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Guias e Dicas
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Terapia Comunitária, Trabalhos de Enfermagem

Destinado à pessoas que desejam trabalhar com TC e dependência quimica

Tipologia: Trabalhos

Antes de 2010

Compartilhado em 12/10/2009

grasiela-gregorio-10
grasiela-gregorio-10 🇧🇷

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Pré-visualização parcial do texto

Baixe Terapia Comunitária e outras Trabalhos em PDF para Enfermagem, somente na Docsity! A Prevenção do uso de Drogas e a Terapia Comunitária Brasília, 2006 Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e Presidente do Conselho Nacional Antidrogas Jorge Armando Felix Secretário Nacional Antidrogas Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa Diretora de Políticas de Prevenção e Tratamento Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte Coordenadora Geral de Prevenção Doralice Oliveira Gomes Universidade Federal do Ceará (UFC) Reitor René Teixeira Barreira Faculdade de Medicina - Departamento de Saúde Comunitária Coordenador do Departamento Luciano Lima Correa Coordenador Técnico-Científico do Projeto Adalberto de Paula Barreto Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária do Ceará (MISMEC-CE) Diretora Fabiana Mariano Costa M 294 A Prevenção do Uso de Drogas e a Terapia Comunitária. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2006. 24 p. 1. Droga - prevenção. 2. Terapia comunitária . 3. Reinserção social Brasil. I. Título CDD – 361.8 Catalogação feita pela Biblioteca da Presidência da República A Prevenção do uso de Drogas e a Terapia Comunitária SENAD Apresentação Esta publicação constitui material de apoio pedagógico da Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD para o “Curso de Formação em Terapia Comunitária - com ênfase nas questões relativas ao uso do álcool e outras drogas”, realizado em parceira com o Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária do Ceará – MISMEC-CE. Tem como objetivo preparar os terapeutas comunitários para responder às questões apresentadas pelos participantes das terapias sobre esta temática. A SENAD, ao reconhecer esta metodologia, está oportunizando a efetivação de ações de âmbito comunitário nas políticas públicas destinadas à redução da demanda do uso de drogas. Neste sentido, a Terapia Comunitária (TC) coloca-se como um serviço à comunidade que possibilita intervir em vários níveis: 1. Antecipar-se ao uso indevido de drogas, trabalhando possíveis motivadores para o consumo, analisando riscos e fortalecendo fatores de proteção; 2. Oferecer, para aqueles que já são usuários e suas famílias, um espaço de acolhimento, amparo e auxílio na mudança da compreensão quanto ao uso ou abuso de drogas e contribuir para a redução dos riscos e danos associadas ao uso; 3. Facilitar a identificação da necessidade e dos meios para o tratamento de dependentes ou usuários e suas famílias e contribuir para a adesão e permanência no atendimento; 4. Favorecer a criação ou o resgate da rede social do usuário. São beneficiários diretos deste projeto os profissionais das áreas de saúde, de educação e da área social, do setor governamental e não governamental, e as lideranças comunitárias, que receberão a capacitação. E os beneficiários indiretos as instituições as quais os cursistas estão vinculados e, em última instância, a própria comunidade atendida. Isto amplia as possibilidades de atuação da rede de atenção à comunidade que será fortalecida com mais um serviço disponi- bilizado. A publicação “A Prevenção do uso de Drogas e a Terapia Comunitária” estabelece uma relação estreita entre a proposta da TC e as orientações da Política Nacional sobre Drogas quanto à prevenção, o tratamento e a reinserção social do dependente químico. Desejamos que esta iniciativa, somada às demais que o governo brasileiro vem adotando, contribua de fato com o fortalecimento de uma rede de atenção às questões relativas ao uso de álcool e outras drogas numa perspectiva inclusiva, de respeito à diversidade, humanista, de acolhimento e não estigmatização do usuário e familiares. 