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Guias e Dicas
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Material didático para ead: processo de produção, Manuais, Projetos, Pesquisas de Química

Livro produzido pelas Professoras Lúcia Helena Vendrúsculo Possari e Maria Lucia Cavalli Neder, ambas da UFMT, trata sobre produção de texto para Educação à Distância e disponibilizado no site da UFMT em 27/04/2010.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2010
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Compartilhado em 17/05/2010

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Baixe Material didático para ead: processo de produção e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Química, somente na Docsity! LUCIA HELENA VENDRÚSCULO POSSARI MARIA LUCIA CAVALLI NEDER Cuiabá, 2009 MATERIAL DIDÁTICO PARA A EaD: PROCESSO DE PRODUÇÃO Ficha Catalográfica P856m Possari, Lucia Helena Vendrúsculo. Material Didático para a EaD: Processo de Produção./ Lucia Helena Vendrúsculo Possari; Maria Lucia Cavalli Neder. Cuiabá: . 104 p. il. Inclui bibliogragia ISBN 978-85-61819-63-7 1.Educação à Distância - EaD. 2.Material Didático. 3.Texto - Ação Educativa. 4.Comunicação. 5.Educação. I.Neder, Maria Lucia Cavalli. II.Título. CDU 37.018.43 EdUFMT, 2009. Drª Lucia Helena Vendrúsculo Possari Drª Onilza Borges Drª Ana Arlinda de Oliveira Dr Carlos Rinaldi Drª Gleyva Maria Simões de Oliveira Drª Maria Lucia Cavalli Neder Martins Comissão Editorial Revisão Diagramação Capa Germano Aleixo Filho Terencio Francisco de Oliveira Marcelo Velasco Cuiabá, 2009 também têm sido significativa, com produção acadêmica, abertura da linha de pesquisa em EaD (2000), no Programa de Mestrado em Educa- ção Pública e a coletânea Educação a Distância. Em 1996, lançávamos o primeiro número da coletânea, com o tema: Inícios e indícios de um percurso, trazendo relatos da experiência do NEAD/UFMT na oferta do primeiro curso de graduação a distância no Brasil (1994). Em 2000, com o segundo número da coletânea, Educação a Distância: construindo significados, ampliávamos a discussão sobre esta modalidade, não se restringindo à experiência do NEAD. Trouxe- mos contribuições valiosas de educadores atuando em instituições de renome e com larga experiência em EaD, como G. Rumble, Neil Mercer e F. J. G. Estepa, da Open University da Inglaterra; Walter Garcia, presi- dente da Associação Brasileira de Tecnologia (ABT); Rosângela S. Rodrigues, da Divisão de Engenharia de Produção, Universidade Fede- ral de Santa Catarina, e do sociólogo Pedro Demo, que também prefaci- ou a obra. Eram relatados percursos diferentes, com experiências e visões diversas sobre EaD, que foram trazidas para o debate e oferece- ram elementos de reflexão para quem estava atuando ou se propondo iniciar nesta modalidade. Em 2005, foram lançados dois volumes. Em Educação a Distân- cia: sobre discursos e práticas, discutia-se a Formação de Professores em cursos a distância, analisando as práticas discursivas sobre a EaD. Na obra Educação a Distância: ressignificando práticas, discutia-se a questão da gestão da EaD e a produção de material didático na EaD. Neste ano de 2009, estamos lançando outros quatro volumes: um sobre os Fundamentos da EaD e três sobre a produção de Material Didático. Esperamos, assim, com estes novos volumes da coletânea, conti- nuar participando intensivamente do atual debate sobre a modalidade a distância, num momento em que o governo federal propõe e dirige a expansão do ensino superior por meio da modalidade a distância, com a criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil (2006). Trata-se de política ostensiva e extensiva para que essa modalidade de ensino se solidifique e se qualifique como parte regular do sistema de ensino superior. Oreste Preti, organizador da coletânea. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO CONVERSA INICIAL PROBLEMATIZAÇÃO TEXTOS-BASE PLANEJANDO O TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO OU O GUIA DIDÁTICO PARA A EAD Maria Lúcia Cavalli Neder MATERIAL DIDÁTICO E O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA EAD Maria Lúcia Cavalli Neder PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA A EAD Lúcia Helena Vendrúsculo Possari EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUA CONCEPÇÃO COMO PROCESSO SEMIODISCURSIVO Lúcia Helena Vendrúsculo Possari SABER + O TEXTO COMO ELEMENTO DE MEDIAÇÃO ENTRE OS SUJEITOS DA AÇÃO EDUCATIVA Maria Lúcia Cavalli Neder COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: AGORIDADES Lúcia Helena Vendrúsculo Possari CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 9 11 13 17 35 47 63 81 91 101 103 autoras, em que podem/devem ser acrescentadas outras fontes pelos leitores. A proposta de REFLEXÃO se dá num processo de recursivida- de permanente, propondo alinhar teoria-prática. As ATIVIDADES culminam no fazer juntos. Os interlocutores – autores/professores/tutores e leitores – têm, pela internet, através do sistema MOODLE, local privilegiado de intera- ção, onde se falam, debatem, incluem reflexões e atividades. Consideramos adequado, pelo exposto, manter a formatação inicial: aquela que produzimos para o curso. Escolhemos para esta obra os textos que nominamos BASE e Saber +. Como nos cursos, nós os mantivemos intercalados para leitura. Nossos textos abordam Educação e Comunicação, com um campo de conhecimento, inaugurando novo paradigma. Além de serem estudadas as funções do material didático como integrante do processo comunicativo, estudam-se também os movimentos paradigmáticos, a complexidade e a interculturalidade. Estudamos a produção do material impresso, a do material não verbal e a produção das possibilidades midiáticas de veiculação. Estuda- mos, ainda, os elementos indispensáveis para cada produção. Material Didático para a EaD: Processo de Produção10 CONVERSA INICIAL ste é o espaço da interlocução inicial. É dizer boas-vindas aos cursistas. É dizer a eles aquilo de que se trata. É palavra de enco-Erajamento. É prepará-los para o diálogo. E, principalmente, explicitar os objetivos da disciplina, os temas a serem abordados, a metodologia e a sequência, enfim a lógica pensada do texto. Então: Vamos lá, então, prezado cursista. É com imensa satisfação que vimos iniciar nosso diálogo acerca de Produção de Material para a Educação a Distância. Com o objetivo de sugerir reflexões acerca da Produção como processo e, portanto, de construção, objetivamos com este texto que você, ao se propor produzir, tenha presente os requisitos de conhecer o currículo do curso, de traçar um mapa conceitual, de promover a interface entre o texto que constrói com outros de outros cursos e módulos. Igualmente, de promover o tempo todo o diálogo com o leitor-aluno, de maneira que ele seja interlo- cutor ativo, que traga para o processo suas contribuições e, dessa forma, que a construção de conhecimento seja conjunta. Além de situarmos as condições de produção, convidamos à produção propriamente dita de material escrito, para ser impresso e para Material Didático para a EaD: Processo de Produção 11 ser usado on-line, como também a inserção do texto não verbal. Na primeira parte, visando à fundamentação da relação do texto com os demais componentes curriculares, apresentamos os textos: PLANEJANDO O TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO OU O GUIA DIDÁTICO PARA A EAD e MATERIAL DIDÁTICO E O PRO- CESSO DE COMUNICAÇÃO NA EAD, de Maria Lúcia Cavalli Neder. Na segunda parte, abordando questões relativas ao leitor de texto em EAD, apresentamos: PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁ- TICO PARA A EAD e EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUA CON- CEPÇÃO COMO PROCESSO SEMIODISCURSIVO, de Lúcia Helena Vendrúsculo Possari. Nossas propostas de REFLEXÃO permeiam o texto todo, considerando você coautor da construção e do conhecimento, abrindo ensejo a que traga conhecimentos prévios e práticas. Da mesma forma, nossas propostas de ATIVIDADES possibili- tam a você o fazer, o demonstrar, o preparar-se para produzir o material. Para a seção SABER +, consideramos adequados, como leitura por acréscimo e continuidade de discussões, os textos: O TEXTO COMO ELEMENTO DE MEDIAÇÃO ENTRE OS SUJEITOS DA AÇÃO EDUCATIVA, de Maria Lúcia Cavalli Neder e COMUNICA- ÇÃO E EDUCAÇÃO: AGORIDADES, de Lúcia Helena Vendrúsculo Possari. Desejamos que nosso caminho, juntos, seja o mais profícuo. As autoras Material Didático para a EaD: Processo de Produção12 TEXTOS-BASE h PLANEJANDO O TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO OU O GUIA DIDÁTICO PARA A EAD Maria Lúcia Cavalli Neder interessante que, ao refletirmos sobre a produção de material didático, pensemos nos tipos de texto, associados à natureza das Élinguagens utilizadas. Se verbal: oral ou escrita. Se não verbal: todas as formas (signos) – olhares, gestos, expressões faciais, cores, luzes, ruídos, desenho, fotos, pintura, sons etc. Igualmente também as mídias de que dispomos para veiculá-los. A escolha da natureza do texto, de sua tipologia e dos meios a serem utilizados para sua veiculação deve estar associada ao currículo do curso que se quer construir, sua proposta teórico-metodológica. O importante é que tenhamos claro que, em qualquer proposta de ensino, devemos trabalhar com uma pluralidade de textos, com objetivos e perspectivas diferenciadas. Para uma classificação mais simples, pode- mos designá-los de textos-base e textos de apoio. O objetivo do texto-base deve ser não só o de garantir o desen- volvimento de conteúdo básico indispensável ao andamento do curso, mas também o de abrir oportunidade para o processo de reflexão-ação- reflexão por parte dos alunos. Nesse sentido, o texto deve possibilitar ao aluno, por meio de um processo dialógico, construir seu conhecimento sobre a área ou tema em foco. O conteúdo selecionado para ser trabalhado nos textos-base deve servir como dinamizador curricular, permitindo, sempre que possí- vel, a relação teoria-prática por parte do aluno. É importante que, nesses textos considerados marcadores curriculares, haja definição de objetivos e esclarecimento sobre sua organização, somados a sugestões de tarefas e TEXTO-BASE Material Didático para a EaD: Processo de Produção 17 Continuando com esse quadro, poderíamos acrescentar aquilo que julgamos mais importante na escolha e na organização de qualquer material didático: Está adequado à proposta político-metodológica do curso? É extremamente relevante para a discussão que se quer trazer para o curso? Possibilita ao aluno ser sujeito do processo de construção de conhecimento? Bem, agora que já sabemos o que é um texto didático específico e um guia didático, e também