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análise reflexiva do feminino das profissoes, Notas de estudo de Enfermagem

análise reflexiva do feminino das profissoes

Tipologia: Notas de estudo

2012

Compartilhado em 03/05/2012

rafaely-nogueirq-4
rafaely-nogueirq-4 🇧🇷

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Baixe análise reflexiva do feminino das profissoes e outras Notas de estudo em PDF para Enfermagem, somente na Docsity! 223 UMA ANÁLISE REFLEXIVA DO FEMININO DAS PROFISSÕES Jane Baptista Quitete1 Octavio Muniz Da Costa Vargens2 Jane Márcia Progianti3 Resumo: Este artigo consiste numa reflexão, com base na literatura, sobre a temática História das Profissões considerando a ótica de gênero, e tem como objetivo analisar a evolução histórica das profissões a partir dos conceitos de ocupação/ofício e profissão, e apresentar como ocorreu a inserção feminina na esfera pública, a partir das guerras e da industrialização. A investigação foi composta por textos da área de Humanas e da Saúde. Utilizou-se a Análise de Conteúdo para categorizar os recortes discursivos. Concluímos que a feminização e a feminilização de algumas profissões em detrimento de outras revela que as relações de dominação e poder entre homens e mulheres atravessam as relações sociais, seja na produção ou na formação profissional, uma vez que o mundo do trabalho não faz distinção entre o trabalho produtivo e o reprodutivo das mulheres. Palavras-chave: Trabalho feminino; Identidade de Gênero; Poder. A REFLEXIVE ANALYSIS ABOUT THE FEMININE OF PROFESSIONS Abstract: This article consists of a reflexion, based on literature, about the theme Professions’ History considering the gender perspective. It has as objective to analyze the historical evolution of professions starting from the concepts of occupation and profession, and to present how did happen the feminine insertion in public sphere, starting from the wars and the industrialization. 1 Curso de Enfermagem/UFF/PURO. Enfermeira Obstétrica. Mestre em Enfermagem, Saúde e Sociedade. Avenida Alberto Lamego, 637, bloco 19, apt 103. Horto. Campos dos Goytacazes. RJ. CEP: 28010 811. TEL: 22 2722 0718. E- mail: janebq@oi.com.br 2 Faculdade de Enfermagem da UERJ. Enfermeiro Obstétrico. Doutor em Enfermagem e Professor Titular da Faculdade de Enfermagem da UERJ. Rua Constante Ramos, 136, apt 503. Copacabana. RJ. CEP: 22 051 012. TEL: 21 2257 0464. E-mail: omcvargens@uol.com.br 3 Faculdade de Enfermagem da UERJ. Enfermeira Obstétrica. Doutora em Enfermagem e Professora Adjunto da Faculdade de Enfermagem da UERJ. Rua Joaquim Méier, 143, apt 304. Méier. RJ. CEP: 20725-050. TEL: 21 22814681. E-mail: jmprogi@uol.com.br 224 The investigation considered texts in the field of humanities and health. It was utilised the analytical construction to categorize the discursive retails. We concluded that the feminization of some professions reveal that the power relationships between men and women overcome the social relationships, in the field of production, or professional formation, because the world of work doesn't make distinction among the women's productive work and the reproductive one. Keywords: Women working; Gender; Power. ANALISIS REFLEXIVO DE LAS PROFESIONES E SU RELACIÓN CON EL SEXO FEMENINO Resumen: Este articulo es una reflexión, basada en la literatura, sobre el tema de Historia de las profesiones considerando el genero sexo, y ten como objetivo analizar a evolución histórica de las profesiones a partir de los conceptos de ocupación/oficio y profesión, así como explicar la inserción do sexo femenino en la vida pública a partir de las guerras y de la industrialización. El corpus fue compuesto por textos de las áreas de Humanas y de Salud. Se utilizó el Análisis de Contenido para categorizar los recortes discursivos. Se concluye que: a feminización de algunas profesiones en detrimento de otras, revela que las relaciones de dominación entre hombres y mujeres atraviesan las relaciones sociales, en la producción, en la formación professional, porque el mundo del trabajo no sabe distinguir el trabajo productivo y reproductivo de las mujeres Palabras-clave: Trabajo de mujeres; Genero; Poder. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O tema Teoria das Profissões aborda diversas vertentes, entre elas, as questões de gênero o que, suscitou nossa opção em aprofundar o assunto e elaborar este artigo. Para tanto, propomos uma reflexão a partir da literatura, como forma de nos apropriarmos sobre o assunto, trazendo os aspectos mais importantes sobre a História das Profissões na perspectiva do olhar feminino considerando as questões de gênero como caminho a ser percorrido. A inclusão da categoria analítica de gênero para compreensão das relações de poder entre homens e mulheres tem sido considerada em alguns estudos e possibilita uma abordagem das relações sociais como um todo; aponta os mecanismos de subordinação das mulheres pelos 227 econômicas e políticas. Sendo assim, qualquer intenção de defini-lo e analisá-lo possibilita atribuir recompensas para alguns em detrimento de outros(4). Profissão vem do latim: professar que significa acreditar, ensinar aquilo em que se crê. Os critérios adotados para definir profissões baseiam-se(4): 1. Na exposição à educação superior e ao conhecimento formal abstrato que ela transmite; 2. Na capacidade de a profissão exercer poder e ser uma forma de ganhar a vida; 3. Em ser uma ocupação cuja educação é pré-requisito para obter posições específicas no mercado de trabalho, excluindo aqueles que não possuem tal qualificação. As garantias de regulação da ordem social eram, inicialmente, os padres e os clérigos. Á sua volta e a partir deles desenvolvem-se outros corpos profissionais sendo os principais os médicos e os juízes. Tanto um como o outro são detentores de um poder que se exerce diretamente sobre a vida e a morte, e a este título decidem o que é bom e o que é mau. À volta destas duas profissões iniciais cria-se todo um conjunto de organizações sociais que, por sua vez, dão origem a diferentes grupos ligados ao seu poder de decisão(3-4). Por volta do fim do século XIX, com a Revolução Industrial e a mobilidade demográfica, outros grupos iniciam, à sua imagem, o seu próprio movimento de profissionalização, na maior parte dos casos para ter apenas acesso a uma “semi-profissão”(3), ou recentes profissões advindas das ocupações(4). Afirma-se que algumas ocupações buscaram o apoio do Estado para garantir status e segurança econômica. Assim, na Inglaterra e nos Estados Unidos, cada ocupação foi obrigada a montar seu próprio movimento em prol do reconhecimento e da proteção. Situação diferente da encontrada na Europa, onde o Estado é mais atuante, e, de um modo geral, o status e a segurança econômica das profissões são conquistados pela formação acadêmica de ensino superior. É o caso entre outros da profissão de enfermagem e de numerosas profissões sanitárias e sociais oriundas da enfermagem(3). Desde o fim do século XIX e, no decurso do século XX, ocorreu uma aproximação entre profissão e ofício, no sentido das profissões serem levadas a utilizar, cada vez mais, os instrumentos e conhecimentos, a maior parte das vezes, descobertos por “pessoas do ofício”. Recorrendo aos novos conhecimentos científicos, as profissões estão à altura de melhor provar a sua atividade e o serviço que prestam à sociedade(3). 228 O interesse pelos estudos teóricos sobre profissões, inicialmente surge antes da Primeira Guerra Mundial. Este primeiro estudo tentou entender a contradição entre a idéia de altruísmo e utilitarismo atribuídos às profissões. Já no período pós-guerra, outros sociólogos empenharam-se em desenvolver conceitos baseados no processo histórico pelo qual uma ocupação atinge o status de profissão(4). No entanto, algumas ocupações, ou serviços, mantêm-se geralmente impregnados de ideologia, podendo chegar ao ponto de reclamar um monopólio, por exemplo: o monopólio do saber sobre a doença e a saúde, para a profissão médica(3). Isto ocorre a partir dos anos 1970, quando autores passaram a refletir e a ressaltar as questões de conflito e de poder das profissões: a ideologia, o monopólio, as instituições profissionais organizadas(4). Foi nesta década também, que surgiram estudos americanos calcados nas teorias marxista e weberiana que estudam e analisam as profissões sobre o prisma do sistema de classes das sociedades capitalistas, segundo as quais a profissionalização torna-se um projeto de mobilidade coletiva, e as ocupações buscam melhorar sua posição econômica e social(4). Nos anos 1980(4), os historiadores europeus tentaram analisar como as profissões modernas surgiram na Europa. Estes autores foram críticos aos conceitos anglo-americanos e buscaram distinguir os percursos de diversas profissões em países diferentes. Eles consideram que o Estado desempenhou um papel ativo na iniciação da institucionalização de algumas profissões e na reorganização de outras, inclusive, funcionando como principal empregador de profissões. Mulher e Trabalho: o que nos conta a história As raízes mais fortes de resistência à participação das mulheres no mundo público emergem no meio religioso, sobretudo nas grandes religiões monoteístas. O judaísmo, o cristianismo e o islamismo assumem em sua simbologia e em seus dogmas a desigualdade dos sexos. Para estas religiões, Deus