5 Panorama Epidemiológico No cenário brasileiro, há um destaque com relação ao consumo de drogas lícitas, em especial o álcool. Mas as drogas ilícitas também merecem atenção, uma vez que as substâncias citadas (lícitas e ilícitas) podem estar associadas ao contexto de violência. Esta publicação tem como um dos obje- tivos capacitar os terapeutas comunitários para lidarem com a temática das drogas nas suas reuniões, com especial ênfase para o seu caráter preventivo e também pelas possibilidades de complementar ações de tratamento e favorecer a reinserção social. Dentre as drogas que serão estudadas, o álcool terá destaque pela sua dimensão epidemiológica e de custos econômicos e sociais. Sendo considerado uma importante questão de saúde pública e, necessitando, portanto, de medidas efetivas no contexto político e social. A Prevalência do Consumo das Drogas Lícitas A seguir serão apresentados alguns dados obtidos de levantamentos epidemiológicos realizados no Brasil quanto ao consumo de drogas. O álcool e o tabaco aparecem com destaque, sendo as drogas mais consumidas no Brasil e as responsáveis pelos maiores índices de problemas decorrentes de seu uso indevido. No “I Levantamento Domiciliar sobre o uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil”, realizado no ano de 2001, foram entrevistados moradores das 107 maiores cidades do país (aquelas com mais de 200 mil habitantes), representando 47% da população total do país. Os principais resultados obtidos foram: • 68,7% dos entrevistados informa- ram que já fizeram uso de álcool pelo menos uma vez na vida; • A estimativa de dependentes de álcool foi de 11,2%, com predominância para o sexo masculino, numa proporção de três homens usuários para uma mulher usuária; • 41,1% dos entrevistados informa- ram que já fizeram uso de tabaco pelo menos uma vez na vida; • A estimativa de dependência de tabaco foi de 9,0%. No ano de 2004, foi realizado o “V Levantamento Nacional sobre o uso de Drogas Psicotrópicas entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio”, nas 27 capitais brasileiras, atingindo 48.155 estudantes que, em sua maioria, tinham entre 13 e 15 anos de idade. Este levantamento apresentou dois resultados que merecem destaque: • Cerca de 65% dos estudantes afirmaram ter consumido bebidas alcoólicas pelo menos uma vez na vida, o que significa dizer que mais da metade dos estudantes ouvidos já haviam experimentado algum tipo de bebida; • Cerca de 12% dos estudantes faziam uso freqüente de bebidas, ou seja, haviam consumido álcool seis ou mais vezes no mês que antecedeu a pesquisa, o que significa dizer que dez em cada cem estudantes podiam ser incluídos na categoria de usuário abusivo. SENAD6 Quanto à Prevalência de outras Drogas Psicotrópicas O “I Levantamento Domiciliar sobre o uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil” (2001), apresentou resultados importantes sobre o consumo de outras drogas psicotrópicas pela população geral, dos quais merecem destaque: O uso de pelo menos uma vez na vida de medicamentos, sem prescrição médica, apresentou um fato em comum: o número de mulheres que usou foi maior que o número de homens, em todas as faixas etárias estudadas. Os estimulantes aparecem em 1,5% de entrevistados que fizeram uso na vida. Os benzodiazepínicos (medicamento para reduzir a ansiedade) em 3,3%, bastante próxima ao observado nos Estados Unidos, cujo índice chega a 5,8%. A dependência de benzodia- zepínicos foi estimada em 1,0% no Brasil. Em relação aos orexígenos (medicamentos utilizados para estimular o apetite), 4,3% dos entrevistados já fizeram uso pelo menos uma vez na vida. Um alerta deve ser feito: Cada vez mais, a idade de experimentação tem caído, revelando que o consumo de drogas entre crianças e adolescentes é uma realidade que exige medidas preventivas urgentes. Um dado que constata esta questão é a média de experimentação do álcool pela primeira vez. No Brasil, esta média é de 12,5 anos, o que é preocupante, visto que o fornecimento de bebidas alcoólicas a menores é proibido por lei Os dados epidemiológicos acima apre- sentados retratam uma realidade desafiadora para os terapeutas comunitários e para a sociedade brasileira como um todo. Média de Idade do Primeiro Uso de Drogas no Brasil (Média) Álcool 12,5 Tabaco 12,8 Solvente 13,1 Maconha 13,9 Anfetamínicos 13,4 Ansiolíticos 13,5 Cocaína 14,4 A Prevenção do uso de Drogas e a Terapia Comunitária SENAD 6,9% dos entrevistados já fizeram uso de maconha pelo menos uma vez na vida; 2,3% dos entrevistados já fizeram uso de cocaína pelo menos uma vez na vida; 0,7% dos entrevistados já fizeram uso de crack pelo menos uma vez na vida; O uso da merla (um derivado de cocaína) apareceu, na região Norte, em 1,0% dos en- trevistados, sendo o maior índice do Brasil; 5,8% dos entrevistados já fizeram uso de solventes