que ambos podem constituir TEXTO- BASE de determinado curso, podemos nos perguntar o que são os TEXTOS DE APOIO. E aí, você é capaz de defini-los? TEXTO DE APOIO Bem, você deve estar pensando ou se perguntando: uma vez elaborado o texto-base ou os guias didáticos , está resolvida a questão do material didático de um curso de EAD, não é mesmo? Pois, se você pensa assim, está equivocado. Mesmo que se opte por um material didático impresso para o desenvolvimento de um curso, com certeza esse material não pode se resumir apenas aos textos-base. O texto-base, afirmamos, serve já como marcador curricular e metodológico, mas não traz em si a potencialidade de abrangência e aprofundamento que qualquer área, disciplina ou temática merecem. Por esta razão, no planejamento de qualquer curso, é preciso que os responsáveis pelas áreas de conhecimento constantes do currículo indiquem e trabalhem textos complementares (de livros, revistas, jornais ou textos encomendados especificamente para discussão de determinado tema), sobretudo para apoiar as pesquisas a serem desenvolvidas pelos alunos. Esses textos, que costumamos chamar textos de apoio, devem ser também considerados material didático do curso, embora não tenham Material Didático para a EaD: Processo de Produção20 que estar acompanhados, necessariamente, de guias ou orientações específicas para a leitura. Vejamos o gráfico a seguir, para que você conheça a rede de relações entre os diferentes textos de um curso: TEXTO-BASE e TEXTO DE APOIO. Hipertextos Textos Audivisuais Revistas Eletrônicas Filmes Vídeo Exclusivo Vídeo Conferência Seminários Textos dos Alunos Pesquisa Textos Base Textos de Jornal Textos Internet CD-Rom Vídeo Educativo Palestra Livros Textos de Apoio Textos Orais Textos Escritos Obs: Os textos marcados em preto (textos-base) seriam os marcadores curriculares, e os de cor cinza seriam os de apoio. Um trabalho também importantíssimo, na organização do material didático impresso, é a bibliografia comentada, com textos relevantes no aprofundamento das questões consideradas básicas para o curso. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 21 Os livros, revistas, jornais e/ou outras fontes, nas quais se encontram os textos de apoio, devem ficar à disposição dos alunos em locais acordados previamente. Professores que não trabalhem direta- mente com o curso podem ser convidados a produzir textos para aprofun- damento de questões abordadas pelos alunos no processo de estudo. Os TEXTOS-BASE poderão ser produzidos exclusivamente para um curso ou poderão ser textos adotados de outros autores, que serão acompanhados de GUIA DIDÁTICO. Assim, poderemos ter, num curso, TEXTOS DIDÁTICOS ESPECÍFICOS ou GUIAS DIDÁTICOS (roteiros de leitura). Você saberia dizer qual é a diferença entre eles? Em qualquer curso, o professor de determinada área de conhe- cimento, disciplina ou módulo pode construir TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO para seu curso ou adotar texto de outro autor. Em ambos os casos, deverão estar presentes os elementos im- prescindíveis na produção textual, como os que vimos na unidade I. Quando não é o autor de um texto didático específico, o profes- sor, ou o orientador de aprendizagem, apresenta-se como mediador do processo dialógico entre o autor do texto e o leitor-aluno. Para essa medi- ação, o professor e/ou o orientador devem elaborar um GUIA DIDÁTICO (roteiros de leitura). O que é um guia didático? Pense neles e tente uma caracterização. Aretio (1994) observa que o guia didático tem lugar na EAD quando o professor faz uma opção por recomendar aos alunos o estudo de um texto convencional, não produzido especificamente para o ensino a distância ou auto-formação em sua disciplina ou módulo. O guia didático seria, então, o documento que orienta o estudo de forma a aproximar os processos cognitivos do aluno ao material didático, Material Didático para a EaD: Processo de Produção22 - o estudante pode trabalhar em seu próprio rítmo; - perguntas para autoavaliação podem promover reforços; - o aluno pode desenvolver autonomia intelectual; - o aluno deve ser estimulado a buscar mais informações. FLEXIBILIDADE FUNÇÕES MOTIVACIONAIS - geralmente, é o meio mais flexível e econômico; - deve ser preparado com bastante antecipação; - é possível fazer revisão com notas suplementares; - ajusta-se às previsíveis características do leitor. Há, ainda, segundo Aretio, algumas condições que devem ser seguidas na elaboração de qualquer material impresso. No primeiro contato do aluno com o material, é importante que ele se sinta atraído. Por isso, alguns cuidados são indispensáveis quando da produção do texto impresso, a saber: - a apresentação do material – livro, revista, caderno, fascículos – deverá ser motivadora; - deve haver esmero na encadernação; - deve haver sempre uma apresentação, ou introdução, que situe o leitor; - o tipo de papel e a tipografia devem facilitar a leitura; - é importante o formato de páginas, ilustrações, isto é, definição de projeto gráfico que permita ao aluno ler produtivamente; - o material deve apresentar qualidade científica máxima. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 25 E então, você imaginava que todas essas questões estavam envolvidas no processo de produção de um texto impresso? Você já havia pensado na possibilidade de trabalhar, na EAD, com textos de autores que você considera importantes na discussão temática que pretende desenvolver, produzindo um GUIA DIDÁTICO para mediação entre o autor e o aluno? TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO: elementos para sua produção A primeira providência de quem produz textos didáticos para a EAD é conhecer detalhadamente o Projeto Político-Pedagógico (PPP), quanto a suas bases epistemológicas, diretrizes, princípios e modalidade de organização curricular: disciplina, módulo, tema, projeto etc. Após esse conhecimento, o autor deve fazer um exercício no sentido de: 1º) Situar a área de conhecimento, disciplina, módulo, tema, projeto, (qualquer que seja a proposta de organização do conteúdo curricular) no contexto do curso, esclarecendo qual sua contribuição no processo de formação delineado no PPP. Explicitar que relação mantém com o restante do conteúdo desenvolvido nas demais áreas, disciplinas, módulos, etc; 2º) Após essa etapa, o autor deve proceder à definição dos conceitos-chave de sua disciplina, ou módulo ou tema, mediante a organização de uma mapa conceitual em que se visualizem os temas e subtemas a serem trabalhados no material didático; 3º) Com o mapa conceitual explicitado, é hora de definição dos objetivos pretendidos com o desenvolvimento de cada um dos conceitos-chave selecionados pelo autor. Veja, a seguir, o exemplo de mapa conceitual na área da linguagem. Material Didático para a EaD: Processo de Produção26 TEXTO VERBAL NÃOVERBAL QUADRINHOS CORPORAL MÚSICA ESCRITO D IM E N S Õ E S PINTURA ORAL MAPA CONCEITUAL Após todas essas definições, é o momento de começar a escrita do texto. E então, pronto para a produção do seu TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO ou do seu GUIA DIDÁTICO, Vamos lá? Mãos na massa ou melhor mão no texto. Acompanhe, a seguir, alguns roteiros-sugestão que fizemos para ajudar você em sua tarefa de produzir material didático para a EAD. - Apresentação: título, contextualização do módulo, aula ou disciplina no curso, objetivos, orientação de percurso. - Desenvolvimento: apresentação do conteúdo, mediante divisão em partes (capítulos, unidades). Proposição de atividades. Saber + . - Conclusão: resumo do conteúdo, sugestões para aprofundamento. ELEMENTOS PARA ORGANIZAÇÃO Material Didático para a EaD: Processo de Produção 27 Veja, agora, outro exemplo de ROTEIRO para a produção do TEXTO DIDÁTICO ESPECÍFICO. 1. TíTULO DA UNIDADE: 2. Introdução e orientações para o estudo : esta parte deve servir de motivação e esclarecimento ao aluno sobre os estudos que ele irá desenvolver. A introdução deve ser clara e precisa, levan- do em conta esses dados: - a importância da unidade didática no contexto do curso e da disciplina em desenvolvimento e sua relação com o processo de formação profissional e humanística do aluno; - como será desenvolvida a unidade: suas partes e quais os procedimentos, caminhos e atividades previstas no decor- rer da discussão dos temas trabalhados; - como se dá a relação entre essa unidade e as outras previs- tas para a disciplina/módulo; - como será o processo de comunicação previsto para o diálogo entre você e o aluno, caso ele necessite de esclare- cimentos e/ou explicações adicionais. - ajudas externas no que se refere a outras leituras e/ou orientação. 3. Objetivos previstos para essa unidade ( não se esqueça de que você já tem isso pronto na atividade nº1). 4. Esquema a ser seguido no desenvolvimento do conteúdo da unidade. Aqui deve ser mostrado como será o fluxograma das ideias e conceitos-chave da unidade. Este esquema pode ser feito através de um quadro sinótico, um sistema de numeração ou uma mapa conceitual que oriente você no desenvolvimento de seu texto. 5. Desenvolvimento (a essência do seu trabalho). A partir de seu esquema conceitual e da divisão proposta em seu fluxograma, você Material Didático para a EaD: Processo de Produção30 vai iniciar seu texto científico (aqui você deve considerar o exposto no item 2.1). Você deve lembrar que tem objetivos claros em rela- ção ao conteúdo a ser trabalhado. Seu texto deve ser adequado à descrição de seu interlocutor e de fácil compreensão. Para tanto, você deve considerar: - texto para EAD: você está produzindo um texto para um aluno que não estará frente a frente com você. Por isso, seu texto deve permitir uma leitura sem problemas, o que pressupõe sua preocupação com o uso de vocabulário acessível ao nível cultural de seu aluno, com conhecimento prévio dele sobre o assunto, com suas leituras anteriores. Sua linguagem deve ser precisa, clara, limpa. - a estrutura interna do texto deve permitir que o aluno vá assimilando os conhecimentos em pequenas dosagens. Ele deve perceber qual a estrutura proposta para o desen- volvimento das ideias, para isso é importante fazer uma conveniente divisão e subdivisão de cada tópico. - é importante que você vá apresentando, em cada uma das partes, questões para despertar o interesse, suscitar perguntas. É significativo propor também exercícios e/ou atividades que permitam pequenas sínteses no decorrer do texto. - texto dialógico: você pode optar por uma abordagem dialó- gica no desenvolvimento do próprio texto, ou nas introdu- ções e/ou fechamentos das subunidades. O importante é seu leitor perceber a si mesmo num processo de diálogo, em que ele participa como sujeito da produção do conheci- mento. - estilo e formatação textual: o tamanho da letra, o distan- ciamento entre as linhas e parágrafos também são pon- tos importantes na organização do texto impresso. O próprio tamanho do parágrafo, às vezes, interfere na compreensão. Frases longas e intercaladas, usadas excessivamente, igualmente dificultam a compreensão. