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O ensino de arte na educação de jovens e adultos-uma análise a partir da experiência em cuiabá, mt, Manuais, Projetos, Pesquisas de Artes

Artigo Científico

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2015

Compartilhado em 22/10/2015

gustavo-cunha-de-araujo-7
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4.8

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Baixe O ensino de arte na educação de jovens e adultos-uma análise a partir da experiência em cuiabá, mt e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Artes, somente na Docsity! 679Educ. Pesqui., São Paulo, v. 41, n. 3, p. 679-694, jul./set. 2015.. O ensino de arte na educação de jovens e adultos: uma análise a partir da experiência em Cuiabá (MT)I Gustavo Cunha de AraújoII Ana Arlinda de OliveiraII Resumo O artigo apresenta os resultados de uma pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, na qual buscamos compreender como acontecem as práticas pedagógicas no ensino de arte na Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Cuiabá, Mato Grosso. Como procedimento metodológico, o estudo fundamentou-se na pesquisa qualitativa, de caráter descritivo e interpretativo. Concebendo a docência em uma concepção construtivista, baseada na proposta triangular para o ensino da arte, ressaltando o fazer, a leitura e a contextualização durante as aulas, observou-se como uma professora agiu como mediadora na construção do conhecimento em arte. Esse conhecer é importante, pois a educação é fundamentada na construção de conhecimento e tem na atividade humana, neste caso, a arte, a sua concretização. Embora alguns jovens e adultos tenham demonstrado conceitos de arte que necessitem ser ampliados, por meio do conhecimento das diferentes manifestações artísticas, notou-se como a professora procurou desenvolver nesses educandos a concepção de que arte é uma produção humana, ou seja, objeto de conhecimento que faz parte da vida desde os primórdios da humanidade. Além disso, procurou ensinar que aprender a ler e a compreender uma obra são ações que fazem dos alunos leitores competentes para produzirem interpretações significativas do mundo à sua volta. Portanto, as concepções e práticas produzidas pelos alunos acerca da arte são importantes, pois são construções de conhecimento baseadas em suas experiências de vida. Palavras-chave Ensino de arte — Educação de jovens e adultos — Práticas pedagógicas — Concepções sobre a arte. I- Dissertação de Mestrado financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. II- Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil Contatos: gustavocaraujo@yahoo.com.br; aarlinda_oliveira@hotmail.com http://dx.doi.org/10.1590/s1517-97022015051839 680 http://dx.doi.org/10.1590/s1517-97022015051839 Educ. Pesqui., São Paulo, v. 41, n. 3, p. 679-694, jul./set. 2015. Teaching art in youth and adult education: an analysis of an experience in Cuiabá city, Brazil Gustavo Cunha de AraújoI Ana Arlinda de OliveiraI Abstract This article presents the results of a Master´s study conducted at the Graduate Program in Education of Universidade Federal do Mato Grosso, which sought to understand how educational practices occur in the teaching of art in Youth and Adult Education in Cuiabá city, Mato Grosso state, Brazil, using qualitative, descriptive and interpretative methodology. Conceiving teaching in a constructivist perspective, based on the triangular proposal for the teaching of art, which emphasizes actual doing, reading and contextualization during the classes, we observed how the teacher acted as a mediator in the construction of the knowledge of art. Such knowledge is important as education is grounded on the construction of knowledge, which is actually achieved by human activity and, in this case, art. Although some young and adult students had concepts of art that needed to be expanded, the teacher sought, through the contact with the different artistic expressions, to lead students to develop the concept that art is a human production, that is, an object of knowledge which has been an integral part of life since the dawn of mankind. She also sought to teach that learning how to read, how to understand