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Guias e Dicas
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Cultura das spondias, Notas de estudo de Engenharia Agronômica

Apostila Spondias

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 22/10/2010

valter-daniel-fantin-6
valter-daniel-fantin-6 🇧🇷

4.7

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Baixe Cultura das spondias e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Agronômica, somente na Docsity! SPONDIAS(Cajá e outras) MARTINS, S.T. MELO, B. O gênero Spondias pertence à família Anacardiaceae e possui 18 espécies distribuídas nos neotropicos, Ásia e Oceania (Mitchell & Daly, 1995). No Nordeste brasileiro, destacam-se as espécies: Spondias mombin L. (cajazeira), Spondias purpurea L. (cirigueleira), Spondias cytherea Sonn. (cajaraneira), Spondias tuberosa Arr. Câm. (umbuzeiro) e Spondias spp. (umbu-cajazeira e umbugueleira), todas árvores frutíferas tropicais largamente exploradas, através do extrativismo como a cajazeira e o umbuzeiro ou em pomares domésticos e em plantio desorganizados conduzidos empiricamente como a cajaraneira, a cirigueleira, a umbugueleira e a umbu-cajazeira. Estas espécies são plantadas em domesticação que produzem frutos do tipo drupa de boa aparência, qualidade nutritiva, aroma e sabor agradáveis, os quais são muito apreciados para o consumo como fruta fresca ou na forma processada como polpa, sucos, doces, néctares, picolés e sorvetes. No Brasil, notadamente no Nordeste, estas espécies têm considerável importância social e econômica, fato comprovado pela crescente comercialização de seus frutos e produtos processados em mercados, supermercados e restaurantes da região. Nos últimos anos, descobriu-se que o extrato das folhas e dos ramos da cajazeira continham taninos elágicos com propriedades medicinais para o controle de bactérias gram negativas e positivas (Ajao et al., 1985), do vírus da herpes simples (Corthout et al., 1992) e da herpes dolorosa (Matos, 1994); inclusive já existem produtos à base do extrato das folhas e dos ramos da cajazeira, industrializados e comercializados na cidade de Fortaleza, CE, para combate à herpes labial. O umbuzeiro é planta xerófita nativa do semi-árido do Nordeste brasileiro (Duque, 1980); a cajaraneira, originária da Polinésia (Airy Shaw & Forman, 1967), é suscetível à resinose (Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griffon, doença de progressão lenta, mas que leva à morte da planta (Freire & Cardoso, 1997). A cajazeira tem como centros de diversidades a Amazônia ocidental e a Mata Atlântica (Mitchell & Daly, 1995); a umbu-cajazeira é um híbrido natural entre a cajazeira e o umbuzeiro (Giacometti, 1993), tem origem desconhecida, características de plantas xerófitas e esta disseminado em alguns estados do Nordeste como o Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Pernambuco e Bahia. A umbugueleira é uma arvore muito semelhante à da umbu-cajazeira, os poucos exemplares existentes ocorrem nos municípios de Santa Isabel, PB e Tururu, CE. A forma de propagação das Spondias, como a maioria das fruteiras tropicais, ocorre pelos métodos sexuais e assexuais. Porém, algumas seleções de cirigueleira não produzem grão de pólen fértil e nem sementes viáveis (Campbell & Sauls, 1991). O endocarpo, comumente chamado de “caroço”, é usado como semente na propagação sexual das Spondias. Embora algumas espécies possuam mais de uma semente por endocarpo (cajazeira e cajaraneira), outras somente possuem uma (umbuzeiro) ou raramente uma semente (umbu-cajazeira) e outras nenhumas (cirigueleira e umbugueleira). No plantio das Spondias, a semeadura deve ser efetuada a uma profundidade de 3 cm, colocando-se o endocarpo na posição vertical com a parte proximal voltada para baixo. A cirigueleira, a umbugueleira e a