Baixe Moda e contracultura: uma relação paradoxal1 e outras Notas de estudo em PDF para Comunicação, somente na Docsity! MODA E CONTRACULTURA: UMA RELAÇÃO PARADOXAL1 TRINCA, Tatiane Pacanaro. Discente de Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Marília. RESUMO A moda, diferentemente das vestimentas, não é um fenômeno existente em todas as épocas e em todas as civilizações. Sua consolidação deu-se na Modernidade, em decorrência do aprimoramento dos mecanismos produtivos, do remodelamento espacial iniciado pelo desenvolvimento urbano e da busca pelo status na estrutura social, entre outros fatores. Assim, o presente texto discute, por meio de uma análise histórico-social, como o fenômeno da moda tornou-se algo essencialmente naturalizado em nossa sociedade, tendo em vista os aspectos econômicos e sócio-culturais que contribuíram para sua difusão; e analisa, em particular, como os estilos de contestação, nascidos nos anos 60, no bojo do movimento da contracultura, ascenderam comercialmente. PALAVRAS-CHAVE: Moda; contracultura; consumo. INTRODUÇÃO A moda vem assumindo um papel cada vez mais significativo na sociedade contemporânea. Percebe-se isso devido ao amplo espaço dedicado a ela. Há inúmeras revistas, manuais, livros, eventos, programas de TV, cursos de graduação, desfiles etc., que trabalham com a moda e com o estilo nas mais variadas representações. A partir da segunda metade do século XX, a aceleração do capitalismo, o aumento do consumo, o avanço e as novas descobertas tecnológicas, impuseram a necessidade de novas reflexões acerca do fenômeno. 1 Parte da Pesquisa de Iniciação Científica intitulada “A moda como expressão de uma necessidade socialmente construída e sua relação paradoxal com o estilo hippie nos anos 60” financiada pela FAPESP, processo n. 02/12828-6, orientada pela Prof. Dr. Fátima Cabral (Departamento de Sociologia e Antropologia da FFC - UNESP/Marília). Área Temática do CNPq: Cultura Área de Conhecimento do CNPq: Ciências Humanas. 1 Durante muito tempo a questão da moda viu-se atrelada à idéia específica de distinção de classes sociais. Certamente, a roupa pode assumir essa função distintiva, ao diferenciar os sexos, a faixa etária, os comportamentos de grupos, etc., porém, em muitas situações, a vestimenta é utilizada para esconder, camuflar e enganar, servindo, portanto, para dissimular uma série de características. Em contrapartida aos valores estabelecidos pela sociedade tecnocrática e pelo estilo de vida do american way of life, surgiram, nos anos 60, vários grupos de contestação e algumas de suas principais características foram representadas por roupas pouco convencionais à época. O movimento da contracultura inaugurou uma antimoda, opondo-se aos padrões orquestrados pela obsolescência da moda até aquele determinado momento, rompendo igualmente com os paradigmas tanto da Alta Costura - consagrada por famosos costureiros -, como dos industriais do prêt-à-porter, que de forma incipiente, iniciavam, naquele período, um outro rumo de comercialização das indumentárias. Diante desse contexto, buscaremos abordar as principais característica que constituíram e fortaleceram o movimento hippie como algo alternativo e contrário aos padrões estabelecidos pelo jogo da moda na sociedade industrial capitalista, verificando, à primeira vista, como os mecanismos da moda e a indústria cultural transformaram os estilos de contestação (como o dos hippies e dos punks) em mercadorias exóticas a serem consumidas em larga escala. MATERIAL E MÉTODOS Procuramos analisar o material existente sobre moda, sendo desde literatura acadêmica, artigos, revistas direcionadas e anúncios presentes na mídia, privilegiando as manifestações contrárias a ela, como os estilos lançados pelos hippies nas décadas de 60, através de uma análise histórico-social imanente, buscando ler, comparar e confrontar os discursos, imagens e representações da moda e sua relação com o indivíduo e a cultura. RESULTADOS Verificou-se que os estilos de vestimentas antimodas (como os hippies e punks) nascidos respectivamente nos anos 60 e 70, tornaram-se alvo da indústria