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Guias e Dicas
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Diario de Um Adolescente Hipocondriaco - Aidan Macfarlane, Notas de estudo de Psicopedagogia

Hipocondríaco

Tipologia: Notas de estudo

2014
Em oferta
30 Pontos
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Oferta por tempo limitado


Compartilhado em 02/03/2014

gabriela-de-amorim-10
gabriela-de-amorim-10 🇧🇷

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Baixe Diario de Um Adolescente Hipocondriaco - Aidan Macfarlane e outras Notas de estudo em PDF para Psicopedagogia, somente na Docsity! EDITORA 34 Distribuição pela Códice Comércio Distribuição e Casa Editorial Ltda. R. Simões Pinto, 120 CEP 04356-100 - Tel (011)240-8033 São Paulo - SP Copyright © 34 Literatura S/C Ltda. (edição brasileira), 1993 The Diary of a Teenage Health Freak © Ann McPherson and Aidan Macfarlane, 1987 Originally published in English by Oxford University Press Book review by Adrian Mole © Sue Townsend, 1987 Illustrations © John Astrop, 1987 A FOTOCÓPIA DE QUALQUER FOLHA DESTE LIVRO É ILEGAL, E CONFIGURA UMA APROPRIAÇÃO INDEVIDA DOS DIREITOS INTELECTUAIS E PATRIMONIAIS DO AUTOR Capa. projeto gráfico e editoração eletrônica: Bracher & Malta Produção Gráfica Ilustrações: John Astrop Revisão: Sonia Regina Pereira Cardoso 1ª Edição - 1993, 7ª Reimpressão - 1996 34 Literatura S/C Ltda. R. Hungria. 592 CEP 01455-000 São Paulo- SP Tel./Fax (D 1)210-9478 Tel. (011)832-1041 CIP Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Mactarlane, Aidan, 1939 M26d Diário de um adolescente hipocondríaco / Aldan Macfarlane e Ann McPherson ilustrações de John Astrop tradução de André Cardoso. — Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993 176 p. Il. (Coleção Infanto-Juvenil) tradução de: The diary of a teenage health freak Aidan Macfarlane e Ann McPherson DIÁRIO DE UM ADOLESCENTE HIPOCONDRÍACO Tradução de André Cardoso editora•34 Orelha Peter Payne —típico adolescente inglês de 14 anos que anda de bicicleta, vai à escola, é apaixonado por uma garota mas não tem coragem de se declarar e come no McDonald’s — um dia descobre que sofre de hipocondria. Em outras palavras: ele é um maníaco por doenças, de carteirinha assinada. A partir daí, Peter passa a anotar num diário, ao lado de histórias engraçadas do seu cotidiano, detalhes médicos que consegue reunir ao longo de um ano. Os fatos são retirados de todas as fontes possíveis: de extratos do diário de sua irmã de 13 anos — que ele lê escondido sempre que aparece uma chance — até panfletos da saúde pública da Inglaterra. Essa profunda pesquisa, que inclui experiências pessoais, trata de diversos assuntos: espinhas, álcool, drogas, dor de cabeça, depressão, AIDS, acidentes, cigarro, sexo (camisinha, pílula, diafragma, etc), regimes e o esforço de sobreviver à convivência com os pais e duas irmãs. Peter Payne vai fundo nos temas que garotos e garotas estão acostumados a descobrir e experimentar — seja através dos noticiários, na própria casa, ali com o vizinho, com o melhor amigo ou com eles mesmos. Agora, pela primeira vez no Brasil, a edição integral e sem censura deste diário se encontra à disposição de outros adolescentes, com todas aquelas coisas que eles sempre tiveram vontade PRA COMEÇO DE CONVERSA por Ana Maria Machado Peter Payne é um adolescente com mania de doença. Aquele tipo de pessoa que a gente conhece bem, que quando ouve falar em epidemia de gripe já começa a espirrar e ter calafrios. Ou que, assim que lê um artigo na página de saúde de um jornal, tem certeza de que o autor estava descrevendo seu caso e começa a descobrir que tem todos os sintomas mencionados. Figurinha conhecida. Aquele cara capaz de levar horas discutindo os últimos lançamentos de remédios encontráveis no balcão da farmácia e comparando com os mais antigos — que já experimentou todos. Aquele sujeito que tem uma agenda cheia de telefones de médicos e está sempre por dentro de todos os modismos alternativos, que tem dicas de um fantástico massagista japonês, um homeopata incrível, uma loja natural que tem uns chás maravilhosos, uma mãe-de-santo capaz de fazer milagres, um consultório com uma equipe que estudou acupuntura na China, uma mulher que é fera em bioenergética, uma sumidade em shiatsu e do-in, um especialista em aromaterapia e florais, um mestre em cristais, e outros que tais, todos os demais... Sacou? Certo? Errado... Pete Payne é inglês. E por mais que ele se pareça com uma porção de gente que a gente conhece (ou, às vezes, com uma caricatura de nós mesmos), o arsenal de recursos à sua disposição é muito diferente. Para começar, na Inglaterra ninguém chega na farmácia e vai comprando remédio assim sem mais nem menos, sem receita nem nada. Nem vai consultando o farmacêutico ou o balconista, como se ele fosse alguém que tivesse estudado medicina e pudesse tomar decisões responsáveis sobre a saúde dos outros. Lá tem uma coisa que se chama Serviço Nacional de Saúde, um dos direitos elementares de qualquer cidadão, que funciona muitíssimo bem e é gratuito — e é o que todo mundo usa, sem burocracia nem cartões, sem seguro hospitalar. Médico particular? Só para milionário e, mesmo assim, olhe lá... Não precisa, o outro é excelente. Como é que ele funciona? É o seguinte: quando uma família se muda para uma casa, alguém passa na agência de correios mais próxima e pede a lista dos GPs do bairro (a não ser que queira manter o médico anterior, o que também pode. Mas vamos fazer de conta que não, para explicar melhor). GP quer dizer General Practitioner, ou seja, um médico de clínica geral. Pago pelo governo, com o dinheiro do imposto dos contribuintes, que lá é alto, todo mundo paga, e não é desviado para outras coisas. Se tentarem, dá cadeia. Um sistema desses custa rios de dinheiro. Mas vale. Porque, veja bem, o cara olha a lista, seleciona o médico de sua preferência (dá até para visitar vários e escolher) e. uma vez escolhido, ainda antes de adoecer, o futuro paciente se registra com ele, faz uma fichinha com o atendente, e pronto. Quando precisar, é só ir lá ou chamar em casa. De graça. Também funciona para dentista gratuito. Só quero explicar como é para médico... Quando houver a consulta, dependendo da gravidade do caso, o clínico-geral resolve por ali mesmo ou encaminha a um hospital, para a opinião de um especialista e os exames necessários — laboratório, raios-X, etc- Em caso de emergência, não precisa nada disso. Chama-se uma ambulância que chega rapidíssimo (como no capitulo 2, quando ele quebra o braço) e o atendimento vem antes, a burocracia depois. Ao chegar ao hospital, o paciente não precisa de senha, carteirinha, nada dïsso. Basta a receita-encaminhamento de seu GP. Dependendo do caso, pode apenas ser conveniente que ele telefone antes e marque hora, para evitar esperar muito tempo na sala de espera até ser atendido. Se o caso for de internamento, ele dá entrada no hospital. Se for daqueles em que o cara pode ir andando pelas próprias pernas, se consultar e voltar para casa, ou seja, ser atendido em ambulatório, pode haver necessidade de remédios quando acaba a consulta ou quando vem o resultado da bateria de exames. Nesse caso, o médico do hospital dá uma receita e ali mesmo, em outro andar, na farmácia hospitalar, o paciente comparece munido do papel e retira a medicação. Na maioria das vezes, de graça. Ou a preços razoáveis. Mas apenas por ordem médica. Mas então, como é que o nosso amigo Pete Payne pode dar vazão a sua ânsia de se informar mais sobre doenças, se não pode ficar de papo com o cara da farmácia, tentando descolar as últimas dicas e novidades? Ah, muito simples. Não é só no setor de saúde que os impostos dos contribuintes criam um sistema de apoio social eficiente na Inglaterra. Na educação e na cultura também. Existe uma rede de bibliotecas atualizada e bem organizada em todo canto, pelos diferentes bairros e escolas (públicas, bem entendido, e com professores preparados e respeitados, bem pagos, e que valem o que ganham). Assim, o Pete pode consultar livros de medicina e saúde e artigos especializados. Afinal de contas, volta e meia os professores lhe pedem trabalhos sobre o tema e exigem bom nível... No mais, esse delicioso adolescente hipocondríaco é um cara como todos os outros de sua idade, em qualquer lugar. Não faz mal que haja pequenas diferenças entre sua sociedade e a nossa — e que esta tradução fez questão de manter sem adaptações no texto, até mesmo para a gente ficar sabendo. Por exemplo: as estações do ano são ao fedorento, tomou um uísque, coçou a cabeça, ajeitou as calças E NUNCA CHEGOU A RESPONDER. Que covarde! Fui até a cozinha, arrastando o meu ursinho de pelúcia, e fiz a mesma pergunta á minha mãe. Sabe o que ela disse? — Você por acaso é algum pervertido? Ela achava que era válido usar uma linguagem de adulto com as crianças. Passei anos a fio achando que as mulheres tinham um zíper na barriga. Na verdade (morro de vergonha de dizer) foi só aos 11 anos que Barry Kent me contou OS FATOS DA VIDA. A gente estava sentado na beira do canal. Isso foi um pouco antes dele me atirar dentro do canal. Mas eu não fiquei muito zangado. Eu estava mesmo precisando esfriar um pouco a cabeça. Eu tinha começado a sentir calor e estava muito perturbado. Ele não tinha poupado nenhum detalhe. Até que ia ser legal conhecer o autor deste livro. A gente tem muito em comum (apesar, é claro, de eu ser um gênio e um intelectual, e ele não). Nós dois temos uma vida familiar péssima, uma saúde delicada e espinhas que nos deixam o rosto desfigurado. Deixei a cópia que me mandaram do livro em cima da mesa da cozinha, ao lado do cinzeiro, para que meu pai e minha mãe achem com facilidade. Eu gostaria que ele tivesse sido publicado há alguns anos. Isso teria me poupado muitas angústias. Pandora, o amor da minha vida, vem aqui ler sobre ‘aspectos da saúde relacionados às meninas” (como ela diz). Ela começou a ter tensão pré-menstrual faz algum tempo (aliás, ela só não, todo mundo em volta dela). Tem alguns dias do mês em que ela se transforma num verdadeiro monstro. A criação do Dr. Frankenstein parece a Branca de Neve perto da Pandora, quando ela está num de seus dias. Sim, esse é o livro da minha geração. Adolescentes hipocondríacos do mundo, uni-vos! Não temos nada a perder, além da nossa saúde! SOBRE O AUTOR DESTE DIÁRIO Informações Gerais NOME: Peter H. (não tenho coragem de dizer o resto) Payne. APELIDO: “Pete Sabe-Tudo” DATA DE NASCIMENTO: 17 de dezembro de 1972. IDADE: 14 anos e um mês. LOCAL DE NASCIMENTO: segundo a minha mãe, no meio do corredor do hospital, a caminho da sala de parto ENDEREÇO: Cllfton Road, n° 18, Hawsley, Londres. HORBIES: limpar o nariz com o dedo, ver televisão, pensar em mim mesmo, implicar com a minha irmã mais nova, encher o saco das pessoas bancando o “Sabe-Tudo”, colecionar informações sobre medicina, ler revistas de fotografia, sofrer acidentes. HERÓIS: John Lennon, eu mesmo, o pai do Sam, Adrian Mole, o cara que descobriu a penicilina, mas que não consigo lembrar o nome, e Marilyn Monroe. O QUE VOU SER QUANDO CRESCER: eu mesmo, um cientista famoso, muito rico, e um tremendo sucesso com as mulheres. PERSONALIDADE: tímido, desajeitado, um tremendo fracasso com as meninas, cheio de medo da vida, implicante (principalmente com a Susie), fraco nos esportes, e não gosto de tomar banho; por outro lado, gosto de ajudar velhinhas a atravessar a rua, de fazer o dever de casa antes de ver televisão (a não ser quando está passando Match of the Day), de fazer comentários engraçados e de ser original. MEDOS: pegar AIDS, crescer e ficar desempregado. Constituição Física SEXO: masculino, e cada vez mais. ALTURA: 1 metro e 63 centímetros, medidos no batente da porta com a fita métrica da mamãe. PESO: 55 quilos, mas comi muito no jantar. COR DO CABELO: castanho. COR DOS OLHOS: castanhos, para combinar. CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS: eu inteiro, mas principalmente o sinal marrom na minha bunda. Minha Mãe NOME: Jane Elspeth Margret. DATA DE NASCIMENTO: junho de 1945, mas não consigo me lembrar do dia. IDADE: 35, já faz seis anos. TRABALHO: acumula vários empregos: reformadora da sociedade, cozinheira, faxineira, lavadeira, quebra-galhos da vizinhança, médica da família. Além disso, ela ainda toma conta do meu pai, se preocupa com todos nós. PESO: gorducha. COR DO CABELO: castanho. COR DO OLHOS: verdes com pintinhas. CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS: a risada, que é igual a de uma hiena doente. PERSONALIDADE: se mete na minha vida particular o tempo todo; me obriga a ser gentil com umas tias muito chatas; não liga a mínima quando não consigo dormir, e etc., (ela diz que “vai passar”, e pronto) e está sempre perguntando se eu já fiz o dever de casa; mas por outro lado, é carinhosa, presta atenção quando a gente fala, e não fica me enchendo o saco para eu arrumar o quarto, que nem a mãe do Sam. Meu Pai NOME: Anthony Tobias. DATA DE NASCIMENTO: não sei. IDADE: ninguém sabe. TRABALHO: matar invasores microscópicos na casa das pessoas. Isso se chama dedetização, e é o que eu gostaria de fazer com a Susie. PESO: em expansão. CABELO: recuando — o pouco que sobrou. COR DOS OLHOS: não me lembro. CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS: um bigode horrível. PERSONALIDADE: é engraçado, um bom mecânico, não consegue parar de fumar escondido, fala de política o tempo todo e sabe um monte de coisas. Minha Irmã Mais Velha NOME: Baily (e Beatrix — TOP SECRET) DATA DE NASCIMENTO: sempre esqueço. Quarta-feira, 9 de janeiro A professora de biologia me deixou preocupado hoje. Ela disse que o nosso coração era uma máquina maravilhosa e eficiente, que bate 80 vezes por minuto. Isso dá três bilhões de batidas numa vida inteira. Calculei que o meu já tinha dado 80 x 60 x 24 x 365 x 14 588.672.000 de batidas (o número não coube na calculadora. Preciso de uma melhor). Fiquei preocupado com o esforço que o meu coração já tinha feito. Tenho certeza que ele não vai agüentar até o fim. Perguntei à D. Smellie se eu podia ter um ataque cardíaco na corrida que a gente ia fazer de tarde. Afinal, o vovô morreu de ataque do coração quando estava correndo atrás de um ônibus no ano passado. Bom, é claro que ele tinha 80 anos, mas eu fiquei morrendo de medo que fosse hereditário. D. Smellie disse para eu parar de ser bobo, O exercício faz bem para o coração e ajuda a evitar ataques cardíacos quando a gente fica mais velho. NÃO fumar também. Ela nunca perde uma oportunidade de dizer como NÃO fumar é ótimo. Segundo ela, a probabilidade de eu ter um ataque cardíaco na minha idade é menor do que uma em um milhão. Mas logo tive um novo motivo para me preocupar: a D. Smellie disse que eu estava tendo um ataque agudo de “hipocondria”. Isso deve ser bem pior. Será que eu vou morrer? Perguntei quais eram os sintomas, mas não adiantou nada. Ela me mandou olhar no dicionário. Acho que vou fazer isso mesmo, se não morrer antes. Quinta-feira, 10 de janeiro Ainda estou vivo. Consegui escrever mais um dia no meu diário! No Ano Novo eu tinha resolvido começar no dia 1° de janeiro. Só oito dias de atraso! Foi quando comecei a ler Adrian Mole, e minha mãe parou de implicar comigo, que resolvi escrever esse diário. Não aconteceu nada demais