umbu-cajazeira, são propagadas pelo método vegetativo, através de estacas grandes plantadas diretamente no campo, as quais demoram a enraizar e a formar a copa de uma nova planta. As estacas, na maioria das vezes, emitem brotações, mas não enraízam. Esses mesmos problemas, também, são constatados quando se propaga a cajazeira, a cajaraneira e o umbuzeiro por estaquia. A provável causa do alto alto insucesso da propagação das Spondias por estaquia é a época da coleta dos Sacramento e Souza (2000) informam variação na porcentagem de casca do cajá entre 8,4 e 18,7%, e na de endocarpo,entre 15,7 e 46,0%. O conteúdo de sólidos solúveis totais (SST) e a acidez total titulável (ATT), no final da maturação, indicam uma polpa de sabor adocicado e acentuadamente acido. Os açúcares redutores representam aproximadamente 90% dos açúcares solúveis totais no final da maturação. Leon & Shaw (1990) citam teores entre 6,74 e 9,41% de açúcares solúveis totais em cajá . Pelos resultados para rendimento em polpa, acidez, sólidos solúveis e amido, principalmente, verifica-se que o cajá atinge qualidade máxima para o consumo ou industrialização ao final da maturação. Antes disso, há comprometimento, principalmente do sabor, pela excessiva acidez e teor de amido alto, para polpa de fruta. Observaram-se poucas variações no teor de pectina, quando analisada a polpa integral na atividade enzimática e nos teores de compostos fenólicos. Porem, o fracionamento das pectinas se torna bem mais solúveis com o amadurecimento. Tabela 1 – Caracterização da porção comestível do cajá em dois estádios de maturação. Fortaleza, CE, Brasil, 2000. Características* Predominantemente Amarelo Amarelo Peso total (g) 15,91 19,92 Polpa + Casca (%) 81,58 81,65 Semente (%) 18,42 18,34 Comprimento (mm) 39,70 43,10 Diâmetro (mm) 28,10 32,20 Sólidos Solúveis Totais(oBrix) 10,30 11,56 Acidez Total Titulável (%) 1,07 1,03 Sólidos Solúveis/Acidez 9,56 11,23 pH 3,10 3,17 Açúcares Solúveis Totais (%) 7,22 8,41 Açúcares Redutores (%) 6,28 7,65 Amido (%) 1,92 0,52 Pectina Total (%) 0,13 0,28 Pectina Solúvel (%) 0,09 0,07 Pectina Fracionada (% - em relação aos SIA) A.M. 9,75 B.M. 0,87 PROT. 1,09 A.M. 10,30 B.M. 2,11 PROT. 2,21 Pectinametilesterase (UAE) 305,22 362,31 Poligalacturonase (UAE) 19,78 18,32 Vitamina C Total (mm/100g) 36,87 36,86 Fenólicos Solúveis em H2O (%) 0,10 0,12 Fenólicos Solúveis em Metanol(%) 0,10 0,11 Fenólicos Solúveis em Metanol 50% (%) 0,13 0,14 *SIA – sólidos insolúveis em álcool; A.M. – alta metoxilação; B.M. – baixa metoxilação; PROT. – protopectina; UAE – unidades de atividade enzimática. Propriedades Nutritivas por 100 gramas da fruta (polpa) : Vitamina A (mg) Vitamina B1 (mg) Vitamina B2 (mg) Vitamina C (mg) Niacin a (mg) Calorias (Kcal) 64,00 50,00 40,00 35,90 0,26 45,00 Glicídio s (g) Proteína s (g) Lipídio s (g) Cálci o (mg) Fósfor o (mg) Ferro (mg) 11,60 0,80 0,20 56,0 0 67,00 0,30 PLANTIO E TRATOS CULTURAIS A cajazeira é uma planta de polinização cruzada, e não existe clone recomendado para cultivo comercial. Desse modo, recomenda-se seguir algumas orientações utilizadas no cultivo de outras fruteiras perenes. Portanto recomenda-se o plantio de mudas clonadas de plantas de qualidade superior, ou seja, sadias, produtivas e de frutos com boas qualidades organolépticas. As mudas devem ser plantadas em covas com dimensão de 40x40x40 cm, previamente adubadas, com esterco curtido. Considerando o porte da planta adulta, sugere-se um espaçamento em sistema quadrangular de 9m x 9m ou retangular de 9m x 8m. Deve-se utilizar poda de formação, de condução e de limpeza. O espaçamento da cajazeira pode ser modificado em função da sua utilização em consorcio com outras plantas. Atualmente a cajazeira vem sendo utilizada para composição em sistemas agroflorestais com outras plantas de menor porte e que