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 31 - tipografia e realces: os títulos, subtítulos, ideias-chave devem ser realçados com tamanho de letra, grifo ou utili- zação de cor. Você pode fazer destaques, por meio de notas de rodapé, de margem, de enquadramento do texto, de utilização de sinais etc. - ilustrações: gráficos, esquemas, quadros estatísticos, desenhos, fotografias, mapas etc, devem ser atrativos e dispostos de maneira a facilitar a compreensão do texto. 6. Conclusão: deve favorecer uma síntese das ideias e conceitos trabalhados. 7. Bibliografia: deve ser indicada a bibliografia básica para aprofun- damento das discussões trabalhadas na confecção do material. 8. Extensão do texto: lembre-se que um texto muito longo pode dispersar a atenção do aluno, além de desanimá-lo em razão de sua espessura. O recomendável é que cada texto tenha por volta de 60 a 80 páginas, tamanho ofício. 9. Avaliação: você poderá estabelecer o processo de avaliação no percurso do aluno mediante atividades que vão sendo desenvolvi- das no decorrer dos estudos e pode também, ao final, propor uma avaliação de síntese. O importante é que estas propostas permi- tam verificar a compreensão crítica do aluno-leitor sobre o texto trabalhado. Bem, para que você possa ter um esquema de roteiro, relativo às ações a serem desenvolvidas no processo da sua produção textual, apresentamos, na página seguinte, um pequeno mapa do percurso a ser feito. Esperamos que, com as discussões aqui promovidas, você se sinta mais encorajado na tarefa da produção de seu material didático para a EAD. Material Didático para a EaD: Processo de Produção32 MATERIAL DIDÁTICO E O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA EAD Maria Lúcia Cavalli Neder o refletirmos a respeito da EAD, temos que, primeiramente, focar a essência, aquilo que é substantivo. Isto é, não são as Acaracterísticas, não é o adjetivo (ser a distância, presencial, semipresencial, modular) que deve ser o centro de nossa ação, mas, sim, a compreensão de que estamos fazendo educação. É importante, antes de qualquer outra consideração, que tenhamos consciência de que estamos construindo uma prática educativa. A EDUCAÇÃO é a essência e deve ser compreendida como prática social que, em interface com outras práticas, contribui para a construção de significados culturais, reforçan- do e/ou conformando interesses sociais e políticos. Silva (1996) afirma que a educação, o currículo, a pedagogia estão envolvidos numa luta em torno de significados. Esses significados são construídos a partir de relações estabelecidas entre os sujeitos da prática educativa, através da organização e do desenvolvimento do currículo. A forma e o modo pelo qual o currículo é organizado merecem, também, atenção especial. Tanto conteúdo como forma, afirma Apple (1989), são construções ideológicas. A modalidade ou a forma de organi- zação curricular não pode e não deve ser pensada ou discutida isolada das discussões políticas, isto é, dos processos de significação que se quer ou se deseja construir por meio da educação. A Educação a Distância, como modalidade de organização e desenvolvimento de currículo educacional, não deve ser reduzida apenas a questões metodológicas ou a possibilidades de uso de novas tecnologi- as da informação e da comunicação (TIC). Deve ser vista sempre como Material Didático para a EaD: Processo de Produção 35 parte de um projeto político que vincule a educação com a luta por uma vida pública na qual o diálogo, a tolerância e o respeito à diferença este- jam atentos aos direitos e às condições que organizam a vida pública como uma forma social justa e democrática. Você concorda com nossa posição de que a essência é a EDUCAÇÃO, e não as características da modalidade A DISTÂNCIA? Você já havia pensado sobre isso? É importante que comecemos a refletir, a partir de agora, sobre a importância do material didático no desenvolvimento de projetos de EAD. Qual é, em sua opinião, o papel do material didático em projetos desenvolvidos na modalidade a distância? Acompanhe nossa reflexão a esse respeito. As instituições escolares têm necessidade, conforme Silva (2000), de se apresentarem como espaço de educação, ao invés de um lócus de distribuição de saber-produto a clientes consumidores. Um espaço de educação deve pressupor a construção de uma prática que possibilite aos sujeitos da ação educativa compreender criti- camente a realidade social em que se inserem, com vista a uma participa- ção ativa nessa realidade. Para pensarmos sobre material didático, faz-se necessário primeiro que pensemos que estamos participando da construção de um projeto educativo. A educação deve ser concebida como prática social, que acontece na e da relação de sujeitos historicamente situados e que, a partir dessas relações, se constroem sentidos que interferirão diretamen- te na vida das pessoas e na vida social. Isso pressupõe uma compreensão de educação como um siste- ma aberto, não só voltado para a transmissão e transferência de conheci- Material Didático para a EaD: Processo de Produção36 mentos, que implica processos transformadores que decorrem da expe- riência de cada um dos sujeitos da ação educativa. Essa compreensão implica também pensar no estudante não mais como um ser passivo, receptor de mensagens enviadas pelo profes- sor, seja através de material didático, seja através de aulas expositivas presenciais. Se entendermos a educação como prática social de construção de sentidos pelos sujeitos que delam participam, a autonomia do estu- dante passa a ser um dos ideais da ação educativa. Ele deve ser estimula- do a ser ativo no processo de construção do conhecimento, principal- mente quando se tem presente que o mundo contemporâneo, em que o conhecimento evolui de forma incontrolável, exige uma educação volta- da para a autonomia do aprendiz, o que implica uma metodologia do aprender a aprender. A EAD, por suas peculiaridades, sobretudo em relação a media- tização das mensagens pedagógicas, coloca-se como uma modalidade em potencial para o desenvolvimento dessa autonomia que se quer do aprendiz. Mediatizar, na perspectiva do processo educacional, significa, segundo Belloni (2001): conceber metodologias de ensino e estratégias de utiliza- ção de materiais de ensino/aprendizagem que potenciali- zem ao máximo as possibilidades de aprendizagem autô- noma. Isso inclui desde a seleção e elaboração de conteú- dos, a criação de metodologias de ensino e de estudo, centradas no aprendente, voltadas para a formação da autonomia, a seleção dos meios mais adequados e a produção de materiais, até a criação de estratégias de utilização de materiais e de acompanhamento do estu- dante de modo a assegurar a interação do estudante com o sistema de ensino (BELLONI, 2001. p. 26). Como uma modalidade de ensino e de aprendizagem mediatiza- da, a EAD deve considerar os dois principais componentes, destacados por Belloni (2001), de uma nova pedagogia: a utilização cada vez mais das tecnologias de produção, estocagem e transmissão de informações, Material Didático para a EaD: Processo de Produção 37 A modalidade comunicacional unidirecional tem como princi- pais características, segundo Silva (2000, p. 73): - A mensagem se apresenta de modo fechado, imutável, linear e seqüencial; - O emissor busca atrair o receptor (geralmente por imposição) para seu universo mental; - O receptor é compreendido como ser assimilador passivo; A modalidade comunicacional interativa se apresenta com as seguintes características: - A mensagem é modificável, em mutação, à medida que res- ponde às solicitações daquele que a manipula; - O emissor, “designer de software”, constrói uma rede ( não uma rota) e define um conjunto de territórios a explorar; ele não oferece uma história a ouvir, mas um conjunto intrincado (labirinto) de territórios abertos a navegações e dispostos a interferências, a modificações; - O receptor manipula a mensagem como coautor, cocriador, verdadeiro conceptor. De uma teoria de comunicação em que a mensagem é um conte- údo informacional fechado, o aluno/leitor é considerado um ser passivo, sem liberdade de modificar ou interferir na mensagem e o emissor é auto- ritário, deve-se avançar para uma teoria da comunicação que tenha como princípios de sustentação a interatividade e a interação. Na comunicação interativa, compreende-se o caráter ativo e participativo do sujeito (receptor) na ação comunicativa, o que modifica sensivelmente o papel e a função do sujeito (emissor). Além disso, a men- sagem (texto) passa a ser também compreendida como uma unidade de significação que só se instaura quando da interação entre autor (emissor) e leitor (receptor). Material Didático para a EaD: Processo de Produção40 Interação e interatividade são dois conceitos fundamentais quando se discutem processos de comunicação. Qual é sua compreensão a respeito desses termos. Tente conceituá-los em seu caderno de anotações, antes de ver a opinião de alguns autores sobre isso. Após, leia o texto nº1 do SABER +. Possari (2002) compreende por interação o processo pelo qual interlocutores “inter-agem” e decorrem daí os efeitos de sentido. Interlo- cutores são entendidos como os dois polos de qualquer situação de comu- nicação (verbal, não verbal, mediada por tecnologias). Os interlocutores constroem sentidos conjuntamente. A interatividade, por seu lado, seria o processo que permite a coautoria entre emissor e receptor, ensejando a este último transformar- se, a partir de suas ações, em coprodutor de sentidos. Equivale a dizer que o leitor pode e deve interferir no texto do produtor. Silva (2000), referindo-se à interatividade, destaca dois compo- nentes lexemáticos: um deles significaria “entre” e, o outro significaria relação recíproca. Na interatividade está prevista a possibilidade de interferência, de modificação, de escolha de caminhos nos processos de significação. A modalidade interativa, como assinala Possari (2002), pressu- põe: um emissor que constrói uma rede, um conjunto de possibilidades a explorar; oferece um conjunto intrincado de lugares dispostos à interfe- rência e às modificações; uma mensagem (texto) modificável; um recep- tor ativo, que se apresenta como coautor no processo da interlocução. Orlandi (1993), trabalhando a questão da autoria no processo de produção de textos, argumenta que a escola