hoje. Só a minha irmã, a Susie, é que ficou torrando a paciência da mamãe para deixar a Kate, além da Mary, vir jantar aqui no aniversário de 13 anos dela. Eu odeio todas elas. São todas umas pentelhas. A Mary é a sexta “melhor amiga” que a Susie arranja essa semana. Domingo elas vão com a mamãe assistir pela quarta vez a um desses filmes sem graça do Walt Disney. É super criança, mas é a única coisa que está passando. Eu vou para a casa do Sam. Ainda não morri de hipocondria. Vai ver não é tão grave quanto eu pensava. Vou perguntar ao pai do Sam. Ele sabe tudo. Sábado, 12 de janeiro Essa história de hipocondria está começando a me deixar preocupado. Ontem fui na biblioteca, na hora do almoço. Tinha acabado de pegar o dicionário quando o quatro-olhos do Slogs, o C.D.F. da escola, veio perguntar que palavra eu estava procurando. Não queria que ele descobrisse que eu estava com uma doença medonha.., podia ser contagiosa, e ai ninguém ia querer chegar perto de mim. Então procurei a palavra “ERÓGENO”. O cedê teimou que sabia o que ela queria dizer, mas ficou todo vermelho por trás dos óculos fundo-de-garrafa quando li em voz alta a definição do dicionário (para deleite dos tarados analfabetos ali presentes, e para ver qual seria a reação da O. Bel uma professora de música de 62 anos de idade, que estava cochilando em cima de umas partituras): “área do corpo que provoca excitação sexual, como por exemplo os mamilos, o lóbulo da orelha e a parte de dentro das coxas”. Ajudei meu pai a consertar o carro hoje. Queria que a gente tivesse um GoIf GTI, que nem o pai do Sam, ao invés dessa pilha de ferrugem de décima mão, que chamam de Ford Escort Estate. Bom, pelo menos é melhor do que ter uma droga de um Volvo Estate, que nem o pai do Randy Jo. Só que o nosso carro não pega quando faz frio. O barulho que ele faz é como se estivesse morrendo de câncer no pulmão. Parece o papai tossindo de manhã quando exagera e fuma 40 cigarros num dia só. A gente tinha que botar o carro para funcionar para ir almoçar na casa da tia Pam no dia seguinte. Queria que o papai mandasse a porcaria desse carro para o ferro velho de uma vez, ao invés de ficar tentando consertar. Depois fui me encontrar com o Sam. Fui ver o time dele jogar futebol. Minha mãe me fez botar quinhentos casacos (“Para você não pegar um resfriado, meu filho”). Parecia que eu estava indo para uma expedição na Antártica. Eu estava ridículo e muito pouco aerodinâmico, mesmo para os padrões da minha bicicleta velha. O Sam tem uma Reynolds 531 — uma bicicleta de garfo reforçado, câmbio Capagnolo, pneus tubulares, banco de competição Edco, para não falar nos freios Weinmann 605— que ele não me empresta de jeito nenhum. Diz que eu ia acabar quebrando. Não me importo muito com isso. Só que a mãe dele deixa ele sair com o uniforme de corrida preto do “Tour de France”. E eu fico me sentindo um babacão. O time do Sam ganhou, mas o goleiro quebrou a perna, e não vai poder jogar no resto da temporada. Deu para ouvir o barulho do osso quebrando lá da arquibancada. Fui embora antes que soltassem os animais do time visitante (não sei por que chamam essa cambada de torcida). Além de ser um covarde, eu detesto violência. Fui para casa pedalando a toda velocidade, para fazer o meu coração bater direito (calculo que estou perto da marca dos 600 milhões de batidas agora). Mas depois fui mais devagar, senão a hipocondria podia piorar. Sam veio lanchar aqui em casa e derramou geléia no sofá novo da sala. Teve que lamber toda a sujeira, com pêlo de gato e tudo. O Sam adora vir lanchar aqui. Na casa dele nunca deixam ele comer pão, batata frita, bacon com ovos, molho de tomate, biscoito de chocolate e nem tomar Coca-Cola. Talvez mamãe não seja tão ruim assim, afinal. Ou vai ver estou com hipocondria porque não me alimento direito. A Susie fica um saco quando o Sam está por perto. Ela fica puxando papo com ele e não pára de se exibir. Tenta até falar de futebol e de bicicleta, como se entendesse alguma coisa do assunto. Antes ela detestava os meus amigos, mas agora não larga do pé deles. Será que é isso o que os médicos chamam de “PUBERDADE”? Ela não podia ficar só com as meninas? Não que eu quisesse ter uma irmã lésbica, mas eu também só ando com o Sam, e nem por isso a gente é gay. Tive a maior briga com a minha mãe por causa da TV. Perdi, para variar. Foi a mesma coisa de sempre: a TV força a vista, deixa os olhos vermelhos, deixa você de mau humor, dá dor de cabeça, faz você ficar mais violento, transforma você num maníaco sexual (eu disse a ela que já era tarado, o que não ajudou muito). E por aí vai: eu não durmo o bastante, só vejo besteira, e já tinha assistido o jogo de futebol em Match of the Day. Não recebi o menor apoio da Susie, já que o problema era futebol. Aposto que ela teria me dado mais força se o Sam estivesse por perto. Papai também não me deu nenhum apoio—aquele traidor— porque foi o time dele que perdeu. Ainda estou preocupado com A DOENÇA. Domingo, 13 de janeiro A mamãe me obrigou a levantar ao meio-dia. Ainda estou irado com ela por causa da TV. Não dá para entender meus pais. Primeiro eles dizem que preciso dormir mais, depois reclamam quando eu acordo tarde. O problema é que eles não conseguem se resolver. Fiquei enjoado quando a gente estava indo para a casa da tia Pam. A Susie ficou lendo a viagem inteira. Como é que ELA consegue fazer isso sem ficar enjoada? Não é justo. Mamãe não deixou eu me sentar no banco da frente, e ninguém queria abrir a janela por causa do frio. Isso até eu avisar que ia vomitar. A casa da tia Pam tem um cheiro horrível: cocô de cachorro misturado com mijo de gato, o bafo de cerveja do tio Bob e o perfume enjoativo da tia Pam. o pior é que ela ainda aparece cheia de pó-de-arroz e faz questão de me dar um beijo. Que nojo! Devia ter uma lei contra a gente ser obrigado a beijar os nossos parentes depois dos 12 anos. Que Finalmente a gente parou e abriram as portas de trás. Mamãe estava lá, chorando, junto com o papai, que estava completamente branco: Ele começou a me xingar e a gritar que o que eu tinha feito era uma idiotice completa. Perguntou se tinha sido de propósito, só para deixar os dois preocupados. — Por que você não pára para pensar antes de fazer essas coisas? Os adultos, vou te contar! Minha mãe mandou ele calar a boca. Eu queria sair da ambulância sozinho para mostrar que estava tudo bem. Mas os enfermeiros me seguraram, me enrolaram num cobertor vermelho — como se eu fosse um velhinho de 80 anos — e me levaram numa espécie de cadeira de rodas. Disseram que eu tinha quebrado o braço: o saco plástico cheio de ar era para ele ficar imobilizado para não doer. Mamãe ficou segurando a minha outra mão, enquanto o papai ia se arrastando atrás da gente, resmungando que o Sam ia ficar fulo porque a bicicleta dele estava toda arranhada. Eles me levaram até um quartinho branco e me jogaram em cima de uma cama dura. Ninguém parecia estar muito preocupado comigo (apesar de eu ter ouvido alguém falar de uma injeção antitetânica lá fora). A mamãe teve que ir atrás de alguém para pedir que me dessem algum remédio para diminuir a dor. Voltou dizendo que a enfermeira tinha pedido desculpas, mas que todo mundo estava muito ocupado. Finalmente apareceu uma enfermeira, que enfiou um termômetro na minha boca e tirou o meu pulso. Ela era tão legal quanto as enfermeiras que apare cem na TV, apesar de não ser tão bonita. Ela me ajudou a tirar a calça. A minha perna estava branca e toda esfolada. Pensei que ela fosse tirar a minha cueca também. Quase tive um ataque do coração. Um homem entrou e me fez algumas perguntas sobre o acidente, além de outras perguntas idiotas. Ele perguntou, por exemplo, se eu sabia em que dia estávamos e o nome do Primeiro-Ministro. Ele olhou nos meus olhos com uma lanterna, espetou uns alfinetes na minha perna para ver se eu sentia alguma coisa, deu uma pancadinha no meu tornozelo e depois examinou cada centímetro do meu corpo. Depois de algum tempo, criei coragem para perguntar para que servia aquilo tudo. Ele respondeu que era para ver se eu não tinha sofrido algum tipo de dano cerebral — como, por exemplo, uma concussão. Descobri mais tarde que isso é mais ou menos a mesma coisa que machucar o cérebro, mas que depois ele fica bom de novo. As perguntas idiotas eram para ver se o meu cérebro estava funcionando direito. Parecia que ninguém tinha feito NADA ainda. Aí entrou uma mulher e começou a me examinar outra vez. Fiquei com medo de descobrir até onde ELA ia chegar. Ela explicou que o homem que tinha aparecido antes era um estudante de medicina fazendo estágio, e que ela era a médica de verdade. Ela ia mandar tirar uma radiografia da minha cabeça — porque tinha que ver se algum osso do meu crânio estava quebrado — e do meu braço — porque já sabia que ele estava quebrado. Mais um tempão de espera, sem ninguém aparecer para fazer nada. A essa altura eu já queria estar em casa, deitado na minha cama. A médica me mostrou as radiografias e disse que eu tinha sorte de não ter quebrado a cabeça e sofrido dano cerebral. Ela também disse que não conseguia entender por que as pessoas não usam capacete quando andam de bicicleta. Segundo ela, a cada ano morrem 300 ciclistas e 30.000 ficam feridos. E, se eu estava pensando em ter uma moto algum dia, ia TER que usar capacete. Mesmo assim, 1.000 motociclistas morrem por ano nas estradas, e 63.000 ficam feridos. Para deixar isso bem claro, ela disse que passava a maior parte do tempo remendando pessoas que tinham sofrido algum tipo de acidente e que a cada ano: Um em cada 11 condutores de lambreta Um em cada 16 motociclistas Um em cada 56 motoristas de carro eram mortos, ou se envolviam em algum acidente. Acho que nem andar é seguro, pois 1.900 pedestres são mortos por ano, e 60.000 ficam feridos por ano. Isso sem falar em outros tipos de acidente, como afogamentos, que matam 100 crianças por ano, ou acidentes domésticos, que levam 2 milhões de pessoas para o hospital todo ano. SOCORRO! Perguntei à médica se ela usava capacete quando andava de bicicleta. Ela ficou vermelha e não respondeu. Minha mãe me lançou um daqueles olhares significativos e disse que pelo jeito eu já estava melhor. O meu pai voltou para o trabalho, e a minha mãe ficou comigo enquanto botavam umas ataduras brancas e úmidas em cima do meu braço, que começou a esquentar. Algum tempo depois, as ataduras começaram a ficar duras e lisas, e lá estava eu com um belo gesso branquinho para os meus amigos assinarem. O gesso impede que as pontas do osso quebrado fiquem se mexendo. Assim ele pode se solidificar direito. Achei que já estava tudo pronto, mas ainda estava faltando uma coisa a vacina antitetânica A sujeira no machucado do meu joelho podia estar contaminada com a bactéria do tétano. Isso pode causar uma contração de todos os músculos do corpo, o que, além de ser muito incômodo, também pode matar. Mamãe disse que eu tinha tomado a vacina quando tinha cinco anos, mas ela só protege contra o tétano durante dez anos. Depois disso, a gente tem que tomar outra vez. Disseram que talvez eu tivesse que dormir no hospital, só por que eu tinha desmaiado. Primeiro fiquei assustado. Depois comecei a achar que podia ser divertido, ainda mais se os meus amigos viessem me visitar. Eu podia ganhar um monte de presente (já que não pude fazer isso com a doença da hipocondria). Mas parecia que eu estava bem, então acabaram me deixando ir para casa com a minha mãe. Mesmo assim, disseram para ela me trazer de volta se eu começasse a vomitar, tivesse uma dor de cabeça muito forte, visse as coisas em duplo, ou ficasse mole por causa da batida na cabeça. Também me mandaram voltar se os dedos do braço quebrado ficassem dormentes, inchassem, ou ficassem brancos ou azuis. Parecia tudo muito nojento, mas não aconteceu nada, Os últimos quatro dias têm sido muito chatos, e é por isso que eu estou escrevendo. Ninguém veio me visitar, a não ser o Sam. Ele veio para reclamar da bicicleta (pelo menos ele se lembrou de perguntar como eu estava). Depois ele contou que uma tal de Jane, da nossa sala, estava dando mole para ele. O papai disse que eu já tinha sofrido o bastante, e que então ele ia pagar o conserto da bicicleta do Sam. Às vezes ele sabe ser super gente fina. A Susie e a Sally também foram muito legais. Já que eu não tenho muitos amigos, acho que ter duas irmãs é melhor do que nada. Quinta-feira, 31 de janeiro Acordei cedo para pegar o ônibus. Primeiro dia de volta à escola. Consegui ser o centro das atenções durante cinco segundos, enquanto todo mundo sujava o meu gesso com os seus rabiscos. Tem alguns que eu tenho até vergonha de mostrar em público. Tive que ficar estudando na hora da Educação Física. Não gosto de Educação Física, mas agora que não posso participar da aula, eu estou me sentindo meio de fora. O Prof. Jones (ele é o nosso professor de Educação Física e também trabalha na revista da escola) disse que, já que eu não tinha nada para fazer, eu podia representar a turma na revista e conseguir algumas matérias para o próximo número. Contei o acidente para os meus colegas (enfeitando um pouco as partes que falavam da minha coragem e de como as enfermeiras ficaram taradas por mim). Mas eu não consegui chegar nem na metade da Quando eu tinha dez anos, quebrei o vidro da janela com a mão. Um caco de vidro arrancou um pedaço da minha pele. Os meus pais me levaram correndo para o hospital e disseram que eu ia ter que fazer um enxerto de pele. Na época, eu não sabia o que era isso. Preferia que isso não tivesse sido necessário, porque ainda tenho a cicatriz e acho que ela nunca vai desaparecer. É muito feio, porque tiraram a pele da parte lisa do meu braço, e ainda dá para perceber. Eu estava descendo um morro de bicicleta. Tinha um amigo meu na minha frente, e um carro na frente do meu amigo. De repente a porta do carro se abriu, e o meu amigo bateu nela de frente. Ele saiu voando por cima da porta e bateu com a cabeça quando caiu. Freei bem em cima dele e caí por cima do guidom. Xinguei o motorista do carro feito um doido. Fui aterrizar com uma perna embaixo da bicicleta, e a outra torcida em volta do guidom e do fio do freio. O idiota saiu do carro e disse que o meu amigo estava bem. Eu disse exatamente o que achava dele. O meu amigo se levantou. Ele estava só com um pouquinho de concussão. Peguei a bicicleta dele, levei para casa e depois fui com o meu pai e o pai dele na delegacia. Isso serviu para confirmar a péssima opinião que eu tenho das pessoas que abrem a porta do carro sem olhar direito. Sofri um acidente de bicicleta e torci os testículos. Tive que levar 60 pontos no saco... Tomei cuidado para não deixar este último relato chegar às mãos do Prof.Jones. Acho que esse cara só estava querendo contar vantagem. Só incluí ele aqui porque é um bom exemplo do que se costuma chamar de uma “conversa para boi dormir”. Sexta-feira, 8 de fevereiro Fiquei com o nariz sangrando depois de mais uma sessão de limpeza com o dedo. Foi sangue para todo o lado. Sujei o banheiro todo. Pensei que fosse morrer, outra vez. Capitulo 3 DE SACO CHEIO Sexta-feira, 15 de fevereiro Minha mãe e meu pai tiveram uma tremenda briga ontem. Tinha alguma coisa a ver com a gente ir acampar no verão com a vovó. O papai estava dizendo que ela ia teimar em levar a