suportam algum sombreamento, como o cacaueiro e o cupuaçuzeiro. Porém, com a utilização de mudas clonadas e racionalmente podadas, é provável que esses espaçamentos possam ser mais reduzidos. Na literatura não existem informações sobre adubação, manejo e tratos culturais para a cajazeira e, até que a pesquisa venha a gerar conhecimento para o seu cultivo, recomenda-se a adaptação de tecnologia adotada para outros cultivos perenes. Com relação à aplicação de fertilizantes, o conhecimento da composição mineral do solo e de partes da planta pode auxiliar nas recomendações da nutrição das plantas. PRAGAS E DOENÇAS CARACTERIZAÇÃO Na Tabela 2 encontram-se os valores observados na caracterização da ceriguela em 3 estádios de maturação realizados na Embrapa Agroindústria Tropical. Apesar de o caroço ser grande, este é leve, e a ceriguela mostrou um rendimento de polpa elevado. O conteúdo de sólidos solúveis totais (SST) é alto no fruto maduro e a acidez, relativamente baixa. A ceriguela não é considerada um fruto ácido, porém é bastante doce. No final da maturação os açúcares redutores constituem aproximadamente 36% dos açúcares solúveis totais. A ceriguela possui baixo teor de ácido ascórbico que é Maximo no fruto verde. Apesar de ser muito apreciada para o consumo fresco, a ceriguela também é utilizada para o processamento, mas, nesse caso deve-se utilizá-la quando completamente madura, já que apresenta um alto conteúdo de amido nos estádios iniciais da maturação. Mesmo no fruto maduro o conteúdo de amido é elevado, e em alguns casos pode-se mesmo perceber o sabor amiláceo no ceriguela fresca. O teor de pectina total também é elevado, em comparação com a maioria dos frutos, o que, associado ao elevado teor de amido, pode dificultar a estabilização de suco ou néctar. Tabela 2 – Caracterização da porção comestível da ceriguela em três estádios de maturação. Fortaleza, CE, Brasil, 2000. Características* Verde Amarelo Madura Peso total (g) 11,64 12,07 10,27 Polpa + Casca (%) 81,72 83,05 84,10 Semente (%) 17,94 16,47 15,61 Comprimento (mm) 35,03 34,80 33,08 Diâmetro (mm) 26,22 25,69 24,95 Sólidos Solúveis Totais(oBrix) 7,11 16,90 21,25 Acidez Total Titulável (%) 0,93 0,63 0,62 Sólidos Solúveis/ Acidez 7,62 26,70 34,32 pH 3,06 3,34 3,44 Açúcares Solúveis Totais (%) 4,41 14,24 18,68 Açúcares Redutores (%) 2.31 4,65 0,70 Amido (%) 9,13 2,61 1,01 Pectina Total (%) 0,34 0,68 0,72 Pectina Solúvel (%) 0,05 0,20 0,30 Pectina Fracionada (% - em relação aos SIA) A.M. 0,41 B.M. 0,09 PROT. 0,13 A.M. 4,23 B.M. 0,41 PROT. 0,32 A.M. 8,42 B.M. 0,82 PROT. 0,41 Pectinametilesteras e (UAE) 427,79 298,52 320,15 Poligalacturonase (UAE) 13,85 14,68 12,65 Vitamina C Total (mm/100g) 46,60 33,21 34,01 Fenólicos Solúveis em H2O (%) 0,14 0,14 0,17 Fenólicos Solúveis em Metanol(%) 0,16 0,15 0,16 Fenólicos Solúveis em Metanol 50% (%) 0,22 0,23 0,24 *SIA – sólidos insolúveis em álcool; A.M. – alta metoxilação; B.M. – baixa metoxilação; PROT. – protopectina; UAE – unidades de atividade enzimática. UTILIZAÇAO A ceriguela é a espécie do gênero Spondias que produz frutos de melhor qualidade. Dessa forma, a principal forma de consumo é in natura tanto fruto verde quanto o maduro. A classificação desses frutos é feita mediante o peso e o estádio de maturação. Essa fruta também é usada no preparo de bebidas fermentadas (chicha), vinhos e bebidas geladas (Leon & Shaw, 1990). No Nordeste brasileiro a ceriguela é muito apreciada como “tira-gosto” após a ingestão de certas bebidas alcoólicas (Pinto, 1997), além de fazer parte da composição de sorvetes (Sousa, 1998). Umbuzeiro, umbú, imbú, ombuzeiro,ambu, giqui, imbuzeiro, taperebá (AM). (Spondias cirouella Tuss, Spondias tuberculata L.) ASPECTOS GERAIS E AGRONÔMICOS O umbuzeiro ou imbuzeiro, Spondias tuberosa, L., Dicotyledoneae, Anacardiaceae, é originário dos