pelo menos uma vez na vida. Estes dados estão disponibilizados no site do Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas - OBID www.obid.senad.gov.br 7 As drogas ilícitas mais consumidas na sociedade brasileira são a maconha e a cocaína. As relações entre drogas e legislação são permeadas de muitas contradições, polêmicas e mitos, tais como: • Mesmo se a palavra droga refere-se a todas as substâncias psicoativas, sejam elas lícitas ou ilícitas, é muito comum, no entanto, associarmos esse termo apenas às drogas ilícitas; • As drogas lícitas, ao contrário do que se pensa e se fala, são as que causam maior impacto na saúde pública, pois são as mais consumidas, respondendo pelo maior número de dependentes e também de danos psicossociais decorrentes de seu uso abusivo. O Uso Indevido de Drogas Mas, afinal, o que levaria alguém a fazer uso indevido de drogas? Quais os fatores que aumentam ou diminuem a probabilidade do consumo indevido? Ter clareza quanto a este questionamento possibilita que a atuação do terapeuta comunitário, enquanto agente de prevenção, possa ser potencializada. O terapeuta comunitário pode se apropriar deste papel com maior consciência de suas possibilidades de atuação e também de importância. Neste contexto, a terapia comunitária caracteriza-se, também, como um espaço de prevenção, de auxílio no tratamento e reinserção social de usuários e dependentes químicos e apoio às famílias. Fatores de Risco e de Proteção Fatores de risco para o uso indevido de drogas são características ou atributos de um indivíduo, grupo ou ambiente de convívio social que contribuem, em maior ou menor grau, para aumentar a probabilidade deste uso. Não existe um fator único determinante para o uso. Assim, para cada domínio da vida (individual, familiar, escolar, pares, comunitário) pode haver fatores de risco, além de fatores de proteção. Os fatores de proteção são característi- cas ou atributos presentes nos diversos domínios da vida que minimizam a probabilidade de um indivíduo fazer uso indevido de drogas. SENAD10 O trabalho comunitário, em especial a terapia comunitária, enfatiza a importância de reconhecermos os potenciais e competências existentes em cada pessoa, nos grupos e na comunidade. Neste sentido, a prevenção direciona-se ao reconhecimento, à valorização, ao reforço dos fatores de proteção por meio da otimização dos recursos pessoais, grupais e comunitários existentes. Como identificar os Fatores de Risco e de Proteção na Prevenção do Uso Indevido de Drogas? Os fatores de risco e de proteção podem ser identificados em todos os domínios da vida: no próprio indivíduo, na família, na rede de amizades, na escola ou no trabalho, na comunidade ou em qualquer outro nível de convivência sócio-ambiental. É importante notar que estes fatores não ocorrem de forma estanque, havendo grande possibilidade de que atuem de forma combinada, podendo ampliar a variabilidade de influências que podem ser exercidas sobre uma pessoa. Se existem fatores de risco atuantes em cada um dos domínios citados, também podem ser identificados fatores específicos de proteção. A combinação dos fatores de risco nestes diversos níveis pode tornar uma pessoa mais ou menos vulnerável para fazer uso indevido de drogas. Os fatores de risco e de proteção devem ser compreendidos na realidade das pessoas envolvidas, pois um fator de risco para um pode ser de proteção para outro. Por exemplo, uma pessoa que convive com um alcoolista e que por isto vivencia os problemas associados pode decidir por não beber; enquanto alguém na mesma situação pode ver o beber demasiado como algo natural e fazer uso abusivo do álcool. Vejamos, a seguir, exemplos de fatores de risco e de proteção em cada um dos domínios da vida: A Prevenção do uso de Drogas e a Terapia Comunitária SENAD 11 DOMÍNIO INDIVIDUAL FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO Baixa auto-estima, propensão à ansiedade e à depressão, doenças pré-existentes (ex.: transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) Autoconfiança e auto-estima elevadas Comportamento contrário às normas e às regras na infância, experiências sexuais e com as drogas precoces Capacidade intelectual para tomar decisões; assertividade Falta de auto-controle e assertividade Flexibilidade nas relações interpessoais, facilidade de cooperar, autonomia, responsabilidade e comu- nicabilidade Desinteresse ou desmotivação pelos estudos e por atividades úteis Interesse pelos estudos e aspectos da