não tem sexo, mas é pensado como sendo do gênero masculino. E, como apresentado no Gênesis, Deus cria o homem primeiro e a mulher depois, e a cria para ele. A Igreja reserva estritamente a autoridade da pregação aos clérigos e os instrui para tanto; a mulher apenas permite-se escutar. O catolicismo recusa obstinadamente a ordenação das mulheres, pela idéia do pecado e da impureza feminina, pela angústia da carne, que atormenta principalmente o pensamento dos Padres. Também pela idéia da transcendência do sagrado, que 229 passa justamente pela recusa da carne, da sexualidade e das mulheres. Essas mulheres que é preciso conter, manter no privado, cujo corpo é preciso esconder e velar, os cabelos, se não o rosto. Essas mulheres cujo ideal seria a virgindade(5). A maternidade, por exemplo, foi uma forma pela qual a Igreja utilizou para domesticar as mulheres, assegurando assim o estabelecimento de uma sociedade familiar que fortalecesse o Estado moderno, a própria Igreja, a ciência e os homens. Bastava que este preceito estivesse presente através da transmissão de valores. Coibidas pelas ameaças veladas a quem fugisse às regras que distinguiam as mulheres “certas” das “erradas”. E a ciência médica contribuiu enormemente nesta construção, através da normatização de condutas necessárias para tornar-se a “santa-mãezinha”(6). A Grande Guerra (1914-1918) deu início a uma importante mudança no espaço público. Os homens estavam na frente de batalha e, as mulheres na retaguarda. As mulheres, jovens ou não tão jovens, substituem os homens e penetram em lugares até então fechados que antes não ocupavam. Durante a Grande Guerra, elas dirigem bondes ou táxis, entram nas usinas metalúrgicas, moldam obuses, ajustam peças, manejam o maçarico. No campo, elas lavram e vendem o gado na feira. Contudo, quando a guerra acabou, essas auxiliares e substitutas devolveram o lugar público ao homem e voltaram àquele lar que lhes pintavam como um ideal e um dever urgente. Longe de serem instrumentos de emancipação, as guerras, profundamente conservadoras, recolocam cada sexo em seu lugar, reiterando as representações mais tradicionais da diferença dos sexos(5). As mulheres sempre trabalharam, mas o que colocou um problema para elas foi o exercício de ofícios e profissões praticados fora de casa. Pois, com a Revolução Francesa de 1789, as fronteiras entre a vida pública e a vida privada foram redefinidas. O espírito público invadiu os domínios da vida privada(7), pois, com o advento da maquinaria, houve um aproveitamento da mão-de-obra feminina e infantil, mais baratas, mantendo o mesmo ritmo de produção. Essa incorporação foi uma garantia de sobrevivência para o núcleo familiar dos operários(8). Espaço público vem do grego polis que significa espaço compartilhado, espaço de liberdade, lugar de interação com outras pessoas, cidade. Suas principais funções incluem a participação e a produção. ** Espaço privado vem do grego oikos e significa lugar onde morar. Por extensão significa casa. Sua principal função é a reprodução biológica e cultural, e segue como norma os valores familiares. 232 A importância da lactação, vinculada ao papel de mãe, foi fortemente imposta pelos médicos e pela Igreja como um dever moral desde o século XVI. Havia também a crença de que o leite era condutor de qualidades morais à criança; aliada à noção do aleitamento como uma tarefa de amor que a mulher deveria executar em relação aos filhos. A medicina ocupava-se cada vez mais pela saúde da mulher e, concluíram logo que toda mulher poderia ser mãe, sendo assim, a mulher não poderia ser outra coisa que mãe(6). Assim, as imagens sobre “a mulher” na modernidade foram construídas a partir de um pensamento binário que naturalizou a separação: masculino-feminino, justificando-a pelas diferenças biológicas. As dicotomias(11): natureza-cultura, selvagem-doméstico se constituiu em categorias que significam pelo seu oposto: feminino é pensado enquanto existe o masculino. Estabeleceu-se, então, uma equivalência entre feminino e natureza, e entre masculino e cultura. O não-masculino enquanto oposição representa o que está fora do âmbito dos homens. E, se, o natural ou feminino está fora desse âmbito, torna-se necessário subjugá-lo. Essa ideologia científica dividiu o mundo em duas partes: O que conhece / a mente; O que deve ser conhecido / a natureza e os fatos sociais. O masculino denota, então, separação, autonomia e distância de qualquer tipo de mistura entre sujeito e objeto. O objeto/natureza é passivo, é observado, é manipulado, dominado. O sujeito, a mente que observa, é ativo, manipula, controla, domina. Sendo assim, as qualidades do objeto são atribuídas ao