Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

SEMIOLOGIA 19 - PSIQUIATRIA - Anamnese psiquiátrica, Notas de estudo de Enfermagem

SEMIOLOGIA 19 - PSIQUIATRIA - Anamnese psiquiátrica

Tipologia: Notas de estudo

2013

Compartilhado em 29/03/2013

gerson-souza-santos-7
gerson-souza-santos-7 🇧🇷

4.8

(351)

772 documentos

Pré-visualização parcial do texto

Baixe SEMIOLOGIA 19 - PSIQUIATRIA - Anamnese psiquiátrica e outras Notas de estudo em PDF para Enfermagem, somente na Docsity! Arlindo Ugulino Netto – PSIQUIATRIA E SADE MENTAL – MEDICINA P5 – 2009.2 1 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. SEMIOLOGIA A N A M N E S E P S I Q U I Á T R I C A ( P r o f e s s o r I v a n o r V e l l o s o e E s t á c i o A m a r o J ú n i o r ) A P s i q u i a t r i a € uma especialidade da Medicina que lida com a preven‚o, atendimento, diagnƒstico, tratamento e reabilita‚o das diferentes formas de sofrimentos mentais, sejam elas de cunho org„nico ou funcional, com manifesta…es psicolƒgicas severas. S‚o exemplos: a depress‚o, o transtorno bipolar, a esquizofrenia, a dem†ncia e os transtornos de ansiedade. Os m€dicos especializados em psiquiatria s‚o em geral designados por p s i q u i a t r a s (at€ meados do s€culo XX foi tamb€m comum a designa‚o a l i e n i s t a s ). A meta principal € o al‡vio do sofrimento e o bem-estar ps‡quico. Para isso, € necessˆria uma avalia‚o completa do paciente, com perspectivas biolƒgica, psicolƒgica, de ordem cultural, entre outras afins. A anamnese psiquiˆtrica € uma ferramenta de import„ncia significativa para a obten‚o de um diagnƒstico psiquiˆtrico. Esta parte do exame psiquiˆtrico corresponde ao principal recurso para formula‚o diagnƒstica, representando a principal fonte de dados para formular hipƒteses diagnƒsticas, al€m de garantir o contato inicial com o paciente e um passo fundamental para estabelecer uma aliana terap†utica. PR‚-REQUISITOS FUNDAMENTAIS Para a realiza‚o de uma boa e completa anamnese psiquiˆtrica, os seguintes aspectos devem ser lembrados e praticados, sempre no intuito de promover um v‡nculo positivo com o paciente e, assim, coletar dados fidedignos para a estrutura‚o diagnƒstica e terap†utica:  A t i t u d e d o m é d i c o :  Demonstrar cordialidade, sensibilidade, interesse, proximidade, espontaneidade e empatia (clima favorˆvel para se expor problemas a um desconhecido).  ‰ fundamental ser honesto, sincero e guardar sigilo, no intuito de conquistar a confiana do paciente – sem confiana, n‚o haverˆ a coleta de informa…es fidedignas.  P r e p a r a ç ã o d o a m b i e n t e :  Deve ser tranquilo, silencioso e bem iluminado (ru‡dos e est‡mulos comprometem a escuta e a aten‚o, aumentando a possibilidade de o paciente desencadear experi†ncias de distor‚o da realidade).  Deve ser tamb€m reservado para permitir informa…es ‡ntimas (interrup…es ou presena de terceiros inibem o fluxo da entrevista).  M a n e j o d o s i l ê n c i o :  Pode ser ind‡cio de dificuldade com algum tema ou quebra na comunica‚o; dificuldade em confiar ou estabelecer v‡nculo; ressentimento por atitude ou interven‚o do examinador.  Sil†ncios prolongados devem ser evitados, podem aumentar ansiedade, representar hostilidade e promover o ressentimento. O examinador deve abordar com franqueza o fato.  Lembrar sempre que o paciente pode estar em estupor em patologias como: esquizofrenia, quadros org„nicos e depress‚o.  T e m p o d e d u r a ç ã o :  No geral, deve levar tempo suficiente para vencer resist†ncias iniciais (45 a 90 min).  Realizar uma entrevista curta e objetiva (10 min) para pacientes agitados, org„nicos, psicƒticos ou n‚o cooperativos.  