panteras, Huey Newton, acabou pre-
so por matar um policial. O ódio racial
não era mais contra negros, mas contra
brancos. Não é à toa que no começo deste
ano os assessores de Barack Obama tre-
meram quando o ex-pastor do candida-
to, Jeremiah Wright, foi flagrado dando
declarações racistas, do tipo que a aids
seria uma invenção do governo dos EUA
para eliminar os negros.
Mas, se o radicalismo racial é visto com
maus olhos até hoje, a maneira como os
negros começaram a se comportar nas
décadas seguintes foi essencial para que
eles abandonassem o papel de vítimas e
ds protagonistas. No rádio, ;
] estourava coma música Respect,
James n4 cantava Say it Loud, I'm
Black and I'm Proud (“Fale Alto, Eu Sou
Negro e Tenho Orgulho"). No jeito de se
vestir e de se portar, o black is beautiful
se espalhava pelas ruas. Em EEJHZ
negro se candidatou à Presidência — quer
dizer, uma negra. Shirley Chisholm con-
seguiu ganhar 28 delegados de estado
para sua campanha. Os tempos estavam
mudando. “Qualquer reforma prática co-
meça com uma conscientização, na qual
os oprimidos passam a reconhecer seu va-
lor”, escreveu James Marsh, filósofo da
Fordham University de Nova York.
Das páginas policiais para
o horário nobre. Dos EUA
para o mundo inteiro.
Essa conscientização levou a limites
nunca antes imaginados. O movimento
hip-hop começou como um processo de
identificação de negros enfurnados nas
periferias das grandes cidades, mas aca-
bou conquistando os brancos. Quando
o ERRAR lançou o Gp dis-
co com músicas faladas em , não
imaginaria que 15 anos mais is um
branco magrelo, como Eminem, tomaria
o mundo dentro do gênero black music.
Para Leon Wynter, escritor que viveu no
Bronx (bairro predominantemente negro
de Nova York) nos últimos 40 anos, um
momento decisivo da integração racial
foi quando, graças ao hip-hop, já não se
conseguia mais identificar se um adoles-
Foto AFP Luizinho Coruja, divulgação
cente era branco ou negro pelas roupas.
Todos se vestiam do mesmo jeito: como
um rapper. Aliás, Obama foi o candidato
favorito dos rappers e artistas de um mo-
do geral — o cantor Common até citou o
político numa de suas músicas: “My raps
ignite the people like Obama” (“Meu rap
incendeia as pessoas como Obama”).
Para onde quer que o americano olhas-
se, lá estava um negro debaixo dos ho-
lofotes. Ou dentro da telinha. Quando
o seriado Ff MA entrou no ar
16 , ninguém entendeu ao certo
por que ele fazia tanto sucesso. A grande
inovação do programa nada mais era do
que mostrar o dia-a-dia de uma família
Bill Cosby, Michael
"Jackson, Michael
Jordan e 50 Cent.
Todos os bacanas
agora eram negros.
negra de classe alta. O impressionante é
que os EUA nunca tinham visto de perto
a história de um pai de família negro que
fosse presente, carinhoso, um profissio-
nal respeitado e ainda criasse os filhos de
maneira funcional. Ou seja, normal. (Não
foi por acaso que Obama carregou a mu-
lher e as filhas para lá e para cá durante a
campanha. Ele estava querendo mostrar
que tem uma familia perfeitamente feliz e
comum. ) Derepente, ser negro virou cool.
t Rojo] eranegro. ORE
de basquete também. “À medida. que ne-
gros foram alcançando postos mais altos
no mercado e na cultura, as novas gera-
ções de brancos abandonaram as ideolo- b
DEZEMBRO | 2008: SUPER: B3
“ro ema tom)
o
For
AL
DIG!
Avi
ORA E JULIAN
UNAL
DESIGN BR
Preocupado com a reforma
ortográfica? Nossa língua está
sempre em obras. Entenda as
forças que moldam o português
do Brasil e saiba como a gente
pode estar falando logo mais.
isvaissai logo pa eischega cedo.
