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tratamento efluentes aguape, Notas de estudo de Engenharia Ambiental

tratamento de efluentes

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 26/08/2009

fernando-barbosa-cavalcante-12
fernando-barbosa-cavalcante-12 🇧🇷

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Baixe tratamento efluentes aguape e outras Notas de estudo em PDF para Engenharia Ambiental, somente na Docsity! CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html ISSN 1678-6343 Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia Caminhos de Geografia Uberlândia v. 8, n. 23 Edição Especial p. 8 - 19 Página 8 SISTEMA DE TRATAMENTO ALTERNATIVO DE EFLUENTES UTILIZANDO MACRÓFITAS AQUÁTICAS: UM ESTUDO DE CASO DO TRATAMENTO DE EFLUENTES FRIGORÍFICOS POR Pistia stratiotes e Eichhornia crassipes Artur Monteiro Leitão Júnior Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia artur_ml_junior@yahoo.com.br Dayane Zandonadi Soares Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia ecodayane@yahoo.com.br Alfredo Arantes Guimarães Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia alfredo.arantes@bol.com.br José Luís Bianchi Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia rbbianchi50@terra.com.br Leonardo Dias Rezende Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia Genilda Maria de Oliveira Profa. Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia genioli@eafudi.gov.br RESUMO De acordo com Braile (1983), efluente é uma “substância líquida, com predominância de água, contendo moléculas orgânicas ou inorgânicas das substâncias que não se precipitam por gravidade”. Assim, diante da necessidade de tratamento dos efluentes, as macrófitas aquáticas Eichhornia crassipes (aguapé) e Pistia stratiotes (alface d’água), as quais possuem o papel de purificação dos corpos hídricos, foram utilizadas para este fim; nesse caso, testou-se experimentalmente o desempenho das referidas macrófitas no tratamento secundário, sem o tratamento prévio, do efluente frigorífico das linhas mista e vermelha. Para avaliação do desempenho, realizaram-se análises visuais e físico-químicas, as quais demonstraram que a utilização desses organismos diretamente sobre o efluente bruto não mostrou eficácia, em virtude da mortalidade das plantas. Não obstante, vale salientar que as experiências não- exitosas indicam a necessidade de adequação das metodologias, buscando sempre técnicas mais eficientes e acessíveis economicamente. Palavras-chave: Tratamento de efluentes. Macrófitas aquáticas. Frigoríficos. SYSTEM OF ALTERNATIVE EFFLUENTS TREATMENT USING AQUATICS MACROPHYTS: A STUDY OF CASE OF THE OF EFFLUENTS TREATMENT BELONGING TO THE COLD STORAGE ROOMS FOR Pistia stratiotes and Eichhornia crassipes CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html ISSN 1678-6343 Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia Caminhos de Geografia Uberlândia v. 8, n. 23 Edição Especial p. 8 - 19 Página 9 ABSTRACT According to Braile (1983), effluent is a “liquid substance, with water predominance, contends organic or inorganics molecules of the substances that do not precipitate for gravity”. Thus, in agreement of the necessity of the effluents treatment, the aquatics macrophyts Eichhornia crassipes (watery wine) and Pistia stratiotes (watery lettuce), which possesss the paper of purification of the sources of water, had been used for this end; in this case, the performance of the macrophyts related ones was tested experimentally in the secondary treatment, without the previous treatment, on the effluents of the mixing and red lines belonging to the cold storage room. For evaluation of the performance, visual analyses and physicist-chemistries had been become fullfilled, which had demonstrated that the use of these organisms directly on the raw effluent not shows efficient, in virtue of the mortality of the plants. Despite this, it is interesting to point out that the failed experiences indicate the necessity of adequacy of the methodologies, always searching techniques more efficient and accessible economically. Keywords: Effluents treatment. Aquatics macrophyts . Cold storage rooms. INTRODUÇÃO Com a crescente preocupação e fiscalização da sociedade e dos órgãos ambientais, inclusive na forma de cobranças legais, no que diz respeito à qualidade das águas fluviais, as indústrias buscam promover medidas que minimizem o impacto ambiental causado pela liberação, nos corpos d'água, de seus efluentes de alto passivo