Entrevistas muito longas, al€m de cansativas, s‚o improdutivas; por esta raz‚o, € mais prudente dividir a consulta em mais de um encontro. Arlindo Ugulino Netto – PSIQUIATRIA E SADE MENTAL – MEDICINA P5 – 2009.2 2  A n o t a ç õ e s :  O registro escrito € necessˆrio, e alguns pacientes sentem-se valorizados com esta conduta.  Certos pacientes (como os pacientes “paranoides”) mostram-se inibidos e desconfiados com anota…es; elas tamb€m podem prejudicar a observa‚o de gestos, rea…es, m‡mica facial (neste caso, deve-se recorrer a memƒria e tomar notas depois).  C o n t a t o c o m f a m i l i a r e s :  Entrevista com familiares € necessˆria, sobretudo com pacientes agitados, deficientes mentais, em mutismo ou que n‚o tenham condi…es de informar adequadamente.  O m€dico deve tentar entrevistar primeiro o paciente, depois informˆ-lo de que ouvirˆ os familiares em sua presena. Com pacientes psicƒticos pode ser necessˆrio contato separado.  Informa…es do paciente n‚o devem ser recontadas aos familiares quando n‚o hˆ consentimento do paciente. A exce‚o € p l a n o s u i c i d a ou risco para terceiros ( p l a n o h o m i c i d a ). ESTRUTURA DA ENTREVISTA A entrevista, na forma de uma anamnese psiquiˆtrica, consiste em um roteiro ou esquema pr€-definido para a coleta de dados que permite o registro de forma organizada para viabilizar uma anˆlise adequada, sempre no intuito de formular hipƒteses diagnƒsticas. As informa…es s‚o dispostas sob os seguintes t‡tulos:  Identifica‚o;  Queixa principal;  Histƒria da doena atual;  Antecedentes pessoais;  Antecedentes familiares;  Exame f‡sico (a depender da disponibilidade do paciente);  Exame mental. I D E N T I F I C A Ç Ã O Na identifica‚o, € necessˆrio coletar informa…es gerais e sƒcio-demogrˆficas acerca do entrevistado, no intuito de registrar dados gerais acerca do doente e iniciar o relacionamento m€dico-paciente. Devem ser coletados os seguintes dados: N o m e c o m p l e t o , s e x o , i d a d e , estado civil, p r o f i s s ã o , g r a u d e i n s t r u ç ã o , r e l i g i ã o , raa, nacionalidade, naturalidade, proced†ncia, e n d e r e ç o r e s i d e n c i a l e t e l e f o n e . Nome e parentesco do acompanhante. Os dados destacados em negrito podem ser considerados os mais importantes:  O sexo feminino tem mais chances de desenvolver depress‚o do que pacientes do sexo masculino, enquanto que a incid†ncia de esquizofrenia n‚o € t‚o alto no sexo feminino (e o prognƒstico € melhor neste sexo, uma vez que no homem, a esquizofrenia acontece de uma forma mais precoce e mais grave).  Quanto  idade, as psicoses funcionais (como a esquizofrenia e o transtorno bipolar) incidem muito mais no adolescente e no adulto jovem; sintomas semelhantes na terceira idade s‚o sugestivos de psicose org„nica, geralmente secundˆria a doenas neurodegenerativas (dem†ncia vascular, Alzheimer, etc.), delirium, etc.  Questionar sobre a religi‚o, por exemplo, € fundamental para diferenciar pacientes que passam por certas experi†ncias espirituais e religiosas, como ocorre no espiritismo, por exemplo.  O endereo residencial e o telefone do doente s‚o imprescind‡veis para o acompanhamento terap†utico (sobretudo quando o paciente apresenta ideias suicidas e/ou homicidas). Q U E I X A P R I N C I P A L E D U R A Ç Ã O Consiste no registro, em poucas palavras, do problema que motivou a consulta e a dura‚o do mesmo. Em outras palavras, € a resposta da seguinte pergunta: “Qual o motivo/problema que o (a) trouxe  consulta? H‚ quanto tempo o(a) senhor(a) apresenta isso?”