deve propiciar a passagem do enunciador/autor (perspectivas que o eu constrói no discurso), de tal forma que o aprendiz possa experimentar práticas que façam com que ele tenha controle dos mecanismos com os quais está lidando quando escreve. Possari e Neder (2001) assim concebem texto: Texto é qualquer unidade de sentido. São todas as formas (unidades de significação) que são utilizadas para intera- Material Didático para a EaD: Processo de Produção 41 ção entre sujeitos: a pintura, a música, a charge, o gibi, o texto escrito poético, a dissertação, a música, a fotogra- fia, o vídeo, o cinema, a escultura etc). Textos são construções simbólicas que podem materializar-se em qualquer suporte: a televisão, os CDs-ROM, o rádio, a internet (APARICI, 2000). Pensando-se na prática da leitura, como processo que permite a interlocução entre autor/leitor, Orlandi (1993) assim se posiciona: Se se deseja falar em processo de interação da leitura, eis aí um primeiro fundamento para o jogo interacional: a relação básica que instaura o processo de leitura é o do jogo existente entre um leitor virtual e o leitor real. É uma relação de confronto. O que, já em si, é uma crítica aos que falam em interação do leitor com o texto. O leitor não interage com o texto (relação sujeito/objeto), mas com outro(s) sujeito(s) (leitor virtual, autor, etc). A relação, como diria Schaff (em sua crítica ao fetichismo sígnico, 1966), sempre se dá entre homens, são relações sociais; eu acrescentaria, históricas, ainda que (ou porque) mediadas por objetos (como o texto). Ficar na “objetali- dade” do texto, no entanto, é fixar-se na mediação, abso- lutizando-a, perdendo a historicidade dele, logo, sua significância (ORLANDI, 1993. p. 9). Acedo (2000), trabalhando o conceito de interatividade em texto multimídia, chama de comunicação bancária aquela em que se utilizam os meios de comunicação para transmitir ao usuário uma série de conteúdo conceitual, com um esquema de comunicação unidirecional. Nesse modelo comunicativo, existe um emissor, um receptor e uma mensagem, que é a informação que se transmite. O receptor tem que traduzir a mensagem. Nesse caso, Acedo argumenta que não existe a verdadeira comunicação, já que o receptor não participa ativamente. Alguém trans- mite um ou outro conteúdo. A informação se dá de um lado só. É o mode- Material Didático para a EaD: Processo de Produção42 âmbito de suas dimensões sociocomunicativa e semântico-conceitual, conforme VAL (1993). Além disso, na escolha de determinado tipo de texto, estarão sendo escolhendo também os meios de veiculação desses textos, o que implica um pouco de conhecimento sobre essa questão. A comunicação é um dos elementos fundamentais no desenvolvi- mento da EAD, como você viu na discussão feita até aqui. Por isso, gostaríamos que você refletisse um pouco mais sobre esse assunto, produzindo um texto, conforme a solicitação proposta na seção atividade. Não se esqueça que o FÓRUM é o espaço para nossas reflexões. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 45 PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO PARA A EAD Lúcia Helena V. Possari INTRODUÇÃO (OU POLIFONIA) uando nos propomos participar de um processo de interação, como neste caso especificamente, ocuparemos, num dos polos, a Q função-autor e, no outro, você, cursista, a função-leitor. Todavia, sabemos que o teor do que vamos tratar não começa aqui nem termina aí, pois o processo de interação pressupõe conheci- mento prévio de ambos os polos e, no final do texto, o assunto não se encerra, dado que o processo de leitura é contínuo. Antes de começarmos a redigir, fazemos imagens de vocês leitoras/leitores: professores e professoras de diversas áreas de conhecimento, com pós-graduação lato e stricto sensu, desejosos de sistematizar conosco a produção de material didático para a EAD. Será que é só isso, ou é bem isso? Vocês também têm imagens de nós. Não interessa se essas imagens se confirmam ou não no texto, na leitura, na orientação. Mas foi preciso partir de um pressuposto para produzir o texto para vocês. Possari (1999) afirma que comunicar é interagir. Os dois polos se estabelecem como interlocutores. O texto materializado entre quem fala e quem ouve, quem escreve e quem lê, professor/aluno, pin- tor/apreciador de obra de arte, músico/ouvinte, autor/diretor de nove- la/telespectador etc, engendra discursos diversos que dependem, para efeitos de sentidos, da HISTÓRIA DE VIDA do produtor e do leitor. Isto a que chamamos de “nosso” texto é, na verdade, um inter- Material Didático para a EaD: Processo de Produção 47 É válido ressaltar que os efeitos de sentido produzidos pelo leitor NÃO são independentes das formas materiais pelas quais o texto é veiculado, pois elas interferem na forma de legibilidade do texto. O LEITOR CONTEMPLATIVO é o leitor de: - SIGNOS E OBJETOS DURÁVEIS - LIVROS, PINTURAS E MAPAS - LIVRO NA ESTANTE - LEITOR NÃO ACOSSADO PELA URGÊNCIA - O LEITOR PROCURA OS OBJETOS IMÓVEIS. O processo de LEITURA do leitor contemplativo é, até hoje, reproduzido pela escola, nos seguintes passos: - Silenciosa; - Com os lábios; - Em voz alta. O livro é o exemplo histórico e permanente desse processo de leitura que, na História, foi e tem sido – e parece-nos que permanecerá sendo ainda por algum tempo – o instaurador de formas de cultura. Por ele têm sido divulgadas a ciência moderna e o saber universitário. O livro tem seus desdobramentos nos jornais e revistas. Para além do livro, esses outros veículos oferecem leituras espirituais, intelec- tuais e profissionais. Todavia, esses meios impressos convivem com um conjunto de mutações tecnológicas, formais e culturais para as quais se tem que aplicar atenção. Como vimos no início desta Unidade, LER é um processo de reconstrução desconcertante, labiríntico, comum e pessoal. É construir um ou mais sentidos dentro das regras de linguagem e, ainda, ruminação e contemplação. Dessa forma, não podem ser ignorados novos suportes e estru- turas para o texto escrito, com a proliferação das redes de telecomunica- ções – internet. Material Didático para a EaD: Processo de Produção50 Logo, ler não mais é ficar imóvel, ou privilegiar a leitura contemplativa não é mesmo? Como fica o processo de leitura a partir dos novos suportes eletrônicos e estruturais textuais da multimídia? Pense a esse respeito. Vivemos um momento de construção de conhecimento rizomá- 3 4tico (DELEUZE E GUATARRI) e se faz necessário ter presente a universalidade e o intercâmbio de idéias, através de leituras não só con- templativas. Devemos, como educadores, atentar-nos para as novas formas de percepção e cognição que os atuais suportes eletrônicos e estruturas híbridas e alineares do texto escrito estão fazendo emergir, dilatando, com isso, o conceito de leitura, ou seja, a expansão do conceito de leitor de livro para leitor de imagem e para leitor de formas híbridas de signos, incluindo o leitor que navega pelas infovias do ciberespaço. Cabe ressaltar que os leitores deste nosso texto e os leitores para os quais vocês produzirão material didático são leitores: - de imagem, desenho, pintura, foto; - de jornal e de revista; - de gráficos, mapas e sistemas de notação; - de miríade de signos, símbolos e sinais; - do cinema e do vídeo; - de infovias: arquiteturas líquidas e alineares da hipermídia. 3. É a metáfora que recorre à imagem de bulbos e tubérculos. O rizoma pode ser conectado a qualquer outro. É o princípio da multiplicidade. Não é um sistema centrado ou hierárquico, é circulacão de estados momentâneos. 4. DELEUZE, G e GUATARRI, F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio: Ed. 34, 1995, v.1 Vimos falando do leitor contemplativo, mas, mesmo antes de apresentarmos os outros leitores, temos que ter presente que a Material Didático para a EaD: Processo de Produção 51 classificação não se restringe a tipos de linguagens nem a suporte de canais, mas, sim, a tipos de habilidades sensoriais, perceptivas e cognitivas das quais lançamos mão quando somos leitores. Independentemente de qual seja a mídia, ler é construir um ou mais sentidos dentro das regras de linguagem. O segundo tipo de leitor, então, de acordo com Santaella (A 52004) é o LEITOR MOVENTE, FRAGMENTADO 5. SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço. O perfifl cognitivo do leitor imersivo. São Paulo;Paulus,2004. Esse leitor o qual, surge em momentos de grandes transforma- ções midiáticas, em geral, sofre mudanças profundas no modo de ver o mundo. Isto pode ser observado, a partir da segunda metade do século dezenove: - Os objetos, sejam para o vestir, para o lazer, para a locomoção, passam a ser produzidos em PRODUÇÃO SERIAL; - O Estado, como instituição, passa a ser legal e fiscal; - Viver significa compartilhar de complexidade, como o telé- grafo, o telefone, cuja consolidação encontra ecos nas redes de opinião, principalmente dos jornais. O espaço urbano é de movimento contínuo e de proximidade promíscua, uma vez que tendo a Cidade-Luz, a iluminação a gás, o con- vívio estreito nas galerias, parques e cafés, abre ensejo para o espaço urbano como Cidade-Passarela que estetiza aparências. De acordo com a autora, a sensorialidade é alucinógena, o que propicia o flaneur, ou seja aquele que pode gozar do ócio espiando a cidade. Nessa esteira, o livro e o profissional sofrem transformação em Material Didático para a EaD: Processo de Produção52 Estamos falando do texto que o leitor constrói, à medida que opta por vias, nexos de sua preferência, ou seja, não há linearidade de escrita, de proposição ou de leitura. É possível considerar, contemporaneamente, que possamos nos dirigir a um leitor que se identifique apenas com UM dos leitores da tipologia estudada até aqui? Toda proposta de produção de material didático para a EAD pode ser veiculada em TODOS os meios apresentados? Fundamente sua resposta, de acordo com a área em que atua e leve suas reflexões para o Fórum. PARTE II A EAD E OS PROCESSOS COMUNICATIVOS 7Lévy (1999) identifica três diferentes formas de comunicação: 7. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1996. - uma (olho no olho, ou pode ser também por telefone e, recentemente, por e-mail); - um para milhões (todos os processos de comunicação engendrados pelos meios de comunicação de massa: jornal/revista impressos, rádio, TV; - milhões para milhões: com o advento da internet. Cabe, aqui, diferenciar quando se usa recurso e quando o meio se constitui em processo de construção de conhecimento. O quadro de giz, o quadro de pregas, mais antigamente, e, mais recentemente, o retroprojetor, hoje o datashow, podem comutar-se para ser apresentado algum conteúdo. A TV, o vídeo, para apresentação de um material relacionado com o que se está abordando, podem ser recursos. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 55 Todavia, quando se concebe que a presença física do interlocu- tor (professor) pode ser substituída e, portanto, um dos meios pode esta- belecer a interação/interlocução, começa-se a conceber diferentemente o paradigma educacional. Não mais – e apenas – a educação presencial com a ajuda de recursos, mas, e principalmente, a educação não presenci- al mediada. Mediada por impressos, por mídias e por mídias interativas. Juntamente com aquele, move-se o paradigma da comunicação. Por um lado, os conceitos, as hegemonias passam a ser revistos. Por outro, as inovações tecnológicas nos obrigam a reconceber comuni- cação. De uso como recursos, rádio, TV e vídeo, constituem-se em processos de construção de conhecimento. 8É o paradigma educacional emergente (MORAES, 1999) que, num só bojo, revê educação, ensino, linguagem e comunicação. A educação já pode se dar fora da escola em tempos diferentes da grade escolar. O ensino já pode fugir da verborragia. A linguagem, portanto, amplia-se para todas as formas de expressão. Consequente- mente, comunicar-se, interagir, passa a pressupor o outro na construção dos sentidos. A recepção – de lugar passivo – passa a ser espaço de interação. O que se entendia por emissão-recepção se modifica. Conforme Possari 9(2002, p.97) , [...] o emissor muda de papel. Não mais emite uma mensa- gem, no sentido funcionalista do termo(...) constrói um sistema... um conjunto, no qual são previstos encaixes, vias de circulação como sinais elementares de aponta- mentos e referências. 10Para Silva (2000, p.116-117) , [...] o autor se transforma em construtor de espaços 8. MORAES, Maria C. O Paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 1999. 9. POSSARI, Lúcia H. V. Comunicação e Educação: novo conceito de espaço(tempo). In: Cadernos de Educação. Cuiabá: EDUNIC. V.5.,n.1,2002. 10. SILVA, Marco. Sala DE AULA INTERATIVA. Rio: Quart, 2000. Material Didático para a EaD: Processo de Produção56 visuais e sonoros, universos pré-construídos onde podem e devem ser combinadas linguagens de grafismos, sons e imagens. Para o autor, o espírito permanece o mesmo, mais ou menos no lugar de construir classicamente uma rota, ele constrói uma rede e define um conjunto de terri- tórios desenhados por essa rede. O receptor é coautor. No processo de interação, há a recursivi- 11dade permanente. Para Silva (2000,P.164) , o emissor é o receptor em potencial,e o receptor é emissor em potencial, os dois polos codificam e decodificam. 12Possari (2001, p.97) acrescenta: [...] o emissor disponibiliza a possibilidade de múltiplas redes articulatórias e, ainda, oferece informa- ções em redes de conexões, o interlocutor encontra gama de associações e de significações. 11. SILVA, Marco. Sala de aula Interativa. Rio: Quartet, 2000. 12. POSSARI, Lucia H.V. Texto Impresso II. In: Laboratório de produção para a Educação a distância. Curitiba: NEAD/UNIREDE, 2001. A Educação a Distância potencializa os fundamentos teórico- metodológicos abordados quanto à comunicação. Por suas peculia- ridades, evoca pragmaticamente interação e interatividade, ambas exigem a historicidade dos processos de comunicação: as possibilidades de interlocução mediadas por tecnologias (diferen- tes em cada fase da história) e, ainda, os processos virtuais de linguagem e interação. Faz-se necessário, aqui, distinguir, mais uma vez, a interação da interatividade. Você seria capaz de estabelecer diferenças entre esses processos? A interação é a condição de os dois polos “inter-agirem” para a Material Didático para a EaD: Processo de Produção 57 logia carregam conflitos ideológicos configurados sócio- historicamente. O espaço de que falamos é cognitivo: além de solicitar revisão de estratégias de leitura, exige a simbiose com- pleta autor-leitor. Que propõe construção de conhecimentos elaborados, num processo dialógico, em que os polos interajam para produção de sentidos. Para isso, é preciso construir significados, o que compre- ende dar estrutura, edificar, fabricar, organizar, dispor, arquitetar, formar, conceber, elaborar. Essa construção é determinada pela situação comunicativa, pelas identidades sócio-históricas dos participantes (autor-leitor), bem como de seus planos, interesses e objetivos. Uma concepção de Educação a Distância que nos parece 14adequada (POSSARI e NEDER, 2001) , tem esses predicados: 14. POSSARI, Lúcia H.V. e NEDER, Maria L.C. Oficina para produção de material impresso. In: Laboratório de produção para a Educação a Dsitância. Curitiba: NEAD/UNIREDE, 2001. Há que evidenciar que não se fala aqui apenas de informações, nem de sua forma de expressão ou veículo. Fala-se de um processo de interlocução em que, para construir o conhecimento nas redes de rela- ções, se pressuponha um leitor ativo. No caso do texto escrito, divulgá-lo na rede é uma forma de disponibilizá-lo para muitos. Caracteriza-se em UM PARA MUITOS. Não constitui um hipertexto, pois as possibilida- des exploratórias, ainda que dialógicas e permitindo o leitor como coau- tor, são sequenciais e lineares(como sói acontecer com um texto escrito). A hipertextualidade, nesse caso, fica por conta do conceito de interferên- cia do leitor no texto. Afinal, para que leitores estamos escrevendo? Que tipo de texto estamos propondo, para ser veiculado em que mídia? Esperamos construir essas respostas no percurso deste texto. Material Didático para a EaD: Processo de Produção60 O que significa ser professor e ser aluno em EAD? Para responder, você poderá revisitar os conceitos de professor/autor e de aluno/coautor. Fundamente sua resposta. As possibilitações hipermidiáticas modificam as formas de produção, de leitura e, consequentemente, as relações professor/aluno. Fundamente essa afirmação e leve para o Fórum para debates. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 61 O texto, sua corporificação (linguística, não verbal, hipertex- tual), na qualidade de signo de algo, depende do estabelecimento de rela- ções entre as condições de produção(intenção do autor, sentidos preten- didos) e, principalmente no texto escrito(impresso ou para a WEB) a ser deslindado como acontecimento discursivo, como unidade de sentidos, de ligação com a historicidade, com a intertextualidade com a memória discursiva. Refiro-me à produção de textos propriamente dita, para o esta- belecimento da interação professor/produtor/autor - aluno/leitor, e a toda configuração textual que engendra a EAD: o Projeto, o planejamento, a gestão, a orientação acadêmica(prática tutorial), as tecnologias. A corporeidade, aí, engloba os significados pretendidos, de maneira que não é possível separar-se um produtor( o autor = corpo) de texto da produção(construção/reconstrução de significados= produção e leitura= leitor).Tudo se envolve no ato comunicativo. Quando do processo de interação, se mediado pelas tecnologias de rede, menos do que considerá-los desumanizantes, deve-se considerá- los, como afirma Cardoso (1999,P.45): Para além da funcionalidade econômica ou prática dos objetos técnicos, entre em jogo a trama concreta da vida cotidiana(...) As máqui- nas encontram-se envolvidas pela trama dos investimentos subjetivos que as elevam ao nível da presença sociocultural, transcendendo o desti- no de serem meros objetos destituídos de qualquer outro significado(...) a técnica não existe independente de seu uso.(...) O percurso aponta na direção de uma convergência do exterior ao corpo para o interior ao cor- po, no sentido de tornar parte integrante do corpo às extensões do homem da proposta de MC LUHAN. Os signos autor, leitor, mediações, constituem-se nas forma- ções discursivas deste meu texto. ASPECTOS SEMIODISCURSIVOS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA As propostas semiodiscursivas podem contribuir para a garan- Material Didático para a EaD: Processo de Produção 65 tia da cientificidade do processo ensino-aprendizagem, da flexibilização curricular, da descentralização da gestão educacional, signos estes que, 2na educação presencial, não permitiam o protagonismo do sujeitos da ação pedagógica, ou seja, os produtores/leitores de textos, alunos e pro- fessores. O que caracteriza a EaD é, dentre outros, a não imprescindibili- dade da presença (no ato comunicativo). O corpo, nesse caso é represen- tado pelo texto e possibilitado pelos meios. Para além do texto impresso, as mídias propiciam o bidirecional, a interação e a interatividade. As mídias não se constituem, na verdade, na relação direta com o receptor ou com os grupos de receptores. Outros fatores de mediação contribuem para os efeitos de sentidos. Para isso, concebe-se recepção como interação: o receptor não mais pode ser considerado passivo; a interação tem que ser mediada, e não necessariamente se dá no momento do ato comunicativo. A referência anterior diz respeito a qualquer tecnologia pela qual se opte para a produção de sentidos: o impresso, o meio magnético, o hipertexto, o computador, a internet, o audiovisual, a videoconferência, a teleconferência, etc., cunhadas como tecnologias de inteligência. O signo-texto (verbal ou não verbal) é a materialidade do diálo- go para o processo de interação e se constitui no armazenamento de tex- tos que se vêem obrigados a uma adequação de propósitos, de alteração dos modos como se operacionalizam e se decodificam, o que modifica a relação produtor/leitor imposta milenarmente pela centralidade discursi- va do livro e da escola. Cabe esclarecer que o texto não tem uma materialidade autôno- ma, como instrumento mediador, como expressão de pensamento, nem como meio para se chegar às coisas. O texto é o instituinte da dialogia, desloca-se da função de apenas representar o real – transportar conheci- mento –, é condição de interação. Os textos comumente usados em EAD variam de acordo com as 2. De acordo com POSSARI(2002,p.25), por protagonistas entende-se sejam aqueles que têm importância na cena: o produtor do texto, o receptor do texto. Ambos vão construir significados e reconstruir sentidos. Material Didático para a EaD: Processo de Produção66 condições em que se dará a interação, os recursos disponíveis, os objeti- vos da interlocução(ensino-aprendizagem). A voz, usada nas seções de orientação acadêmica, institucionalizada ou nos esclarecimentos esporá- dicos solicitados ao autor de textos; os textos escritos impressos – desde a EAD epistolar, passando pelos produtos impressos:cadernos, revistas, etc., até a publicação eletrônica nas redes e os correios eletrônicos; os hipertextos inscritos em CD-ROM ou disponibilizados nas redes. A voz e o texto escrito vão se constituir num capítulo