feminino e os adjetivos do sujeito ao masculino(11). O masculino é caracterizado pela razão, instrumentalidade e objetividade, enquanto o feminino está associado às emoções, ao afeto, à subjetividade e ao relacional(10). Neste contexto também houve a separação entre o mundo de domínio privado e o mundo de domínio público. Estes mundos não são vistos com equidades. O mundo público é considerado dominante e o mundo privado dominado(12). Além disso, a construção de saberes por parte das mulheres não é percebida como elaboração, mas como um saber “dado”, um dom da natureza. Por exemplo, todos os saberes relacionados com a reprodução social e biológica no âmbito doméstico não são percebidos como saberes construídos culturalmente, mas são entendidos como dotes naturais, espontâneos, dependentes de uma natureza feminina essencial, e que requerem qualidades muito estimuladas 233 na socialização das meninas: paciência, docilidade, meticulosidade e delicadeza. Portanto, ocupações vinculadas ao serviço doméstico ou ao cuidado de idosos e crianças não possuem valor social e econômico já que carecem de instâncias de validação ou certificação específicas(2,9,11-13). A partir dessas reflexões, pensamos na idéia do “natural” para explicar a longa e inquestionável dicotomia trabalho-de-homem/trabalho-de-mulher, e, os cuidados de saúde constituem um bom exemplo para esse exercício(2,13). E o feminismo acadêmico questiona essa linguagem científica que tem por finalidade produzir um mundo androcêntrico de fatos e que acaba determinando vantagens aos homens em detrimento das mulheres(2,11,13). Esta lógica científica justifica atualmente a pirâmide ocupacional baseada em gênero, ligada diretamente à divisão sexual vertical e horizontal do trabalho. Tal fato pode ser verificado nos setores de atividade em que a presença de mão-de-obra feminina é maior, porém os cargos hierarquicamente mais altos são ocupados preferencialmente por homens, por exemplo, na Saúde e na Educação(9). Contudo, a inclusão de mulheres no espaço público não significa inclusão democrática e socialmente neutra. Essa incursão na participação pública sempre tem sido objeto de resistências e necessária a sua justificação. Na interseção, segundo, dos espaços privado-feminino e público- masculino surge o espaço social vinculado às características de um e de outro, que não se apresenta como neutra ou apolítica. Pois, reproduz categorias que transladam para o espaço público e instalam desigualdades entre homens e mulheres. Isto se reflete nas diferenças salariais ou na ocupação de cargos de liderança(8-9,13). Além dos estereótipos sexuais socialmente construídos, outro fator importante a ser considerado é a auto-discriminação, que significa uma espécie de vigilância internalizada que assegura o comportamento de acordo com os parâmetros delimitados. Constituí-se de mecanismos internos de repressão que modelam desejos, expectativas, anseios e motivações. Isto deflagra algumas ações impensáveis e outras fortemente orientadas ou condicionadas. Assim, o custo interno de optar por profissões como enfermagem ou magistério é relativamente inferior, mesmo que se conheçam as limitações de remuneração e as condições de trabalho dessas profissões(9). Deste modo, os acessos ao saber são socialmente orientados para mulheres e homens. O lugar social que as mulheres e os homens têm ocupado na academia e no mundo profissional, os 234 territórios “corretos” que umas e outros têm habitado, e as situações que condicionam suas “escolhas” adquirem uma relevância particular(11). As interpretações produzidas pela experiência familiar, o discurso escolar, os meios de comunicação social, entre outros aspectos, são capazes de criar identificações e de fundar imaginários profissionais e de trabalho(13). Estes mecanismos de auto-discriminação tornam-se tão naturais que, muitas vezes, são interpretados como autodeterminação e não como escolhas pautadas sutilmente pelas normas sociais. Assim, como na “escolha” por parte das mulheres de profissões e ocupações pouco prestigiadas e mal remuneradas. Apesar de, nas últimas décadas do século XX, terem acontecido mudanças significativas no mundo do trabalho e na participação das mulheres nesse mundo, não se registrou uma diminuição significativa das desigualdades entre homens e mulheres: o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho está mais vinculado à expansão de atividades “femininas” do que ao acesso a atividades “masculinas”. Por outro lado, algumas profissões perderam seu prestígio ao se feminilizarem(9,11,13,14). A feminilização e a feminização das profissões, também é fator importante a serem apresentados. Feminilização possui um