dentadura reserva num saco plástico, e ele não queria ter que pedir para a polícia ir procurar os dentes postiços dela outra vez. Hoje de manhã parecia que já estava tudo bem, mas eles não quiseram contar nada pra gente. Quando perguntei, papai mandou eu parar de ouvir a conversa dos outros escondido. Como se ele tivesse moral para falar alguma coisa. Ele ainda fuma escondido, só que finge que não toca mais no cigarro. Voltei a ir para a escola de bicicleta, depois de passar três semanas andando de ônibus. Ainda bem que já me livrei do gesso (e dos rabiscos), mas ainda estou preocupado com aquela história dos meus dedos poderem ficar dormentes ou azuis. A minha mão ainda está doendo. Juntou um bando de gente em volta de mim na escola, e a Cilla (eu realmente gosto dessa garota) quis tocar no meu braço. Depois que eu tirei o gesso (que a Cilla se recusou a assinar) ele ficou patético, todo branco. A aula de francês foi um caos, como sempre. A Dona Slazenger, coitada, não consegue impor o menor respeito. Sam e eu ficamos sentados no fundo da sala, discutindo os nossos planos para ir acampar e andar de bicicleta no verão. Contei para ele a história da vovó. Fui pego falando em aula. Resultado: vai ser meu primeiro castigo amanhã. Vai ver agora as pessoas vão perceber que eu não sou tão C.D.F. assim. Não ganhei nenhum cartão de dia dos namorados ontem. Que chato. Pelo menos eu também não mandei nenhum. O Sam, é claro, recebeu dois. Terça-feira, 19 de fevereiro Minha mãe e meu pai se atracaram outra vez ontem à noite. A Sally piorou ainda mais a situação ao comunicar que ia sair e só ia chegar tarde. Mamãe disse que ela tinha que pedir antes, e não só chegar e avisar. Depois perguntou quando é que ela ia estudar para as provas finais. A Sally se retirou, dizendo que todos os amigos dela podiam ir dormir tarde, até nos dias de semana. A gota d’água foi quando ela disse que já tinha idade não só para se casar, mas também para ter um filho. Minha mãe ficou catatônica. Foi aí que eu resolvi fazer uma retirada estratégica para o meu quarto e voltar para o meu diário. Ouvi a Sally chegar cedo e bater a porta da frente de forma significativa. Parece que a mamãe exerce um controle maior sobre a Sally do que sobre Bovril, a nossa gata. Ela passa a noite toda fora, acordando a vizinhança inteira com a sua vida sexual. Quarta-feira, 20 de fevereiro Estou preocupado porque acordei com dor de cabeça outra vez. No estado em que eu estava, quase tomei o remédio para dormir da minha mãe pensando que era analgésico e esqueci o livro de matemática em casa. Tinha marcado de me encontrar com o Sam, mas cheguei atrasado. Ele ficou irado. Nós dois chegamos atrasados no colégio. O Sam sumiu com outros amigos dele no recreio, e eu fiquei sem ninguém para conversar. Ainda por cima tive que ficar na escola depois da aula por causa do castigo. Além de ficar de saco cheio de estudar nem tive a chance de me angustiar por causa do dever de casa. Quinta-feira, 21 de fevereiro A Sally ficou horas trancada no banheiro se produzindo para sair com o Mike, o último de uma longa série de namorados. Enquanto isso, todo mundo teve que fazer fila na porta. A Susie não pára de reclamar que não tem nenhuma amiga. A Kate arranjou uma nova melhor amiga – o que não é de se estranhar. A Susie gritou comigo porque não passei o açúcar para ela no lanche. Só que ela está gorda demais para comer açúcar. Acabou que a Jane convidou o Sam para ir ao cinema na sexta. O pior é que ele vai. Eu estava achando que ia junto. Acho que ele gosta mais da Jane do que de mim. Por mais que eu tenha vontade, sou tímido demais para convidar a Cilla para sair. Vai ver eu sou gay, porque eu preferia ir com o Sam. Sexta-feira, 22 de fevereiro Está caindo o maior dilúvio Fiquei todo encharcado quando estava indo para a escola. A mamãe e a minha professora de Matemática me perguntaram se eu tinha levantado com o pé esquerdo. Estou morto de cansaço. Fiquei com dor de cabeça o dia inteiro e ainda estou irritado com a idéia de não ir ao cinema. Foi aí que aconteceu a GRANDE briga. Bem no estilo do Clint Eastwood, só que em escala doméstica. Eu derramei um pouquinho de café sem querer. A Susie disse que tinha sido de propósito, só porque era a vez dela tirar a mesa e lavar a louça, e que eu é que ia ter que limpar. Não concordei, já que era a vez DELA limpar. Ela fez uma careta e foi para a cozinha batendo o pé, carregando uma pilha de pratos. Então derramei o café dela. Quando ela voltou, eu disse que ela agora tinha alguma coisa dela mesma para limpar. Ela tentou bater em mim. Agarrei o braço dela e torci. Ela caiu, bateu na mesa, e a garrafa de leite caiu no chão e se quebrou. Foi ai que a mamãe apareceu, pau da vida. Eu disse que a culpa tinha sido da Susie. Mas a Susie, mentindo como sempre, disse que a culpa tinha sido minha. A mamãe atirou um pano de chão para a Susie e uma vassoura para mim, e mandou a gente limpar tudo. Depois ela saiu, com um tremendo mau-humor. Na mesma hora, a Susie derramou leite no meu tênis novo e sussurrou: — Eu te odeio. — Então eu disse que ela era uma pentelha, e que não era à toa que a Kate não gostava mais dela. Quando eu disse isso, tive a certeza, junto com um medo delicioso, de que ia ajudar, e também poder magoar essa pessoa! O Mike e eu temos umas brigas horríveis, às vezes. Na maior parte do tempo pelos motivos mais idiotas. Mas acho que isso é melhor do que ficar bloqueando tudo, que nem o tio Bob e a tia Pam fazem há mais de 25 anos. Não há nada como uma boa briga para aliviar um pouco a barra. Esperem só até amanhã para ver. — Tentei explicar à SaIly como eu estava me sentindo mal. Parece que ela estava entendendo o que eu queria dizer. Ela até botou um band-aid no meu machucado. Sábado, 23 de fevereiro Já acordei achando que o dia ia ser melhor. E foi mesmo. Primeiro, o papai fez o café! A mamãe achou isso o máximo. Ele até beijou a mamãe na nossa frente. Ela disse que eu estava com cara de cansado. Eu quis fazer uma brincadeira e disse, meio sem jeito, que não tinha conseguido dormir direito por causa do barulho. —Ah — mamãe respondeu—, espero que vocês não tenham escutado o nosso pequeno “debate” ontem à noite. A gente riu. Eu ainda acrescentei que na próxima vez que eu e a Susie fizéssemos um “debate’, eles podiam fazer o favor de não interferir. Papai disse para eu parar de ser besta. O Sam passou lá em casa ,mais tarde. Ele reclamou que a Jane levou duas amigas para o cinema. As meninas se sentaram todas juntas e ainda queriam que ele comprasse sorvete para elas no final. Ele desistiu das meninas e ficou para o jantar. Segunda-feira, 25 de fevereiro Domingo não aconteceu nada demais. Hoje na escola tinha um grupo de colegas meus discutindo sobre os pais. Os pais do Mat são divorciados. Eles tinham brigas horríveis e atiravam coisas um no outro. Quando o pai dele finalmente foi embora, ninguém contou a verdade para ele. A mãe dele só disse que o pai tinha saído de férias. Isso me deixou meio assustado, mas essa situação parecia bem pior do que a dos meus pais. O Mat disse que apesar dele ainda querer que o pai e mãe estivessem juntos, as coisas estavam mais calmas agora. Quando cheguei em casa, a Sally tinha deixado uma revista em cima da minha cama. Tinha um artigo de um psicanalista infantil sobre a depressão nos adolescentes. MAU HUMOR E DEPRESSÃO NOS ADOLESCENTES Às vezes é difícil perceber a diferença entre o mau-humor e a de depressão. Há uma tendência das duas coisas se misturarem. Algumas pessoas acham que estar deprimido é a mesma coisa que estar muito, muito chateado. No entanto, todos nós nos sentimos chateados às vezes e, de vez em quando, até mesmo deprimidos. Felizmente, são poucos os que sofrem de depressão aguda. Muitas das coisas que nos deixam de mau humor podem parecer bem piores, ou até mesmo insuportáveis, se já estamos deprimidos A seguir uma lista de algumas coisas que podem fazer com que você se sinta assim: — falta de confiança em si mesmo. — perda, separação ou rejeição; por exemplo, morte ou rejeição de um ente querido, de um namorado ou namorada. — separação ou divórcio dos pais. — conflitos familiares. — sensação de incapacidade para enfrentar problemas. — pais deprimidos. — doença grave. — alcoolismo ou uso de drogas. — problemas de relacionamento com amigos. — expectativas exageradas por parte dos pais. — problemas de trabalho. Se vários desses problemas ocorrerem juntos, você pode ter a sensação de que é impossível lidar com isso, ou até mesmo chegar a pensar que não vale a pena continuar vivendo. Se isso acontecer, você pode procurar ajuda e tratamento. É muito melhor tentar falar com alguém, ao invés de deixar tudo trancado dentro de você. O melhor é procurar uma pessoa com quem VOCÊ tenha facilidade de conversar. Pode ser o seu melhor amigo, a sua mãe, o seu pai, um irmão ou uma irmã, um professor, um médico, um padre ou pastor, uma tia, um amigo qualquer. Às vezes é difícil saber com certeza quando o mau humor se transforma em depressão, mas estas pistas talvez possam ajudar: — sensação de total falta de esperança e desamparo. — sensação de que o futuro vai ser sempre ruim. — sensação de que a mais simples tarefa é impossível de ser realizada. — uma autocrítica exagerada que permanece por um longo período de tempo, dando a impressão de que nada do que você faz fica bom. — sensação de cansaço que se arrasta por vários dias ou semanas. — uma insônia que se repete durante noites a fio, ou acordar cedo, quando isso não é do seu costume. — dores de cabeça freqüentes e/ou dores de barriga sem motivo aparente. — perda de apetite acompanhada de perda de peso, ou então um apetite compulsivo. — sensação de estar isolado das pessoas à sua volta, incluindo família e amigos. - sensação de que o trabalho está exigindo um esforço cada vez maior. — vontade de deixar de ir à escola, ou fugir de casa. Nenhuma dessas coisas isoladamente (nem a sua presença durante algumas horas, ou um dia) significa que você está seriamente deprimido. No entanto, se uma ou mais delas o incomodarem durante várias semanas, você pode estar deprimido, e deve procurar ajuda. Não é bom ficar deprimido. A depressão é como uma doença, e deve ser tratada. Capítulo 4 BLITZ NA ESCOLA: ALUNO É PEGO COM MACONHA Segunda-feira, 4 de março Cheguei à conclusão de que não estou deprimido, mas já vi que tem um ou outro professor que está. Pelo menos a minha dor de cabeça passou. Terça-feira, 5 de março Encontrei um livro sobre sexo e puberdade no meu quarto. Como será que ele foi parar lá? Quarta-feira, 6 de março Emoção de verdade. Jornalistas e policiais por tudo quanto é canto, nos fazendo um monte de perguntas. Um babaca do segundo grau chamado Smith, cujo passatempo favorito é implicar com fracotes de 50 quilos feito eu, estava oferecendo maconha para os alunos da oitava série. Sr. Rogers encontrou uma pobre criança vomitando atrás do galpão das bicicletas. A mamãe me fez um interrogatório digno da Gestapo quando Mas vai ter gente que vai experimentar por curiosidade, por puro tédio, ou porque tem amigos que estão fazendo a mesma coisa. Outros vão aceitar porque gostam de se arriscar, ainda mais se souberem que os pais não vão gostar. Eles disseram que é normal querer experimentar coisas diferentes, mas é importante saber dos riscos. Afinal, as drogas são ilegais porque SÃO perigosas. Até a maconha é ilegal, e pode meter você numa encrenca com a policia. Aqui estão algumas informações que eles passaram para a gente. A policia pode parar e revistar qualquer pessoa suspeita de estar carregando drogas. Na Inglaterra, no ano passado, 19.000 pessoas foram condenadas por posse de drogas, e 3.000 foram presas por venda. A pena máxima para quem vende heroína, cocaína ou ácido lisérgico (LSD) é a prisão perpétua, e para quem usa qualquer uma dessas drogas, quatorze anos. A pena máxima para quem vende maconha, haxixe ou anfetaminas é de dez anos, e para quem usa, cinco. Com alguma sorte, Sapen Smith vai pegar dez anos de prisão (será que dá para fazer o vestibular na cadeia?). Ai eles disseram pra gente os nomes de todas as drogas. A maconha, ou cannabis, também é chamada de erva, bagulho, baseado, fumo, preto, chocolate e marijuana; as anfetaminas, de bolinha, piti, arrebite e anfeta; a cocaína, de coca, pó, brilho, Branca de Neve, bright ou branco, além de uma forma altamente viciante, chamada crack; a heroína, de pico ou herô Os policiais admitiram que um vÍcio não puxa necessariamente o outro (ainda bem). Senão, eles já estariam se enchendo de heroína agora, porque não paravam de fumar. Resolvi que não vou me viciar nem em nicotina. Talvez eu consiga ganhar algum dinheiro com o papai se não fumar, que nem o pai do Sam prometeu para ele. Será que esse tipo de informação pode acabar fazendo com que alguém tenha vontade de experimentar alguma droga? Acho que não, ainda mais depois do que eles explicaram logo a seguir: o efeito negativo das drogas. A maconha dilata a pupila, deixa a boca seca, atrapalha a fala, desorganiza os pensamentos, faz com que as sensações sejam lentas e abafadas, e às vezes dá muito enjôo (como aconteceu com o coitado do garoto para quem o Smith tentou empurrar o baseado). Se você usar maconha muito tempo, você pode ter perda de memória e a sua capacidade de aprendizado pode diminuir. Você pode ser preso, mesmo se fumar uma vez só. As anfetaminas provocam excitação. perda de sono, tremores, tontura, suores frios, rubor de pele e ansiedade. Os viciados em heroína são chamados de “mortos-vivos”. Eles costumam ter tremedeiras, cãimbras, suores frios, pupilas contraídas, letargia, vômitos, problemas no fígado, doenças de pele, AIDS, e por aí vai. Cheirar cola, ou algum tipo de solvente, às vezes pode causar infecções pulmonares e problemas no fígado e nos rins. As pessoas que cheiram cola ficam com marcas vermelhas em volta do nariz e em torno da boca. Mas o maior perigo é cair de um prédio, ser atropelado, ou se afogar enquanto você está sob o efeito da droga. Cheirar gás butano (o gás que é usado nos isqueiros) pode fazer com que você caia morto na mesma hora. A cocaína pode causar depressão, feridas na parte de dentro do nariz e paranóia (tive que procurar esta palavra no dicionário. É quando você acha que todo mundo te odeia. Eu tenho esse problema o tempo todo. Só que eu não acho, eu tenho certeza). Depois disso, na hora do almoço, eu tive que me sentar ao lado de um pudim de 100 quilos: o Gary Tripa-de-fome. Ele é realmente viciado — e não só em comida, como a gente veio a saber. Ele afrouxou o cinto e soltou a língua. Ele contou tudo, com metade da escola ouvindo: — A primeira vez que eu cheirei cola— e outra salsicha gordurosa desapareceu entre as suas mandíbulas amarelas e fedorentas — foi junto com outros caras num prédio de estacionamento perto do supermercado. Eu já cheirava gás há alguns meses e já estava acostumado a ficar tonto. Então continuei a cheirar até cair no chão. — Não sei como é que o estacionamento não desabou. — Quando eu estava cheirando, vi um monte de monstros e fantasmas saindo da parede. Vi também umas coisas me atacando. Quando você cheira cola pela primeira vez, podem acontecer três coisas: você pode cair morto, ficar muito feliz, ou muito deprimido. No meu caso, fiquei deprimido. Não consigo me lembrar do motivo, porque eu estava muito doido. Na hora em que eu já estava com vontade de me matar, consegui me acostumar, e comecei a achar gostoso. No início, eu fiquei muito preocupado. Mas depois de algum tempo, eu só ficava preocupado quando tinha dor de estômago, ou quando começava a cuspir sangue. A única coisa perigosa que aconteceu comigo foi quando eu estava no parque. Eu estava muito doido. Precisava de mais cola, então atravessei a rua correndo para ir comprar. Quase fui atropelado por um ônibus. — O ônibus não sabe da sorte que teve. Acabou que o Gary largou o vício. Ele agora acha que devia ter uma lei proibindo que vendessem cola para crianças. Então, eu falei que ele tinha passado da cola para comilança, e da comilança para a nojeira por causa de uma necessidade de ‘gratificação oral”. Tive que explicar que isso queria dizer que ele gostava de se empanturrar. Ele disse que já sabia disso, então para que falar tão complicado? Quarta-feira, 13 de março Não pára de chover. Starsky e Hutch sumiram, e obviamente as meninas pararam de ficar plantadas no portão da escola. Sexta-feira, I5 de março O humor da mamãe está do tipo “por que todo mundo está implicando comigo?’ Ela saiu todas as noites da semana para fazer as suas “boas ações” pela vizinhança. O resto da família se reuniu num conselho de guerra para descobrir um jeito dela ir dormir — coisa que ela se recusa a fazer quando está muito cansada. Ela prefere se arrastar pelos cantos e ficar implicando com a gente. Até que o papai deu com ela dormindo na banheira, coberta com páginas ensopadas da revista Women’s Own. Ela tem péssimos hábitos de leitura, mas pelo menos não vai precisar tomar remédio para dormir hoje. Capítulo 5 SERÁ QUE A SUSIE JÁ... Sábado, 16 de março Fiz uma grande descoberta hoje (tomara que ninguém leia ISSO!). A Susie saiu de manhã com a mamãe, para ir comprar roupa outra vez. Isso depois de passar horas resmungando que não agüentava mais ficar usando as roupas velhas da Sally. Agora ela só quer andar na moda, que nem as amigas. Eu estava procurando desesperadamente a minha única camiseta limpa, aquela em que está escrito “quero crescer feliz e contente, tire a Bomba da vida da gente”. Todas as minhas camisetas estão sujas. Para variar, esqueci de entregar para a mamãe lavar, então está tudo enfiado entre a minha cama e a parede do quarto. Fui achar a camisa na última gaveta da cômoda da Susie, JUNTO COM O DIÁRIO DELA! Eu não ia ler, mas ele caiu aberto bem na minha mão. Terça-feira, 19 de fevereiro Fui dormir na casa da Kate. assustada quando o meu peito começou a aparecer. Na minha cabeça, eu ainda não tinha idade para isso. Mas agora já estou acostumada. É esquisito ver que não dá para voltar a ser criança. Eu não sabia que começa a crescer peito nas meninas antes delas menstruarem. As minhas mudanças parecem bem menos complicadas. Que nem a da minha voz, por exemplo. A tia Pam ligou para cá outro dia e começou a descrever com detalhes a operação do tio Bob, pensando que eu era o papai. De qualquer maneira, o que eu falei dos peitos da Sally é verdade Domingo, 3 de março Li mais um pouquinho do “Você já menstruou?” Sempre que eu ia tentar falar com a mamãe sobre isso, o Pete aparecia. Mas a mamãe acabou percebendo, e quando a gente foi visitar o tio Bob no hospital, ela disse para o Pete ficar em casa e botar os deveres em dia. No caminho, eu perguntei se ela achava que eu já ia ficar menstruada, porque o meu peito tinha crescido muito desde o Natal. No livro diz que a maioria das meninas começa a menstruar entre os nove e os 17 anos. Mamãe disse que algumas meninas ficam menstruadas logo depois dos seios aparecerem, e outras só anos depois. Mas os dois casos são normais. Ela me disse também que no início eu não devo ficar menstruada todo mês. Pode sair só um pouquinho de sangue, e depois parar por algum tempo. Quando a minha menstruação ficar mais regular, eu devo perder uns 70 mililitros de sangue por mês. Apesar da maioria das mulheres ficar menstruada todo mês, tem algumas que ficam de três em três semanas, ou de seis em seis. Além disso, a menstruação pode durar de um ou dois dias a uma semana. Mamãe disse que ia comprar um pacote de modess para mim, só para a gente já ficar prevenida A gente chegou no hospital e deu as flores que tinha trazido para o tio Bob. O cheiro lá era horrível, que nem um banheiro cheio de desinfetante, O tio Bob me deixou completamente sem graça. —Aposto que tem um monte de meninos correndo atrás de você. Agora você já está uma mocinha de verdade, não é? Eu é que não ia contar para ELE que ainda não tinha ficado! Segunda-feira, 4 de março Arranjei um tempinho para ler hoje de tarde. Acho tão esquisito ter 200.000 ovinhos guardados nos meus ovários! O pior é que eu só vou soltar uns 400 ovinhos na minha vida inteira. Acho um tremendo desperdício. Uma vez por mês, o meu cérebro vai mandar liberar uns hormônios que vão dizer aos ovários para soltarem um óvulo. Se este óvulo não for fecundado por um espermatozóide (pelo amor de Deus, ainda vai demorar muito para acontecer isso comigo!), então ele sai pela minha vagina, junto com algumas células e o sangue da parede do útero. É que nem dar a descarga. A Kate diz que preferia ter um botão que a gente pudesse apertar e saísse tudo logo de uma vez, ao invés de ficar pingando um pouquinho a cada dia e fazendo a maior sujeira. Ela acha que o Sistema Nacional de Saúde devia distribuir tampões e modess de graça. Eu também acho super bem bolado o cérebro mandar mensagens hormonais diferentes quando você está grávida, para não ficar menstruada. Assim, a parede do útero fica esponjosa e pode segurar o óvulo fertilizado até ele crescer e virar um bebê. Terça-feira, 5 de março Tive muita dor de barriga hoje. Toda hora eu ia correndo para o banheiro, para ver se já tinha ficado. Além disso, eu estava sentindo uma umidade lá embaixo. Mas não era nada. Era só um negócio que o livro chama de ‘corrimento vaginal normal”. Às vezes isso acontece antes de você ficar menstruada. Então é capaz de eu ficar daqui a pouco. Tomara! O meu medo agora é saber ONDE isso vai acontecer. Só espero que não seja quando eu estiver nadando. Estou de saco cheio de usar roupa velha. O meu corpo fica completamente sem forma. Quarta-feira, 6 de março Acabou que a dor de barriga era só diarréia. Devo ter pego da Jane. Ela teve que faltar à escola por causa disso. O Pete me tratou com a delicadeza de sempre: — Argh! Não chega perto de mim com os seus germes nojentos. Você lavou a mão depois de ir no banheiro? Sabe, é por isso que essas coisas se espalham. — Como se eu não soubesse. A mamãe, em compensação, foi super legal. Disse para eu não comer nada, e tomar bastante água e Coca-cola, até o meu intestino ficar bom e conseguir segurar a comida de novo. Agora estou morrendo de fome. Perdi o drama que fizeram na escola com o negócio das drogas. Quinta-feira, 7 de março Mamãe está super nervosa. Vai ver é TPM, que nem explicam no livro. O Pete estava achando que TPM queria dizer Terror Pré -Menstrual. Ele não deixa de ter razão. Mas ele é tão metido a Sabe-Tudo que eu nem me dei ao trabalho de dizer para ele que estava errado. Tenho certeza que é Terror Pré-Menstrual. A Susie é que deve estar errada. Vou olhar no dicionário. De qualquer maneira, aposto que a mamãe estava só com diarréia. Sexta-feira, 8 de março Não era TPM (acho que vou contar ao Pete que TPM quer dizer Tensão Pré-Menstrual). Era só diarréia. Ouvi a mamãe indo no banheiro a noite inteira. Tomara que ela esteja melhor amanhã para a gente ir fazer compras. Sábado, 9 de março Só deu para comprar um maiô vermelho e azul lindo. Mamãe está com pouco dinheiro esta semana. Detesto vestiário público. Parecia que todo mundo estava olhando para mim. Experimentei o maiô sem tirar a camisa. A mamãe ficou falando para eu parar de ser boba, que nós mulheres somos todas iguais. Mas de jeito nenhum! Por exemplo, os peitos da Liz são pequenos e de bicos grandes. O biquíni novo que ela comprou realça a pinta de egípcia que ela tem. Os meninos chamam a Liz de “pirâmide”, e dizem que se ela fosse dormir num colchão d’água, ia ter que se deitar de costas para não furar a cama. Ela é muito alta e diz que preferia que a glândula pituitária dela fizesse uma forcinha para crescer um pouco para os lados, ao invés de só para cima. Segundo a Kate, ela não saía do portão da escola na época em que os policiais do esquadrão antidrogas estavam lá. Então os hormônios dela devem estar funcionando direito. Domingo, 10 de março O tio Bob já saiu do hospital, e meus pais foram fazer uma visita. Eu é que não agüentava mais os comentários sem graça dele. Entrei no quarto da Sally para experimentar um sutiã dela, mas ela estava lá. Ficou me provocando porque eu não tinha ficado menstruada ainda. Disse que antes de ficar menstruada pela primeira vez, ela tinha inveja de todas as amigas que já tinham ficado. A melhor amiga dela um dia puxou a Sally para um canto e contou como tinha sido. Até parece que era um grande segredo, ou uma coisa super excitante. Uma outra amiga dela tinha uma cólica menstrual fortíssima. Quando a Sally implicava com ela, essa amiga olhava para ela com pena, e dizia: — Olha, quando você for uma mulher, você vai entender a dor que eu estou sentindo. Me pegaram! Depois da escola, a Susie desapareceu. No jantar, ela olhou para a gente de um jeito esquisito e anunciou que tinha comprado um diário com cadeado. Mamãe se ofereceu para tomar conta da chave de reserva e ficou toda vermelha de repente Sábado, 30 de março Passei a esconder o MEU diário debaixo do colchão. Terça-feira, 9 de abril Passei a Páscoa no País de Gales com a família do Sam. Esqueci de levar o diário, porque ele estava debaixo do colchão. Segunda-feira, IS de abril De volta às aulas. Parece que o mundo inteiro ficou obcecado por sexo de repente. Só que na escola chamam isso de “Mudanças Vitais”, “Orientação Pessoal” ou “Reprodução Humana”. Tive uma aula sobre os fatos físicos da vida do tipo “não quero nenhuma brincadeira enquanto desenho isso no quadro”. A puberdade começa entre os dez e os 13 anos nos meninos, e termina no máximo aos 18. Então eu ainda tenho tempo para crescer mais um pouquinho. Ainda sou mais baixo do que a maioria dos meus amigos. Até as meninas são mais altas do que eu. Mas parece que elas começam a mudar uns dois anos antes da gente. Nos meninos, a primeira coisa que acontece é que os testículos começam a crescer, e em três anos ficam com um tamanho sete vezes maior. Aí começam a nascer os pêlos pubianos, além de aparecerem pêlos debaixo do braço e, em alguns casos, no peito. Tomara que eu não fique de peito cabeluda. Se isso acontecer, não vai dar para fazer nada (será que alguém raspa o peito?). Depois é a nossa altura que dispara. já está na hora de acontecer isso comigo. A gente ganha um quarto da nossa altura final nesse período. Finalmente, o pênís aumenta de tamanho. Todas essas coisas acontecem em épocas diferentes, dependendo do menino. Elas têm uma duração variável e não acontecem sempre na mesma ordem. Por um lado, todo mundo fica igual depois da puberdade. Por outro, todo mundo fica diferente, porque o nosso corpo, a nossa altura e a nossa aparência não são iguais. Também tem um monte de mudanças diferentes acontecendo ao mesmo tempo. A gente vai ficando com os músculos maiores e mais pesados, os ombros mais largos e a voz mais grossa. Isso acontece porque as cordas vocais também ficam maiores. Do mesmo jeito que as mudanças da Susie, essas coisas que acontecem com os meninos são controladas por substâncias químicas, chamadas hormônios, que são produzidas no cérebro. Quando você bota um desenho no quadro-negro descrevendo uma ereção e os órgãos reprodutores masculinos, a coisa toda parece irreal, que nem uma bomba pneumática. Existem uns músculos que impedem a saída do sangue do pênis, mas deixam que ele continue entrando. O pênis vai se enchendo de sangue e fica mais grosso e mais comprido — que nem um balão cheio de ar. Também ensinaram para a gente que o espermatozóide tem uma vida curta e frágil. Não é de se espantar que os testículos tenham que crescer sete vezes de tamanho. Quando a gente transa ou se masturba, saem cerca de 100.000.000 de espermatozóides em cada 3 mililitros de fluido, apesar de só um fertilizar o óvulo. Acho isso um desperdício enorme. É engraçado, mas acho difícil acreditar que tudo isso está acontecendo no meu próprio corpo. O Prof. Rogers, que sempre será lembrado pelas suas aulas de “Orientação Pessoal”, disse que isso era apenas o lado físico da coisa. Ele prometeu que na semana que vem a gente vai ter uma conversa sobre os “sentimentos”, sobre o sexo e o amor. Quinta-feira, 18 de abri! Se o lanche da escola for aquele hambúrguer com batata frita gordurento outra vez, eu vou ficar maluco (ou então vou pedir para a minha mãe fazer um sanduíche para eu levar). A obsessão sexual continua. Fiz o maior sucesso quando mostrei o livro do papai no colégio. Todo mundo fingiu que não estava interessado, mas foi olhar a parte que falava do “Tamanho Normal do Pênis”. Era isso o que estava escrito lá. A maioria dos meninos e dos homens acha que o seu pênis é pequeno demais, e às vezes é difícil convencê-los do contrário. Um médico americano, então, decidiu utilizar uma régua para medir o comprimento do pênis não ereto de meninos e homens de várias idades. FAIXA DE TAMANHO DO PÊNIS 04 a 08 cm 05 a 10 cm 06 a 14 cm 10 a 15 cm 11 a 17 cm Descobriu-se, no entanto, que apesar de alguns homens e meninos possuírem um pênis pequeno antes da ereção, todos os pênis apresentam aproximadamente o mesmo tamanho quando eretos. O meu sai de um ponto de partida de 11,2 cm quando está mole e atinge os 15,4 cm da posição ereta em 30 segundos... É óbvio que ele não atingiu a aceleração e o tamanho máximos ainda. Como será que eu vou fazer para ganhar uma medalha olímpica? Segunda-feira, 22 de abril Senti um pouco de dor de garganta. Tentei parecer o mais doente possível e fui contar pra minha mãe. Ela me dedicou a atenção de costume, que consiste em tirar a minha temperatura, descobrir que ela está normal, me dar um analgésico e me mandar para o colégio. Vomitei na sala inteira durante a aula, então me mandaram de volta para casa. Tomara que a mamãe se sinta bastante culpada. Terça-feira, 23 de abril Agora ela se convenceu de que eu estou EXTREMAMENTE doente. Mesmo assim, não quis chamar o médico. Disse que era só uma virose, e que eu ia ficar bom rapidinho. Passei o dia inteiro na cama. Foi um saco. De noite eu já estava melhor, mas não me deixaram sair. Acho que estão nascendo umas espinhas no meu nariz. A Bovril teve filhotes embaixo da minha cama, no meio da roupa suja. A Susie ficou irada porque não viu eles nascendo. Quarta-feira, 24 de abril De volta à escola. A conversa sobre “Sentimentos” acabou sendo só um filme chamado Relações pessoais. Um exemplo típico da visão que os adultos têm sobre aquilo que eles acham que a gente está pensando. Mesmo assim algumas coisas estavam certas. Ele tentava mostrar que na nossa idade a gente tem a tendência de — perder o interesse pelas coisas que os nossos pais organizam para a gente, e não aceitar conselhos e críticas (que nem a Susie). — ficar preocupado com a nossa aparência, apesar da gente se sentir insegura