ambiental. Dessa forma, vêm alterando, de maneira ainda incipiente, a consciência herdada de que a água funcionaria como um corpo receptor infinito de toda a água residuária resultante do processo industrial. Um dos reflexos dessa tomada de consciência é a Lei 6.938/81 da República Federativa do Brasil, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, a qual tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida. Essa política visa assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana (BRASIL, 1981). De acordo com Braile (1983), efluente é definido como uma “substância líquida, com predominância de água, contendo moléculas orgânicas ou inorgânicas das substâncias que não se precipitam por gravidade”. Uma das possíveis medidas a ser tomada no tratamento de efluentes é a utilização de plantas macrófitas aquáticas, que, segundo o Programa Internacional de Biologia (IBP), são definidas como uma denominação adequada para caracterizar vegetais que habitam desde brejos até ambientes verdadeiramente aquáticos; desta forma, incluem vegetais desde macroalgas até plantas vasculares. Por necessitarem de altas concentrações de nutrientes para seu desenvolvimento, as macrófitas aquáticas são utilizadas com sucesso na recuperação de rios e lagos poluídos, pois suas raízes podem absorver grandes quantidades de substâncias tóxicas, além de formarem uma densa rede capaz de reter as mais finas partículas em suspensão. Em vista desse grande potencial de purificação de efluentes por esses vegetais, o projeto tem como intuito o tratamento das águas residuárias derivadas de uma empresa frigorífica, comumente lançadas indiscriminadamente nos corpos d'água. O frigorífico produz duas águas residuárias: aquela que pode ser aproveitada e a água não-aproveitável. A primeira é conhecida como linha vermelha, uma vez que se caracteriza pelos resíduos derivados do abate, tais como vísceras, pêlos e óleos; estes últimos podem servir como insumos na produção de ração animal com acidez controlada e baixa contaminação. A segunda, chamada de linha verde e sem grande valor industrial, compõe-se, dentre outros integrantes, de excrementos, argila, areia e vidro sanitário derivado da planta industrial (SPRINGMANN apud BALINT, 2002). Uma outra possibilidade de efluente gerado é a linha mista, na qual os dois tipos anteriores são encontrados. Em relação a estes, a pesquisa se baseou na verificação da eficiência das macrófitas na purificação das linhas vermelha e mista, em específico. CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html ISSN 1678-6343 Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia Caminhos de Geografia Uberlândia v. 8, n. 23 Edição Especial p. 8 - 19 Página 12 mais baixo. A remoção dos poluentes na biomassa seca das plantas aquáticas acontece pelo fato de, após a secagem, as plantas manterem, mesmo que biologicamente inativas, muitas de suas propriedades químicas, realizando tanto a absorção (adesão de poluentes na interface), quanto a adsorção (adesão do poluente na interface e interpenetração na fase sólida) (SCHNEIDER, 2003) Da mesma forma do que foi citado em relação à macrófita aquática Eichhornia crassipes, o mesmo se procede com a Pistia stratiotes (alface d'água), porém sem uma bibliografia tão extensa quanto ao papel bioindicador de poluição das águas, com grandes concentrações de matéria orgânica. A semelhança também é sentida em características como a alta taxa de reprodução, o papel de filtração de dejetos e efluentes industriais, a possibilidade de obtenção de biofertilizantes, biogás, entre outros. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Ao simular as lagoas de tratamento de efluentes do frigorífico, foram utilizados latões de 200 litros, em quantidade de 14 (quatorze), cortados ao meio, na transversal, de forma a obter-se uma maior lâmina superficial de água. Os efluentes foram recolhidos do FRIGORÍFICO SÃO PEDRO a um volume suficiente, buscando-se a obtenção de diferentes qualidades das águas residuárias descartadas: efluentes de linha vermelha e linha mista. Foram utilizadas duas espécies de macrófitas aquáticas a fim de avaliar as suas eficiências no tratamento dos efluentes: a Eichhornia crassipes (aguapé) e a Pistia stratiotes (alface d'água), como ilustradas abaixo. Figura 1 – Macrófitas aquáticas utilizadas no tratamento de efluentes. Considerando a lâmina d'água disponível nos latões, definiu-se o seguinte parâmetro populacional para as duas espécies de macrófitas testadas: Eichhornia crassipes (aguapé): plantas com 5 (cinco) brotamentos e com raízes de 20 centímetros. As variações dos tamanhos populacionais foram de 30 e 50 indivíduos. Pistia stratiotes (alface d'água): plantas com diâmetro foliar de 12 a 15 centímetros e com raízes de 20 centímetros. As variações dos tamanhos populacionais foram de 30 e 50 indivíduos. Os procedimentos na montagem do experimento em relação à distribuição dos latões e das populações de macrófitas foram adotados da seguinte forma: CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html ISSN 1678-6343 Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia Caminhos de Geografia Uberlândia v. 8, n. 23 Edição Especial p. 8 - 19 Página 13 Para a linha vermelha, foram utilizados 5 (cinco) latões, assim distribuídos: para a espécie Eichhornia crassipes (aguapé) usou-se dois latões diferenciados pelo tamanho da população; outros dois foram utilizados para a espécie Pistia stratiotes (alface d'água), diferenciados pelo tamanho da população; e, um último latão foi usado como controle do experimento, isto é, com o efluente da linha vermelha sem qualquer espécie purificadora, assim como ocorre normalmente nas lagoas das empresas. Para a linha mista, foram utilizados 5 (cinco) latões, assim distribuídos: para a espécie Eichhornia crassipes (aguapé) usou-se dois latões diferenciados pelo tamanho da população; outros dois foram utilizados para a espécie Pistia stratiotes (alface d'água), diferenciados pelo tamanho da população; e, um último foi usado como controle do experimento, isto é, com o efluente da linha mista sem qualquer espécie purificadora, assim como ocorre normalmente nas lagoas das empresas. Para a realização do procedimento metodológico em relação às linhas do descarte do frigorífico utilizou-se um total de 10 (dez) latões conforme foi descrito. Os 4 (quatro) latões restantes foram divididos em dois de alface d'água, variando a população, e dois de aguapé, variando a população, dispostos nas águas do corpo receptor, a fim de verificar o crescimento e atuação natural dessas espécies, em corpo hídrico, com ausência de efluentes industriais. A eficiência da filtração proporcionada por essas duas espécies foi avaliada de acordo com a determinação de parâmetros no início, obtendo-se valores iniciais referentes ao efluente coletado, e durante o experimento em períodos específicos (a cada 15 dias, a partir da segunda semana após a coleta), após a estabilização inicial e da atuação das espécies em pesquisa. Buscou-se avaliar a evolução do tratamento pelas macrófitas, por meio de tabelas e gráficos, comparando suas eficiências em determinados tipos de efluentes dentre os trabalhados. Além disso, intercalando os períodos de análises físico-químicas, foram realizadas análises visuais dos efluentes e do desenvolvimento das macrófitas nestes, observando-se o brotamento de novos indivíduos, a porcentagem de plantas vivas e mortas, o nível do efluente (bem como da água utilizada para controle) e outros aspectos relevantes. Os parâmetros físico-químicos avaliados foram: pH; temperatura; turbidez; sólidos sedimentáveis; sólidos dissolvidos; sólidos em suspensão, em suspensão fixos, em suspensão voláteis e sólidos totais (determinados pela somatória dos sólidos anteriores). Esses parâmetros foram obtidos por meio de procedimentos descritos em Macedo (2003). RESULTADOS E DISCUSSÕES Após a coleta e estabilização inicial (período de uma semana) das linhas mista e vermelha provenientes do frigorífico provedor, obteve-se resultados de alguns parâmetros analisados, conforme demonstra a Tabela 1. Tabela 1 - Resultados das análises físico-químicas do efluente bruto, após uma semana de estabilização. ANÁLISE FISICO-QUÍMICA LV0(*) LM0(*) pH 8,59 7,22 Temperatura da amostra 26,3 °C 26,2 °C Turbidez 74% 100% Sólidos Dissolvidos 773 mg/L 4339 mg/L Sólidos em Suspensão 860 mg/L 4436 mg/L Sólidos em Suspensão Fixos 33 mg/L 49 mg/L Sólidos em Suspensão Voláteis 827 mg/L 4387mg/L Sólidos Totais 1633 mg/L 8775 mg/L Sólidos Sedimentáveis 20 ml/L 260 ml/L Fonte: Os autores, 2005. CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html ISSN 1678-6343 Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia Caminhos de Geografia Uberlândia v. 8, n. 23 Edição Especial p. 8 - 19 Página 14 O pH faz referência à concentração de íons H+ ou OH- na substância ou solução em questão, sendo que uma maior concentração do cátion designa uma maior acidez, enquanto a maior concentração do ânion diz respeito a uma maior alcalinidade. A