vida prática Vivência com pais ou familiares que fazem uso indevido de álcool, de medicamentos ou de outras drogas Relação de confiança com pais, familiares, professores, colegas e outras pessoas capazes de dar apoio emocional Dificuldades de interação interpessoal Apresentação de habilidades sociais Ausência de um projeto de vida Presença de um projeto de vida Inexistência ou pouca qualidade nos vínculos familiares, religiosos ou institucionais Vinculação familiar afetiva, religiosa ou institucional Fatores de Risco e de Proteção no Domínio dos Pares DOMÍNIO DOS PARES FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO Pares que usam álcool/drogas, ou ainda que aprovam e/ou valorizam o seu uso Pares que não usam álcool/drogas e não aprovam e/ou valorizam o seu uso Dificuldade de participação em grupos de pares que desenvolvam atividades recreativas, esportivas e laborais tidas como saudáveis Participação em atividades desporti- vas, laborais e recreativas saudáveis juntamente com seus pares Dificuldade de pertencimento a grupos de iguais na escola e na comu- nidade Pertencimento a grupos de iguais na escola e na comunidade Dificuldade em aceitar autoridade que não compartilhe de determinações do seu grupo de pares Aceitação de autoridade situada fora do grupo de pares, na escola, na comunidade e na família Não participação em grupos com objetivos sociais e comunitários Participação em grupos com objetivos sociais e comunitários Nesta dimensão, fazem parte os amigos e pessoas de convívio próxi- mo, que podem influenciar, dependendo da forma como pensam sobre o uso de droga e dos ambientes que freqüentam. SENAD12 Fatores de Risco e de Proteção no Domínio Escolar DOMÍNIO ESCOLAR FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO Indefinição, falta de comunicação e de negociação de normas, regras e limites Definição, comunicação e negociação de normas, regras e limites Incoerência e incongruência entre os agentes educativos na prática das normas educativas Coerência e congruência entre professores, diretores e servidores na aplicação das normas e regras escolares Relações desrespeitosas e falta de responsabilidade e compromisso entre os agentes educativos (professores, diretores, servidores, etc) Relações de respeito mútuo, compro- misso e cooperação entre os agentes educativos (professores, diretores, servidores, etc) Distanciamento entre a família e a escola Relações amistosas e de cooperação entre família e escola Falta de estímulo às práticas das ativi- dades escolares Estimulo à prática das atividades esco- lares Ausência de expectativas positivas em relação ao desempenho dos alunos tanto no aspecto formativo quanto informativo do currículo Verbalização das expectativas positivas com relação ao desempenho dos alunos em todos os aspectos do currículo Ausência de atividades criativas e estimulantes que concorram para a criação de vínculos entre o aluno e a escola Promoção de práticas escolares criativas e estimulantes, com atividades curriculares e extracurriculares que concorram para a criação de vínculos entre o aluno, a escola, os pais e a comunidade Relações preconceituosas para com os alunos, com a utilização de rótulos como forma de punição e exclusão Relações abertas, honestas, sem atitudes negativas, punitivas, preconceituosas ou excludentes entre professor e aluno Ausência de afetividade na relação professor e aluno Fortes vínculos afetivos entre professor e aluno Relações professor/aluno baseadas no autoritarismo ou no excesso de permissividade Relações entre professor/aluno baseadas no respeito mútuo Ausência de afetividade e confiança no ambiente escolar Presença de afetividade e confiança no ambiente escolar Falta de estímulos e de práticas educati- vas relativas ao altruísmo, cooperação e solidariedade Estímulo e exercício dos princípios de altruísmo, cooperação e solidariedade Falta de controle quanto à presença de drogas Controle da presença de drogas Tolerância com relação ao cigarro, álcool e/ou outras drogas Reconhecimento e valorização, por parte da escola, de normas e leis que regulam o uso de drogas, com definição e aplicação efetiva das normas internas da escola A Prevenção do uso de Drogas e a Terapia Comunitária Nesse domínio, ocorre o entrecruzamento de fatores de risco e de pro- teção presentes em todos os outros domínios. Em verdade, a escola é o ambiente em que boa parte - ou a maioria - destes fatores pode ser percebida. SENAD 15 Os Diferentes Tipos de Usuários ou