em relação a ela. A gente fica o tempo todo querendo saber se os outros acham a gente bonito (isso se aplica a mim). —Argh, o que é que você fez com a sua cara? Pensei que fosse óbvio. Ela usa tanta maquiagem, que eu ia precisar de uma pá para descobrir o que está acontecendo na pele dela. Então chamei a Cilla de “cara de panqueca”. Isso não melhorou muito o nosso relacionamento. Como se algum dia a gente tivesse tido algum tipo de relacionamento. Quinta-feira, 2 de maio Elas estão se espalhando. O Slogs fez a gentileza de chamar a minha atenção para este fato depois da aula de Educação Física. Ele disse que as minhas costas estavam parecendo uma pizza. Fui olhar no espelho. Ele tinha razão. Onde será que elas vão parar? Sexta-feira, 3 de maio Mãe é mãe. Já estava achando que ela não tinha notado. Mas não. Ela deixou uma pomada no meu quarto depois do lanche, junto com um artigo retirado de um jornal velho, O titulo do artigo era “Um problema espinhoso”. Acho que as coisas que ele dizia faziam sentido “A acne é muito comum nos adolescentes por causa do aumento da produção de hormônios que acontece na puberdade. Ela costuma ser mais forte nos meninos (que sorte a minha) e afeta principalmente o rosto e os ombros, pois essas regiões são as que apresentam a maior quantidade de folículos pilosos. Há muitas idéias equivocadas a respeito do que causa a acne. Comer açúcar e frituras, por exemplo, não causa acne, nem se masturbar (Que alívio. Estava começando a achar que era por isso que eu e a maioria dos meus amigos estávamos cheios de espinha). As pessoas também não têm acne porque não se lavam direito, apesar do contato com o óleo (se você trabalha com máquinas, por exemplo) poder piorar as erupções. Lavar o rosto duas vezes por dia com água e sabão pode ajudar na maioria dos casos, principalmente se você utilizar um sabão medicinal contendo antisséptico. Esse tipo de sabão, no entanto, só é útil nos casos mais leves, e é preciso usá-lo durante várias semanas. Alguns tipos de xampu, base de maquiagem, creme umidificador e condicionador de cabelo podem piorar a acne — principalmente se forem pesados ou muito oleosos (vou passar algumas dessas informações para a Cilla. Por outro lado, a maquiagem para o olho, o batom, o pó-de- arroz, o blush e a água-de-colônia não causam maiores problemas. Uma coisa que você pode fazer para melhorar a acne é tomar bastante sol. O sol faz bem para as espinhas. Ele reduz o número de bactérias na epiderme, solta as cabeças pretas, reduz a produção de sebo e faz com que a pele descasque (Argh!), eliminando a camada afetada...” Ainda não entendi direito por que estou cheio de espinhas, nem o que é “sebo”, mas deve ser uma coisa muito ruim. Sábado, 4 de maio A tia Pam vem aqui amanhã! Horror. Talvez ela resolva não me dar um beijo por causa das espinhas. Essa é a única vantagem que me ocorreu até agora. Passei a pomada pela segunda vez hoje. Estou espantando de não ter melhorado nada ainda. A minha mãe e meu pai saíram durante uma hora, e me deixaram “tomando conta” da Susie. Ela não gosta muito dessa expressão. Eu disse para ela que estava muito certo, já que ela ainda passa a maior parte do tempo fazendo vestidos para a Barbie. Daqui a pouco ela vai estar igual a uma bonecas dessas. Tentei convencer meus pais a me pagar. Eles se recusaram. Disseram que não me obrigavam a pagar pela minha comida. Então eu sugeri que podia ir comer no MacDonald´s. Domingo, 5 de maio A tia Pam veio e me deu o beijo de Drácula, apesar de eu estar coberto de espinhas. Tomara que elas SEJAM contagiosas. Onde será que eu posso descobrir mais coisas sobre a acne? Posso tentar no dicionário da biblioteca de novo. Será que existe alguma cura milagrosa? Segunda-feira, 6 de maio O dicionário não ajudou muito. Só dizia que era uma “erupção da pele com espinhas vermelhas”. Parece até que a minha cara é um vulcão. Estou desesperado com a pomada que eu estou usando. Estou achando uma baita perda de tempo, mas o artigo dizia que era melhor experimentar pomadas e loções diferentes, até encontrar alguma que funcionasse com o meu tipo de pele. Mamãe comprou uma loção nova para mim. Ela disse que era mais barata, mas o farmacêutico garantiu que não tinha nenhuma relação entre o preço e a eficiência do remédio. Fui correndo para o banheiro experimentar a loção. A festa da escola é daqui a duas semanas, e eu estou ficando desesperado. Já morro de vergonha de chamar uma menina para dançar. Cheio de espinha, então.. Ardeu um pouquinho quando botei, então fui ler a bula para ver se estava fazendo tudo certo. Ela vinha junto com um panfleto que explicava a maioria das coisas que eu queria saber. Parece que 70% da população adolescente tem acne em algum momento de sua vida. Não é nenhuma doença. Faz parte do processo de crescimento. Geralmente ela some entre os 16 e 25 anos. Você pode ter acne em qualquer lugar onde haja pêlos (EM QUALQUER LUGAR? Tomara que não), pois ela começa nos folículos pilosos. Mas as áreas mais afetadas são o rosto, as costas, os ombros e o peito (que alívio). A acne não é contagiosa. Isso acaba com os meus planos de vingança contra a tia Pam. Em compensação, posso continuar a ter as minhas fantasias de beijar uma menina. O ‘sebo” é uma substância secretada pelas glândulas sebáceas, que ficam perto dos folículos pilosos. Parece que uma quantidade normal de sebo ajuda a lubrificar a pele e protege contra a umidade, as bactérias e outras coisas. O problema é que uma quantidade muito grande dá à pele esse aspecto gorduroso que eu acho nojento. Algumas meninas pioram da acne quando ficam menstruadas (pelo menos eu não tenho este problema). Quando a gente está com acne, é melhor usar um barbeador elétrico, do que fazer a barba com gilete (será que o papai vai me deixar usar o dele quando eu precisar?). Usar um sabão antisséptico também ajuda (tenho que pedir para a mamãe comprar um para mim). É melhor não espremer as espinhas, senão elas podem infeccionar e acabar se multiplicando. Mas se você não consegue parar de mexer nelas (e quem consegue?), não esqueça de lavar as mãos e de só espremer as que estão com a cabecinha preta. O panfleto até explicava por que as cabecinhas pretas são pretas. Não tem nada a ver com sujeira: é por causa do pigmento da pele. No final dizia: “Os tipos mais brandos de acne costumam desaparecer sem nenhum tipo de tratamento, ou somem depois de se aplicar uma pomada ou loção. Se isso não acontecer, é melhor consultar o seu médico. Ele pode receitar outros tipos de tratamento.” Enquanto lia isso, eu ia olhando para o espelho, para ver se as espinhas já estavam sumindo, Foi ai que eu reparei que o panfleto dizia que às vezes a loção leva vários dias para fazer efeito. Fui dormir. e o resto da casa estão afundando num mar de lenços de papel usados. Mas o pior é quando ela funga. A SaIly aposta que não é um resfriado. Ela diz que é febre do feno, que nem ela tem às vezes. Seja lá o que for, tomara que eu não pegue. Sábado, l° de junho Um dia de sol lindo, O Sam conseguiu me convencer a entrar numa quadra de tênis. Ele disse que ia fazer bem para a minha saúde. Mesmo assim, eu fui meio relutante. A Susie anda se arrastando pela casa de olhos vermelhos, como se tivesse chorado a noite inteira. Diz que está com uma dor de cabeça horrível. Perdi para o Sam, é claro. Tomei o meu banho semanal (sob a ameaça da mamãe de cortar a minha mesada) escutando rádio. Estava passando um programa em que as pessoas ligavam para perguntar sobre alergia. A Sally tem razão: é isso mesmo o que a Susie tem. Está havendo uma verdadeira epidemia disso agora. A quantidade de pólen no ar está muito grande por causa do tempo. O pólen é formado pelas sementes que as árvores e a grama soltam durante a primavera e o verão, principalmente num dia de sol quente depois da chuva. O catarro, os espirros e a coceira nos olhos são a maneira que o corpo encontra para se livrar do pólen. Comecei a ficar curioso. Por que será que não estava acontecendo a mesma coisa comigo? Pulei para fora da banheira e me enrolei numa toalha para garantir um mínimo de decência (EU é que não ia deixar ninguém me ver pelado, apesar do resto da família ficar desfilando por aí como veio ao mundo). Fui até o telefone do andar de baixo, deixando uma trilha de pegadas molhadas atrás de mim. Estava com o coração na boca de tão nervoso. Mas eu precisava descobrir de qualquer jeito. De repente eu estava no ar. Fiquei torcendo para pelo menos um amigo meu estar ouvindo a minha estréia no rádio, para ele divulgar o fato na escola segunda-feira. — A febre do feno é contagiosa? — perguntei. — Por que eu não tenho isso? A Madame Doutora Eficiente do outro lado da linha começou a falar no mais caprichado tom de voz de médico tolerante: — Que pergunta interessante. Você poderia nos dizer o seu nome e a sua idade? — Meu nome é Sam e eu tenho 18 anos — menti. Tinha perdido a coragem. Ouvi a gargalhada explosiva da Susie, que tinha aparecido de repente no intervalo entre dois espirros. — Bom, Sam, a febre do feno é uma espécie de alergia. Ou seja, ela aparece quando o seu corpo fica muito sensível a determinadas substâncias. Essas substâncias, como por exemplo o pólen, são chamadas alérgenos. Quando elas entram no seu corpo, algumas células brancas que se encontram no sangue produzem substâncias químicas complexas, chamadas anticorpos, para se livrar delas. Quando os alérgenos e os anticorpos se encontram, provocam uma reação química que libera uma substância chamada histamina. E isso que faz com que as pessoas que sofrem de febre do feno fiquem espirrando sem parar e com os olhos lacrimejando. Ninguém sabe por que algumas pessoas possuem uma sensibilidade especial para substâncias como o pólen. Geralmente, é bom ter esses anticorpos. São eles que ajudam a combater as bactérias que causam muitas doenças. — É exatamente isso o que a minha professora de ciências vive dizendo. — Cerca de uma em cada dez pessoas sofrem de febre do feno. Apesar de ser muito comum nos membros da mesma família, ela não é contagiosa. Algumas pessoas simplesmente nascem com uma tendência para ter alergia. — Eu não podia perder esta oportunidade. Perguntei a ela o que a gente podia fazer para o nariz da minha irmã parar de escorrer. Será que ela podia botar duas rolhas no nariz? A Susie me deu um chute na canela, enquanto a voz do outro lado da linha dizia: — Bom, Sam, essa é uma outra boa pergunta (D. Smellie tinha muito o que aprender com ela). Há várias coisas que se pode fazer. Ela pode tomar um remédio, por exemplo. Alguns desses medicamentos são chamados de “anti-histamínicos”. Eles interrompem a liberação de histamina. O problema é que eles podem dar muito sono, então nem sempre é bom tomá-los, principalmente se você está em época de provas. É uma pena as provas caírem na mesma época do ano que a febre do feno. Se sua irmã está em período de provas, é melhor ela consultar o médico da família e seguir o tratamento que ele prescrever. Se a alergia dela for muito forte, o médico pode até passar um atestado para ela apresentar à professora. — Ela também disse que não se pode usar isso como desculpa para tirar notas baixas, a não ser que a febre do feno seja muito forte. Aí eu resolvi que estava a fim de ouvir a MINHA voz outra vez. — Mas e o nariz da minha irmã? Esse é que é o problema. — Bom — ela disse —, existem alguns remédios especiais que o médico da sua irmã pode receitar para ela botar no nariz. Eu ia fazer uma pergunta sobre os outros hábitos nojentos da Susie, mas o apresentador do rádio me interrompeu: — Bom, muito obrigado pela sua participação, Sam. A nossa próxima pergunta será feita pela Sra. Snodgrass... — Com um nome desses, ela merecia mesmo ter febre do feno. A pergunta dela era sobre outros tipos de tratamento, diferentes daquele oferecido pelos médicos. Parece que já tentaram de tudo contra a febre do feno. Você pode escolher entre a hipnose, a acupuntura e a homeopatia, entre outras coisas. No final do programa, disseram que a gente podia escrever pedindo uns folhetos sobre a febre do feno. Eu disse à Susie que ia pedir um para ela. Ela não quis acre ditar. Não é sempre que eu tenho tanta dedicação pela minha irmã. Domingo, 2 de junho A gente foi fazer um piquenique no parque, junto com outras cinco milhões de pessoas que não têm nada melhor para fazer com o seu domingo. Vi uns adultos bancando os crianções, brincando com barquinhos de controle remoto. Réplicas tão perfeitas, que tem gente que diz que são melhores do que os barcos de verdade. Exibidos! Podia ter sido um piquenique perfeito, mas a Susie estragou tudo com o mal-estar dela. No caminho de volta, a gente chegou à conclusão de que só podia ser febre do feno mesmo. Mamãe resolveu levar a Susie ao médico segunda-feira de manhã. Consegui ficar vendo televisão até tarde sem ninguém reparar. Todo mundo estava ocupado demais paparicando a Susie. Segunda-feira, 3 de junho A Sally não está tendo aula essa semana. Ela ficou encarregada de tomar conta da gente enquanto meus pais vão trabalhar. Não é justo. Quando a Sally fica “tomando conta” da gente, ela recebe uma grana. Ao invés de exibir a personalidade autoritária de sempre, dessa vez ela foi bem legal. Ela também tinha uma alergia muito forte e mostrou à Susie como se usa o remédio do nariz que o médico receitou. É um negócio que você pinga no nariz, e faz com que o pólen pare de incomodar. Só que não faz efeito na mesma hora. A Sally também tem que usar remédio para o nariz e tomar uns comprimidos todo verão. Ela não gosta de usar o remédio do nariz, porque é frio e dá coceira, mas se ela toma os remédios regularmente, a febre do feno vai embora. A alergia dela piorou de novo no ano passado, porque ela ficava passeando pelo campo na garupa da moto do Mike. Ela fingiu que não escutou quando eu perguntei o que eles tanto faziam no campo. Simplesmente continuou explicando que quando esses remédios não fazem efeito, existem outras coisas que você pode experimentar. Para não ficar fora da conversa e para mostrar que também Quarta-feira, 12 de junho Estou me sentindo um injustiçado essa semana. Os meus colegas estão fazendo um passeio na Cornualha com a escola. Só tinha vinte lugares. Fiquei de fora. Além de ter que ESTUDAR enquanto eles se divertem, a gente ficou com os professores mais fracos. Os melhores também estão lá, curtindo a viagem. Não está passando nenhum programa bom na televisão. Todos os filmes são para maiores de 1 6 anos, e nem valem a pena. Eu não estava com muita vontade de voltar para casa depois da escola. A Susie estava na casa da Kate outra vez, e a mamãe e o papai iam ficar até tarde no piquenique anual da firma do papai. Tomara que depois disso os dois se entendam melhor. Eles têm tido “debates” ultimamente. Eu estava me arrastando lentamente para casa, sem nada para fazer, quando vi algo que parecia sinais de fumaça saindo do ginásio. Como não conseguia ler os sinais, fui investigar (eu estava entrando no meu papel de detetive particular). Descobri que eram só alguns colegas meus tentando se suicidar com um cigarro. Antes de eu conseguir abrir a boca, eles gritaram: — Lá vem o “Pete Sabe-Tudo”! — e supostamente começaram a me imitar: — Eu é que sei o que é bom para vocês... — Vocês estão se matando.. Eles me encurralaram num canto e