à parte. Qualquer que seja a opção pelo signo-texto, dois conceitos determinam os fios diálógicos: INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE. Possari (2002, p.42) postula: ao falar em interatividade, é preci- so diferenciá-la da interação. A segunda é, conforme preceitos bakhtinia- nos: diálogo, interação, troca ENTRE interlocutores humanos, humanos e máquinas e humanos(usuários de serviços). A 1ª é possibilidade de agir, intervir SOBRE programas e conteúdo. SILVA(2000) afirma que a interatividade compreende níveis: grau zero(ausência) linear; avanços e retorno, arborescente; videografia: escolha por menu; linguística: videotexto, palavra-chave, afim de com- por mensagens, comando contínuo, manipulação, modificação e deslo- camento. Pode ser entendida ainda como a capacidade do sistema de aco- lher a necessidade do usuário e satisfazê-lo. Essa condição a faz diferente dos processos comunicacionais audiovisuais tradicionais, pois o leitor, na interatividade, é o usuário operador que assume o papel de coautoria do texto. Se a interação tem como princípio o sociointeracionista, a inte- ratividade é construtivista. Interagir é tornar-se humano. É, um processo de interlocução, trocar com outros, saberes, afetos, desafetos. Mesmo na interlocução oral = olho no olho, ou na leitura do texto escrito, faz-se necessário inte- ragirem autor/leitor. Por isso, é válido afirmar que interação não é exclu- sivo de EAD, é condição humana, de vida. A interatividade, por sua vez, é propriedade imanente dos textos que possibilitam que o leitor interfira. Nos textos escritos, você pode concordar, discordar, dizer que se fosse você faria de outro modo, fazer paráfrase do texto; nos hipertextos, como no CD-ROM, ou nos da Inter- Material Didático para a EaD: Processo de Produção 67 de outra coisa: tudo está no lugar dos sentidos que não são dados, têm que ser construídos na relação entre interlocutores, presenciais ou por virtua- lização. O signo seja ele por representação, seja por indiciação, seja por 4simbolização constitui-se na materialidade – condição de interação . Os signos que representam, trazem em seu cerne uma caracte- rística de apreensão de fenômenos de primeiridade. Sua categoria é icô- nica, na medida em que representa por aparência visual ou fônica com o que quer fazer significar. Não será necessário, por parte do interlocutor, esforço para além da identificação. Esse quali-signo se dá a conhecer por ele mesmo. Em linguagem verbal, exemplifica-se pela metáfora, pela ono- matopéia. Em linguagem não verbal, exemplifica-se por todas as figuras, desenhos, fotos de pessoas, objetos, animais. Na tela do computador, são chamadas de ícones todas as representações (figurinhas da impres- sora – para imprimir; do disquete – para gravar; da tesoura – para colar e por aí vai.). Os signos que são indiciais, por sua vez, caraterizam-se como fenômeno de apreensão de secundidade. Para significar, impõem ao inter- locutor procurar/estabelecer pistas e relações de causa/consequência. Verbalmente, os índices podem ser os AINDA, ATÉ, os ÍSSIMOS. Não segmentais podem ser a entonação, a entoação, o timbre. Não verbalmente, as marcas de pneus deixadas numa pista depo- is de uma freada. Em qualquer texto, as marcas, pistas da preferência do autor por tal abordagem; as tonalidades de um quadro para dizer do calor, do frio; nos textos publicitários como argumentos etc. Os signos simbólicos estão engendrados pela condição de terce- iridade, de convenção. Então, todas as linguagens, todos os textos são simbólicos? Sim! 4. A trilogia dos signos aqui é embasada em Peirce. Material Didático para a EaD: Processo de Produção70 Verbalmente, a linguagem é um legi-signo, convencionado como idioma, como atos de fala, como processos de interlocução. 5Os signos não verbais se convencionam culturalmente : como 6já dito, as linguagens e o uso delas para interação , os símbolos pátrios, sexuais, religiosos etc. O SIGNO-TEXTO EM EAD Pelo que já foi exposto, não se prescinde da presença de um corpo para se fazer significar. Todavia, se a interlocução e a interação não forem simultâneas, concomitantes, faz-se necessário construção e reconstrução textual que garantam a inteligibilidade do texto(verbal ou não) e que estejam garantidas por regras conversacionais e intera- 7cionais . Falar de texto implica falar de linguagem, de leitura, de textuali- dade, de interlocução, de condições de produção. Pode-se conceber a linguagem como expressão do pensamento, como comunicação e como interação. Pode-se concebê-la como gama intrincada de formas de comunicação social, como língua (idioma). Pode-se conceber texto como tudo o que está escrito, como todas as formas passíveis de compreensão e atribuição de sentidos. Pode-se conceber leitura como advento de processo de alfabeti- zação e, portanto, leitura do texto escrito; como atribuição de sentidos a todas as formas passíveis. Pode-se, mas, neste texto, concebo linguagem como interação, texto como corporificação: condição de estabelecimento da interação e leitura como atribuição de sentidos. Isto enseja observações como estas: Todo enunciado... é linguisticamente descritível como uma série de pontos de deriva possível, oferecendo lugar a interpretação. Ele é 5. Concebe-se cultura semioticamente com teias de significado (Geertz e Weber) 6. e ideologicamente (Bakhtin(1997) 7. Ainda que a ancoragem teórica seja a da Análise do Discurso, da Pragmática, da Filosofia da Linguagem, da Teoria da Enunciação entre outras, estendo os princípios de interação e condições de produção para todos os tipos de textos: verbais e não verbais. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 71 suscetível de ser/tornar-se outro. Esse lugar do outro enunciado é o lugar da interpretação, manifestação do inconsciente e da ideologia na produ- ção dos sentidos e na constituição de sujeitos. É também em relação à interpretação que podemos considerar o discurso(o exterior) como alte- ridade discursiva. É porque há o outro na alteridade e na história, corres- pondente a este linguageiro discursivo.., aí pode haver a ligação, a identi- ficação, a transferência...existência de relação abrindo possibilidades de 8interpretar . Todo texto é híbrido ou heterogêneo quanto à sua enunciação, no sentido que ele é sempre um tecido de vozes ou citações, conforme Pinto (1999): cuja autoria fica marcada ou não, vindas de outros textos preexistentes, contemporâneos ou do passado. Toda produção, dessa forma, seja em que linguagem/mídia for: – escrita impressa, escrita para a rede, CD-ROM, fita audiocassete, vide- ocassete etc –, pressupõe condições de produção. Aquilo que está sendo produzido como texto não encerra significados em si mesmo, o autor não é dono da verdade ou leitor, onisciente. Está a depender da polifonia, de tudo o que já foi dito/lido sobre o tema. É no intervalo semântico, no interdiscurso que se produzem os sentidos. Na prática, quando se prepara uma aula, quando se produz um texto, tem-se em mente o para quem=interlocutor – seu nível, seu grau de conhecimento. Assim, busca-se adequar a linguagem, a mídia, ao nível pressuposto do leitor/ouvinte. No dizer de Orlandi (1991, p. 29), inclui – como não faz a lin- guística – o sujeito, ao mesmo tempo que o descentra, isto é, não o consi- dera fonte responsável do sentido que produz, embora o considere como parte desse processo de produção. Brandão (1996) afirma que, pelo descrito acima, o sujeito passa a ocupar uma posição privilegiada, e a linguagem passa a ser considerada o lugar da subjetividade. O lugar que a Educação (presencial ou não ) deveria ter garantido em toda a história. Pois o sujeito, assim, incorpora- se como reconstrutor do discurso(interação e interatividade). 8. ORLANDI, Eni. Análise de Discurso, princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999. Material Didático para a EaD: Processo de Produção72 coesão, argumentação, progressão, será o outro que conseguirá/desejará apreender, através dos signos do texto o que o autor quis fazer significar. A materialidade linguística dará espaço à memória discursiva que poderá inclusive – num processo de interatividade – alterar essa materialidade, modificando gestos de interpretação e não levando em conta diferentes posições do sujeito autor, propondo diferentes formações discursivas, distintos recortes de memórias ensejadas por distintas relações com a exterioridade. Nesse momento, evoca-se, para explicar o imprevisível, a cate- gorização de ORLANDI (1986) de tipos de discurso: autoritário, polêmi- co e lúdico. Autoritário, quando não permite nenhuma reversibilidade. A paráfrase é o máximo permitido. Polêmico quando a polissemia é contro- lada, e o leitor poderá usar sua história de leituras e acrescentar sentidos aos previstos pelo autor. Lúdico – e com certeza não é a proposta de nenhum texto da educação – e a polissemia aberta onde nem mesmo a materialidade verbal ou não verbal será levada em conta para a atribuição de sentidos. Não desejável, mas não impossível, o discurso lúdico pode ocor- rer. O desejável é o discurso polêmico, onde se instauram os sentidos pretendidos, acrescentam-se a eles outros e constrói-se o conhecimento, produzindo-se novos discursos: um enorme interdiscurso. Nesse proces- so de interação, o leitor virtual é o mais provável. Primeiro pela multipli- cidade de histórias de leituras, segundo pela oportunidade que o texto acadêmico deve dar ao leitor para que ele reconstrua os sentidos. Toquei, agora, num ponto delicado e doloroso de todo processo de ensino-aprendizagem, e não menos problemático na EAD, que é a Avaliação. Como conferir se os sentidos pretendidos foram atribuídos, ou em que medida foram enriquecidos? Nas propostas de avaliação (ou seria medida?) tradicionais, prevalesceria o discurso autoritário: a não reversibilidade, a paráfrase, no máximo. Ao se pretender instaurar o dis- curso polêmico, as formas de verificação da aprendizagem têm que con- templar a heterogeneidade e a dispersão, permitindo os interdiscursos. É dessa forma que os sujeitos não serão responsabilizados pelo engendra- mento dos sentidos, e sim os sentidos serão constituídos pela relação Material Didático para a EaD: Processo de Produção 75 entre os interlocutores. Há que prever que os leitores/alunos poderão interpretar apenas algumas das fulgurações que se destacam da constelação de sentidos pretendidos. O que antes era controlar, delimitar, classificar e ordenar nos processos de avaliação, devem dar lugar à dispersão. De outro modo, estar-se-á criando a ilusão da unidade de sentido, que faz parecer que o sentido é evidente e único. EAD = SIGNO DE POLÍTICA INCLUSIVA Se na EAD tudo muda- gestão, planejamento, proposta