de Envolvimento com as Drogas Um dos cuidados primordiais ao se abordar o tema das drogas é ter claro a distinção entre os diferentes tipos de usuários, a partir das características do seu envolvimento com as drogas. É fundamental não aplicar o conceito de dependente para todos os usuários de drogas, pois nem sempre este é o caso. Por outro lado, mesmo aquelas pessoas que não estão dependentes merecem atenção, pois antes de se instaurar um quadro de dependência, o indivíduo já pode ter problemas relacionados ao uso indevido (problemas familiares, sociais, legais, trabalhistas, etc). É possível fazer diagnósticos precoces, evitando a instalação da dependência e todos os prejuízos decor- rentes. O uso de drogas não leva, necessariamente, ao abuso ou dependência, sendo possível identificar diferentes tipos de usuários. Abaixo uma classificação didática sobre tipos de usuários: 1. O usuário experimental ou experimentador: é aquele que experimenta uma ou mais drogas por curiosidade, por pressão do grupo de amigos, ou por qualquer outro motivo, sem dar continuidade ao uso. Como exemplo pode ser o caso de um adolescente que fumou maconha uma ou duas vezes, pela facilidade de acesso ao produto passado tranquilamente numa festinha por amigos, sem que essa experiência casual tenha se repetido. 2. O usuário ocasional ou recreativo: é o que utiliza uma ou mais substâncias, quando disponíveis, em ambiente favorável e em situações especí- ficas ou de lazer, sem que esse uso eventual tenha qualquer efeito negativo nas suas relações sociais, afetivas ou profissionais. Podemos incluir aqui os chama- dos bebedores sociais, que ingerem bebidas alcoólicas nos finais de semana ou em ocasiões especiais, como festas, jantares e datas comemorativas. 3. O usuário freqüente ou funcional: é aquele que faz uso habitual de uma ou mais drogas de modo controlado. Pode ocorrer, de forma esporádica, algum prejuízo nas relações sociais, familiares, profissionais em função de um comportamento que começa a se tornar sistemático e repetitivo, seguindo um certo ritual que passa a chamar a atenção pela importância que o consumo adquire na rotina do usuário. 4. O usuário abusivo: é aquele que já apresenta problemas pelo consumo excessivo de uma ou mais drogas em uma das esferas de sua vida, mas ainda está se mantendo nas demais. Os problemas que surgem já são identificados por terceiros, mas são negados pelo usuário. 5. O usuário dependente: para definirmos se alguém é dependente de drogas, seguimos o critério da Organização Mundial da Saúde - OMS, que considera dependente de uma droga a pessoa que apresenta três ou mais das seguintes manifestações: • Forte desejo de consumir a droga; • Dificuldade de controlar o consumo (por exemplo, a hora em que começa ou pára de fazê-lo, a quantidade e o número de vezes que faz uso); SENAD16 • Utilização persistente da droga apesar das suas conseqüências prejudiciais; • Maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades ou obrigações; • Aumento da tolerância à droga (neces- sidade de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito); • Síndrome de abstinência (sintomas corporais como dores, tremores, dentre outras, que ocorrem quando o consumo da droga é interrompido ou diminuído). A Terapia Comunitária na abordagem Preventiva A terapia comunitária é um espaço no qual vários domínios da vida do indivíduo e da coletividade podem ser trabalhados, sejam eles familiar, profissional, comunitário, cultural, entre outros. É um espaço de promoção de encontros interpessoais e intercomunitários, objetivando a valorização das histórias dos participantes, o resgate da identidade, a restauração da auto-estima e da confiança em si, a ampliação da percepção dos problemas e possibilidades de resolução. Tem como base de sustentação o estí- mulo para o desenvolvimento ou a criação de uma rede de solidariedade. Este contexto de possibilidades de expressão dos conflitos, medos e dúvidas, num ambiente livre de julgamentos, onde se valorizam as diferenças individuais e as experiências de vida de cada um, favorece a prevenção, o tratamento e a reinserção social de usuários, dependentes e suas famílias. Verifica-se a mudança de uma política assistencialista para uma política de participação solidária. Um novo paradigma nas políticas públicas que possibilita o desenvolvimento comu- nitário e social da população. A Política Nacional sobre Drogas - PNAD do Governo Federal alinha-se a esta perspectiva quando entende