começaram a soltar fumaça minha cara, cantarolando: — O cigarro não faz mal só para a sua saúde. Também faz mal para as pessoas à sua volta. — O cigarro mata cerca de 100.000 pessoas por ano. — Cada cigarro rouba cinco minutos da sua vida. — A cada 1 5 minutos, alguém morre de câncer do pulmão na Inglaterra. — O cigarro causa câncer do pulmão, bronquite e doenças do coração. — Ele faz mal ao bebê dentro do útero. — É que nem beijar um cinzeiro. — Um quarto dos fumantes morre por causa desse vicio. Não sei por que eles ainda fumam, sabendo disso tudo. Mas não se importam nem um pouco de passar horas explicando por quê. A Ann disse que começou a fumar quando tinha 13 anos. A irmã mais velha dela estava namorando um cara que fumava muito. Teve uma noite em que o namorado da irmã foi na casa dela quando os pais tinham saído, e eles foram fumar no quintal (a mãe dela não permitia cheiro de cigarro dentro de casa). Ela ficou assistindo à televisão. Quando o programa acabou, ela foi atrás dos dois. A irmã perguntou de brincadeira: — Quer um cigarro? Ela não queria que o namorado da irmã achasse que ela era careta, então aceitou. Ela achava esquisito fumar. Ficava tonta por causa da fumaça e com a garganta ardendo. Mesmo assim fumou o cigarro até o fim, só para tirar chinfra da irmã e o namorado. Agora ela compra cigarro na venda da esquina, ou então fila dos amigos. O Dave disse que comprava cigarro em vários lugares diferentes. Apesar de só ter 14 anos, nunca teve nenhum problema para comprar. Ele gostava de fumar e achava que o cigarro dava uma pinta de durão: — Se você quer fumar, é problema seu, ninguém tem nada com isso. — Ele começou a fumar quando comprou uns cigarros junto com o primo e foi experimentar perto do rio. Não gostou muito, e no início só fumava nas festas e quando saía para dançar. Depois, começou a ter umas brigas feias com a mãe. Ele sempre saía dessas discussões muito nervoso, mas depois de algum tempo descobriu que fumar um cigarro “melhorava um pouco”. Ele achava horrível uma menina fumar. Para ele, isso era muito vulgar. Uma vez ele quase foi pego fumando na escola. Ele enfiou correndo o cigarro no bolso, e acabou se queimando. Que idiota. Foi aí que a Ann interrompeu. Ela disse que não via diferença nenhuma entre um menino e uma menina fumando. Ela também achava que o cigarro dava a ela uma pinta de durona, além de ser sexy. Ela achava que não valia a pena parar, porque seu pai e sua mãe também fumavam. Já estava mesmo prejudicando a saúde respirando a fumaça que eles soltavam... Ela não se importa muito com o que pode acontecer daqui a vinte anos. Segundo ela, até lá todo mundo já deve ter morrido por causa da bomba. Um garoto, com quem eu nunca tinha falado antes, disse que fumava todo dia na escola e nunca tinha sido pego. Ele e os amigos escondiam os cigarros acesos dentro das carteiras. Quando queriam dar um tragada, era só levantar o tampo. Ele achava que os professores não estavam nem aí, já que a maioria fuma. Dá para sentir o bafo de cigarro do Prof. Rogers a um quilômetro de distância. O garoto disse que queria parar de fumar. O cigarro estava arruinando as suas finanças. O problema é que ele tinha a maior dificuldade para parar, ainda mais porque todos os amigos dele também fumam. No final, eles teimaram comigo para eu experimentar um cigarro, só para ver o que eu estava perdendo. Eles deram a entender que tinha alguma coisa errada comigo — será que eu era “delicado” demais para experimentar? Para mim, eu estaria provando que era mais durão se não experimentasse, mas achei mais seguro ficar na minha. Dei uma tragada. Até que não me senti muito mal, apesar de ficar com vontade de tossir. Tentando cumprir à risca o meu papel de detetive, dei mais duas ou três tragadas, bem fundas — e a parte de cima da minha cabeça começou a cair. Comecei a tossir. Fiquei com a mão formigando. Meus olhos ficaram cheios de água, e eu quase desmaiei. Quando parecia que eu ia vomitar, os meus colegas, que a essa altura já estavam morrendo de rir, saíram de fininho. No caminho de casa, tinha um verso que não saia da minha cabeça: “Quem fuma tem cabeça lerda, cigarro dá cheiro de merda.” Parei na primeira loja que eu achei e comprei cinco pacotes de drops e chiclete para disfarçar o cheiro. Eu só conseguia ver maços e mais maços de cigarro na minha frente, misturados com um monte de anúncios. Quando saí da loja, dei de cara com uma foto enorme de um carro de fórmula-1, olhando para mim do outro lado da rua. Era um anúncio de John Player Specials. Deviam fuzilar o cara que fez isso. Na parte de baixo do anúncio estava escrito, em letras BEM pequeninas: O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: FUMAR É PREJUDICIAL À SAÚDE. Que babaquice. Se o cigarro faz mal, então por que deixam colocar o anúncio? Cheguei em casa, escovei os dentes, chupei outro pacote de drops, e prendi a respiração quando a minha mãe veio me dar um beijo de boa-noite. Quinta-feira. 13 de junho Tirei a melhor nota da sala no teste de matemática. Comi um chocolate recheado com caramelo para comemorar. Estou com uma dor na barriga que está me deixando preocupado. Estava achando que era apendicite, mas segundo o dicionário de medicina, se fosse isso eu deveria estar com febre e vomitando. Então, deve ser outra coisa. Sábado, 15 de junho Passei a manhã inteira lendo um monte de revistas velhas de ciclismo que o Sam me emprestou. Ele ainda sonha em vencer o Tour de France correndo numa Peugeot. A dor na barriga passou. E engraçado. O meu corpo fabrica uma dor, e depois ela some sem eu milhão de libras, sem contar que cerca de uma em cada três crianças já fuma no quinto ano da escola. Perguntei ao papai por que ele fumava, e ele respondeu que é por que é viciado em nicotina e o cigarro ajuda a relaxar. Ele descobriu que não conseguia se concentrar direito sem fumar. Além disso, disse que gosta da sensação de pôr um cigarro na boca e do ritual de riscar um fósforo e acender. Coisas que, segundo o professor de Programa de Saúde, os fumantes usam como desculpas para o vício. Mas o papai teimou que a culpa não era só dele. Afinal, as agências de propaganda gastam 100.000.000 de libras por ano para convencer a gente a fumar, enquanto o governo gasta apenas 2.000.000 de libras para nos convencer do contrário, ao mesmo tempo que recolhe os polpudos impostos sobre a venda de cigarros. Quinta-feira, 20 de junho A fixação do papai é contagiosa. Percebi que eu já não agüentava mais: contei à Susie que tinha experimentado um cigarro e estava com medo de ficar viciado pelo resto da vida. A Susie disse que eu era maluco. Ela já tinha experimentado há dois anos e tinha detestado tanto, mas tanto, que nunca mais ia pôr outro cigarro na boca. Admiti que ia ser uma pena perder as 100 libras que o meu pai tinha prometido. A gente foi atrás dele para aceitar a oferta. Sexta-feira, 2! de junho A Sally é que não vai mais ganhar as 100 libras dela. Ela botou uma calça para lavar com um maço de cigarros no bolso. A roupa ficou toda manchada de nicotina, e a máquina de lavar entupiu. A mamãe já estava irada com ela, porque ao invés de estudar para as provas, ela passa o dia inteiro ensaiando para a peça da escola e fazendo farra no bar. Terça-feira, 16 de julho Só faltam três dias para as férias. Mal posso esperar. Abriu um MacDonald’s novo no shopping. Passei por lá hoje para comer umas batatas fritas quando estava voltando do colégio. Dei de cara com a Cilla bem na hora em que ia entrar. Fiquei super sem graça. Metade da escola estava lá e ficou parecendo que a gente estava junto. Há séculos que eu estou a fim da Cilla, mas acho que ela não percebeu. A gente se dá super bem, mas ainda não sei se algum dia vou ter coragem de pedir a ela para sair comigo. É capaz dela dizer não. Então acho melhor continuar a fim dela à distância. Deve ser mais fácil convidar uma menina para sair depois de conversar bastante com ela numa festa, ou qualquer coisa assim. Tomara que isso aconteça comigo algum dia. Por enquanto, eu ainda não levo o menor jeito para a coisa. Quarta-feira, 17 de julho Faltam dois dias para as férias. É o último período da Sally na escola, e todo mundo foi ver a atuação dela como Julieta no teatro do colégio. Eu não fui. Já tive que aturar Romeu e Julieta inteira uma vez. Já vi muita briga de família. Chega uma hora em que elas ficam meio cansativas. Vai ver, eu podia descobrir alguma coisa legal na peça para dizer para a Cilla. Só de pensar em dizer alguma coisa bonita para ela já fico morrendo de vergonha. Então preferi ficar em casa, e acabei me arrependendo. Quando percebi, estava no quarto da Susie. Ela tinha se esquecido de trancar o diário. Não consegui resistir à tentação de dar uma olhada. Tenho a maior dificuldade para ler a letra dela. Deviam dar um jeito nisso na escola. Quarta-feira, 3 de julho A mamãe está zangada porque há três dias eu não pego na minha flauta. Ela disse que não adianta eu ter aulas, se eu não treino. E os adultos por acaso treinam alguma coisa? Isso não é justo. Quinta-feira, 4 de julho Hoje fiquei menstruada pela segunda vez. Acho legal já ter ficado menstruada, mas é uma chateação. O pior é ter que ficar escondendo do Pete. Aposto que ele ia implicar comigo se descobrisse. Hoje foi o meu jantar favorito: macarrão com queijo e sorvete de sobremesa. Acho que vou virar vegetariana para parar de comer os coitadinhos dos bichinhos. Vou parar de comer os porquinhos, mas acho que não vou conseguir resistir à galinha assada, ainda mais se for a da mamãe. Contei para o Pete que ia virar vegetariana. Ele me perguntou como é que eu podia saber se os vegetais não sentem tanta dor quanto os animais. Fiquei sem resposta, mas também não posso parar de comer, senão eu fico com anorexia, que nem a Jane lá da escola Fui correr na rua com a Kate. Fiquei toda molhada outra vez. A gente estava treinando para a corrida dos 400 metros. Parece que Deus esqueceu de mandar um verão para a gente este ano. Eu não tenho treinado muito, então acho que vou ficar em último. Falta só uma semana. Sábado, 6 de julho Hoje só vou reclamar. O Pete está de mau-humor e fica descontando em cima de mim. Odeio ser a mais nova. O meu irmão e a minha irmã ficam implicando comigo o tempo todo. Quando eu reajo, eles ficam pior ainda. Não querem nem saber como eu me sinto, mas quando sou eu que provoco os dois, fazem o maior drama e gritam comigo. Eles são muito mandões! Pensam que podem me dizer o que eu posso ou não fazer. Eu fico super sem graça quando e/es fazem isso na frente das minhas amigas, ainda mais quando meus pais também fazem a mesma coisa. Continuo de saco cheio de usar as roupas velhas e fora de moda dos meus irmãos, ainda mais agora que eu acho que estou ficando gorda. Na última vez que consegui convencer a mamãe a comprar uma roupa nova para mim, a Sally ficou implicando comigo porque eu queria ficar na moda. Aposto que ela fazia a mesma coisa quando tinha a minha idade. Além do mais, a Sally e o Pete estão sempre tentando me convencer das vantagens que eu tenho: posso ir dormir mais tarde do que eles podiam “quando tinham a minha idade”, ganho uma mesada maior do que eles ganhavam “quando tinham a minha idade”, posso dar a última lambida na massa de bolo, etc., etc., etc. Domingo, 7 de julho Fui correr. Tentei convencer o Pete a ir comigo, mas ele não quis sair da cama. Disse que ia ficar me cronometrando. A peituda da Sally foi no lugar dele. Pelo menos eu sou mais rápida do que ela. Quando a gente voltou, o Pete estava dormindo. Que preguiçoso! Vão levar a Bovril no veterinário. Ela não vai mais poder ter filhote. A Sally arranjou um namorado novo. O nome dele é Steve. Quarta-feira, 10 de julho Querido diário Quem ela pensa que é? Anne Franke? Não adiantou nada treinar tanto! Estou sentada aqui com o pé enfiado numa atadura “elástica”. Parece mais uma jibóia enrolada num tronco de árvore. A Kate, a Charlotte e eu decidimos treinar a partida, já que era o último dia de treino antes das Olimpíadas da escola. A gente ficou fazendo isso até a nossa treinadora, a D. “Bunduda” Court, ficar de saco cheio. Quando a gente finalmente começou a correr de verdade, decidiu dar as mãos e terminar a corrida junto. Só que quando estava perto da linha de chegada, a Charlotte resolveu que era bem mais rápida do que a gente, e largou a nossa mão para O John disse que uma vez levou uma rasteira de outro jogador quando estava jogando futebol. Ele caiu de mau jeito e torceu o tornozelo. O pé dele inchou que nem um balão. Ele foi para o hospital e tiraram umas radiografias, mas disseram que estava tudo bem. Duas semanas depois, ele foi pisar no pé de um amigo, errou o alvo e acabou torcendo o tornozelo outra vez, O pé dele ficou todo inchado de novo. Uma vez o Frank foi nocauteado quando estava jogando de goleiro. Jogaram a bola para cima dele, e quando ele se atirou no chão para agarrar, um zagueiro deu um chute na cabeça dele com toda a força. Ele não tem idéia de quanto tempo ficou desmaiado, mas disseram que foi um minuto. Ele lembra de ter se levantado com a ajuda do treinador, mas não estava nem conseguindo andar direito, então teve que sair do jogo. Ele estava legal no intervalo, mas quando o jogo acabou, não conseguia se lembrar do que tinha acontecido, nem de quem tinha ganho. Quando chegou em casa, estava enjoado e com muito sono, e acabou indo parar no hospital. O futebol deve ser um jogo muito perigoso. O Timmy disse que uma vez quando ELE foi o goleiro, chutaram seu braço ao invés da bola e ainda pisaram em cima. Ele foi parar no hospital com o braço quebrado. Não dava para estudar (Já que tinha sido o braço direito), mas em compensação também não dava para jogar futebol! Uma vez a Jan quebrou a clavícula e ficou com uma mancha roxa na bunda quando estava participando de uma corrida de obstáculos. O problema é que ELA pulou o obstáculo, mas seu cavalo não. Ela foi para a enfermaria de emergência, e botaram uma bandagem esquisita no ombro machucado, mas depois o médico tirou a bandagem. Ele disse que geralmente é preciso imobilizar o osso para ele ficar bom (que nem quando o Pete quebrou o braço), mas que no caso da clavícula, ela ia ficar boa sozinha. A Beth contou que se machucou uma vez em que estava jogando basquete. Ela foi tentar mergulhar para se desviar de outra menina, mas bateu com o nariz no chão. O pior é que ainda ficou com os dedos esmagados porque a cabeça da menina foi cair bem em cima da mão dela. Ela ficou tonta e enjoada de tanta dor. A minha mamãezinha querida me salvou de ter que ouvir outras histórias. Veio me apanhar bem na hora. Queria que o meu pé ficasse logo bom. Aposto que o babaca do Dave (o da calça boca-de-sino) não contou da vez em que foi fazer uma estrela com uma mão só na ginástica e torceu o saco. O pior é que depois ele teve que engessar. Chega, eu já tinha lido o bastante. Sexta-feira, 19 de julho Último dia de aula. Ninguém fez porcaria nenhuma. Não sei por que a gente se deu ao trabalho de ir. O Sam não vai para a França com a gente nas férias. Ele vai com a família para a Itália porque o pai dele vai dar uma conferência lá. O Sam se acha o MÁXIMO, só porque sempre tira o primeiro ou o segundo lugar nas corridas, enquanto eu e o Randy Jo ficamos lá atrás. Só que nas Olimpíadas do colégio semana passada ele