curricu- lar - , não há de ficar de fora a avaliação. MORIN(2000) recorre a Paul Valéry para destacar a indivisibilidade do ato de criar e do conhecimento compreensível: criar, construir, era para ele indivisível de conhecer e compreender. As atribuições de sentidos pretendidos necessitam de tempo e espaço - ou seriam agoridades e espacialidades? – diferenciados da educação presencial. Conforme MORIN (2000,p.69), existe um prin- cípio de incerteza no exame de cada instância constitutiva do conheci- mento. O repetir e o refazer garantem o que inicialmente apontei como inerente à EAD: a política afirmativa, a não exclusão. Envolve, no dizer de POSSARI(2002), estabelecer sinergias entre competências, entre recursos e projetos; abrir oportunidade à cons- trução e à manutenção de dinâmicas e memórias em comum; ativar modos de cooperação flexíveis e transversais e distribuir coordenada- mente os centros de decisão (gestão, tutoria, autoria). Para MORIN (2000), o conhecimento só pode ser pertinente se situar o objeto no con- texto e, se possível, no sistema global de que faz parte, se ele criar uma forma incessante que separa e reúne, analisa e sintetiza, abstrai e insere no contexto. Sem deslumbramento ou mesmo sem apagar da memória (dis- cursiva) a importância dos textos escritos, impressos, procedimentos epistolares, indico que integrar através das múltiplas mídias as possíveis produções e leituras – autores e leitores – pode significar uma melhor forma de apropriação, por sujeitos e seus grupos, da atualização de Material Didático para a EaD: Processo de Produção76 conhecimentos, diminuindo os efeitos da exclusão. O ciberespaço, dentre as possibilidades, constitui-se como dis- positivo de comunicação interativo e comunitário, e ainda como instru- mento de inteligência coletiva. Em EaD, permite que se desenvolvam sistemas de aprendizagem cooperativa. Ainda mais: troca de ideias, ima- gens, experiências. As redes veiculam textos plurais: sonoros, visuais, icônicos, figurativos e verbais que propiciam participação de sujeitos diferentes em todos os sentidos e com expectativas e níveis culturais dife- rentes. Essa interação se dá por meio de textos-signos multifacetados. Inserido nesse espaço, nessa espacialidade, nessa desterritoria- lização (Barbero,1996), o sujeito-leitor en-“reda”-se para a construção de conhecimento, ampliando sua memória discursiva, sua história de leituras, integrando as redes de conhecimento e tornando-se mais apto às respostas pretendidas. A exigência da presencialidade, do texto-objeto, da resposta esperada pode ser revista, orientando-se por outro paradigma: o da com- plexidade (MORIN(2000), o de tecer unidos signo-texto-corpo. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 77 Maria Lúcia C. Neder omo já afirmamos em outra passagem, no texto-base, a produção, a seleção e a organização de textos para a EAD devem Cestar atreladas ao projeto político-pedagógico do curso que se quer desenvolver. Todo texto, concebido como material didático, deve ser pensado e concebido no interior de uma proposta curricular, que, por sua vez, deve ser construída na perspectiva de objetivos delineados em um projeto político de formação. O material didático do curso, consubstanciado através de textos, deve configurar-se no âmbito da proposta curricular. Neder (2003), o considera um dos dinamizadores da construção curricular e também como um balizador metodológico. É, através do material didático, que são feitos os recortes das áreas de conhecimento trabalhadas no curso, além do direcionamento metodológico pretendido. Entre o material didático básico de um curso a distância, podemos encontrar: material impresso, material audiovisual e material multimídia. É o material didático que possibilita que as diretrizes e os princípios definidos no Projeto Político-Pedagógico do curso sejam garantidos no desenvolvimento da prática pedagógica. São também os balizadores das bases epistemológicas definidas para a sustentação das ações pedagógicas. O TEXTO COMO ELEMENTO DE MEDIAÇÃO ENTRE OS SUJEITOS DA AÇÃO EDUCATIVA Material Didático para a EaD: Processo de Produção 81 Vale a pena, aqui, fazermos uma reflexão: Qual é a importância do Material Didático no contexto de um projeto de EAD? Faça um texto sobre isso e participe do FÓRUM com sua reflexão. É mediante o material didático que se pode garantir que os principais conceitos, definidos em cada área de conhecimento, ou disci- plina, ou módulo, ou unidade, sejam realmente trabalhados no curso. Nas relações estabelecidas entre os sujeitos da prática educativa, o material didático se apresenta na EAD como meio para veicular os conceitos, as idéias e as reflexões fundamentais para as construções de sentidos que se quer produzir no desenvolvimento do currículo. Dessa forma, o material didático se situa como um “balizador curricular”, isto é, um referencial teórico-metodológico da proposta pedagógica dos cursos que se desenvolvem mediante a modalidade da EAD. Nesse sentido, é importante que os autores desse material compreendam que, mais do que um meio para socializar conhecimentos, o material didático é o meio que possibilita a sustentação dos fundamen- tos epistemológicos concebidos para o desenvolvimento do projeto político-pedagógico. Os sentidos previstos no e para o processo de interação entre os sujeitos da prática pedagógica terão, como um de seus suportes, o materi- al organizado para o curso de EAD. Como esse material é consubstanciado em textos de diferentes natureza, com possibilidade também de veiculação por diferentes meios, deve ser pensado considerando-se dimensões essenciais a qualquer tipo 1de texto, a saber: sociocomunicativa e semântico-conceitual-formal . Essas dimensões não se apresentam em separado na construção de um texto, uma vez que uma implica a outra. 1. Classificação extraída de VAL, Maria da Graça Costa. Redação e Textualidade. SP:Martins Fontes, 1993. Material Didático para a EaD: Processo de Produção82 do Possari e Neder, esse jogo faz parte do processo de comuni- cação, portanto ele está presente sempre no processo de cons- trução de texto de qualquer natureza e tipo. Se a linguagem é um processo de interação entre falante(autor) e ouvinte(lei- tor), é preciso ter presente a interação entre falante(produtor) e ouvinte(leitor) no processo de interlocução. Assim, ao se produzir um texto, devem estar presentes os jogos de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro, e do outro com relação a si e ao tema do discurso. Você já tinha parado alguma vez para pensar sobre isso? Quando você produz um texto oral ou escrito, por exemplo, leva em conta essas questões? Elas são importantíssimas, uma vez que ajudam o autor a situar seu interlocutor. Se a linguagem é social, seus sujeitos (interlocutores) não são abstratos e ideais. Eles devem ser pensados em situação real da vida social: onde vivem, participam de quais grupos culturais, onde trabalham, que tipo de atividades desenvolvem, que nível de escolarida- de possuem, o que sabem sobre esse assunto que estamos trabalhando, que leituras têm a respeito da temática estudada, que recursos têm à disposição para auxiliá-los, etc. Todas essas são questões que devem estar presentes no processo de produção textual. É preciso, ainda, estar atento para o fato de que nossas falas e textos, por estarem situados em determinado contexto sociocultural, implicam nossa visão de mundo. As posições político-metodológicas sempre afloram nos discursos. Nessa dimensão da produção textual deve ser considerada a questão da intertextualidade. Possari e Neder afirmam que um texto sempre depende do conhecimento de outros textos. É preciso, por isso, continuam as autoras, que haja uma preocupação com as ideias apresen- tadas. Se forem inusitadas, por exemplo, deve haver uma preocupação por parte do autor com a inferência de dados que permitam a interlocu- Material Didático para a EaD: Processo de Produção 85 ção. Por outro lado, lembram as autoras, um grau elevado de previsibili- dade, como o uso exagerado de estereótipos (frases feitas/clichês), fala padronizada, deixa o texto desprovido de interesse. Nossa, deve estar pensando você: “quanta coisa devo considerar ao produzir um texto”. Acrescentamos outro item em sua indagação: E se você não é o autor do texto, apenas está organizando um guia didático, o que estas questões todas têm a ver? Conhecendo tudo isso a respeito do jogo de imagens que está previsto no processo de interlocução entre falante (autor) e ouvinte (leitor), quando o professor ou a equipe de ensino selecionarem um texto para ser trabalhado em determinado curso devem fazer um inventário dessas questões, ressaltando: - Quem é o interlocutor previsto pelo autor? - O que o autor pensa de seu interlocutor? - O que ele pensa que seu interlocutor pensa dele? - O que ele pressupõe que seu interlocutor sabe sobre o assunto? - Que outros conhecimentos ele prevê que o interlocutor já possui? Alicerçado em uma reflexão a respeito dessas questões, o professor mediador entre autor/leitor (aluno) deve analisar se os sujeitos previstos pelo autor condizem com os sujeitos do curso para o qual ele está contribuindo. Se não condizem, o que fazer para auxiliá-los nessa interlocução, já que o assunto, a abordagem e a discussão propostos pelo autor do texto são imprescindíveis na construção e na produção dos conhecimentos previstos no projeto do curso em apreço. Que propõe construção de conhecimentos elaborados, num processo dialógico, em que os polos interajam para produção de sentidos. Para isso, é preciso construir significados, o que compre- Material Didático para a EaD: Processo de Produção86 ende dar estrutura, edificar, fabricar, organizar, dispor, arquitetar, formar, conceber, elaborar. Essa construção é determinada pela situação comunicativa, pelas identidades sócio-históricas dos participantes (autor-leitor), bem como de seus planos, interesses e objetivos. Além dessa dimensão do texto vista até aqui, há outras que implicam, sobretudo, trabalhar com as especificidades da natureza e tipologia de cada texto em particular, o que trabalharemos mais detalha- damente em nossa segunda unidade. Essas peculiaridades dizem respeito mais de perto à dimensão que denominamos de semântico-conceitual-formal, abordada a seguir. Dimensão Semântico-Conceitual-Formal Esta dimensão, como o próprio nome aponta, diz respeito à questão do significado. Nesta dimensão, estão presentes os fatores res- ponsáveis, portanto, pelo sentido do texto. Cada tipo de texto, de acordo com sua natureza, possui determinadas propriedades que garantem sua textualidade. Macedo (1975), analisando esse aspecto no que diz respeito ao texto verbal (oral ou escrito), define como textualidade: “as proprieda- des que garantem que da mesma forma que um conjunto de palavras não produz uma frase, um conjunto de frases não forma, necessariamente, um texto”. Extrapolando os limites do texto verbal, podemos fazer a mesma analogia com os textos não verbais: um conjunto de imagens não forma, necessariamente, um texto não verbal, assim como um conjunto de notas não forma, necessariamente, uma música. Para ser considerado texto, qualquer manifestação de lingua- gem, verbal ou não verbal, deve apresentar as seguintes características: - ser uma unidade de sentido; - apresentar marcas da interação entre autor/leitor; - apresentar marcas do contexto de situação onde se inserem os sujeitos da interação. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 87 COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: AGORIDADES Lúcia Helena V. Possari AGORIDADES: educação e tecnologias A sala de aula deve assumir-se como o lócus onde se dão as linguagens dos media, com suas múltiplas tessituras plurissígnicas, em que os conceitos de ensino-aprendizagem devam deixar o enciclopedismo. heterogeneidade pós-moderna traz como valor privilegiado a diferença e, como consequência, o desbastamento da figura da Ainstituição. em todas as suas versões: o Estado, a família, a escola, a universidade, o Partido – e o esfacelamento das noções de representação e delegação. Vem-se solicitando da escola ampliação de papéis e redefinição dos propósitos escolares. A par disso, os processos de sociabilidade, dependentes de diferentes modos de ver, devem permear as formas de compreender, e, ainda, a necessidade de ler e se produzir textos nas diversas linguagens, a fim de que se possam dominar recursos de informática, o que implica redimensionar os conceitos de tempo-espaço para que se aproprie de lógicas que não são formais necessariamente nem se calcam em princípios explicativos herméticos. Implica dizer que se assume um compromisso com o ensino dialógico, com base em realidades comuni- Material Didático para a EaD: Processo de Produção 91 cacionais diferenciadas, onde o que se tenciona é que o aluno aprenda a aprender, construindo socialmente o conhecimento, indo além dos modelos vigentes, buscando na intersubjetividade as interconexões discursivas alimentadoras de jogos enunciativos que propiciam as transformações dos temas em circulação. Este é o discurso que se pretende moderno e que mantém, apesar dos avanços do dialogismo na espacialidade e temporalidade, o ensino presencial. Faz-se mister, a par de não se negarem os avanços do que se afirmou acima, reconfigurar epistemologicamente educação, num contexto em que comunicação e informação provocam novas espaciali- dades e temporalidades nos espaços da educação. Comporta frisar que ir para além da sala de aula com tecnologias de educação, ou onde se utilizam recursos tecnológicos avançados e informatizados na obtenção de conhecimento, é ir para além da sala de aula que se, tecnologizada, se assume palco de teatro e sala de projeções. Dizendo de outra forma, as tecnologias de comunicação e informação, por si sós, trazem novas formas de compreensão do mundo, porém o verbo – expressão de realidade desde os primórdiosda articula- ção vocal – também integra os processos de significação propostos. Essa agoridade inclui as interfaces de todas as linguagens. Agoridade pressupõe falar em tempo mas também em espaço. O avanço da tecnolo- gia se configura em duas faces: de um lado aponta para o avanço irreversível de toda uma gama de ciência e tecnologia, pondo-se como questão não fechada; de outro, pressupõe a reorganização constante e permanente da vida de todos em temporalidades menores. Essas temporalidades exigem que se insira na educação um ecossistema educativo onde sejam contempladas, simultaneamente, culturas heterogêneas e o entorno das tecnologias. É preciso configurar esse espaço-tempo educacional, sem que a construção dos saberes perca seu encanto. Transforma-se, dessa maneira, a recepção como espaço de interação. Melhor dizendo ainda, o que se entendia por emissão- recepção se modifica: o emissor muda de papel. Não mais emite uma mensagem, no sentido funcionalista do termo. Todavia, constrói um Material Didático para a EaD: Processo de Produção92 complexidade. Criam-se novos modos de educação em que se interpenetram conceitos de interatividade e de interação. Entende-se por interação o processo pelo qual interlocutores inter-agem, e decorrem daí os efeitos de sentido. Entende-se por interlocutores os dois polos de qualquer situação de comunicação (verbal, não verbal, mediada por tecnologias). Quanto à interatividade, de acordo com Silva (2000), o vocábulo é composto por dois componentes lexemáticos, o primeiro significando entre, e o segundo, espaçamento, repartição, relação recíproca. Mais especificamente nos casos de educação, interatividade (assim como nas tecnologias de informática e internet) significa interferir, modificar o que está sendo objeto de aprendizagem. Cabe ressaltar que a modalidade interativa pressupõe um emissor que constrói uma rede, um conjunto de possibilidades a explorar, oferece um conjunto intrincado de lugares dispostos à interferência e às modificações; mensagem modificável, em mutação e receptor como coautor, criador. Ao contrário, nas outras maneiras de conceber a comunicação, na unidirecionalidade, o emissor é um narrador, proposi- tor; a mensagem, fechada, imutável; o receptor, passivo. Falar de interatividade é deslocar o conceito do DO IT YOUR SELF do momento, punk, considerado subcultura, que, no entanto, legou a lição do FAÇA VOCÊ MESMO. É a tendência fragmentária da indústria do entretenimento, para todas as situações de interação. Não deve ser vista como novidade. Por volta de 250 a.C., de acordo com Manguel (1999), foi criada uma arte que mudaria para sempre a natureza da comunicação: escrever. Naquela época, o objetivo era organizar uma sociedade cada vez mais complexa com leis, éditos e regras de comércio. Escrever, grafar em tabuletas era a grande vantagem sobre a memória – ao que Platão, em FEDRO, ataca violentamente o deus Toth por ter inventado a escrita. Todavia, ao criar a escrita, os registros, implicava criar leitores. Escrever exigia leitores. O escritor era um produtor de mensagens, de signos que pediam por decodificação e também por interatividade. Pedia a generosidade de um leitor. De lá para cá, muito se acrescentou à tecnologia da escrita. Material Didático para a EaD: Processo de Produção 95 Todavia, atribuir às mais recentes tecnologias a responsabilidade de garantir saberes pode constituir-se na maneira enganosa de se ocultar problemas de educação. O de que se necessita é propor desafios como aquele de a educação possibilitar ecossistema comunicativo que contemple, ao mesmo tempo, experiências culturais heterogêneas, o entorno das tecnologias de comunicação e informação, além de configurar o espaço educacional como o lócus, de acordo com Barbero (1997), onde a construção permanente de conhecimentos conserve seu encanto. Os prolegômenos, espera-se, são concepções que, a partir de então, possam fundamentar uma delimitação para a modalidade de Educação a Distância. A Educação a Distância potencializa os fundamentos teórico- metodológicos abordados quanto à comunicação. Por suas peculiarida- des, evoca pragmaticamente a interação, a interatividade, e ambas exigem a historicidade dos processos de comunicação: as possibilidades de interlocução medidas por tecnologias (diferentes em cada fase da história) e, ainda, os processos virtuais de linguagens e interação. Habitualmente, nos processos de interlocução presenciais ou a distância não se tem atribuído muita importância aos efeitos de sentido. Tem-se baseado a significação, ora na intenção do autor, ora no texto propriamente dito. Conforme já indicado em outro passo, faz-se mister seja levado em conta a recepção, pois o leitor, com sua história de leituras é que atribuirá sentidos aos textos. Em Educação a Distância, essa condição é imprescindível. Os sentidos atribuídos nem sempre serão os pretendidos, os idealizados para o leitor, ainda que se procure garanti-los com pistas textuais, sígnicas: sintáticas, semânticas, léxicas e não verbais. Só serão lidas essas pistas se estiverem contempladas nas histórias de leituras do leitor (aluno). Para a EaD, os processos de significação propostos vêm sendo materializados em signos, textos de diferentes naturezas e propósitos. Ei- los, entre tantos: - Material impresso, em que os interlocutores estão distantes no tempo e no espaço, e que, também por esta razão, a linguagem Material Didático para a EaD: Processo de Produção96 escrita pode ser considerada adequada. Todavia, só poderá ser considerada apropriada se o texto escrito estiver dotado das condições de textualidade, cuja tessitura evidencie: coesão, coerência, progressão e argumentação. Só dessa forma se instaura a possibilidade de dialogicidade que permeia o texto, a fim de que, mesmo a distância, e não podendo utilizar-se dos recursos paralinguísticos, como entonação, gestos, modifica- ções na face, entre outros, possa fazer-se compreender e permitir uma gama de possibilidades de atribuição de sentidos; - As fitas audiocassete, em que a linguagem - tanto oral quanto escrita - necessita ser clara, concisa, coesa, coerente e pode contar com os recursos de entonação, ritmo; - As fitas videocassete cujo texto é a imbricação das linguagens verbais e não verbais, em complementação, em que uma não é mais importante que outra, mas se adequam aos propósitos; - As teleconferências, em que a interlocução e a interação é “ao vivo” e se utiliza dos recursos audiovisuais, tendo a fala a função preponderante e explicitadora; - E-mails, sites, homepages, CD-ROMs, etc, em que a hiper- textualidade medeia a interlocução. Depreende-se, dessa maneira, que, seja qual for a forma de interação, ela sempre será feita/possibilitada por um processo de mediação simbólica. O signo/símbolo poderá ser verbal: oral ou escrito; não verbal: sonoro/musical; visual; estático, dinâmico, etc. Equivale a dizer que, ainda que se estabeleça a interação de diferentes formas, ela se constitui sempre num sucedâneo das formas antigas de comunicação. Assim, retomam-se os conceitos que permeiam toda a forma de comunicação humana: o homem é um ser ontologicamente de expressão e, para expressar-se, necessita de suportes sígnicos. A linguagem é sígnica. Para expressar-se, o ser humano também recorre aos processos midiáticos – e deles depende – não mais veículos e meios de comunica- Material Didático para a EaD: Processo de Produção 97
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