a work of art, makes students become competent readers who can produce meaningful interpretations of the world around them. Therefore, the concepts and practices of art produced by students are important, as they are constructions of knowledge based on their life experiences. Keywords Teaching art — Youth and adult education — Educational practices — Concepts of art. I- Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil Contact: gustavocaraujo@yahoo.com.br; aarlinda_oliveira@hotmail.com 683Educ. Pesqui., São Paulo, v. 41, n. 3, p. 679-694, jul./set. 2015.. prática no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, no período entre 1987 e 1993, apresenta como objetivo central atender as reais necessidades de aprendizagem e conhecimento em arte do aluno por meio do fazer arte (criação/produção), da análise ou decodificação (leitura de imagens/apreciação) da obra de arte e contexto ou informação (história da arte/contextualização) (BARBOSA, 1988). É por isso que um dos objetivos desta pesquisa também foi compreender se as práticas desenvolvidas pela professora são baseadas na referida proposta: A Proposta Triangular deriva de uma du- pla triangulação. A primeira é de natureza epistemológica, ao designar os compo- nentes do ensino/aprendizagem por três ações mentalmente e sensorialmente bá- sicas, quais seja: criação (fazer artístico), leitura da obra de arte e contextualiza- ção. A segunda triangulação está na gê- nese da própria sistematização, originada em uma tríplice influência, na deglutição de outras três abordagens epistemológi- cas: as Escuelas Al Aire Libre mexicanas, o Critical Studies inglês e o movimen- to de apreciação estética aliado ao DBAE (Discipline Based Art Education) america- no. (BARBOSA, 1998, p. 33-34). Nesse sentido, destacamos que qualquer “conteúdo, de qualquer natureza visual e estética, pode ser explorado, interpretado e operacionali- zado através da Proposta Triangular” (BARBOSA, 1998, p. 38), além de possibilitar ao professor a pes- quisa. Daí justifica-se o fato da Proposta Curricular no Estado de Mato Grosso, no que toca ao ensino de arte, basear-se também nessa proposta. O homem sempre utilizou imagens para representar a realidade que o cerca, surgindo daí a relação entre arte e realidade. Sendo o jovem e o adulto os criadores, autores de suas obras, podemos afirmar que, a partir dos trabalhos feitos pela turma de EJA, os alunos conseguiram refletir uma nova realidade humana. O fazer artístico dos alunos da escola pesquisada ressaltou o processo criativo de cada um, fazendo surgir interessantes trabalhos de arte. Um exemplo é a escultura de São Benedito (figura 1), uma obra contemporânea feita a partir do tema da religiosidade, aspecto muito significativo no contexto da cuiabania – termo usado para marcar a identidade das manifestações culturais, dos modos de vida e dos valores da cidade de Cuiabá, MT. É uma obra original, efêmera como a arte contemporânea permite, mas elaborada segundo os procedimentos técnicos da Land Art ou arte da terra – movimento artístico surgido em meados do século XX nos Estados Unidos, baseado na interferência com o meio ambiente na produção da obra de arte. Esses procedimentos foram contextualizados pela professora em aulas anteriores à execução da escultura. Nesse sentido, é importante destacar que são variados os procedimentos implícitos presentes na elaboração de uma obra “e também inusitados, em especial quando se trata de obras de arte contemporânea, transpondo fronteiras entre as linguagens” (COUTINHO, 2009, p. 179). Figura 1 – Escultura de São Benedito Fonte: registro dos pesquisadores. 