ficou em último lugar na corrida dos cem metros. Depois da corrida, ele caiu no chão e ficou chiando, sem conseguir respirar, até alguém passar a bombinha para ele. Ele usa muito a bombinha, principalmente antes de correr. Isso impede que ele fique chiando, ou tenha um “ataque de asma”, como ele diz. O Sam é tão metido a inteligente, que às vezes me irrita. Mostrei a ele um folheto sobre asma que veio junto com o material sobre alergia que o programa de rádio mandou. Lá dizia que a asma é uma doença do pulmão em que os músculos em volta das passagens de ar ficam tensos demais. As passagens de ar — ou “bronquíolos” como diz o folheto — ficam apertadas e dificultam a entrada e (principalmente) a saída do ar nos sacos do pulmão onde o oxigênio se mistura com o sangue. As pessoas que têm asma, além de ficar chiando, têm a impressão de que vão sufocar. Deve dar a maior aflição. Na seção “O QUE CAUSA OS ATAQUES” estava escrito: A asma não é uma doença infecciosa. Ela surge em crianças que possuem passagens de ar muito sensíveis, que podem se contrair por diversos motivos: mudanças de tempo, principalmente com queda de temperatura e ventos fortes; excessos emocionais, como excitação e riso prolongado; infecções (gripes que passam para o peito); exercício (o problema principal do Sam) e alergia. A alergia é um tipo de sensibilidade especial em que certas substâncias, que não costumam afetar as outras pessoas, atacam aqueles que têm asma. Algumas das substâncias que costumam provocar alergia são: poeira, pólen da grama, pêlos e flocos da pele de animais. O que o folheto falava da alergia era mais ou menos a mesma coisa que eu já tinha lido sobre a febre do feno, só que sem a parte dos olhos escorrendo. Ainda estou esperando para ver se eu tenho alergia a alguma coisa (além de ser alérgico ao trabalho, como diz a mamãe). O resto do folheto dizia: O TRATAMENTO DA ASMA O tratamento atual não cura a asma, mas costuma permitir que crianças que sofrem ataques muito fortes levem uma vida normal. Para isso, elas talvez tenham que tomar alguns remédios durante o horário escolar. Estes medicamentos são de dois tipos diferentes: (1) Um tratamento que a criança deve seguir quando começa a sentir falta de ar. Geralmente utiliza-se um spray que a criança inspira, lançando o medicamento diretamente no pulmão. Ele dá alivio imediato, pois relaxa os músculos do pulmão e abre as passagens de ar. (2) Um tratamento que reduz a sensibilidade do pulmão às substâncias que provocam os ataques, impedindo a contração dos bronquíolos e prevenindo a falta de ar resultante. Este tratamento também pode ser adotado na forma de um remédio inalado pela criança. Se esses remédios não forem tomados regularmente e de forma adequada, a criança pode desenvolver um caso de asma mais grave. Essa parte do folheto me lembrou aquela vez em que o Sam foi parar no gabinete do diretor porque um professor viu que ele estava usando a bombinha e pensou que ele fosse viciado em drogas. Segunda-feira, 22 de julho Vou ser obrigado a ter aquela conversa sobre sexo com meu pai, afinal. O Prof. Rogers passou um dever de casa de seis páginas sobre “Métodos Anticoncepcionais e Doenças Sexualmente Transmissíveis” (que nojo.’). A gente tem que entregar o exercício no primeiro dia de aula. Que jeito de passar as férias: fazendo uma pesquisa sobre sexo! Capítulo 12 ENJÔO, DOENÇA E MAL-ESTAR, OU AS FÉRIAS DE VERÃO Sexta-feira, 26 de julho A vovó não vai acampar com a gente, afinal. Ela não achou o programa muito interessante. Ao invés disso, vai a Bournemouth. Eu não ia dormir na mesma barraca que ela nem morto! Também escapei de dormir com a Susie: o Mat vai com a gente no lugar do Sam e vai levar uma barraca que dá para duas pessoas. Ele é que tem sorte. Seus pais são separados, então ele vai viajar duas vezes. Primeiro com a gente, enquanto a mãe está trabalhando, e depois com ela, para a Escócia. ainda está dormindo. Ele passou a noite inteira falando dos pais e de como foi quando eles se divorciaram. - Ele disse que no início era muito ruim. Eles brigavam o tempo todo. Às vezes ele achava que era por causa de alguma coisa que ele tinha feito, mas depois via que não. Ele começou a ficar com medo de que se eles não se amavam mais, então não iam ter mais amor para dar. Quando o pai dele foi embora, o Mat começou a fazer xixi na cama toda noite (agora ele parou — ainda bem!). Disse que apesar de preferir que os pais não estivessem separados, era melhor isso do que os dois morarem juntos, mas sem falar um com o outro ou tendo brigas homéricas. Pelo menos agora os pais do Mat se dão bem (tirando uma ou outra briguinha pelo telefone para combinar alguma coisa). O problema é que ele queria poder ver o pai mais vezes. Além disso, ele ficava com medo que a mãe se sentisse sozinha quando ele ia passar um tempo com o pai. Em compensação, tinha a sorte de ainda morar no mesmo lugar. Todas as coisas que conhecia desde que nasceu ainda estavam lá, iguaizinhas. Outra vantagem é que tinha dois quartos só para ele, em duas casas diferentes, isso para não falar de dois aniversários, dois natais, e um monte de presentes. Outra coisa boa é que o pai teve um filho com a mulher nova, e o Mat gostava muito do irmão. Se eu já não tivesse ouvido outras histórias de pais divorciados, eu tentaria convencer os meus de se separarem também. Mas parece que outros amigos meus não tiveram a mesma sorte. Gente, eu estou desesperado. Vou explodir se não achar um mictório em algum lugar. Sábado, 3 de agosto Passei a semana inteira deprimido demais para escrever. Chuva, chuva, chuva, chuva, chuva. Já visitei mais igrejas do que o Papa. Um saco. Não sei como isso pode ser ‘importante’ para mim. Eu nem sou religioso. Sou só um marxista agnóstico existencial, dedicado ao materialismo dialético — e ao meu próprio corpo. Com a Susie foi diferente. Na última catedral em que a gente foi, ela estava acendendo uma vela para o Santo Protetor dos Animais — ou algo assim — e, quando se virou, deu de cara com um velho com o sobretudo aberto, mostrando o pau pra ela. Depois ela contou que a primeira reação que teve foi de nojo. Não pelo que ele estava fazendo, mas pela coisa em si. Era um toquinho mínimo, todo enrugado. Ela também ficou muito surpresa e chocada (afinal, esse não é o tipo de coisa que se costuma ver numa catedral). Depois, pensou: “Fica calma. Não grita, não chora, nem sai correndo. E isso que ele quer que você faça. Fica fria e vai embora.” Então ela foi embora. O cara deve ter ficado muito irado. Domingo, 4 de agosto. Coitada da Susie. Ontem ela teve que encarar um velho mostrando o pau pra ela, e hoje são os vômitos e a diarréia. Será que é psicológico? Ela disse que já era ruim ficar com diarréia em casa, em condições ideais, mas que num acampamento onde o banheiro é todo de concreto e fede a mijo velho, era um pouco demais! Ela quer voltar pra casa. la ser bom mesmo. Ela está um saco. Papai disse que ela ficou desse jeito porque comeu ervilha demais. Já a mamãe diz que é a água. Acho que é tudo coisa da cabeça dela. Mas a mamãe contou que o médico disse que era comum as pessoas terem dor de barriga quando viajam, porque entram em contato com micróbios diferentes. Ela também disse que não costuma ser sério. A diarréia geralmente passa em dois dias, e nem precisa gastar dinheiro com remédio. De qualquer maneira, a Susie vai ter que ficar sem comer, e só pode beber líquidos ralos (tipo água e suco de fruta fraquinho) um pouquinho de cada vez, para não vomitar tudo. O dicionário disse que esse tipo de diarréia tem nomes diferentes em cada parte do mundo: o exemplo mais famoso é o da Vingança de Montezuma, no México. Acho que a da Susie é de um tipo diferente: “O Afogamento da Fedorenta da Susie nas Fezes de França.” Tomara que seja cólera. Segunda-feira, 5 de agosto Não consegui dormir. A Susie passou a noite inteira tropeçando nas amarras da nossa barraca, Será que ela conseguiu chegar no banheiro? Ela contou os detalhes hoje de manhã, enquanto a gente tomava café com croissant. Ela disse que as pernas e os braços dela estavam pesados. Era um saco, porque ela não conseguia fazer nada, nem pensar. Disse que o pior era o enjôo. Ficava o tempo todo preocupada, com medo de fazer cocô nas calças antes de conseguir chegar no banheiro, ou então antes de acabar de vomitar. Além disso, ela ficou com a bunda toda assada, e não parava de coçar. A mamãe deu a minha pomada antisséptica para ela passar e a coceira melhorou. SOL! Finalmente uma chance de descolar um bronzeado de gostosão. Vai ver as minhas espinhas também vão melhorar. Pode ser até que elas sumam de vez! A gente fez um motim quando o meu pai deu a idéia de ir numa praia de nudismo ali perto. EU é que não vou tirar a minha roupa toda! A Susie, que quase não tem NADA, se recusa até a fazer top. Ia ser bom se a minha mãe se recusasse também. Ela podia ter um pouco de consideração pelo Mat. Terça-feira, 6 de agosto Ai, que agonia. Parece que estão enfiando um milhão de agulhas embaixo da minha pele, enquanto jogam água fervendo em cima de mim. Ninguém pode me tocar. Mesmo que a Cilla aparecesse nua e viesse se esfregar em mim, eu ia gritar para ela ir embora. Não estou nem com um milímetro da minha pele marrom. Estou vermelho que nem um camarão frito. Estou deitado na barraca, vestindo creme de Calamina e mais nada. Todo mundo está na praia. Eu sou um gênio mesmo! Não obedeci à mamãe quando ela me mandou botar um filtro solar e não ficar muito tempo no sol. Eu não reparei que estava assando. Passei o dia inteiro só de calção, exibindo os músculos (pelo menos AQUEILA parte ficou protegida. Estou ainda mais feliz da gente ter se recusado a ir à praia de nudismo). Só de noite é que percebi que a minha pele estava pegando fogo. Tomei um analgésico para ver se a dor passava. A Sagacidade da Susie leu o aviso em francês que estava pregado no acampamento. Dizia assim: II. EST TRÉS DANGEREUX DE RESTER AU SOLEIL.. Ela esperou o Mat aparecer para mostrar para ele os seus dons de tradutora: “Cuidado, é muito perigoso ficar no sol por um longo período de tempo. Só exponha sua pele ao sol em intervalos curtos, e evite o período entre as 11:00 hs. e as 15:00 hs., quando o sol está mais forte. Use os bronzeadores adequados, principalmente se você tem uma pele sensível. Use um boné para proteger a sua cabeça da exposição direta ao sol.” Quarta-feira, 7 de agosto PIOROU.., agora apareceu um monte de bolhas d’água e a minha pele está descascando toda. Mamãe disse que é só a camada externa que está caindo. Quando a gente queima essa camada, as células morrem, e vão embora nesse liquido “seroso” que sai das bolhas. Se a queimadura é muito profunda, cresce uma nova camada para substituir a antiga. Agora eu passo a maior parte do tempo bebendo litros de Coca-Cola, para compensar a umidade que o meu corpo está perdendo (inclusive com o suor). Também estou comendo toneladas de baguetes com manteiga e patê, além de frutas, chocolate e uns queijos meio nojentões, para ajudar o meu pobre corpo a se reconstituir. Li no suicídio aumentou nove vezes entre os desempregados), o desemprego também provoca problemas físicos, como doenças do coração e do pulmão. Fiquei super-impressionado. Isso é uma coisa que me deixa muito preocupado. Ainda mais agora que a Sally não passou nas provas e não conseguiu um emprego. Ela não sabe o que fazer. Vive saindo no jornal que tem mais de três milhões de pessoas desempregadas. Eu acho que vou ter que mudar de país no dia que eu quiser arrumar um emprego. Entendo perfeitamente que um cara que não consegue arranjar trabalho queira se matar. Não quero ficar o resto da vida sem fazer nada. Ia ser um saco ficar preso em casa o dia inteiro. Já a grande preocupação do Sam é a BOMBA. Ele diz que se a gente tiver sorte, vira cinza instantaneamente: não vai dar tempo de sentir nada. O Randy Jo acha que ia ser bom se tivesse uma guerra. O desemprego ia acabar: todo mundo ia morrer, ou ia ter que ir lutar no exército. Ele acha que a Segunda Guerra Mundial fica o máximo nas séries de TV. Quando ouviu essa idéia idiota, o pai do Sam quase perdeu a direção e por pouco não bateu num caminhão enorme que estava transportando carros japoneses. Ele tirou o maior fino. Quarta-feira, 18 de setembro O Prof. Rogers devolveu o trabalho que a gente fez durante as férias. Tirei a melhor nota da sala. Os meus amigos queriam saber como é que eu sacava tanto de doenças sexualmente transmissíveis. Bom, eu perguntei quase tudo para o meu pai — mas não contei nada para eles. Perguntaram se eu tinha aprendido na França. Eu respondi que sim, porque foi nas horas de agonia que passei deitado na barraca, lendo o dicionário de medicina, que eu fiz o trabalho. Só que essa parte eu deixei de fora. NOME: Peter Payne DOENÇAS ASSOCIADAS AO SEXO 1.0 que significa DST? Doenças Sexualmente Transmissíveis 2. Cite quatro DSTs (a) AIDS (b) Sífilis (c) Gonorréia (d) Chato 3. Elas são transmitidas por (a) Vasos sanitários Provavelmente Não (b) Beijo Não (c) Beijo de língua Improvável (d) Coito vaginal Sim (e) Aperto de mão Não (f) Coito anal Sim (g) Masturbação Não & O que causa (a) Síndroma de Imunodeficiência Adquirida (AIDS) Um vírus muito violento. (b) Sífilis Um micróbio - chamado espiroqueta (c) Uretrite inespecífica Um tipo de bactéria (d) Sapinho Uma espécie de cogumelo Um fungo (e) Condiloma genital Vírus (f) Herpes Vírus herpes símplex (g)Chato Piolhos que vivem nos pelos pubianos - sim, mas diferentes dos que dão na cabeça 5. AlDS Como você pode saber se está com AIDS? Você fica muito doente e fraco. Aparecem caroços em todos gânglios do corpo. – Mas você pode ser portador da doença e transmitir para outras pessoas sem apresentar nenhum sintoma. Há alguma cura para essa doença ? Não O que se pode fazer para reduzir o risco de contraí-la? Não transar com um monte de gente. Não usar drogas injetáveis. Usar camisinha sempre que tiver relações sexuais. – O mais seguro é ter um único parceiro sexual. O que acontece se a doença não for tratada? A pessoa morre – mas não é todo mundo que se trata - e como você disse acima, a AIDS não tem cura. 6. Gonorréia Como você sabe se está com a doença? Sai pus do pênis. - As mulheres têm corrimento vaginal. Como ela é tratada? Com penicilina – que foi inventada por Alexander Fleming. Será que ele tinha gonorréia? 7. Sapinho Como você sabe se está contaminado? Aparecem uns cogumelos, além de outras coisas. O seu pênis ou vagina fica avermelhado e coça. Nem sempre é uma doença sexualmente transmissível. Como ele é tratado? Você vai a uma clínica. O que se pode fazer para reduzir o risco de contraí-lo? Não sei. É uma doença muito comum e não costuma ser grave. O que acontece se a doença não for tratada? Não sei. Você continua com coceira! 8. Condiloma Como você sabe se está com a afecção? Dá para ver as verrugas. Como é tratado? Você pode arrancar as verrugas. Não – existe uma loção especial que você pode pedir ao seu médico. O que se pode fazer para reduzir o risco de contraí-la? Não ter relações sexuais com alguém que tenha a doença. O que acontece se essa doença não for tratada? Nada, mas ninguém vai querer nada de você. 9. Herpes Como você sabe se está com herpes? Aparece uma ferida no pênis ou na vagina. Há alguma cura para essa doença? Não. (Piada: qual é a diferença entre o amor e o herpes? Resposta: herpes é para sempre) 10. Como funciona o método de tabela? As pessoas não transam perto do período de ovulação. 