cultural, que os reproduziram como novos e simples “produtos culturais”, processo sintomático dos procedimentos do mercado 2 excesso para desagradar, surpreender e chocar, principalmente as gerações mais velhas e as típicas famílias burguesas. Até então, não seguir a linha dominante da moda indicava que se era pobre. A partir dos anos 60 isso significava muito claramente o que é ser livre (BAUDOT, 2000). No entanto, os estilos de roupas de grupos que vinha opor-se a todo o esquema da moda foram sendo reutilizados pelos estilistas nascentes e pela indústria cultural. Nesse sentido, Corrêa (1989) considera que a moda [...] tem sido a um só tempo a condição de rompimento com os padrões estabelecidos e o veículo de disseminação desse rompimento transformado em outro padrão. Foi o caso não apenas dos adornos e das roupas adotadas pelos hippies, mas também dos cabelos e das roupas adotadas pelos punks. Esse processo de transformação daquilo a que nos referimos como resistência a um novo padrão (ampliando as fronteiras e modificando os sentidos das convenções) é a condição que diferencia dos demais produtos o vestuário enquanto produto de simples consumo. E, no exato momento em que esse vestuário é parte de uma elaboração maior, cuja significação na produção em série dimensiona não apenas um consumo de roupa senão principalmente o que a roupa representa, deparamo-nos com o fenômeno da moda. (p.21). Para toda uma faixa da juventude dos anos 60, a rejeição tanto das convenções burguesas como da sociedade industrial moderna traduziu-se numa recusa ostensiva em relação a qualquer moda. Porém, essa recusa não considerou a força do capital, força essa que transformou toda e qualquer forma de manifestação numa mera mercadoria repleta de valor “cultural”. Assim, constata-se que as “inovações” dos grupos jovens urbanos possuem características comuns: no princípio, surgem como verdadeiros movimentos de estilos ou anti-estilos, propondo uma panóplia quase sempre acompanhada de uma visão de mundo e uma estética própria, que se manifesta por várias formas de expressão, como fanzines, músicas, ídolos etc. Em contraponto, o crescimento desses movimentos, no começo restrito a um grupo de iniciados, acarreta sua própria morte: acabam sendo assimilados pelos meios de comunicação de massa (ALÁRIO, 2001). Suas propostas são diluídas e reinterpretadas pelos mecanismos da indústria da moda, da indústria cultural e da produção de mercadorias, a fim de gerar um aumento do consumo de acordo com a lógica do mercado. CONCLUSÃO No desenvolver da pesquisa nos detivemos em compreender quais os processos que contribuíram para a expansão da moda por todo o Ocidente, além de comparar e relacionar os 5 diversos autores que trabalharam com a problemática da moda numa perspectiva histórica e sociológica, o que nos possibilitou observar que até meados da década de 50 a moda era orquestrada pela égide da Alta Costura, período histórico onde havia uma barreira nítida entre as vestimentas diferenciadoras dos sexos e das classes sociais. Após esse período surgiram, no âmbito da produção de moda, inúmeros aprimoramentos técnicos, os quais permitiram uma diversificação nos tecidos, cores, modelos etc., e um aumento da produção em série, concomitantemente a isso, o processo de industrialização e o crescimentos das classes médias possibilitaram uma ampliação do mercado direcionado aos diversos estilos de indumentárias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1991 ALÁRIO, Mônica de Souza. Moda e mídia escrita (1970-1990). 2001.174f. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – FCL, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2001. BAUDOT, François. Moda do século. São Paulo: Cosac e Nayfe Edições, 2000. CORRÊA, Tupã Gomes. Rock: nos passos da moda – mídia, consumo x mercado cultural. Campinas: Papirus, 1989. DUBY, Georges; ÀRIÉS, Philippe. História da vida privada: da Europa feudal à Renascença. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. SOUZA, Gilda de Mello e. O espírito das roupas: a moda no século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. 6 7