684 Gustavo Cunha de ARAÚJO; Ana Arlinda de OLIVEIRA. O ensino de arte na educação de jovens e adultos:... A partir dessas reflexões, entendemos que a obra de arte foi um instrumento de diálogo e comunicação, no qual o aluno da EJA pôde expressar suas ideias, sentimentos, emoções que, uma vez objetivadas, foram socializadas e compartilhadas. Durante as aulas, a professora afirmou aos alunos que a arte tem várias funções, dentre elas a denunciativa, ou voltada para a conscientização do homem na natureza, para que o mesmo possa preservar o meio ambiente em que está inserido, indo ao encontro da Land Art. Disse ainda que, no dia que não existir a natureza, o homem também não existirá. Completou afirmando que os discentes deveriam ver a arte, dentre as suas várias linguagens, com cuidado, com um olhar detalhado e não despercebido. Afirmou ainda que a arte faz parte do conhecimento dos alunos e que hoje se tem um patrimônio cultural muito rico e preservado para as pessoas verem e conhecerem a arte de outras épocas. Incentivou os alunos a conhecerem outros temas e assuntos relacionados às artes, mesmo depois que acabarem as aulas, pois, segundo ela, o conteúdo de artes muda durante o ano letivo escolar. Segundo Coutinho (2009), a mediação amplia a interpretação da obra. Ou seja, quando novas informações – mídias de comunicação, por exemplo – são socializadas ao indivíduo e quando o mediador – o professor, por exemplo – propõe questões instigadoras e que podem ser significativas a esse indivíduo sobre a obra visual, contribui para a ampliação da interpretação e do conhecimento da obra. Nesse sentido, entendemos que seria uma rica e boa oportunidade para que o jovem e o adulto da educação pudessem apreciar e participar de uma exposição de arte realizada com seus trabalhos, pois foram os autores das obras. É por isso também que pensamos não apenas em espaços como museus e centros culturais para que o aluno da EJA frequente e a eles tenha acesso. Sim, esses espaços são muito importantes. Mas, a escola também pode oferecer a esse educando a oportunidade de socialização da arte, desde que lhe possibilite espaços adequados para a realização e consequente exposição desses trabalhos, valorizando não apenas a arte enquanto área do saber e disciplina do currículo escolar, mas o próprio trabalho feito pelo jovem e adulto: A escola, na sociedade letrada, é uma instituição voltada para o desenvolvimento do ser individual, quanto para promover o encontro daquilo que é universal no ser humano. Toda compreensão, por mínima que seja, da expressão artística é uma construção social e histórica. (ALVARES, 2012, p. 44). Um aspecto muito importante a ser destacado na prática da professora foi o fato de ressaltar, mesmo que brevemente, obras de artistas brasileiros durante a realização dos trabalhos feitos pelos alunos. A nosso ver, isso é muito importante, pois afasta um pouco a hegemonia europeia tão presente em nossa sociedade. O professor de arte deve não apenas valorizar artistas internacionais, mas também dar atenção à produção artística local, regional e nacional. Trata-se de uma forma de valorizar a arte produzida no Brasil, que, aliás, é riquíssima. O aluno precisa ter esse contato, ampliar esse conhecimento. Em Mato Grosso, especificamente em Cuiabá, há grandes artistas que se destacam no Estado, no país e fora dele também, como Gervane de Paula, Nilson Pimenta, Clovis Irigaray, entre outros. Esses artistas foram apresentados aos alunos pela professora, o que mostra a importância que a docente dá à contextualização da arte produzida no local onde o jovem e o adulto estão inseridos, para que possam conhecer e compreender a arte produzida em seu país. Por outro lado, é importante ressaltar que alguns textos trabalhados pela professora com os alunos da EJA, em nossa avaliação, foram superficiais, pois trouxeram algumas 685Educ. Pesqui., São Paulo, v. 41, n. 3, p. 679-694, jul./set. 2015.. informações incompletas ou confusas a respeito dos temas e conteúdos de arte tratados nas aulas, como a Land Art, a arte rupestre e a arte moderna brasileira, além de alguns não terem sido lidos em sala de aula. Pudemos verificar que alguns exemplos trazidos pelos textos foram pontuados pelos alunos, principalmente nas aulas práticas, como na de Land Art, o que foi um aspecto positivo. Levar textos para trabalhar com os alunos, ainda mais o jovem e o adulto é uma forma de instigar nesses sujeitos a importância que a leitura pode ter na vida deles, mas, para isso, é preciso que o professor provoque no aluno esse gosto pela leitura, que o motive a ler. Entendemos que o hábito de leitura pode ter influência cultural e familiar, mas o aluno é o centro da aprendizagem e deve ver no professor o mediador para que possa realizar leituras visuais e textuais que sejam críticas e significativas. Cada