. Sempre que poss‡vel, deve ser registrado com as express…es textuais que o paciente ou acompanhante (devidamente identificado) utilizou. ‰ importante observar quem encaminhou, de quem foi a iniciativa de buscar ajuda e com que objetivo. H I S T Ó R I A D A D O E N Ç A A T U A L ( H D A ) A HDA se baseia no esclarecimento sobre sintomas atuais do paciente e que motivaram a busca de tratamento: quais s‚o, como se manifestam, seu in‡cio, seu curso, grau de interfer†ncia na vida pessoal e profissional, sua rela‚o com eventos desencadeantes, fatores e circunst„ncias relacionados com o in‡cio, exist†ncia de episƒdios semelhantes em outros per‡odos da vida, tratamentos realizados e resultados obtidos. Para se obter uma HDA simples, deve-se lembrar de algumas regras fundamentais a seguir: Arlindo Ugulino Netto – PSIQUIATRIA E SADE MENTAL – MEDICINA P5 – 2009.2 5 Q u a n t o à i n t e r a ç ã o , d e v e - s e d e s c r e v e r a d i s p o n i b i l i d a d e e i n t e r e s s e f r e n t e à e n t r e v i s t a , d e s t a c a n d o - s e : c o o p e r a ç ã o , o p o s i ç ã o , t e n d ê n c i a a c o n d u z i r a e n t r e v i s t a , i n d i f e r e n ç a , n e g a t i v i s m o f r e n t e a o e x a m e . 2 . L i n g u a g e m e p e n s a m e n t o O e x a m i n a d o r t e m u m a c e s s o i n d i r e t o a o p e n s a m e n t o d o p a c i e n t e , a t r a v é s d o d i s c u r s o d o m e s m o d u r a n t e a e n t r e v i s t a . A s s i m , a l i n g u a g e m e o p e n s a m e n t o s ã o a v a l i a d a s c o n j u n t a m e n t e , n e s t a p a r t e d o e x a m e , s e g u n d o o s s e g u i n t e s a s p e c t o s : a ) C a r a c t e r í s t i c a s d a f a l a : d e v e s e r a n o t a d o s e a f a l a é e s p o n t â n e a , s e o c o r r e a p e n a s e m r e s p o s t a à e s t i m u l a ç ã o o u n ã o o c o r r e ( m u t i s m o ) . D e s c r e v e - s e , t a m b é m , o v o l u m e d a f a l a e s e o c o r r e a l g u m d e f e i t o n a v e r b a l i z a ç ã o , t a i s c o m o : a f a s i a ( p r e j u í z o n a c o m p r e e n s ã o o u t r a n s m i s s ã o d e i d e i a s , a t r a v é s d a l i n g u a g e m , q u e é d e v i d o à l e s õ e s o u d o e n ç a s n o s c e n t r o s c e r e b r a i s e n v o l v i d o s c o m a l i n g u a g e m ) , d i s a r t r i a ( i n c a p a c i d a d e n a a r t i c u l a ç ã o d a s p a l a v r a s ) , g a g u e i r a , r o u q u i d ã o , e t c . b ) P r o g r e s s ã o d a f a l a : d e v e s e r o b s e r v a d a a q u a n t i d a d e e a v e l o c i d a d e d a v e r b a l i z a ç ã o d o p a c i e n t e , d u r a n t e a e n t r e v i s t a . A l g u m a s a l t e r a ç õ e s p o s s í v e i s s ã o l i s t a d a s a b a i x o :  L i n g u a g e m q u a n t i t a t i v a m e n t e d i m i n u í d a - o p a c i e n t e r e s t r i n g e s u a f a l a a o m í n i m o n e c e s s á r i o , c o m r e s p o s t a s m o n o s s i l á b i c a s o u m u i t o s u c i n t a s , s e m s e n t e n ç a s o u c o m e n t á r i o s a d i c i o n a i s .  F l u x o l e n t o - s ã o n o t a d a s l o n g a s p a u s a s e n t r e a s p a l a v r a s e / o u l a t ê n c i a p a r a i n i c i a r u m a r e s p o s t a .  P r o l i x i d a d e - o p a c i e n t e f a l a m u i t o , d i s c o r r e n d o l o n g a m e n t e s o b r e t o d o s o s t ó p i c o s , p o r é m a i n d a d e n t r o d o s l i m i t e s d e u m a c o n v e r s a ç ã o n o r m a l .  