chapadões semi-áridos do Nordeste brasileiro; nas regiões do Agreste (Piauí), Cariris (Paraíba), Caatinga (Pernambuco e Bahia) a planta encontrou boas condições para seu desenvolvimento encontrando-se, em maior número, nos Cariris Velhos, seguindo desde o Piauí à Bahia e até norte de Minas Gerais. No Brasil colonial era chamado de ambu, imbu, ombu, corruptelas da palavra tupi-guarani "y-mb-u", que significava "árvore-que-dá-de-beber". Pela importância de suas raízes foi chamada "árvore sagrada do Sertão" por Euclides da Cunha. O umbuzeiro é uma árvore de pequeno porte em torno de 6m de altura, de tronco curto, esparramada, copa em forma de guarda-chuva com diâmetro de 10 a 15m projetando sombra densa sobre o solo, vida longa (100 anos), é planta xerófila. Suas raízes superficiais exploram 1m de profundidade, possuem um órgão (estrutura) - túbera ou batata - conhecida como xilopódio que é constituído de tecido lacunoso que armazena água, mucilagem, glicose, tanino, amido, ácidos, entre outras. O caule, com casca cor cinza, tem ramos irrigar a cova com 20 litros de água. O plantio deverá ser feito no início das chuvas. Tratos culturais Manter o umbuzeiro livre da concorrência de ervas nos primeiros 5 anos; efetuar capina em coroamento em torno da planta e roçagem em ruas e entre plantas nas chuvas. Podar galhos secos, doentes e mal colocados (que se dirijam de fora para dentro da copa) antes do início da estação chuvosa. Sugere-se adubar em cobertura com leve incorporação, 30 dias após plantio, a 20cm do pé da planta, com 50g de uréia e 30g de cloreto de potássio; no final das chuvas aplicar a mesma dose. No 2º ano adubar em cobertura com incorporação no início das chuvas, com 60g de uréia, 200g de superfosfato simples e 40g de cloreto de potássio, por planta. Pragas e doenças Pragas: a cochonilha escama-farinha ataca ramos finos e frutos; o cupim escava galerias no caule; a lagarta-de-fogo e patriota atacam as folhas e a abelha-erapuá ataca os frutos. Ainda cita-se o ataque de mosca branca e mané-magro. Para controle químico das pragas indica-se produtos a base de malatiom (Malatol 50 E) óleo mineral, triclorfom (Dipterex 50) e carbaryl (Carvim 85 M, Sevin 80). Doenças: as doenças afetam os frutos do umbuzeiro; os agentes são fungos causadores da verrugose-dos-frutos e septoriose. Colheita / rendimento O pé franco do umbuzeiro inicia produção a partir do 8º ano de vida. A maturação do fruto é observada quando a cor da sua casca passa do verde ao amarelo. Maduro o fruto cai ao chão, sem danificar-se; deve-se preferir frutos arredondados e com casca lisa. Para consumo imediato o fruto é colhido maduro; para transportar colher o fruto "de vez". Cada planta pode produzir 300kg de frutos/safra (15.000 frutos). Um hectare com 100 plantas, produziria 30 toneladas. O umbu é considerado produto vegetal de extração (não cultivado), coletado em árvores que crescem espontaneamente. Em 1988 a produção brasileira foi de 19.027t e da Bahia 16.926t. As regiões econômicas do Baixo Médio São Francisco, Nordeste e Sudoeste são importantes produtoras de umbu na Bahia. UTILIDADES DO UMBUZEIRO Vários órgãos da planta são úteis ao homem e aos animais: Raiz -Batata, túbera ou xilopódio é sumarenta, de sabor doce, agradável e comestível; sacia a fome do sertanejo na época seca. Também é conhecida pelos nomes de batata-do-umbu, cafofa e cunca; criminosamente é arrancada e transformada em doce - doce-de-cafofa. A água da batata é utilizada em medicina caseira como vermífugo e antidiarréica. Ainda, da raiz seca, extrai-se farinha comestível. Folhas-Verdes e frescas, são consumidas por animais domésticos (bovinos, caprinos, ovinos) e por animais silvestres (veados, cagados, outros); ainda frescas ou refogadas compõem saladas utilizadas na alimentação do homem. Fruto- O umbu ou imbu é