turbidez designa a dificuldade de penetração de luz na amostra, constituindo-se num requisito estético de qualidade e é atribuída principalmente aos sólidos em suspensão que diminuem a alcalinidade e reduzem a transmissão da luz no meio. Os sólidos dissolvidos indicam a parte do efluente que geralmente não é afetada pelo tratamento primário, sendo resultado da diferença entre os sólidos totais e os sólidos em suspensão. Partindo-se dessa definição, pode-se conceituar dois outros parâmetros: os sólidos totais, que são aqueles resultantes do aquecimento da amostra a aproximadamente 100o C, em estufa, e os sólidos em suspensão, que, por sua vez, são aqueles que não se encontram em solução ou como corpo de fundo. Ainda em relação aos sólidos em suspensão, distinguiram-se os sólidos em suspensão fixos (aqueles que permanecem após o aquecimento da amostra a aproximadamente 500o C) e os em suspensão voláteis (resultantes da diferença entre os sólidos em suspensão e os sólidos em suspensão fixos). Os sólidos sedimentáveis são aqueles resultantes do processo de decantação, constituindo-se, portanto, na fração dos sólidos que se precipitam após um período de estabilidade da amostra. Em relação ao pH, a linha mista apresentou-se menos alcalina em comparação à linha vermelha, sendo estas medições aferidas a temperaturas semelhantes. Com relação aos sólidos, a linha mista apresentou uma tendência a maiores concentrações nesses parâmetros, decorrente do fato desta linha apresentar uma grande quantidade de material orgânico dissolvido e em suspensão, resultante da excreção dos animais. Um importante resultado verificado após a primeira semana de adaptação das macrófitas ao efluente foi a morte generalizada dos espécimes de Pistia stratiotes submetidos ao tratamento. Essa mortalidade pode ter decorrido da maior fragilidade aparente do vegetal, cujas folhas e estrutura apresentavam uma maior vulnerabilidade às dificuldades de adaptação; outro problema pode ter decorrido da diferença de ambientes próprios ao desenvolvimento natural da Pistia, considerando que esta, melhor adaptada à sombra, foi posta em condições de constante insolação. Após 15 (quinze) dias dessa primeira análise físico-química, realizou-se outra, a fim de avaliar a evolução do tratamento dos efluentes, cujos resultados são demonstrados na Tabela 2 e nas Figuras 2, 3, 4, 5 e 6 seguintes. Vale ressaltar que essa nova análise foi realizada somente para os espécimes de aguapé, dada a mortalidade das alfaces d’água. Tabela 2 – Resultado das análises de pH e temperatura entre as linhas de tratamento, considerando a variação da população. Fonte: Os autores, 2005. Diante dos resultados aferidos, percebeu-se que a linha vermelha apresentou uma tendência a possuir uma maior alcalinidade em comparação à linha mista para os mesmo tamanhos populacionais, considerando as pequenas variações de temperatura durante o processo de medição. ___________________________________________________________________________ (*)NOTA: Para todas as tabelas e gráficos contidos nesse trabalho, adotou-se as seguintes legendas para a Eichhornia crassipes (aguapé): LV0 = linha vermelha de controle; LV30 = linha vermelha (população de 30 indivíduos); LV 50 = linha vermelha (população de 50 indivíduos); LM 0 = linha mista de controle; LM 30 = linha mista (população de 30 indivíduos), LM 50 = linha mista (população de 50 indivíduos). ANÁLISE FISICO- QUÍMICA LV30 LV50 LV0 LM30 LM50 LM0 pH 7,84 7,74 7,80 7,07 7,45 6,83 Temperatura (°C) 22,4 22,7 22,8 22,9 23,6 23,8 92% 94% 96% 98% 100% CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html ISSN 1678-6343 Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia Caminhos de Geografia Uberlândia v. 8, n. 23 Edição Especial p. 8 - 19 Página 17 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 LV 30 LV 50 LV 0 LM 30 LM 50 LM 0 m g/ L Figura 6 – Comparação dos sólidos em suspensão fixos entre as linhas de tratamento, considerando a variação da população. Fonte: Os autores, 2005. As Figuras 5 e 6 revelaram uma tendência ao efluente bruto de controle, submetido ao processo de estabilização natural, apresentar uma diminuição dos sólidos em suspensão, derivados do decréscimo significativo da porção volátil, acompanhado de um aumento pequeno da concentração da porção dos sólidos fixos. Nas linhas mista e vermelha, por sua vez, os sólidos em suspensão aumentaram em concentração, mostrando certa ineficiência das macrófitas na filtração destes. De maneira geral, os latões com