F l u x o a c e l e r a d o - o p a c i e n t e f a l a , c o n t i n u a m e n t e , e c o m v e l o c i d a d e a u m e n t a d a . O e x a m i n a d o r , g e r a l m e n t e , e n c o n t r a d i f i c u l d a d e o u n ã o c o n s e g u e i n t e r r o m p e r o d i s c u r s o d o p a c i e n t e . c ) F o r m a d o p e n s a m e n t o : n e s t e i t e m , d e v e s e r e x a m i n a d a a o r g a n i z a ç ã o f o r m a l d o p e n s a m e n t o , s u a c o n t i n u i d a d e e e f i c á c i a e m a t i n g i r u m d e t e r m i n a d o o b j e t i v o . A l g u n s d i s t ú r b i o s o b s e r v a d o s n e s t e i t e m s ã o :  C i r c u n s t a n c i a l i d a d e - o o b j e t i v o f i n a l d e u m a d e t e r m i n a d a f a l a é l o n g a m e n t e a d i a d o , p e l a i n c o r p o r a ç ã o d e d e t a l h e s i r r e l e v a n t e s e t e d i o s o s .  T a n g e n c i a l i d a d e - o o b j e t i v o d a f a l a n ã o c h e g a a s e r a t i n g i d o o u n ã o é c l a r a m e n t e d e f i n i d o . O p a c i e n t e a f a s t a - s e d o t e m a q u e e s t á s e n d o d i s c u t i d o , i n t r o d u z i n d o p e n s a m e n t o s a p a r e n t e m e n t e n ã o r e l a c i o n a d o s , d i f i c u l t a n d o u m a c o n c l u s ã o . O p a c i e n t e f a l a d e f o r m a t ã o v a g a , q u e a p e s a r d a f a l a e s t a r q u a n t i t a t i v a m e n t e a d e q u a d a , p o u c a i n f o r m a ç ã o é t r a n s m i t i d a ( p o b r e z a d o c o n t e ú d o d o p e n s a m e n t o ) .  P e r s e v e r a ç ã o - o p a c i e n t e r e p e t e a m e s m a r e s p o s t a à u m a v a r i e d a d e d e q u e s t õ e s , m o s t r a n d o u m a i n c a p a c i d a d e d e m u d a r s u a r e s p o s t a a u m a m u d a n ç a d e t ó p i c o .  F u g a d e i d e i a s - o c o r r e s e m p r e n a p r e s e n ç a d e u m p e n s a m e n t o a c e l e r a d o e c a r a c t e r i z a - s e p e l a s a s s o c i a ç õ e s i n a p r o p r i a d a s e n t r e o s p e n s a m e n t o s , q u e p a s s a m a s e r e m f e i t a s p e l o s o m o u p e l o r i t m o d a s p a l a v r a s ( a s s o c i a ç õ e s r e s s o n a n t e s ) .  P e n s a m e n t o i n c o e r e n t e - o c o r r e u m a p e r d a n a a s s o c i a ç ã o l ó g i c a e n t r e p a r t e s d e u m a s e n t e n ç a o u e n t r e s e n t e n ç a s ( a f r o u x a m e n t o d e a s s o c i a ç õ e s ) . N u m a f o r m a e x t r e m a d e i n c o e r ê n c i a , o b s e r v a - s e u m a s e q u ê n c i a i n c o m p r e e n s í v e l d e f r a s e s o u p a l a v r a s ( s a l a d a d e p a l a v r a s ) .  B l o q u e i o d e p e n s a m e n t o - o c o r r e u m a i n t e r r u p ç ã o s ú b i t a d a f a l a , n o m e i o d e u m a s e n t e n ç a . Q u a n d o o p a c i e n t e c o n s e g u e r e t o m a r o d i s c u r s o , o f a z c o m o u t r o a s s u n t o , s e m c o n e x ã o c o m a i d e a ç ã o a n t e r i o r .  N e o l o g i s m o s - o p a c i e n t e c r i a u m a p a l a v r a n o v a e i n i n t e l i g í v e l p a r a o u t r a s p e s s o a s , g e r a l m e n t e u m a c o n d e n s a ç ã o d e p a l a v r a s e x i s t e n t e s .  E c o l a l i a - r e p e t i ç ã o d e p a l a v r a s o u f r a s e s d i t a s p e l o i n t e r l o c u t o r , à s v e z e s c o m a m e s m a e n t o n a ç ã o e i n f l e x ã o d e v o z . d ) C o n t e ú d o d o p e n s a m e n t o : n e s t e i t e m , i n v e s t i g a m - s e o s c o n c e i t o s e m i t i d o s p e l o p a c i e n t e d u r a n t e a e n t r e v i s t a e s u a r e l a ç ã o c o m a r e a l i d a d e . D e v e - s e a s s i n a l a r :  T e m a p r e d o m i n a n t e e / o u c o m c a r a c t e r í s t i c a s p e c u l i a r e s , t a i s c o m o : o A n s i o s o s - p r e o c u p a ç õ e s e x a g e r a d a s c o n s i g o m e s