significado quantitativo, ou seja, refere-se ao aumento do peso relativo do sexo feminino na composição de uma profissão ou ocupação, sua mensuração e análise realizam-se por meio de dados estatísticos. Feminização denota um significado qualitativo a partir da significância e do valor social de uma profissão ou ocupação, que originaram da feminilização, e foram vinculadas à concepção de gênero predominante em uma época. Para a autora, existe uma relação intensa entre o acesso massivo de mulheres a uma profissão ou ocupação (feminilização) e sua transformação qualitativa (feminização). À medida que aumenta a presença feminina, diminuem as remunerações, a ocupação passa a ser considerada pouco qualificada e decai o prestígio social da profissão(9-10). As mulheres atualmente concentram-se em disciplinas vinculadas aos serviços, como profissões das áreas de Comunicação, Educação, Humanidades e Saúde. E os homens continuam vinculados à produção, como as Ciências Agropecuárias e a Engenharia. Contudo alguns cursos estão passando pelo processo de feminização, entre eles a Medicina. A Engenharia e a Agronomia mantêm-se masculinizadas, e carreiras que se feminizaram mais cedo, como a Educação, conservam esse caráter(8,10-11). 237 Empoderamento provém do inglês empowerment e refere-se à potencialidade profissional das mulheres através da informação, do aprimoramento de percepções e da troca de idéias. Levando assim ao fortalecimento das capacidades, habilidades e disposições para o exercício legítimo do poder(11). Contudo, o objetivo do empoderamento não é construir uma sociedade de mulheres poderosas, porém isoladas, mas de contribuir para a construção de uma nova ordem científica e cultural, socialmente justa e politicamente democrática. Que permita então a homens e mulheres, de maneira conjunta, desenvolver uma cidadania plena e produtiva(11,15). Sendo assim, os movimentos feministas e organizações de mulheres apresentam estratégias que atendam a pluralidade propostas pelos Estudos de Gênero, são elas(9): Estimular as mulheres a ingressar em ocupações tradicionalmente masculinas; Valorizar a subjetividade de quem aprende ou trabalha, ressaltando o “aprender a aprender”, o saber resolver problemas; Incentivar a necessidade de cursos especiais relacionados às técnicas e práticas tendentes ao empoderamento das mulheres. CONSIDERAÇÕES FINAIS Admitir, que profissão possui dois sexos equivale a considerar que as relações de dominação e poder entre homens e mulheres atravessam as relações sociais, seja na produção, na formação e constroem os gêneros e, ao redor dessas divisões, os papéis sexuais ou de geração repartem-se diferentemente. Essas recomposições, intensamente em ação, surgem ao mesmo tempo, que todas as formas imagináveis de divisão do trabalho. Contudo, não podemos perder de vista as representações sociais muitas vezes imperativas: ter sucesso na vida, para um homem, é fazer carreira; para uma mulher, é “ser feliz”. A história da condição feminina passa pela história do corpo da mulher. E, leva-nos a concluir que a feminização e a feminilização de algumas profissões em detrimento de outras revela que as relações de dominação e poder entre homens e mulheres atravessam as relações sociais, seja na produção, ou na formação profissional, uma vez que o mundo do trabalho não faz distinção entre o trabalho produtivo e o reprodutivo das mulheres. Acreditamos que estudos e discussões sobre gênero no campo das profissões possam contribuir para minimizar conflitos e melhorar as condições de trabalho das mulheres, 238 especialmente das mulheres trabalhadoras da enfermagem. Bem como, favorecer a reflexão sobre as práticas profissionais, com intuito de potencializar subjetividades e a capacidade reivindicatória de direitos e, assim, promover autonomia. REFERÊNCIAS 1. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1977. 2. Lima EC, Vargens OMC, Quitete JB, Macedo PO, Santos I. Aplicando concepções teórico- filosóficas de Collière para conceituar novas tecnologias do cuidar em enfermagem obstétrica. Revista Gaúcha de Enfermagem. 2008;29(3):354-361. 3. Collière MF. Promover a vida: da prática da mulher de virtude aos cuidados de enfermagem. 4ª. ed. Coimbra: Ledil; 1999. 4. Freidson E. Renascimento do profissionalismo: teoria, profecia e política. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; 1998. 5. Perrot M. Mulheres Públicas. São Paulo: Fundação Editora da UNESP; 1998. 6. Del Priore M. Ao sul do corpo: condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil Colônia. 2ª. ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 1995. 7. Perrot M, et al. 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