11. 0 método da tabela é seguro? É - Não, não é um método seguro. Muitas mulheres engravidam usando este método porque é difícil saber com certeza quando ocorre a ovulação. Além disso, às vezes as pessoas perdem o controle e acabam transando assim mesmo. 12. Quais são as desvantagens da tabela? Não sei. 13. O que significa DlU? Dispositivo Intra-Uterino. 14. O DIU é confiável? Sim 15. Como funciona o DIU? Ele impede que o óvulo fertilizado se implante no útero. 16. Existe alguma desvantagem em se utilizar o DIU? Sim. Ele vive caindo. - às vezes, mas o principal problema é o risco de infecção nas mulheres mais jovens. 17. Como se usa um diafragma? Colocando na vagina antes de transar. Ele cobre o colo do útero e impede que o espermatozóide atinja o óvulo. 18. O método do diafragma é confiável? Sim. 19. Quais s as vantagens do diafragma? Não sei. Nunca experimentei. - É seguro, protege contra algumas DST e não mexe com os hormônios da mulher. 20. Há alguma desvantagem em se usar o diafragma?’ Não sei. - Não se pode esquecer de colocar antes de transar. 21. O que é um espermicida? É um matador de espermatozóides. 22. Como se utiliza o espermicida? Junto com o diafragma ou a camisinha. 23. O método do espermicida é seguro? Sozinho, não. 24. Como é o processo de esterilização? As trompas de falópio da mulher ou os vasos deferentes do homem são cortados e/ou ligados. 25. A esterilização é um método anticoncepcional confiável? É, se o médico fizer direito. 26. Quais são as desvantagens da esterilização? Nenhuma. - é difícil reverter o processo se você quiser filhos depois. 27. O que é um anticoncepcional oral? Uma pílula de hormônios que a mulher toma. 28. Como funciona a pílula? Mata o óvulo. Não. A maioria impede que o ovário libere os óvulos. Algumas impedem que o óvulo fertilizado seja implantado. 29. A pílula é um método confiável? É o método mais seguro até o momento. 30. Quais são as desvantagens da pílula? Não sei. - ela mexe com os hormônios da mulher. É preciso consultar um médico antes de começar a tomar. 31. O que é um preservativo? É que nem um balão de borracha comprido. Você bota no pênis antes de transar. 32. Dê um ou o nome para o preservativo: Camisinha, camisa-de-Vênus. 33. Como funciona o preservativo? Impede que o espermatozóide entre na vagina da mulher. 34. O preservativo é seguro? Sim. 35. Quais são as vantagens do preservativo? É fácil de usar. É fácil de Ter à mão se você quer transar de repente. É barato, fácil de comprar e todo mundo já conhece. - além disso protege contra doenças sexualmente transmissíveis. Quinta-feira, 19 de setembro Estou deprimido. Chamei a Cilla para ir ao cinema. Ela disse não. Senti alguma coisa quebrar dentro de mim. Por que é que dói tanto? Capitulo 14 PEQUENO E GRANDE Terça-feira, 24 de setembro A Susie está puta comigo porque eu abri uma carta dela “por engano”. Me amarro em fazer isso: eu gosto de viver perigosamente. Era da pessoa que escreve a coluna de conselhos da Teenage Weekiy. Parece que a Susie escreveu para lá porque estava se achando gorda Não consigo entender por quê. A carta dizia: Coluna de Conselhos Teenage Weekly Wigmore Road Londres WCI Cara Susie, Obrigada pela sua carta. Você diz que é, e sempre foi, gorda demais. Que apesar de ter perdido dois quilos há pouco tempo, já recuperou um quilo e meio. Você afirma que está sempre tentando perder peso! Você também reclamou que alguns membros da sua família não levam este problema a sério: seu irmão a chama de hipopótamo e seu pai diz que você come menos do que um passarinho. Este tipo de problema é muito comum, mas felizmente as pessoas têm tamanhos e formatos diferentes. O nosso peso e a nossa altura só se tornam um problema quando não gostamos do jeito que a gente é, principalmente quando somos provocadas por pessoas idiotas que adoram fazer isso. Essas pessoas são muito agressivas e gostam de explorar os nossos pontos fracos. Elas fazem a gente se sentir indefesa e incapaz de mudar. Pode parecer injusto que algumas pessoas comam sem parar e não engordem, enquanto outras comam muito pouco e fiquem gordas. O problema é que ninguém sabe muito bem porque isso acontece, mas geralmente as pessoas engordam porque estão comendo as coisas erradas. Eu costumo dizer que se você engorda é porque está comendo mais do que precisa. De qualquer maneira, não acho que você seja gorda demais. Você tem 52 quilos. Como pode ver nas tabelas de peso e altura que mandei junto com esta carta, você está dentro do peso normal para a sua idade. MENINAS IDADE PESO (Kgs) ALTURA (crns) Resposta: A sua mãe tem razão. O que importa é ser você mesma, independente do peso. Mas ela pode ajudar você a emagrecer. Estou enviando uma dieta junto com uma tabela de peso. Mostre esse material para a sua mãe, e vocês podem bolar algumas refeições juntas. Também procure fazer mais exercícios (você pode ir para a escola de bicicleta, por exemplo). Monte uma tabela para acompanhar o seu peso e ver se está conseguindo emagrecer. “O meu problema é que eu sempre fui meio gordo, desde que nasci. O pior é que eu não como demais e ainda faço exercício. Eu sou alto, então a minha barriga não aparece muito (ainda mais se eu usar uma roupa larga). Eu acho que é mais difícil para um homem fazer dieta do que para uma mulher. Isso é verdade? Acho que o meu corpo não vai mudar nunca. Já tentei fazer dieta, mas não adiantou nada.” Resposta: O problema não é o seu sexo. Todo mundo tem dificuldade para perder peso. O mais importante é você querer de verdade. “Eu sou gorda demais, apesar de não comer muito. Acho que o problema não é bem o meu peso. É que a minha gordura vai toda para os lugares errados. A minha perna é gorda, ainda mais na coxa, mas o resto do meu corpo está legal. Para piorar, todas as minhas amigas são magras e têm um corpo bem feminino. Acho que se eu fosse menino ia ser diferente.” Resposta: Os meninos e a sociedade em geral querem que as meninas sejam magras e delicadas. E as meninas, é claro, querem ser iguais às modelos que elas vêem todo dia na TV. Deixe de se preocupar tanto com o que os outros pensam. O que realmente importa é o que você acha de si mesma. “Acho que eu sou gorda porque como doce demais, mas não consigo parar. Já tentei mudar o tipo de comida que como. Perdi um pouco de peso, mas não é o bastante. Tentei fazer exercício, mas fiquei com muita dor no corpo e acabei parando. Já tentei de tudo, mas a única coisa que eu consigo é ficar ainda mais deprimida. Eu até comprei um laxante semana passada, mas não fez efeito nenhum. Também já tentei puxar o vômito, mas não consegui botar nada pra fora.” Resposta: Parar de comer, tomar laxante ou tentar vomitar é PERIGOSO, Você pode acabar ficando com anorexia. Procure só comer doces uma vez por semana. Se você tiver vontade de comer doce em algum outro dia, experimente comer uma cenoura ou uma maçã. Se você não resistir à tentação de entrar numa loja de doces, então peça um pacote de amendoim ou passa, ao invés de comprar balas ou chocolate. “Eu sou magro demais. Eu era gordo quando pequeno, mas quando fiz dez anos comecei a emagrecer. As pessoas ficam me chamando de Cabo de vassoura. Como é que eu faço para engordar e ficar igual ao Rambo?” Resposta: Nem todo mundo acha o Rambo bonito (eu não acho, por exemplo). Algumas pessoas têm dificuldade para engordar. O seu tipo físico deve ser este mesmo, Procure olhar as coisas pelo lado bom. É mais saudável ser magro do que gordo. “O meu problema é que sou magro demais, principalmente nas pernas. Eu sempre fui assim. As pessoas me chamam de “palito de fósforo” e perguntam se podem me usar para acender o cigarro. Agora eu não me importo tanto porque comecei a jogar squash e ganhei mais corpo. Eu prefiro ser magro do que gordo. Estou certo?” Resposta: Você tem razão: é melhor ser magro do que gordo. Não dê importância às brincadeiras das pessoas. Elas só fazem isso porque não têm autoconfiança. Todos nós temos os nossos pontos fracos. No caso de algumas pessoas, elas ficam fazendo piada às custas dos outros. “Quando eu ponho uma saia apertada, as pessoas implicam comigo e me chamam de “gorducha”. Minha melhor amiga disse que eu não sou gorda, mas é assim que eu me sinto. Quando eu olho no espelho, fico super deprimida. Sempre que saio com essa amiga, todas as roupas legais cabem NELA, mas ficam apertadas em MIM. Por que é que não fazem umas roupas mais bonitas num tamanho maior?” Resposta: Procure em outras lojas. Muitas lugares vendem roupas num tamanho maior. Você tem sorte, se pensar bem: os modelos menores vendem mais depressa, e acabam num instante. “Acho que sou diferente dos outros meninos da minha idade. Tenho a impressão que sou baixinho e gorducho, e todo mundo é alto e magro. Detesto quando tenho que participar de algum jogo na Educação Física. Quando a gente sai do campo, tem que passar pelas meninas que ficam jogando tênis. Elas já são mais maduras. Já têm até peito. Eu acho que elas ficam me olhando de cima. Quando uma ri porque não acertou na bola, eu penso que elas estão rindo de mim. O pior é a corrida. A minha perna é muito curta e gorda. Eu não consigo correr nem de ladrão. Já teve gente que se ofereceu para comprar uma tartaruga mecânica para eu treinar.” Resposta: Cada pessoa é diferente (ainda bem). Mas não perca as esperanças de ficar mais alto e magro. Quando entrar na puberdade, você vai ver que ri melhor quem ri por último. Alguns meninos podem crescer até 30cm por ano e a gordura acaba se distribuindo melhor pelo corpo. RECLAMAÇÕES QUE AS PESSOAS FAZEM SOBRE O SEU PROBLEMA DE ALTURA E ALGUMAS DAS MINHAS RESPOSTAS Chere Vainer “O meu problema é que eu sou baixo demais. Isso só começou a me incomodar de verdade há dois anos, quando eu tinha 13. Gosto muito de esporte, então estava tentando entrar no time de futebol da escola. A minha posição favorita é a de zagueiro, porque gosto de enfrentar os outros jogadores. Fiquei de fora das primeiras partidas. O resto do time ficou implicando comigo porque eu era baixo demais. Diziam que a gente estava perdendo todos os jogos por minha causa, porque todo mundo conseguia me dar balão. Me tiraram do time, mas o jogador que entrou no meu lugar era tão ruim que eu acabei voltando.” Resposta: Como você mesmo já descobriu, tamanho não é documento. “Eu sou alto demais para a minha idade. Tem gente que pensa que eu já tenho 18 anos e me chamam de “varapau”.” Resposta: Nem todos os adolescentes crescem numa mesma idade. Isso vai depender de quando eles entram ou saem da puberdade. Daqui a pouco os seus amigos também vão crescer. Pode ser até que você queira ficar mais alto ainda. “A minha mãe me levou ao médico porque eu sou muito baixa. Ele disse que no meu caso não tinha jeito porque ninguém da minha família é alto. Sempre fui baixinha. As pessoas me chamam de “pulguinha” e “meio-quilo”. Dizem que fumar prejudica o crescimento, mas eu não fumo. Já tentei usar salto alto, mas fiquei ridícula e achei muito incômodo. Fico muito irritada quando vou comprar roupa: tenho sempre que cortar metade das pernas das calças.” Resposta: Pense nas vantagens. Você vai economizar quando ficar mais velha porque vai poder comprar roupas de criança, o que é bem mais barato. É melhor ser meio quilo do que um quarto de quilo. Tudo é relativo. Igual ao almoço ou Super-lanche da lista Quantidade diária de leite: 250m ou meio litro de leite desnatado Apesar do leite servido nas escolas não ser desnatado, ele pode ser incluído * Pode-se tomar um lanche no lugar do almoço OU do jantar, mas não no lugar das duas refeições. É melhor encerrar as refeições com comidas frescas, como um aipo, uma fruta, ou uma cenoura crua. Se isso não for possível e você não puder escovar os dentes depois de comer uma comida muito doce, bocheche cuidadosamente com água. PODE-SE COMER À VONTADE Legumes, verduras e frutas Aipo, agrião, alface, pepino, chicória, tomate, cebolinha, broto de feijão, repolho, couve- flor, espinafre, aspargo, couve-de-bruxelas, feijão fradinho, cebola, brócolis, alho-porró, abóbora, champignon, abobrinha, pimenta Qualquer fruta, desde que não seja cristalizada nem em calda Bebidas Chá, café com leite (dentro da quantidade permitida — sem açúcar) Caldo de legumes, caldo de carne, sopas ralas Suco de tomate sem açúcar Refrigerantes dietéticos, suco de laranja ou de limão sem açúcar, soda Diversos Sacarina, Sucaril, Dietil, Adocil, Thin e Zero-cal. Outros tipos de adoçante não são recomendáveis Sal, pimenta, mostarda, vinagre, ervas Molho de salada dietético de baixa caloria Balas dietéticas Picolés feitos em casa com suco de laranja ou limão sem açúcar OS PRODUTOS A SEGUIR ENGORDAM E DEVEM SER EVITADOS: Lembre-se: se comer essas coisas, você vai engordar Açúcar, glicose, sorbitol Doces, chocolate, sorvete Sucos, refrigerantes Geléia, xarope, mel, glacê, creme de amendoim Massas, bolos, pão comum, pudim Produtos dietéticos industrializados, como biscoitos, geléias, chocolate Comidas industrializadas, como tortas, carne moída gordurosa, creme de chantily Tira-gosto, como batata frita Qualquer tipo de fritura, gordura da carne, banha, creme, óleo de cozinha VOCÊ PODE TROCAR UMA FATIA DE PÃO POR: Duas torradinhas Três biscoitos de água e sal ou cream-cracker Uma batata de tamanho médio (85 gramas) Duas colheres de sopa de arroz ou de massinha Quatro colheres de sopa de cereal sem açúcar Meio pacote de castanhas (12 gramas) LEMBRE-SE: - NÃO COMA ENTRE AS REFEIÇÕES. Evite comer e beber coisas doces entre as refeições. Isso o ajudará a emagrecer e a preservar a saúde de seus dentes. - SE VOCÊ FICAR COM MUITA FOME entre as refeições, procure comer apenas comidas de baixas calorias, como um aipo, uma cenoura crua ou um rabanete, cubinhos de pepino, ou chiclete sem açúcar. DE VEZ EM QUANDO você pode se permitir comer um pedaço de fruta fresca. OCASIONALMENTE tome um picolé sem açúcar feito em casa. - RESTOS DE COMIDA que ficam presos entre os dentes facilitam a formação de placas que provocam cáries - COMER BALAS E CARAMELOS, principalmente entre as refeições, muito mal aos dentes. - MERENDA ESCOLAR — Escolha o prato que menos engorde, e leve uma fruta fresca de casa para comer de sobremesa. - É BOM VARIAR. Você pode encontrar outras idéias para a sua dieta em livros de cozinha dietética. - AS COMIDAS SUGERIDAS nesta dieta provavelmente serão do agrado do resto da família. Vocês podem tentar fazer dieta juntos. MESMO DEPOIS DE EMAGRECER, NÃO SE ESQUEÇA: 1. Só coma ou beba coisas doces no lanche, e escove os dentes depois. Só escovando os dentes cuidadosamente é que você remove a placa que provoca a cárie e estraga a sua gengiva. 2. Escove os dentes depois do café da manhã e antes de dormir. 3. Vá ao dentista pelo menos duas vezes por ano. SUPER-LANCHES: ALTERNATIVAS Um prato de consomé ou de caldo de carne Um hambúrguer magro no pão integral, com fatias de cebola, tomate e alface Carne, peixe ou legumes passados no curry, mas sem farinha Duas colheres de sopa de arroz Gelatina feita com suco de laranja ou de limão sem açúcar Três tirinhas de peixe grelhado Dois tomates grandes cortados ao meio e grelhados
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