m o , c o m o s o u t r o s o u c o m o f u t u r o . o D e p r e s s i v o s - d e s a m p a r o , d e s e s p e r a n ç a , i d e a ç ã o s u i c i d a , e t c . o F ó b i c o - m e d o e x a g e r a d o o u p a t o l ó g i c o d i a n t e d e a l g u m t i p o d e e s t í m u l o o u s i t u a ç ã o . o O b s e s s i v o s - p e n s a m e n t o s r e c o r r e n t e s , i n v a s i v o s e s e m s e n t i d o , q u e a p e s s o a r e c o n h e c e c o m o p r o d u t o s d e s u a p r ó p r i a m e n t e e t e n t a a f a s t á - l o s d a c o n s c i ê n c i a . P o d e m s e r a c o m p a n h a d o s d e c o m p o r t a m e n t o s r e p e t i t i v o s , r e c o n h e c i d o s c o m o i r r a c i o n a i s , q u e v i s a m n e u t r a l i z a r a l g u m d e s c o n f o r t o o u s i t u a ç ã o t e m i d a ( c o m p u l s õ e s ) .  L o g i c i d a d e d o p e n s a m e n t o , o u o q u a n t o o p e n s a m e n t o p o d e s e r s u s t e n t a d o p o r d a d o s d a r e a l i d a d e d o p a c i e n t e . A l g u n s t i p o s d e p e n s a m e n t o i l ó g i c o s ã o d e s c r i t o s a b a i x o : Arlindo Ugulino Netto – PSIQUIATRIA E SADE MENTAL – MEDICINA P5 – 2009.2 6 o I d e i a s s u p e r v a l o r i z a d a s - o conteŽdo do pensamento centraliza-se em torno de uma ideia particular, que assume uma tonalidade afetiva acentuada, € irracional, por€m sustentada com menos intensidade que uma ideia delirante. o D e l í r i o s - crenas que refletem uma avalia‚o falsa da realidade, n‚o s‚o compartilhadas por outros membros do grupo sociocultural do paciente e das quais n‚o pode ser dissuadido, atrav€s de argumenta‚o contrˆria, lƒgica e irrefutˆvel. Os del‡rios podem ser p r i m á r i o s , quando n‚o est‚o associados a outros processos psicolƒgicos, p.ex., i n s e r ç ã o d e p e n s a m e n t o (cr† que pensamentos s‚o colocados em sua cabea), i r r a d i a ç ã o d e p e n s a m e n t o (acredita que os prƒprios pensamentos s‚o aud‡veis ou captados pelos outros) e s e c u n d á r i o s , quando vinculados a outros processos psicolƒgicos( derivados de uma alucina‚o, associados  depress‚o ou mania). Os del‡rios podem ser descritos em fun‚o de seu grau de organiza‚o, em: s i s t e m a t i z a d o s (relacionados a um Žnico tema, mantendo uma lƒgica interna, ainda que baseada em premissas falsas, o que pode conferir maior credibilidade) e n ã o s i s t e m a t i z a d o s (quando envolvem vˆrios temas, s‚o mais desorganizados e pouco convincentes). Os del‡rios podem ser descritos, tamb€m, pelo seu tema predominante, p. ex., como d e l í r i o d e r e f e r ê n c i a (atribui‚o de um significado pessoal a observa…es ou comentˆrios neutros), p e r s e c u t ó r i o (ideia de que estˆ sendo atacado, incomodado, prejudicado, perseguido ou sendo objeto de conspira‚o), d e g r a n d i o s i d a d e (o conteŽdo envolve poder, conhecimento ou import„ncia exagerados), s o m á t i c o s (o conteŽdo envolve uma mudana ou distŽrbio no funcionamento corporal), d e c u l p a (acredita ter cometido uma falta ou pecado imperdoˆvel), d e c i ú m e s (acredita na infidelidade do parceiro), d e c o n t r o l e (acredita que seus pensamentos, sentimentos e a…es s‚o controlados por alguma fora externa). e ) C a p a c i d a d e d e a b s t r a ç ã o : reflete a capacidade de formular conceitos e generaliza…es. A incapacidade de abstra‚o € referida como p e n s a m e n t o c o n c r e t o . Este item pode ser avaliado, atrav€s da observa‚o de algumas manifesta…es espont„neas, durante a entrevista (p.ex., diante da pergunta “como vai” o paciente responde “vou de nibus”), ou atrav€s da solicita‚o para que o paciente interprete prov€rbios habituais para sua cultura. 