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Guias e Dicas
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A Importância da Filosofia para Estado e Sociedade: Reflexões de Robert Spaemann, Notas de estudo de Cultura

Neste texto, robert spaemann reflete sobre o papel dos filósofos na sociedade e na política, questionando a importância de fazer de suas ideias objetos de reflexão crítica por parte do estado e da sociedade. Ele discute a relação entre a verdade, a justiça e a legalidade, e argumenta que a filosofia é essencialmente anarquista e só pode ser cultivada num ambiente de anarquia teórica.

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 14/03/2010

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ivan-balducci-7 🇧🇷

4.7

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Baixe A Importância da Filosofia para Estado e Sociedade: Reflexões de Robert Spaemann e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity! Para que servem os filósofos Por Robert Spaemann http://www.quadrante.com.br/ O texto recolhe as palavras de agradecimento pronunciadas pelo pensador alemão Robert Spaemann ao receber o Prêmio Roncesvalles de Filosofia, que lhe foi concedido pela Universidade de Navarra. A cerimônia de entrega do Prêmio realizou se no Palácio do Governo de Navarra, em Pamplona (Espanha), no dia 3 de maio de 2001. O pai do nosso grêmio filosófico, Sócrates, foi convidado a escolher o castigo que lhe parecesse mais adequado para sancionar o seu atentado contra a political correctness de Atenas. Respondeu com uma provocação ao tribunal: solicitou que, como benfeitor da pátria, lhe fosse concedido comer de graça todos os dias no palácio do governo... Foi sobretudo essa desfaçatez que fez com que fosse condenado à morte. Como bons democratas, os atenienses eram sensíveis a tudo o que considerassem arrogância. Os tempos mudaram, como podemos ver nesta celebração no palácio do Governo de Navarra. Segundo ouvi dizer, o presidente Miguel Sanz vai oferecer-nos – mas apenas hoje, não diariamente – algo para comer e beber. Mas antes entregou-me esta preciosa medalha, outorgada pelos meus colegas da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Navarra, depois de me terem admitido como seu colega concedendo-me, anos atrás, o doutorado honoris causa. E tudo isso no próprio palácio do Governo! Que mudou, a esse respeito, em comparação com os tempos de Sócrates? Um filósofo deve fazer aqui um exame de consciência. Por acaso tornou se politicamente correto, ao invés de ser um delinqüente? Será possível que a sociedade chegue a interessar-se pela Filosofia? Mas se se trata precisamente do interesse em levantar em público aquelas questões cujo ocultamento assegura a estabilidade da nossa vida cotidiana! Afinal, não falamos das assim chamadas “perguntas últimas”? São justamente a reflexão e o discurso continuado sobre essas “perguntas últimas” o que define a Filosofia. Em si mesma, a Filosofia não conhece tabus, embora ponha em dúvida o sentido dos tabus vigentes na vida pública. “Quem diz que não é necessário honrar os deuses nem amar os pais não merece argumentos, mas uma reprimenda”, escreve Aristóteles. A Filosofia pode dizer por que isso é assim, e di-lo com argumentos. Mas isso só é possível quando também se pode argumentar contra essas afirmações, como ocorre nos seminários filosóficos. Ali deve ser legítimo defender a imoralidade, a lei do mais forte, a eutanásia ou o racismo. Mas esse é também o âmbito onde se compreende a fundo por que não se pode defender qualquer coisa na sociedade, que não é o âmbito da busca da verdade, mas da práxis. A filosofia é essencialmente anarquista, e só pode ser cultivada num âmbito de anarquia teórica, embora esteja muito longe de trabalhar em prol da anarquia prática. ESTADO, SOCIEDADE E FILOSOFIA Que interesse podem ter o Estado e a sociedade na Filosofia? Que interesse pode ter converter os fundamentos da ordem social em objetos de reflexão crítica? De fato, o Estado moderno não faz derivar a sua legitimidade da verdade de determinadas convicções, mas da correção de procedimentos dos seus mecanismos de decisão. Non veritas sed auctoritas facit legem, diz Thomas Hobbes. Mas convém deixar claro que a legalidade dos procedimentos somente proporciona legitimidade quando esses procedimentos produzem decisões compatíveis com as intuições humanas elementares a respeito da justiça. Só se pode prescindir das questões relativas à verdade e à justiça na medida em que a paz interna seja considerada o supremo valor absoluto. Mas sempre há circunstâncias nas quais os homens consideram que não vale a pena conservar essa paz. Circunstâncias nas quais se pode afirmar, com Bertold Brecht: “Decidimos temer mais a nossa má vida do que a morte”. Não é possível desterrar do discurso público a pergunta sobre a vida boa. Mas essa é a pergunta própria da Filosofia. E uma sociedade só é livre na medida em que possibilita esse discurso. PAGE 5
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