que fazer prevenção do uso indevido de drogas é promover a inclusão social, em especial daquelas populações cujas demandas pessoais e sociais colocam-nas mais expostas aos fatores de risco e, portanto, mais vulneráveis ao uso indevido de drogas. Quando os habitantes de uma comunidade não possuem laços sociais fortalecidos é mais fácil de se expandirem os fatores de risco geradores de demandas pelas drogas e também a ampliação da oferta com a conseqüente violência gerada pelo tráfico e o crime organizado. A promoção de redes sociais que resultem em vínculos de solidariedade entre as pessoas nos diversos tipos de comunidades constitui, sem dúvida, um fator de proteção dos mais importantes a serem incrementados pelos programas de prevenção ao uso indevido de drogas, nas esferas federal, estadual ou municipal. É nesta perspectiva que a metodologia da terapia comunitária está sendo qualificada como uma estratégia eficaz de prevenção do uso indevido de drogas, de promoção de saúde e de construção de redes sociais integrando as tantas possibilidades de ações preventivas do uso de drogas. A Terapia Comunitária ampliando a Prevenção em Rede Rede social tem como conceito “um conjunto de relações interpessoais concretas que vinculam indivíduos a outros indivíduos à medida que se percebe o poder de cooperação como atitude que enfatiza pontos comuns em um grupo para gerar solidariedade e parceria” (Duarte, 2004, pag. 30). Esta definição assemelha-se sobremaneira com a proposta da terapia comunitária, funda- mentada nos termos da abordagem sistêmica, da antropologia cultural e da teoria da comunicação. O próprio movimento da terapia comunitária no Brasil é uma grande rede que se torna parte de outra rede ampliada de prevenção. A Prevenção do uso de Drogas e a Terapia Comunitária SENAD 17 A Reinserção Social A TC pode prestar um imenso benefício na fase da reinserção social do dependente que poderá ser convidado às reuniões para compartilhar com o grupo seu processo de recuperação e, também, ser incentivado para que continue o tratamento. Tais medidas podem facilitar sua reintegração social com a (re)construção de seu vínculos de amizade e de ajuda. Nesta fase de retorno ao convívio social e de resgate das perdas ocorridas, é importante que o grupo possa auxiliar a pessoa no resgate de seus contatos familiares, profissionais e sociais, pois este se constitui num dos objetivos da Terapia Comunitária: construir vínculos com intuito de oferecer apoio a indivíduos e famílas em situações de sofrimento. O Papel do Terapeuta Comunitário junto aos Serviços de Saúde Os terapeutas comunitários podem desenvolver um trabalho de conscientização e de orientação sobre a prevenção do uso indevido de drogas e sobre o tratamento de usuários e dependentes, bem como oferecer apoio afetivo, emocional direto aos familiares e/ou usuários. Devem mobilizar uma rede de apoio a partir do próprio grupo da TC. Para tanto, deverão se manter atualizados quanto aos recursos existentes na comunidade em que estão inseridos, mantendo constante articulação com as instituições de atendimento. Os CAPs ad, os centros de saúde e os hospitais devem ser contatados na tentativa de conhecer quais são os profissionais da rede que estão realizando atendimento a esta clientela, nos ambulatórios de saúde mental ou nos serviços de psicologia e de serviço social. Alguns hospitais universitários também têm se mostrado pioneiros em projetos de vanguarda para o tratamento de dependente químicos. É importante estabelecer parcerias entre a terapia comunitária, os demais serviços sociais disponíveis (governamentais ou não), os serviços de saúde e de assistência da comunidade nas ações preventivas, de tratamento e também de redução de danos. Este papel de mediador entre a comunidade e os diferentes serviços promoverá o fortalecimento da rede secundária (institucional) tão importante no caso das dependências de drogas. SENAD20 Sugestões de Dinâmicas de Mobilização e Abordagem sobre o Tema Drogas O tema drogas é bastante comum nas reuniões de terapia comunitária. Pesquisa realizada junto aos terapeutas apontou o alcoolismo como o segundo tema mais presente nas sessões. Os participantes falam sobre o seu consumo ou de algum familiar e dos sentimentos que estão associados. Os principais sentimentos que emergem serão apresentados, bem como algumas propostas de motes, músicas e ditados populares que podem auxiliar o terapeuta na condução das terapias com esta temática. Quando