aula observada da professora teve uma proposta diferente. Houve momentos em que trabalhou apenas com textos impressos, porém, na maioria das aulas, foi enfatizado o fazer artístico. Houve, ainda, aulas que foram mais explicativas e outras mais questionadoras. Ou seja, não era apenas uma professora explicadora, mas questionadora também. Talvez isso explique o fato de algumas aulas não terem tanta relação com as outras. Contudo, todas deveriam ser norteadas por um ponto comum: relacionar-se com o tema Terra, que era o projeto pedagógico trabalhado pela escola no trimestre. Por isso, entendemos ser importante a professora questionar os alunos acerca do universo da arte, para que os mesmos possam ser motivados: [...] a questionar e a encontrar respostas para as questões a respeito das obras artísticas de nosso convívio, seus autores, seus espectadores, situados no tempo/ espaço local e internacional, o que poderá ajudar na ampliação e diversificação do nosso repertório prático e teórico relativo às dimensões do processo artístico. Durante o desenrolar desses exercícios de análise, comparação e contraposição entre obras de arte brasileira de nossa região e as de outras regiões e países, mobilizamos transformações em nossos saberes alcançando novos “patamares” de entendimento no campo da arte e da sua história. (FERRAZ; FUSARI, 2010, p. 141). De acordo com o seu planejamento, que era trimestral, foi possível notar que a professora não contemplou todo o conteúdo pretendido por ela no período. Pensamos que isso ocorreu devido ao fato da disciplina de arte ter carga horária reduzida no currículo escolar, o que pode prejudicar os alunos, pois perdem a oportunidade de aprender e ampliar seus conhecimentos. Nesse sentido, é importante dar mais atenção a essa disciplina na escola, pois, além de ser uma área do saber, promove a construção de conhecimento. É possível o jovem e o adulto aprenderem a apreciar uma obra de arte. O conhecimento artístico é um aprendizado que se inicia por meio da observação de uma obra. Depois, os interessados precisam dar continuidade a esse conhecimento buscando o contexto da obra, do autor etc. Sabemos que o conhecimento em arte amplia a compreensão do mundo e melhora a capacidade de expressão. Isso aconteceu quando os alunos criaram suas obras originais, como a escultura de São Benedito, bastante contemporânea (figura 1) e um bom exemplo de como o contexto sociocultural da cidade foi trabalhado no currículo escolar. Quanto aos trabalhos feitos pelos alunos de EJA durante as aulas de arte, podemos afirmar que basicamente todos foram desenhos, o que mostra o quanto essa linguagem ainda é predominante na sociedade e na cultura visual. Mesmo sendo desenhos de observação, de imaginação ou de memória, as pessoas ainda representam bastante a realidade por meio dessa linguagem. Essa observação conduz-nos a dizer que o desenho, enquanto linguagem presente 688 Gustavo Cunha de ARAÚJO; Ana Arlinda de OLIVEIRA. O ensino de arte na educação de jovens e adultos:... conhecimento em arte aprendido na escola está relacionado a algum tipo de linguagem artística com que tiveram contato na escola, como é o caso do desenho e da pintura, sendo esta última a linguagem que a professora mais trabalhou nas aulas de arte com esses alunos, apesar de sua formação acadêmica ser em música. Nesse sentido, é importante destacar que o conhecimento em arte não deve estar voltado ao aprendizado das linguagens artísticas sem estar relacionado ao fazer, à experimentação e à informação da história da arte, ou seja: [...] quando falo de conhecer arte, falo de um conhecimento que nas Artes Visuais se organiza inter-relacionando o fazer artístico, a apreciação da arte e a história da arte. Nenhuma das três áreas sozinhas corresponde à epistemologia da arte. (BARBOSA, 2012, p. 33). Portanto, é necessário que esse conhe- cimento esteja relacionado ao aprendizado das manifestações artísticas baseados nas dimensões da leitura, do fazer e da contextualização. Ao construir conhecimento em arte, o qual também envolve compreender os estilos artísticos, os ar- tistas, os materiais e procedimentos técnicos uti- lizados ao longo da história da arte, o aluno da EJA pode aprender a