Alingua que a gente fala pode ser assim no
futuro. Não entendeu? De acordo coma gra-
mática atual, seria: “Eles vão sair logo para
“chegar cedo”. Lendo em voz alta, nem é tão
distante do que se ouve por aí, pois a fala do presente traz
pistas da gramática do futuro. Mesmo assim, brasileiros
“de hoje dificilmente se entenderiam com os do ano 2500
— ou com portugueses de 1500.
* Para qualquer lingua, 5 séculos é muito tempo: só pa-
ra citar um exemplo, usar o verbo “ter” com sentido de
“existir”, fundamental em qualquer conversa, é coisa de
100 anos pra cá. Pense na dificuldade que temos com a
- Carta do Descobrimento, de Pero Vaz de Caminha. Para
“decifrar “da marinhagem e das singraduras do caminho”,
- é preciso um dicionário, como no estudo de um novo
“idioma. Essas mudanças ocorrem porque línguas são me-
“ tamorfoses ambulantes, moldadas pelas necessidades
“dos usuários - não pelas regras gramaticais.
- Ecomoseo português do Brasil fosse uma sopa, eterna-
“ menteno fogo, que recebe ingredientes e temperos e ao
“longo do tempo vai tendo o seu sabor alterado. Palavras
Es nascem, crescem ou se encurtam, se combinam, mudam
“ desentidoe de pronúncia e, um dia, morrem. Que gosto
— issovaitera gente não garante, mas, nas próximas pági-
“ nas, damos a receita do prato. Bom apetite. po
DEZEMBRO! aD0a Si
NA PONTA DA LÍNGUA
O tempo todo, o português brasileiro é temperado
com ingredientes que vão modificar seu sabor no futuro.
Seja por influência de índios,
escravos e imigrantes, seja por mera
globalização, nossa língua sempre
acolheu bem palavras de fora. O
inglês continuará sendo um grande
fornecedor, mas a integração coma
América do Sul pode render novos
verbetes no dicionário.
: Neologismo delivery
O português brasileiro, diferentemente
do lusitano, é extremamente aberto a no-
vas experiências. Importar e adaptar pa-
lavras é uma tendência antiga e continua
sendo força poderosa para definir Vo
futuro da nossa lingua. “Vocês são muito
abertos aos estrangeirismos e incorpo-
ram com extrema naturalidade vários
termos”, diz o português Augusto Soares
da Silva, linguista da Universidade Cató-
lica Portuguesa. “Há uma tendência inata
para isso, diferente da do português de
Portugal, que transforma o 'mouse' em
“rato'” Augusto fez uma pesquisa compa-
rando jornais de Portugal e do Brasil dos
últimos 50 anos e percebeu que ficamos
com diversos termos do inglês tais como
eram na origem. Foi assim que nasceram
o “xis-tudo” (de cheese, “queijo”), os servi-
cos “delivery”, a “customização” de rou-
pas e a “equalização” do som. “Se um dia
88 SUPER: DEZEMBRO | 2008
CVEMDEDENTRO
Também tem tempero regional na
mistura. OR caipira, o “tu” gaúcho
e outras marcas linguísticas
(“jeitos de falar”) típicas devem
permanecer firmes e fortes, por
representarem um diferencial de
sua comunidade de falantes em
relação ao resto.
alguém resolver expurgar as palavras de
fora, 70% do que temos vai embora”, pre-
vê o filólogo Mário Viaro, da USP.
Os presentes gringos costumavam ser
mais requisitados pelo universo da cultu-
ra (show, blockbuster, best seller), da gas-
tronomia (suflê, purê, bufê) e da moda
(aliás, “fashion”), mas hoje são principal-
mente associados ao vocabulário corpo-
rativo (“pessoal do marketing”, “atingir o
target”, “briefing”) e informal (“let's go”,
“whatever”, “kisses”, “yvessss!”).