3 . S e n s o - p e r c e p ç ã o O examinador deverˆ buscar, basicamente, a presena de a l u c i n a ç õ e s , avaliando se as sensa…es e percep…es do paciente resultam da estimula‚o esperada dos correspondentes ƒrg‚os do sentido. Para isso, pode valer-se de relatos espont„neos de percep…es alteradas; da observa‚o de comportamentos sugestivos de percep…es, na aus†ncia de est‡mulos externos (conversar consigo mesmo, rir sem motivo, olhar repentinamente em determinada dire‚o, na aus†ncia de est‡mulo aparente); ou, ainda, pode formular perguntas diretas sobre tais altera…es (p.ex., “Voc† jˆ teve experi†ncias estranhas, que a maioria das pessoas n‚o costumam ter?” “Voc† jˆ ouviu barulhos ou vozes, que outras pessoas, estando prƒximas, n‚o conseguiram ouvir?”). As principais altera…es da senso-percep‚o s‚o comentadas abaixo:  D e s r e a l i z a ç ã o : o ambiente ao redor parece estranho e irreal, como se “as pessoas ao seu redor estivessem desempenhando pap€is”.  I l u s ã o : interpreta‚o perceptual alterada, resultante de um est‡mulo externo real.  A l u c i n a ç õ e s : percep‚o sensorial na aus†ncia de estimula‚o externa do ƒrg‚o sensorial envolvido. As alucina…es podem ser: a u d i t i v a s (sons ou vozes; as vozes podem dirigir-se ao paciente ou discutirem entre si sobre ele), v i s u a i s (luzes ou vultos at€ cenas em movimento, n‡tidas e complexas), t á t e i s (toque, calor, vibra‚o, dor, etc.), o l f a t ó r i a s e g u s t a t i v a s . As alucina…es que ocorrem no estado de sonol†ncia, que precede o sono (h i p n a g ó g i c a s ) e no estado semiconsciente, que precede o despertar (h i p n o p ô m p i c a s ) s‚o associadas ao sono normal e n‚o s‚o, necessariamente, patolƒgicas. 4 . A f e t i v i d a d e e h u m o r A avalia‚o do afeto inclui a expressividade, o controle e a adequa‚o das manifesta…es de sentimentos, envolvendo a intensidade, a dura‚o, as flutua…es do humor e seus componentes somˆticos. Considera-se humor a tonalidade de sentimento mantido pelo paciente durante a avalia‚o. Para a avalia‚o desta fun‚o considera-se:  O conteŽdo verbalizado;  O que se observa ou se deduz do tom de voz, da express‚o facial, da postura corporal;  A maneira como o paciente relata experimentar os prƒprios sentimentos, o que pode requerer um questionamento espec‡fico sobre “como os sentimentos s‚o experimentados”, e  O relato de oscila…es e varia…es de humor no curso do dia. Desta forma, temos:  T o n a l i d a d e e m o c i o n a l : avalia-se a tonalidade emocional predominante durante a entrevista, observando-se a presena e a intensidade de manifesta…es de: ansiedade, p„nico, tristeza, depress‚o, apatia, hostilidade, raiva, euforia, ela‚o, exalta‚o, desconfiana, ambival†ncia, perplexidade, indiferena, embotamento afetivo (virtualmente, sem express‚o afetiva, p. ex. voz monƒtona, face imƒvel). Arlindo Ugulino Netto – PSIQUIATRIA E SADE MENTAL – MEDICINA P5 – 2009.2 7  M o d u l a ç ã o : R e f e r e - s e a o c o n t r o l e s o b r e o s a f e t o s , d e v e - s e o b s e r v a r a p r e s e n ç a d e h i p o m o d u l a ç ã o , a s s o c i a d a à r i g i d e z a f e t i v a , c a r a c t e r i z a d a p e l a m a n u t e n ç ã o d e u m a c e r t a f i x i d e z n o a f e t o e x t e r n a l i z a d o , e d e h i p e r m o d u l a ç ã o , a s s o c i a d a à l a b i l i d a d e a f e t i v a , c a r a c t e r i z a d a p o r m a r c a d a s o s c i l a ç õ e s n o h u m o r m a n i f e s t o .  