perceber, refletir, analisar e distinguir o mundo à sua volta, ampliando a sua capacidade de interpretação da realidade. As diferentes representações da arte no meio social suscitam e influenciam a concepção que os jovens e adultos têm de arte. Sabemos que os alunos vivem em uma sociedade imagética. A imagem, de diferentes linguagens, invade suas casas, trabalho, enfim, está presente em praticamente todos os lugares. Pelo fato de terem um grande poder de representação, influenciam os conceitos de arte formados por jovens e adultos. Quando chegam à escola, trazem esses conceitos pré-formulados, de acordo com suas experiências com a cultura visual. Nos dias atuais, o jovem e o adulto deparam-se constantemente com diversas formas de linguagens, como a verbal, a imagética (o desenho, por exemplo) entre tantas outras, importantes para a comunicação humana, que vão ser exemplos de como se pode transmitir ideias, conceitos e informações uns aos outros. Nesse sentido, a linguagem está diretamente ligada ao ato de comunicar-se com o outro, transmitindo informações e experiências que podem ser individuais ou coletivas. A partir disso, a arte assume importante papel na sociedade ao ser a linguagem que mais expressa e transmite informações e sentidos às pessoas, devido à diversidade de linguagens e procedimentos artísticos existentes em seu campo de conhecimento. Assim, perguntamos aos alunos de quais linguagens artísticas mais gostavam: A música. Bastante! (H7) Música. (J6) Eu gosto de música! (L9) Música, dança, cinema... (M1) Falar de dança, eu nasci dançando... Meu irmão... que é meu pai de criação, que... Meu pai foi embora muito cedo, então, ele assu- miu, 10 anos mais velho que eu, ele assumiu eu como filho. Então, ele era um dançarino nato das músicas regionais nossas, então... A gente viveu música dentro de casa, então a gente gosta muita de dançar. Hoje eu tô aprendendo, porque eu nunca tive aula de arte assim quando moleque, e hoje, voltan- do na sala de aula, eu to pegando a arte, estudando arte moderna, tal, cubismo, ex- pressionismo... Então, são coisas novas pra mim, mas que eu tô adorando também, mas que o forte é a dança mesmo. (O9). A minha música e cinema... Não vivo sem cinema! (R3) Música... (R6) 689Educ. Pesqui., São Paulo, v. 41, n. 3, p. 679-694, jul./set. 2015.. Música, mas a professora não trabalha. Teatro mesmo eu gosto, agora apresentar... (V5) As falas dos alunos deixaram-nos surpresos, pois, embora a música esteja presente na vida das pessoas não apenas como uma manifestação artística e cultural, mas também como lazer, quase a totalidade dos jovens e adultos respondeu que gostava de música, uma das linguagens que a professora não trabalhou durante as aulas de arte observadas, ainda que sua formação seja nessa habilitação. Também não constatamos no planejamento da professora nenhum tema relacionado à música. Portanto, podemos afirmar que dificilmente trabalhariam com essa linguagem durante o período em que teriam aulas com ela, mesmo os alunos tendo demonstrado interesse por essa linguagem, pois a carga horária da disciplina na escola era bem reduzida em comparação com as demais disciplinas do currículo escolar. A ausência dessa linguagem foi reconhecida pela aluna V5, que declarou que a professora não trabalhou com música durante as aulas de arte, o que mostrou o quanto os alunos estão atentos ao trabalho pedagógico da professora em sala. É sabido que existem inúmeras linguagens da arte que se impõem como importantes para que a escola as priorize. Mas é importante que isso seja feito de forma aprofundada e em suas especificidades (IAVELBERG, 2003), mesmo tendo conhecimento, a partir das falas dos alunos e das observações in loco realizadas no campo da pesquisa, de que os alunos tiveram contato basicamente com desenho e pintura. Ao serem perguntados a respeito do que gostavam de fazer nas aulas de arte, os jovens e adultos, assim descreveram: Eu gosto mais de pintar... Nas aulas dela, eu acho bem legal. (C3) Assistir vídeo e fazer trabalhos depois do vídeo é muito bom. (E1) Adoro assistir os vídeos. (J2) No caso, pintar mesmo! (J9) Pintar é muito legal! (K8) Eu gosto de pintar! (L9) Quando ela passa vídeo. (M1) Pintar. (S2) De acordo com seus