Dá para perceber que boa parte do vo-
cabulário importado vem do inglês, não
por acaso a língua da principal potência
econômica, militar e cultural do planeta.
Sempre foi assim: o que temos de hospi-
taleiros temos de puxa-sacos, copiando
o idioma de quem está por cima.
Atéa 2º Guerra Mundial, o monopólio
da sofisticação pertencia ao francês, de
chaujfeur, garçon, lingerie, cabaret, ballet,
RE E
- VAIRENOVANDO
Na língua, há um eterno movimento
de aposentar palavras e estruturas
que caíram em desuso e colocar
em evidência novas expressões e
formatos. Palavras nascem e morrem:
se hoje ninguém solta um “cujo” na
mesa de jantar, é sinal de que a saúde
dele inspira cuidados.
filet e mulher mignon. Com a ascensão
do poder americano, o inglês foi toman-
do espaço, até virar a 2º língua de todo
mundo, daquele engravatado com MBA
ao roqueiro underground.
E a história da língua ensina que rou-
baremos sem piedade palavras de outros
países que se tornarem importantes.
Como o mandarim dos chineses é uma
lingua exótica demais para nossos ouvi-
dos, a previsão é de que surjam regalos
do espanhol, já que o Brasil aumentou o
intercâmbio com os seus vizinhos e tu-
do indica que os hispânicos devem ser
a maioria dos EUA até o final do século.
Um exemplo a favor da hipótese: blecaute
(blackout) já virou apagão (apagón).
Mas não são só os produtos importados
que se valorizam. A história recente ensi-
na que, para não se perderem na globali-
zação, alguns grupos passam a valorizar
suas diferenças, e uma delas, claro, é a
een met
“Este” e seus derivados estão sendo engolidos pela
família do “esse”, usado na maioria das vezes.
Esse Cogue ira que da CO0Co.
srito (“eu poderia”)
dos protestos, o futuro do pretéri ;
o ndo diigsr ão “gerundismo ("vou estar podendo ).
você ndo 1a eslor
gue
Eu se
ou oculto, que não aparece na frase,
ieito minado a ACAO
Q chamado sujeito indeter canhado de "a gente” e “você!
está dando as caras, sempre acom
tuginde de mim,
Á geme não quer
Aos poucos, 05 de su
deixando a missão de deter
e o
Eu enpre
/ Me dá um cigarro”. Ataliba compara: “A
língua é como uma bola que nunca mais
parou de rolar. Alguém desviou o chute
para a esquerda e, pronto, a influência
aparece em vários lugares”,
Falando desse jeito, parece que o por-
tuguês caminha para algo bem mais
simples, um punhado de monossilabos
com poucas conjugações e flexões. Mas
não é bem assim. Quem fala gosta de ser
notado pelo que diz, não vai abdicar de
caprichar nas palavras. E aí entra em ce-
naacriatividade e a expressividade que,
juntas, contribuem para manter o idioma
complexo. “A única regra das línguas é
a busca da expressividade, e nunca da
simplificação”, afirma Ataliba. “Dizer que
os idiomas mudam para ficarem rasos é
esquecer que, no fundo, são mudanças
extremamente complexas.”
Certo ou errado?
Em 46 a.€., o estadista Marco Túlio Ci-
cero fez um discurso no Senado romano
sobre a arte da oratória. A certa altura,
inflamado, lamentou que o povão não sa-
bia mais o que era latim; falavam tudo
errado, era uma calamidade.
Na verdade, poucos romanos se expres-
savam como Cicero gostaria — assim como
poucas discussões em botecos brasileiros
Toallha e guardanapo Roupa de mesa Louça Divino Espaço Potes de tempero Pepper
bstantivos e adjetivos vai sendo eco
minar o plural para “as e 05.
ntavra es batalhas, es
& vnnda.
ndo economizado,
Es =
o
+
passariam intactas pelo corretor de texto.