A s s o c i a ç ã o p e n s a m e n t o / a f e t o : A a v a l i a ç ã o d a r e l a ç ã o d o c o n t e ú d o d o p e n s a m e n t o a o a f e t o m a n i f e s t o c o n s t i t u i - s e e m p o n t o i m p o r t a n t e , d e v e n d o - s e c o n s i d e r a r : o n í v e l d e a s s o c i a ç ã o / d i s s o c i a ç ã o e a a d e q u a ç ã o / i n a d e q u a ç ã o d a s m a n i f e s t a ç õ e s , p a r a t a l d e v e - s e l e v a r e m c o n t a a t e m á t i c a e o c o n t e x t o n a q u a l e l a e s t á i n s e r i d a .  E q u i v a l e n t e s o r g â n i c o s : O s e q u i v a l e n t e s o u c o n c o m i t a n t e s o r g â n i c o s d o a f e t o d e v e m s e r a v a l i a d o s c o m b a s e n a s a l t e r a ç õ e s d o a p e t i t e , p e s o , s o n o e l i b i d o . É i m p o r t a n t e o b s e r v a r n a a v a l i a ç ã o d e s t a a f u n ç ã o , a p r e s e n ç a d e m a n i f e s t a ç õ e s o u r i s c o d e a u t o e h e t e r o a g r e s s i v i d a d e , t a i s c o m o i d e i a s o u p l a n o s d e s u i c í d i o , o u a i n d a i d e i a s o u p r o j e t o s d e h o m i c í d i o o u a g r e s s ã o v o l t a d a p a r a o m e i o . D e v e - s e c o n s i d e r a r , a i n d a , n a a v a l i a ç ã o d e s t a f u n ç ã o a s m a n i f e s t a ç õ e s r e l a t i v a s a a u t o e s t i m a , e a v o l i ç ã o , e n q u a n t o a e n e r g i a q u e a p e s s o a e s t á i n v e s t i n d o e a d i s p o s i ç ã o c o m a q u a l e s t á s e e n v o l v e n d o n a r e a l i z a ç ã o d e s e u s p r o j e t o s p e s s o a i s . O s s e n t i m e n t o s d e s p e r t a d o s n o a v a l i a d o r d u r a n t e a e n t r e v i s t a , p o d e m t a m b é m s e r u m r e c u r s o ú t i l n a a v a l i a ç ã o d o a f e t o , p a r a t a l é n e c e s s á r i o q u e o e n t r e v i s t a d o r s e j a m a i s e x p e r i e n t e e c a p a z d e p e r c e b e r o s e l e m e n t o s t r a n s f e r e n c i a i s . 5 . A t e n ç ã o e c o n c e n t r a ç ã o N a a v a l i a ç ã o é c o n s i d e r a d a a c a p a c i d a d e d e f o c a l i z a r e m a n t e r a a t e n ç ã o e m u m a a t i v i d a d e , e n v o l v e n d o a a t e n ç ã o / d i s t r a ç ã o , f r e n t e a o s e s t í m u l o s e x t e r n o s o u i n t e r n o s . E s t a f u n ç ã o q u a n d o p r e j u d i c a d a i n t e r f e r e , d i r e t a m e n t e , n o c u r s o d a e n t r e v i s t a , r e q u e r e n d o q u e o e n t r e v i s t a d o r r e p i t a a s p e r g u n t a s f e i t a s . A a v a l i a ç ã o p o d e e n v o l v e r , a l é m d a o b s e r v a ç ã o d a p r ó p r i a s i t u a ç ã o d e e n t r e v i s t a , a p r o p o s i ç ã o d e t a r e f a s / t e s t e s s i m p l e s c o m o :  D i z e r o s d i a s d a s e m a n a e o s m e s e s d o a n o e m u m a d a d a o r d e m p r o p o s t a p e l o e n t r e v i s t a d o r , e  R e a l i z a r c á l c u l o s s i m p l e s . A c o m p l e x i d a d e d a s t a r e f a s d e v e l e v a r e m c o n t a o n í v e l s ó c i o - c u l t u r a l d o p a c i e n t e a v a l i a d o . É i m p o r t a n t e o b s e r v a r o q u a n t o a d i f i c u l d a d e e s t á a s s o c i a d a à a t e n ç ã o o u r e l a c i o n a d a a u m d i s t ú r b i o d e a n s i e d a d e , d o h u m o r o u d a c o n s c i ê n c i a . D e s t a a v a l i a ç ã o , t e m o s :  M a n u t e n ç ã o p r e j u d i c a d a : d i f i c u l d a d e d e m a n t e r a a t e n ç ã o f o c a l i z a d a s o b r e o s e s t í m u l o s m a i s r e l e v a n t e s d o m e i o , d e s v i a n d o a a t e n ç ã o p a r a o s e s t í m u l o s i r r e l e v a n t e s e e x i g i n d o i n t e r v e n ç õ e s d o e n t r e v i s t a d o r p a r a m a n t e r a a t e n ç ã o f o c a l i z a d a n o s e s t í m u l o s p r i n c i p a i s .  