o usuário se faz presente na reunião é importante acolhê-lo, ressaltando a importância de sua presença naquele espaço e qualificando a terapia como um local de cuidado de si e dos outros. É importante o terapeuta estar atento ao usuário e reservar um pequeno espaço de tempo ao final da terapia para uma conversa mais próxima, tanto para acolher esta pessoa, conhecer melhor sua dificuldade, como para encaminhá-la para algum serviço especializado, se for necessário. Sentimentos comuns como frustração pela falta de controle sobre o próprio comportamento, decepção consigo e com as pessoas mais próximas, impotência, raiva de si mesma e de outras pessoas, sentimento de ser incompreendido, fracasso, negação do próprio problema são recorrentes. É bastante comum que, ao invés do usuário, compareça à terapia um familiar. Em geral, os sentimentos relatados são de mágoa, culpa, raiva do usuário, frustração por não conseguir ajudá-lo efetivamente, desespero ou mesmo indiferença. Cada um destes sentimentos devem ser identificados pelo terapeuta no momento da contextualização, de modo a verificar qual deles está em destaque naquele momento. São sentimentos mobilizados pela presença do uso de drogas, mas que podem ser facilmente identificados em outras experiências de vida, o que proporciona a elaboração de motes que beneficiem todos os participantes. A Prevenção do uso de Drogas e a Terapia Comunitária Exemplos de Motes: • “Quem já viveu uma experiência de frus- tração e como fez para resolvê-la ou lidar melhor com ela?” • “Quem já sentiu que perdeu o controle diante de alguma situação? Como se sentiu? O que fez?” • “Quem já teve dificuldade de perdoar alguém e o que fez para mudar isto?” • “Quem já teve raiva de si mesmo? Como fez para resolver?” • “Quem já se sentiu dependente de algo ou alguém e como fez para resolver?” • “Onde mora o prazer para cada um?” SENAD 21 Importante Nas sessões de terapia, a realização de rituais tem um grande valor agregador e facilitador de uma tomada de consciência e de ampliação da percepção do problema e das possibilidades de solução. Os rituais são momentos com uma presença forte de elementos simbólicos que condensam uma determinada experiência. Rituais 1) Ritual do perdão: Objetivo: perdoar a si e perdoar ao outro. Orientações ao grupo: solicitar aos participantes que pensem a quem gostariam de perdoar e a quem gostariam de pedir perdão. Em seguida, as pessoas que desejarem, compartilham com o grupo o que pensaram. 2) Ritual do amor incondicional: Objetivo: incentivar no grupo a reflexão sobre o amor a pessoa, que não se restringe a um comportamento isolado. Amar a pessoa – não aceitar o seu comportamen- to. Orientações ao grupo: cada pessoa do grupo deve eleger alguém para declarar amor incondicional. Devendo na sua vez, dizer a seguinte frase: eu amo (fulano), só não aceito seu comportamento de .... 3) Ritual do prazer: Objetivo: ampliar as possibilidades de prazer, sem que o uso de drogas seja necessário. Orientações ao grupo: solicitar que todo o grupo reflita e responda: onde mora o prazer para mim? 4) Ritual da aceitação: Orientações ao grupo: solicitar que os participantes do grupo se dividam em duplas, um de frente para o outro – olhos nos olhos - dizendo: eu (dizer o próprio nome) te aceito (dizer o nome do outro) como você é. Sugestões de Ditados Populares -Águas passadas não movem moinhos; -Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura; -Antes só do que mal acompanhado; -Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. SENAD22 A Terapia Comunitária constitui-se numa metodologia de atenção às questões relativas ao uso de álcool e outras drogas no contexto comunitário. É um recurso efetivamente preventivo e, também, complementar ao tratamento e facilitador da reinserção social do dependente químico. A Terapia Comunitária está de acordo com as orientações da Política Nacional sobre Drogas, mais especificamente no que tange ao fortalecimento das redes sociais que visem à melhoria das condições de vida e promoção geral da saúde. E st a pu bl ic aç ão é p ar te in te gr an te d o m at er ia l d id át ic o do C ur so d e Fo rm aç ão e m T er ap ia C om un itá ri a co m ê nf as e na P re ve nç ão d o us o de À lc oo l e o ut ra s D ro ga s, p ro m ov id o pe la Se cr et ar ia N ac io na l A nt id ro ga s� Ve nd a Pr oi bi da . Universidade Federal do Ceará A Prevenção do Uso de Drogas e a Terapia Comunitária
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