sumarento, agridoce e quando maduro, sua polpa é quase líquida. É consumido ao natural fresco - chupado quando maduro ou comido quando "de vez" - ou ao natural sob forma de refrescos, sucos, sorvete, misturado a bebida (em batidas) ou misturado ao leite (em umbuzadas). Industrializado o fruto apresenta-se sob forma de sucos engarrafados, de doces, de geléias, de vinho, de vinagre, de acetona, de concentrado para sorvete, polpa para sucos, ameixa (fruto seco ao sol). O fruto fresco ainda é forragem para animais. A industrialização caseira do umbu sugere os seguintes produtos: - Fruto maduro: polpa para suco integral, casca para obtenção de pasta, casca desidratadas ( ao sol ou forno) e moídas para preparo de refrescos, xarope; -Fruto "de vez" (inchado) ou verde: umbuzadas, pasta concentrada, compota; -Fruto verde (figa): umbuzeitona, doce de umbu; -Casca do caule: remédio; -Madeira: Leve, mole e fácil de trabalhar, de baixa durabilidade natural. Umbuzeiro dá vida a outras plantas e amplia alternativas para o Semi- Árido Embrapa acelera pesquisas para explorar novos potenciais desta fruteira Francisco Pinheiro de Araujo e Carlos Antonio Fernandes Santos Engenheiro Agronomo da Embrapa Semi-Árido Petrolina-PE Em um umbuzeiro, há de se colher o umbu, é claro. Agora, imagine a colheita num umbuzeiro, em plena caatinga, de frutos de ceriguela, umbu-cajá, cajá-manga, dentre outras frutas! É surpreendente! E é isso que o programa de pesquisa da Embrapa Semi-Árido está experimentando, com bons resultados, como passo inicial para a implantação de uma fruticultura voltada para as áreas secas da região, onde não há irrigação. As plantas de ceriguela, cajá-manga, umbu-cajá, cajá e umbuguela, implantadas em cima do umbuzeiro, vêm sendo cultivadas há três anos e apresentam bom desenvolvimento e sobrevivência em condições de sequeiro absolutas. Dessas espécies, a ceriguela e o cajá-manga já começam a produzir os primeiros frutos, apesar de a produção ser ainda incipiente. Essas plantas, que são da mesma família do umbuzeiro (Anacardiacea), em condições absolutas de sequeiro, muito dificilmente conseguiriam sobreviver. A técnica que permite fazer nascer ceriguela em umbuzeiro, conhecida como enxertia, não é novidade. Pelo contrário. É uma prática milenar muito empregada na fruticultura e que permite reproduzir plantas por meio de processo assexual. Para praticá-la, o produtor precisa dispor de duas plantas. Uma, conhecida como "cavalo”, vai ser efetivamente plantado no solo e deve ser escolhida segundo características favoráveis às condições de sobrevivência no ambiente onde deverá ser cultivada. A outra, chamada de "garfo", é o enxerto propriamente dito, e vai ser fixada ao "cavalo". O "garfo", também, deve ser escolhido dentre as plantas que apresentem resultados produtivos satisfatórios. Com essa técnica, é possível antecipar a produção do umbuzeiro de doze para apenas quatro anos. As pesquisas desenvolvidas com o umbuzeiro na Embrapa Semi-Árido, nesses últimos dez anos, estão bastante avançadas. Esse Centro de pesquisa possui, hoje, o maior Banco de Germoplasma de umbuzeiro: são mais de 72 levados ao Laboratório de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Embrapa Mandioca e Fruticultura para análises físicas, químicas e físico-químicas. Durante as expedições de coleta, observou-se que as plantas de umbu-cajá eram encontradas principalmente em ecossistemas de transição entre a Mata Atlântica e a Caatinga, e sempre próximas a residências, indicando sua estreita dependência da presença humana no que concerne a sua propagação e dispersão. CARACTERIZAÇAO Diferenças entre acessos foram observadas para a maioria dos caracteres de frutos avaliados. A forma do fruto variou de piriforme e ligeiramente piriforme (73% dos acessos) a ovalada (27% dos acessos). O peso médio variou de 