efluentes para controle apresentaram resultados semelhantes, se não melhores em certos aspectos, do que os efluentes submetidos ao tratamento pelo aguapé, mostrando que os resultados obtidos na comparação de análises foram devidos mais ao processo de estabilização natural do que a fatores relacionados à biofiltração. De qualquer forma, tendo em vista que a diminuição do volume ocasionada pela evaporação/evapotranspiração determinou certa variação nas concentrações de sólidos e turbidez, dever-se-ia, para um projeto futuro, manter esse fator constante, para melhor verificação e adoção de caráter científico à pesquisa. Além disso, deve-se considerar que os focos de mosquitos podem ter sido parte dos problemas relacionados aos resultados não- exitosos do projeto, como está descrito em pesquisas anteriores de Schneider (2003). É de fundamental importância salientar que os erros não indicam um abandono do projeto; indicam sim, acima de tudo, a necessidade de modificar certos padrões do sistema, alterando outras variáveis e buscando sempre o melhor resultado. Quanto às análises visuais, foram realizadas após 15 dias do início da pesquisa, sendo apenas para a espécie Eichhornia crassipes, devido à morte generalizada da Pistia stratiotes. Os resultados aferidos revelaram um grande esforço adaptativo exercido pelo aguapé, causando a mortandade em grande escala dos espécimes em análise, sobretudo na linha mista com população de 30 indivíduos, onde a concentração de efluente foi demasiada para a sobrevivência com sucesso das plantas. Em relação à quantidade de brotos novos, os latões com maiores populações mostraram uma maior predisposição a apresentarem novos brotamentos, fato natural em decorrência do maior número de indivíduos em esforço adaptativo. A redução do nível do efluente foi equivalente em todas as linhas, independentemente das populações. Essa redução foi maior, porém, nos latões contendo unicamente água, uma vez que, provavelmente, a taxa de evapotranspiração tenha aumentado, dada à maior atividade metabólica da planta, bem como à taxa de evaporação, uma vez que esta, no que diz respeito aos efluentes, é dificultada pela grande quantidade de sólidos dissolvidos e mesmo pela maior viscosidade aparente. CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html ISSN 1678-6343 Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia Caminhos de Geografia Uberlândia v. 8, n. 23 Edição Especial p. 8 - 19 Página 18 Em uma nova análise visual, após uma semana da realização da primeira, foram obtidas novas constatações. Diante da mortandade de grande percentual das plantas, revelou-se uma tendência à não-sobrevivência dos aguapés nos efluentes em questão, sem que estes passassem por um tratamento prévio. Isso pôde ser constatado também pelo baixo índice de brotos novos nessa nova análise, demonstrando um insucesso na tentativa de utilização das macrófitas aquáticas testadas no tratamento do efluente bruto sem um tratamento prévio (físico) e/ou primário (físico-químico), mesmo que básico. O nível da água manteve a mesma tendência que o verificado na primeira análise: a água dos latões que continham unicamente água do corpo receptor sofreu uma maior redução do nível, dada à maior taxa de evaporação e evapotranspiração. Os latões dos efluentes de controle tiveram uma maior redução do que aqueles contendo as populações dos vegetais, isso porque, a essa altura, a biomassa morta das plantas aquáticas se juntou ao efluente líquido, dificultando a evaporação simples; além disso, o processo de evapotranspiração foi minimizado pela baixa quantidade de vegetais em processo metabólico. Nos latões de controle, por sua vez, mesmo que o único processo de perda d'água tenha decorrido da evaporação, este foi facilitado, talvez, pelo processo de decantação dos sólidos em suspensão. Ainda com referência a observações sensíveis, notou-se que os espécimes de aguapé em teste sofreram uma degeneração final (todos os indivíduos morreram) após, aproximadamente, 20 dias do início da pesquisa do desenvolvimento das macrófitas aquáticas nos efluentes, acabando por interromper a pesquisa, ao menos nos moldes estabelecidos a priori. Apesar de todos esses resultados negativos, observou-se que, em um dos latões contendo uma pequena quantidade de efluente da linha vermelha, numa proporção bem inferior do efluente em relação ao emaranhado de sistemas radiculares do aguapé, a Eichhornia crassipes resistiu aos padrões físico-químicos do mesmo, abrindo uma nova perspectiva de pesquisa futura. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desejo de se conseguir estabelecer uma forma de tratamento de efluentes por macrófitas aquáticas não é algo totalmente utópico, uma vez que diversos trabalhos a esse respeito vêm sendo elaborados e pesquisados, de maneira que alguns deles obtiveram resultados satisfatórios e, até mesmo, promissores. Seguindo esta oportunidade de conciliar um tratamento de custos baixos e viáveis com uma remoção eficiente de substâncias indesejáveis, objetivamos criar um trabalho pioneiro no sentido de se utilizar as plantas em uma etapa primária de tratamento, reduzindo ao máximo os custos. A princípio, o trabalho utilizou-se de duas "espécies-problema": Pistia stratiotes (alface d'água) e Eichhornia crassipes (aguapé), buscando reverter em muito a mentalidade de que se tem a respeito desses organismos, vistos como pragas, desconsiderando totalmente as suas potencialidades. Essas espécies são consideradas como potenciais problemas pelo fato de que existem riscos relacionados ao manejo inadequado das mesmas, principalmente a despeito de suas características reprodutivas aceleradas. Devido à proliferação exagerada, o aguapé pode passar de organismo benéfico, na atuação como despoluidor de águas poluídas, a maléfico, em virtude da geração do fenômeno de eutrofização – isto é, o crescimento excessivo das plantas aquáticas, a níveis tais que sejam causadoras de interferências em relação aos usos desejáveis do corpo d’água – bem como de suas conseqüências indiretas, tais como o entupimento de turbinas de hidrelétricas, o aumento do grau de evaporação das águas e a ocorrência de assoreamento em lagoas pouco profundas por causa dos sedimentos que são retidos em suas raízes. Apesar dessas novas perspectivas, a utilização dessas macrófitas no tratamento de efluentes brutos, nos moldes estabelecidos, mostrou-se infrutífera, revelada pela total mortandade das plantas no sistema elaborado. Nesse sentido, a pequena melhora dos resultados de certos parâmetros físico-químicos avaliados decorreu mais do fato da estabilização natural dos efluentes do que pela ação propriamente dita das plantas. Submetidas às condições totalmente desfavoráveis, mesmo para essas plantas biofiltradoras, avaliou-se uma fragilidade maior da alface d'água em relação ao aguapé, sendo que esta CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html ISSN 1678-6343 Instituto de Geografia ufu Programa de Pós-graduação em Geografia Caminhos de Geografia Uberlândia v. 8, n. 23 Edição Especial p. 8 - 19 Página 19 última, ainda que tenha morrido por completo na sistemática metodológica criada, demorou mais para fazê-lo, apresentando esforços adaptativos maiores. Se o propósito do projeto inicial não foi bem sucedido, ao menos se verificou, mesmo que acidentalmente, que espécimes do aguapé resistiram a concentrações baixas de efluente da linha vermelha. Embora essa constatação não tenha se realizado em níveis científicos, abre espaço para novas especulações e possibilidades, necessitando de novas pesquisas para que estas, futuramente, possam ser testadas. Não obstante o projeto, em última estância, não tenha atingido os resultados positivos esperados, vale salientar que as experiências não-exitosas são, também, etapas fundamentais da construção de resultados válidos e empiricamente aplicáveis. REFERÊNCIAS BALINT, Vilma. Higienização sob vigilância. Revista Nacional da Carne, out. 2002. Disponível em: <http://www.dipemar.com.br/carne/308/materia_especial_carne.htm>. Acesso em: 06 ago. 2005. BRAILE P.M. Efluente. In: Dicionário inglês português de poluição industrial. Rio de Janeiro: Serviço Social da Indústria, 1983. BRASIL. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2 set. 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 06 ago. 2005. MACEDO, J. A. B. Métodos Laboratoriais de Análises Físico-Químicas e Microbiológicas. 2 ed. Belo Horizonte: CRQ-MG, 2003. MAFEI, M. O bombril das águas. Globo Rural, Rio de Janeiro, p. 40-51, jul. 1988. SALATI, E. Controle de qualidade de água através de sistemas de Wetlands construídas. 2001. 16f. Trabalho de pesquisa científica da CEA/UNESP – Universidade de Santo Amaro, São Paulo, 2001. SCHNEIDER, I.A.H. Plantas aquáticas: Adsorventes Naturais para a Melhoria da Qualidade das Águas. Trabalho de pesquisa científica da UFRS, 2003. Disponível em: <http://www.lapes.ufrgs.br/Itm/pdf/Ivo-Trabalho1.pdf>. Acesso em: 06 ago. 2005
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