Da mesma maneira que o latim vulgar
repaginou o latim clássico e se misturou a
dialetos para dar origem a outras línguas,
é o “português vulgar” que puxa as mu-
danças. Quando ninguém está prestando
atenção em como fala, atento ao que está
dizendo e não como está dizendo, é que
as mudanças ocorrem.
“As pesquisas sociolingúísticas, feitas
desde a década de 1960, têm mostrado
que as formas inovadoras surgem no seio
da classe média baixa”, explica o socio-
lingúista Marcos Bagno, autor de A Nor-
ma Oculta — Língua e Poder na Sociedade
Brasileira. “Aos poucos, essas formas ino-
vadoras vão ganhando prestígio e sendo
adotadas pelas classes média e alta urba-
nas, até atingirem textos escritos.” Foi o
que aconteceu, por exemplo, com o par-
ticípio de alguns verbos. A forma antiga
—e certa — um dia já foi conhoçudo, e não
conhecido; perdudo, e não perdido. Mas,
de tanto o povo falar, o “ido” pegou.
Mesmo o mais culto do brasileiros de
vez em quando solta um “deixe ele en-
trar” e não “deixe-o entrar”, ou “o livro
que eu falei” e não “de que falei” (ver
quadro O Presente do Português). As-
sim, meio sem querer, frases como essas
podem vir a ser a regra da gramática do
alemão é seus canha,
futuro. “É divertido ver a campanha dos
gramáticos de antigamente contra as for-
mas que eram consideradas erradas na
época deles e que hoje são usadas inclu-
sive em textos literários”, diz Bagno. “No
futuro, nossos bisnetos vão se admirar
com os 'erros' criticados em 2008.”
O “erro” é entre aspas mesmo: para os
linguistas, só há erro quando as pessoas
não se entendem, não porque uma regra
diz que aquilo é errado.
Para evitar o descompasso entre língua
falada e escrita, órgãos como o Instituto
Houaiss, que faz o conhecido dicionário,
vão aderindo aos poucos às inovações,
colocando novos significados e usos em
seus verbetes. Daqui a algumas centenas
de anos, talvez ele também registre a fra-
se “Eles vão sair logo para chegar cedo!”
como a forma arcaica de “Eisvaissai logo
pa eischega cedo!" E
A Norma Oculta - Lingua e Poder na Sociedade Brasileira
Marcos Bagno, Parábola Editorial, 2003,
Por Trás das Palavras - Manual de Etimologia do Português
Mário Eduardo Viaro, Globo, Shla.
Gramáticado Brasileiro
Celso Ferrareai Junior & lara Maria Teles, Globo, 2008.
paira di
Participe do fórum sobre esta reportagem em
super.abril.com.be/forum
WWw.educarparacrescer.com.br
[ZOOM]
Brinquedos por dentro
O americano Jason Freeny misturou a anatomia de humanos,
cachorros e ursos para imaginar o interior de algumas miniaturas.