relatos, os alunos gostam mais de pintar, talvez justamente pelo fato da pintura ser a linguagem mais utilizada pela professora durante as aulas. Para alguns alunos, como é o caso de E1 e M1, eles preferem assistir a vídeos, que eram os momentos em que a professora contextualizava o tema trabalhado na aula, mostrando aos alunos imagens e informações acerca da história da arte. Em seguida, perguntamos aos jovens e adultos a respeito do que não gostavam de fazer nas aulas de arte. As respostas foram as seguintes: De desenhar. (E1) Ah... Desenhar. (J6) Não gosto muito de escrever, não. Aula de artes é alguma coisa de artes. (L5) Copiar matéria. Copiar eu não gosto. (R3) Escrever. (R6) Da parte do desenho mesmo. (S2) Desenhar mesmo. (T4) Mais da metade dos alunos disse não gostar de desenhar e escrever. Entendem também que, por ser aula de arte, não precisam ter o compromisso de escrever, mas sim de ter aula prática. Acontece que, por ser um problema histórico, em que arte 690 Gustavo Cunha de ARAÚJO; Ana Arlinda de OLIVEIRA. O ensino de arte na educação de jovens e adultos:... no currículo escolar abordava praticamente aulas práticas, os alunos nos dias de hoje estranham quando as aulas assumem outros códigos como a escrita, por exemplo. É necessário, então, que o professor saiba lidar com essa situação, ao propor aulas dinâmicas, criativas e interessantes, para que o aluno não continue a pensar que aula de arte é só prática. Com relação ao fato de desenharem, percebemos em algumas aulas que pelo fato de terem alegado à professora que, não sabiam desenhar, evitavam praticar tal atividade, reali- zando-a apenas como lazer fora da escola, como pôde ser constatado em suas falas. É comum esse tipo de reação do aluno, principalmente ao lidar com aulas práticas, pois exigem habilida- des para desenvolver determinadas atividades. Contudo, para a arte-educação, o que importa não é se o aluno sabe ou não desenhar, se sabe ou não realizar determinado trabalho artístico, mas se ele consegue aprender e desenvolver a sua formação cognitiva, estética e cultural. Mesmo aqueles alunos que falaram que não desenham nada são capazes de aprender a olhar uma obra de arte, aprender a levantar questionamentos a respeito da obra, como por exemplo: como o artista fez a obra? De que época é? Basta iniciar esse aprendizado, dar o primeiro passo. É preciso possibilitar ao jovem e ao adulto o aprendizado e conhecimento da arte. É possível ensinar a gostar de aprender arte com a própria arte (IAVELBERG, 2003). Com isso, promovem-se condições melhores de vida humana no meio natural e social. Por isso, é preciso que o jovem e adulto tenham contato com a arte para ter a oportunidade de fazer experimentações artísticas, que possam aprender e conhecer a arte pela prática e leitura, e não apenas observando. Mas, para isso, é necessário haver espaços adequados para o desenvolvimento do fazer artístico. A escola deve não apenas proporcionar ao jovem e ao adulto a construção do conhecimento em arte, mas também possibilitar a ampliação desse saber, ao visitarem museus de arte, exposições de artistas, manifestações culturais diversas, dentre tantas outras. Nesse sentido, foi perguntado aos alunos se participavam de eventos culturais e artísticos: Vou a cinema. (E1) Frequento. Dança... teatro... cinema... shows com certeza! (H1) Só show. (I7) Eu vou pra levar meus filhos... Vou ao cinema com eles. (J2) Sim. Com frequência... Shows, bastante. (J9) Vou... Sempre que tem eu vou ao SESC Porto, que tem a arte lá, a dança, que faz parte da arte, a música, que faz parte da arte... teatro... Eu tô sempre no teatro, no cineteatro. (J9) Com certeza, eu já fui a várias peças de teatro, já frequentei o teatro da UFMT, o cineteatro Cuiabá quando inaugurou. (O9) Sim, frequento. Sou sócio aqui do Chorinho, aqui do Clube do Choro, frequento o Chorinho semanalmente, toco lá também. Toco violão, percussão... (R3) O cinema, sim... Gosto muito de ouvir música. (R6) Sim. Tudo que tem no SENAI, nos eventos Pantanal, sempre que tem algumas exposições expostas no shopping. (S2) Vou ao cinema com meus colegas, meus amigos. (T4) Cheguei a ir a shows... Teatro gosto também. (V5).
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