13 a 27g, sendo que em 5 acessos (12%) ele foi inferior a 15g, 19 acessos (49%) apresentaram peso entre 15 a 20g e 16 acessos (39%) tiveram peso de fruto acima de 20g. Diretamente relacionados ao tamanho do fruto, o comprimento e a largura variaram de 3,2 a 4,8cm e 2,6 a 3,4cm, respectivamente. O índice polpa/semente variou de 1,0 a 5,5, com 13 acessos (32%) apresentando índice inferior a 2,0, 23 acessos (56%) com índice entre 2,0 a 2,5 e em 5 acessos (12%) este índice foi superior a 2,5. Em relação às análises do suco, observou-se que o pH variou entre 2,4 e 3,0. A acidez total titulável (ATT) variou entre 0,9 e 2,6% de ácido cítrico, sendo que 1 acesso apresentou acidez menor que 1,0%, 9 acessos tiveram acidez entre 1,0 e 1,5%, 25 acessos manifestaram acidez maior que 1,5% e inferior a 2,0% e 6 acessos apresentaram acidez maior que 2,0%. O teor de sólidos solúveis totais (SST) variou de 7,2 a 14,0 ºBrix, sendo 5 acessos (12%) com teor inferior a 9,0 ºBrix, 28 acessos (68%) com teor entre 9,0 e 11,0 ºBrix e 8 acessos (20%) com teor acima de 11,0 ºBrix. A relação ATT/SST variou de 3,7 a 10,6, sendo que 24 acessos (59%) apresentaram valores para esta relação inferiores a 6,0, em 9 acessos (22%) a relação situou-se entre 6,0 e 7,0 e em 8 acessos (19%) a relação foi superior a 7,0. A relação SST/ATT foi relativamente baixa na maioria dos acessos, possivelmente devido ao fato dos mesmos apresentarem teores elevados de acidez. O teor de vitamina C variou entre 3,8 e 16,4mg ácido ascórbico/100g polpa, sendo em geral baixo se comparado com o teor apresentado por frutas como a laranja e o limão, que apresentam em torno de 50mg ácido ascórbico/100g polpa. A presença de sementes foi avaliada em 20 frutos/acesso. Observou-se que em média 44% dos frutos avaliados não apresentaram sementes, com uma variação, entre acessos, de 5 a 100% de frutos sem sementes. Dezessete acessos (41%) apresentaram, na amostragem realizada, um número de frutos sem semente igual ou superior a 50%. Considerando ser este um percentual elevado, sugere-se levar em conta esta característica na seleção de acessos de umbu-cajá para utilização como porta-enxerto. Com base nas avaliações realizadas, cinco acessos foram preliminarmente selecionados como promissores, tendo-se eleito como características mais importantes na seleção a produção de frutos grandes, com alta percentagem de polpa. Dos acessos selecionados, três destacam-se, ainda, por possuir acidez baixa a moderada e dois pela elevada relação SST/ ATT, em comparação com os demais acessos. Adicionalmente, um dos acessos apresenta a característica singular de seus frutos ficarem retidos na planta quando maduros. Conclui-se que o umbu-cajazeira apresenta suficiente variabilidade genética no Estado da Bahia, que possibilita a seleção de genótipos apropriados à utilização como variedades-copa em sistemas comerciais de produção. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS CAMPOS, C. O. Industrialização caseira do umbu: Uma nova perspectiva para o Semi-árido. Salvador: EPABA, 1988. 20p. (Circular Técnica, 14). DONATO, A. A "árvore sagrada do sertão" precisa ser preservada. Integração, v.4, n.26, p.16-18, mar./abr. 1996. FILGUEIRAS, H.A.C.; MOURA, C.F.H.; ALVES. R.E. Caracterização de frutas nativas da América Latina. Jaboticabal: Funep, 2000, 66 p. : il. ; 21 cm (Série Frutas Nativas, 9). FRUTAS tropicais: Umbu. Guia Rural Abril, 1988. MENDES, B. V. Umbuzeiro: Importante fruteira do Semi-árido. 1990. (Coleção Mossoroense). SACRAMENTO, C.K.; SOUZA, F.X. Cajá (Spondias mombin L.). Jaboticabal: Funep, 2000. 42p. (Série Frutas Nativas, 4). SOUZA, F.X. Spondias agroindustriais e os seus métodos de propagação. Fortaleza: Embrapa - CNPAT / SEBRAE/CE, 1998. 28p. (Embrapa - CNPAT. Documentos, 27).
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