1. Dentes
e. Língua
3. Esófago
4. Fígado
5. Estômago
6. Intestino
7.Reto
8.Rim
9. Bexiga
10. Testículos
11. Pênis
94 : SUPER | DEZEMBRO | 2008
DESIGN JULIA CABRAL ILUSTRAÇÃO JASON FREENY
12. Crânio
13. Mandíbula
14. Vertebras cervicais
15. Vértebras torácicas
16. Vértebras lombares
17. Vértebras caudais
18. Caixa torácica
19. Escápula
20. Úmero
21. Rádio
22.Ulna
23. Carpo
24. Metacarpo
25. Falanges
26. Pelve
27. Fêmur
28. Tíbia
29. Metatarso
30. Borracha
31. Hélio
32. Oxigênio
33. Laringe
34. Traquéia
35. Pulmão
36. Coração
37.Baço
38. Artéria carótida
39. Aorta descendente
40. Veia cava inferior
41. Veia safena magna
42. Artéria femoral
43.Veia jugular
44. Cérebro
45. Cerebelo
46. Tronco cerebral
47. Medula espinhal
48. Tálamo
49. Lobo frontal
50. Lobo temporal
51. Lobo parietal
52. Lobo occipital
ESQUELETO
1. Crânio
2. Mandíbula
3. Vértebras cervicais
4. Vértebras torácicas
5. Vértebras lombares
6. Sacro
7. Cóccix
B. Caixa torácica
G. Esterno
10. Escápula
11. Clavícula
12. Úmero
13. Rádio
14. Ulna
15. Carpo
16. Metacarpo
17. Falange proximal
18. Falange média
19. Falange distal
20. Pelve
21. Fêmur
22. Patela
23. Tíbia
24. Fibula
25. Tarso
26. Metatarso
27. Falange proximal
28. Falange distal
SISTEMA DIGESTÓRIO
29. Boca
30. Dentes
31. Cavidade oral
32. Esôfago
33. Estômago
34. Intestino delgado
35. Fígado
36. Colo ascendente
37. Colo transverso
38. Colo descendente
39. Colo sigmóide
40. Reto
41. Vesícula biliar
42. Pâncreas
SISTEMA NERVOSO
43. Cerebelo
44. Cérebro
45. Tronco cerebral
46. Medula espinhal
47. Hipófise
SISTEMA URINÁRIO
48. Bexiga
49. Glândula supra-renal
50. Rim
51. Ureter
SISTEMA GENITAL
52. Pênis
53. Glande
54. Testículos
55. Próstata
Sb. Canal deferente
SISTEMA RESPIRATÓRIO
57. Cartilagem tireóide
58. Traquéia
59. Cricóide
bo. Pulmão
61. Laringe
SISTEMA
CARDIDVASCULAR
bz. Coração
63. Artéria aorta
64. Veia cava inferior
65. Veia cava superior
66. Veia pulmonar
67. Artéria pulmonar
68. Veia jugular
69. Artéria carótida
70. Veia subclávia
71. Artéria subclávia
72.Veia femoral
73. Artéria femoral
RP ER
AS NOVAS ANNES FRANK
Um dia
qualquer
no inferno
Esqueça Hitler. E Churchill,
Roosevelt e Stálin também.
O melhor jeito de saber
o que realmente foia
e: Guerra Mundial não
são as histórias das batalhas
ou os conchavos políticos,
mas o dia-a-dia de gente
comum que teve a vida
virada de ponta-cabeça
pela guerra. É o que mostram
os diários destas 3 mulheres
* uma francesa, uma judia-
polonesa e uma alema.
Para quem tem estômago
forte, como o delas.
TEXTO ALEXANDRE CARVALHO DOS SANTOS
RESISTÊNCIA
Agnês Humbert é uma
heroina da Resistência à
ocupação nazista na França.
Ela redigiu e distribuiu,
clandestinamente, o jornal
Résistance, contra 0 governo
controlado pelos alemães.
E pagou caro. Denunciada e
entregue ao inimigo, Agnês
foicondenadaa 5 anos de
trabalhos forçados, comendo o
pão que Goebhels amassou em
prisões francesas e, pior ainda,
em fábricas alemãs, onde
tinha de manusear ácidos que
queimavam a pele. Dureza.
“Para as mãos, eu precisava de
bandagens úmidas, só que não
havia água... Tentemos, então,
xixi”, escreveu a francesa.
Agnês chegou a emagrecer
20 quilos (não havia comida
suficiente), e ficar semanas
sem tomar banho (não havia
água para todo mundo), mas
nem por isso entregou os
colegas de subversão. E ainda
- ajudou 05 americanos a caçar
nazistas quando a Alemanha
entregou os pontos.
AGNES HUMBERT
EDITORA NOVA FRONTEIRA
319 PÁGINAS
E R$39
=
a
O DIARIO
DE RUTKA
Asvésperas de ser mandada
para o campo de concentração
de Auschwitz, onde morreria
numa câmara de gás em 1943,
a adolescente polonesa Rutka
Laskier redigiu um diário
curto, tipo agenda - típico
das meninas da sua idade.