F o c a l i z a ç ã o p r e j u d i c a d a : d i f i c u l d a d e d e f o c a l i z a r a a t e n ç ã o s o b r e o s e s t í m u l o s m a i s r e l e v a n t e s d o m e i o , n ã o a t e n d e n d o à s i n t e r v e n ç õ e s d o e n t r e v i s t a d o r .  D e s a t e n ç ã o S e l e t i v a : d e s a t e n ç ã o f r e n t e a t e m a s q u e g e r a m a n s i e d a d e . 6 . M e m ó r i a A m e m ó r i a c o m e ç a s e r a v a l i a d a d u r a n t e a o b t e n ç ã o d a h i s t ó r i a c l í n i c a d o p a c i e n t e , c o m a v e r i f i c a ç ã o d e c o m o e l e s e r e c o r d a d e s i t u a ç õ e s d a v i d a p r e g r e s s a , t a i s c o m o , o n d e e s t u d o u , s e u p r i m e i r o e m p r e g o , p e r g u n t a s s o b r e p e s s o a s s i g n i f i c a t i v a s d e s u a v i d a p a s s a d a , t r a t a m e n t o s a n t e r i o r e s , e t c . A m e m ó r i a p o d e s e r a v a l i a d a , t a m b é m , a t r a v é s d e t e s t e s e s p e c í f i c o s , a l g u n s d e l e s b a s t a n t e s i m p l e s , e q u e p o d e m s e r i n t r o d u z i d o s n u m a e n t r e v i s t a p s i q u i á t r i c a h a b i t u a l . A i n v e s t i g a ç ã o d a m e m ó r i a é , p a r t i c u l a r m e n t e , i m p o r t a n t e q u a n d o s e s u s p e i t a d e q u a d r o s d e e t i o l o g i a o r g â n i c a . H a b i t u a l m e n t e , d i v i d e - s e a a v a l i a ç ã o d a m e m ó r i a e m t r ê s t i p o s :  M e m ó r i a R e m o t a : a v a l i a a c a p a c i d a d e d e r e c o r d a r - s e d e e v e n t o s d o p a s s a d o , p o d e n d o s e r a v a l i a d a d u r a n t e o r e l a t o f e i t o p e l o p a c i e n t e , d e s u a p r ó p r i a h i s t ó r i a .  M e m ó r i a R e c e n t e : a v a l i a a c a p a c i d a d e d e r e c o r d a r - s e d e e v e n t o s q u e o c o r r e r a m n o s ú l t i m o s d i a s , q u e p r e c e d e r a m a a v a l i a ç ã o . P a r a e s t a a v a l i a ç ã o o e x a m i n a d o r p o d e p e r g u n t a r s o b r e e v e n t o s v e r i f i c á v e i s d o s ú l t i m o s d i a s , t a i s c o m o : o q u e o p a c i e n t e c o m e u n u m a d a s r e f e i ç õ e s a n t e r i o r e s , o q u e v i u n a T V n a n o i t e a n t e r i o r , e t c .  M e m ó r i a I m e d i a t a : a v a l i a a c a p a c i d a d e d e r e c o r d a r - s e d o q u e o c o r r e u n o s m i n u t o s p r e c e d e n t e s . P o d e s e r t e s t a d a , p e d i n d o - s e a o p a c i e n t e q u e m e m o r i z e o s n o m e s d e t r ê s o b j e t o s n ã o r e l a c i o n a d o s e d e p o i s d e 5 m i n u t o s , d u r a n t e o s q u a i s s e r e t o m o u a e n t r e v i s t a n o r m a l , s o l i c i t a n d o - s e q u e o p a c i e n t e r e p i t a e s s e s t r ê s n o m e s . A o o b s e r v a r - s e u m a d e f i c i ê n c i a d e m e m ó r i a é i m p o r t a n t e , p a r a a l g u n s d i a g n ó s t i c o s d i f e r e n c i a i s , v e r i f i c a r - s e c o m o o p a c i e n t e l i d a c o m e l a , o u s e j a : t e m u m a r e a ç ã o c a t a s t r ó f i c a , d i a n t e d a d e f i c i ê n c i a ; n e g a o u t e n t a n ã o v a l o r i z a r o d é f i c i t d e m e m ó r i a ; p r e e n c h e l a c u n a s d e m e m ó r i a c o m r e c o r d a ç õ e s f a l s a s ( c o n f a b u l a ç ã o ) .
Docsity logo



Copyright © 2024 Ladybird Srl - Via Leonardo da Vinci 16, 10126, Torino, Italy - VAT 10816460017 - All rights reserved