Obrigada a viver no queto
judaico de Bedzin, distraía-se
do horror em volta escrevendo
frivolidades sobre as amigas
e seus amores platônicos
= que não eram poucos. Mas
não deixou de descrever
as restrições e o assombro
dos judeus, cada vez mais
encurralados, e a angústia de
quem tem amorte diante de
si. Além do diário, o livro traz
um posfácio generoso, com um
resumo da história dos judeus
na Polônia, as manifestações
anti-semitas que persistiram
no país após o fim da querra
e uma explicação sobre como
se formou o iídiche, o dialeto
judeu que combina alemão
antigo e hebraico.
RUTKA LASKIER
EDITORA ROCCO
83 PÁGINAS
UMA MULHER
EM BERLIM
Se 05 nazistas foram terríveis
com judias e estrangeiras, a
vida das alemãs na Berlim de
1945 também não foi moleza.
Comaderrota nazista ea
chegada do Exército russo à
cidade, as moças tiveram
que se virar para evitar o pior.
Mas o pior invariavelmente
acontecia. Pelotões russos
movidos a vodca não perdiam
oportunidade para descontar
nas derrotadas os meses de
abstinência sexual e a fúria
contra qualquer um que
falasse o idioma de Hitler.
O diário de uma herlinense
anônima, testemunha
evítima desses últimos
dias da querra, revela um
cotidiano de estupros, medo
e vergonha. A própria autora
passa a explorar 0 sexo como
ferramenta de proteção,
atraindo oficiais para a cama
- e paraa escada, e para o sofá
- afim de evitar a violência.
“Tudo isso devemos ao fiihrer”,
comenta ela.
AUTORA ANÔNIMA
EDITORA RECORD
285 PÁGINAS
R$40
PUC Eis
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|
Brejo 20] A
SECRETAS “
Re RCE Pa [us PU
Edição Especial Superinteressante - Sociedades Secretas.
E Livros O oa DR Ep AEANA Seus mistérios, segredos, rituais e tudo mais sobre os grupos
GuISR EO Ra] F , Piná : e E
A ne E ET fo TR gi Mc afortelç= ao cR To Pa reit= apito a [Pao [OR
TT ras
[OS MAIS DO MÊS]
A BURRICE
NÃO
COMPENSA
* Ele roubou a TV de uma casa
e, quando percebeu que tinha
esquecido o controle remoto,
voltou para pegar e acabou preso.
* Outro cidadão foi a uma pizzaria
preencher uma ficha de emprego
e aproveitou para assaltar 0 caixa.
SIMON VIGAR Levou USS 110 e foi encontrado
RA A fi a logo depois - no endereço que
1, go AS DIOR AS ad Ea na ficha. a
“ DO MUNDO
AS HISTÓRIAS BIZARRAS
DOS ROUBOS MAIS TOSCOS
QUE VOCE JA VIU
- Outro foi roubar uma casa
e foi pego porque parou para...
jogar o videogame da vítima.
Quer mais? Leia aqui:
05 LADRÕES MAIS
IDIOTAS DO MUNDO
Simon Vigar
Matrix
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Sabia que ele inventou 2 035
| EA NU ae DE O
desaparecer? Qual o
melhor jeito de manter
Hamlet? E que existem mais
de 5 millivros sugerindo que
vários relacionamentos
ao mesmo tempo? E de
suas obras foram escritas por
outras pessoas? Depois de k fazer sexo em um carro?
explicar a vida, 0 Universo etudo ra Como preparar um ovo
0 ás em Uma Breve História SHAKESPERRE, CEEE FR ostas estão
sobre Quase Tudo, o livro mais O MUNDO É UM p nus
cheio de curiosidades dadécada, PALCO: UMA no Howcast, um site com ,
| o americano Bill Bryson resolveu BIDGRAFIA centenas de manuais em E
dissecar a vida de William Bill Bryson vídeo, um mais engraçado
Shakespeare. O resultado E a que o outro, sobre
| é uma biografia ágil, focada 200 páginas ed |
| mais nas Cusiáies R$ 3? à Q QUALQUER coisa. |
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Colaboraram Alexandre Carvalho dos Santos, Rafael Tonon, Reinaldo José Lopes, Victor Bianchin
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| 104 SUPER | DEZEMBRO | 20086
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de papel eletrônico
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permite escrever na
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O que é: O celular
do Google.
Qual é o harato: Em sua
primeira versão, ele
não é ameaça para O
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é menor (8 GB, contra
16 GB do Apple), o
navegador é mais lento
e aparelho em si
não é tão bonito. Mas,
como o telefone usa o
sistema operacional
Google Android, que
é totalmente aberto,
pode ganhar uma
avalanche de softwares
eviraro jogo em 2009.
É Esperar pra ver.
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NO GAIN
O que é: Umtoca-
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Qualé o barato: Correr,
pular, puxar ferro... O
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cardíaco do usuário
durante os exercícios,
e usa essa informação
para escolher as
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combinam com cada
momento. A capacidade
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parecer baixa. Mas dá
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[você aguenta malhar
todo esse tempo?).
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hodibeat
DEZEMBRO | 2008 | SUPER 1105
[MANUAL]
EDIÇÃO KARIN HUECK (karin.hueckQabril.com.br]
COMO ESCAPAR DO
CRIME URGANIZADO
Se a máfia ou o chefe do tráfico estiverem atrás de você,
siga as nossas dicas para não virar presunto.
TEXTO LUISA DESTRI
PLANO A: NÃo SE
ENVOLVA COM ELES
«Não deva favores. Especialmente se oferecem
algo muito generoso. O crime organizado está
onde está o dinheiro. « Respeite a mulher do
próximo. Não paquere nem faça gracinhas com
esposa de bandido. Delegados que tratam as
mulheres dos mafiosos com respeito também
são respeitados pelo crime organizado. « Se você
pretende ser advogado, nunca aceite que um
desconhecido banque seus estudos. Você pode
ter um emprego para toda a vida, do qual
não conseguirá se livrar.
PLANO B: conHeça
AS REGRAS DO JOGO
«Você pode ser a pessoa mais bacana do mundo,
mas só a sua palavra vai valer. Organizações
criminosas não trabalham com acordos escritos.
É tudo verbal ou gestual: o ok para matar pode ser
o sinal negativo com o dedão. « Não adianta pedir
pra sair. Se quiser uma dispensa, tenha certeza:
você vai tombar na sequência. «Você dificilmente
vai conseguir se livrar do crime, mas também
não piore sua situação. Se sua fita
é com o PLC, não procure os cariocas do
Comando Vermelho - pode ser fatal.
« Não ande com identificações, como crachás
ou adesivas, e evite a rotina, Almoçar todo dia
no mesmo lugar ou visitar religiosamente a sogra
pode virar uma aventura. Trágica. «Mude de casa,
de cidade, de estado. Faça uma plástica.
Se nada disso for possivel, feche as cortinas
da sala e coloque Insulfilm no carro.
PLANO D: APELE PARA A MÃE
«Implore para a mãe de seu algoz. Elas são tão
respeitadas que um secretário de Estado em São
Paulo já caiu por não permitir que a mãe de um chefe
do tráfico visitasse o filho na prisão,
PLANO Z: DIGA ADEUS
Fonte vv, ole ieaada ma di idi il
Mondo Mascarestas, comnci ca Policia Militar de São Paulo, Sindicato do Crime, Percival de Souza, Ediouro, 2006.
- Avise a sua família, porque DESCANSE
pode ser tarde demais. EM PAZ
aÃ.
Wustração Sattu
106 | SUPER | DEZEMBRO + 2008